NOME DO PAI E REAL. Jacques Laberge 1

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Transcrição:

NOME DO PAI E REAL Jacques Laberge 1 Na época em que estava proferindo seu Seminário As formações do inconsciente, Lacan retomou pontos de seu Seminário III, As psicoses em De uma questão preliminar a qualquer tratamento possível da psicose, artigo terminado em janeiro de 1958. Nome-do-Pai: Ou o falo, ou o real da Psicose Antes de apresentar sua fórmula da metáfora paterna, Lacan lembra que a colocação na sombra da função do falo no campo analítico prolonga a mistificação com que a cultura aborda o falo, na sequência do paganismo que o produzia como último termo de seus mais secretos mistérios. A este descaso que leva a equívocos, Lacan reage: na economia subjetiva tal como a vemos comandada pelo inconsciente, (o falo é) uma significação que é evocada somente pela (...) metáfora paterna (E.555). A significação do falo, temos dito, deve ser evocada no imaginário do sujeito pela metáfora paterna (...) que substitui este Nome no lugar primeiramente simbolizado pela operação da ausência da mãe (E.557). Nome-do-Pai Desejo da Mãe A Desejo da mãe = Significado ao sujeito Nome-do-Pai Falo 1 Psicanalista, membro de Intersecção Psicanalítica do Brasil/PE. E-Mail: jacqueslaberge1@gmail.com. 1

A metáfora paterna é com efeito constitutiva da significação fálica pela linguagem, afirma Porge (Les Noms du Père chez Jacques Lacan, p.178). Quero sublinhar aqui que se trata da significação fálica, isto é da relação significantesignificado. O significante representa eminentemente o campo do simbólico e o significado o do imaginário. O desejo materno diz respeito à colocação da criança no lugar de falo imaginário. Nas conferências de 71-72 intituladas O saber do psicanalista, Lacan afirma que quando um homem tem uma ereção, isso quer dizer que toma (uma mulher) como falo. O falo é a significação, é por onde a linguagem significa, há uma única Bedeutung (significação) é o falo (3-2-72). Isto é, o falo é próprio representante da relação significante/significado. A fórmula da metáfora paterna nos ajuda a entender o real da psicose que, junto com fenômenos psicóticos em neuróticos ou a eles associados como acting-out, passagem ao ato, fenômenos psicossomáticos caracterizam o real em toda a primeira parte do ensino de Lacan. Ser colocado no lugar do falo imaginário da mãe supõe para a criança que o recalque realmente funciona, que o Nome-do-Pai teve efeito. Isto quer dizer que o psicótico nem chegou propriamente a ocupar o lugar de falo imaginário da mãe, nem a subir as marcas do falo simbólico. Vemos no caso Schreber que o falo aparece no real da emasculação, da eviração. NOME-DO-PAI Recalque do falo, não do rapport sexual Na fórmula da metáfora do Nome-do-Pai, o recalcado é o falo. Se não funciona o efeito Nome-do-Pai, a substituição deste significante ao significante desejo da mãe, não há o recalque do falo, há a psicose. Poucos meses depois deste texto sobre a psicose, Lacan escreve A significação do falo em redor da ideia central do falo como significante destinado a designar em seu conjunto os efeitos de significado, enquanto o significante os condiciona por sua presença de significante (E.690). Em um artigo de 1998, La forclusión (Revista Contexto en psicoanálisis, 3, 21-22), Rolando Karothy nos resume a abordagem do falo por Lacan: O falo é definido por Lacan em diferentes lugares de sua obra como um 2

símbolo sem correspondência nem equivalente (dessimetria em relação a todos os outros significantes que, em troca, apresentam equivalente e correspondente), como um significante cuja função levanta o véu que tinha nos mistérios, enquanto está destinado a designar os efeitos de significado em seu conjunto pois o significante os condiciona por sua presença de significante (...) como equivalente à barra que cai sobre o significado, como razão do desejo, como significante da perda, da falta e do desejo, como determinante do efeito chamado a significação fálica. Trata-se então de um significante ímpar, o qual a não ter par, é único, não é como os outros (no Seminário V é qualificado como particular, pivô, carrefour, ao modo de um S1 que não remete a um S2 (21-22)). A fórmula da metáfora paterna nos mostra que o Nome-do-Pai permite o recalque do falo, o qual falo é necessário para evitar o real da psicose. Nesta referência, o falo está no nível do não deixa de se escrever. Mas a fórmula da metáfora paterna vai além disto. O recalque do falus tem como consequências o real do impossível do rapport sexual. Não é o rapport sexual que está inscrito, é o falo. Sublinhar o falo como significante é importante, entre outros, para se entender que não há significante do rapport sexual. O real como impossível do rapport sexual é introduzido no Seminário XII, Problemas cruciais da psicanálise. Na sessão de 19 de maio de 65, Lacan afirma: no nível do sexo, eu vos designo como o ponto de acesso impossível, em outros termos o ponto onde o real se define como o impossível (...) O homem deve fugir a impossibilidade da realidade sexual neste suplemente lúdico, referindo-se ao fantasma e ao objeto a como dejetos do objeto. Até o Seminário XI Lacan fala várias vezes das dificuldades e dúvidas de seus alunos sobre o real ou anuncia que vai falar do real na próxima vez. A partir do momento em que inicia o real, como o impossível do rapport sexual, ele deixa de empurrar o real com a barriga. A referência ao nó borromeu começa após esta definição do real, impossível do rapport sexual, definição repetida como um refrão até o fim de seu ensino : não há rapport sexual (...) Consegui formular isso não sem dificuldade, e é o que me levou a me dar conta que era preciso alguns nós borromeanos (A topologia e o tempo 17-1-78). A respeito da articulação falo-rapport sexual, vou citar várias referências de Lacan : 3

Não há rapport sexual para os seres que falam (...) lhe é muito precisamente interdito como palavra de ali funcionar de nenhuma maneira que permita dar conta disso (...) Que esta dimensão ao gozo, é a palavra que assegura a dimensão de verdade (...) ela não pode dizê-la completamente. Ela só pode, como o exprimo, dizê-la pela metade esta relação e inventar faz de conta (semblant) (...) o faz de conta (le semblant) do que se chama um homem e uma mulher (2-12-71- O saber do psicanalista) Podemos ler em A significação do falus: O falus é o significante privilegiado desta marca onde a parte do logos se junta ao advento do desejo (E.692). O significante não é feito para os rapports sexuais, lemos no Seminário XVII, de 69-70, L envers de la psychanalyse, (36). O gozo (...) é um gozo é claro fálico, mas que não se pode dizer gozo sexual (...) é preciso que haja este polo de gozo como obstáculo ao rapport sexual (...) o homem como a mulher, fazem semblant cada um em seu papel. (...) A função da palavra (...) supre a isto que a função fálica é justamente o que faz que no homem só haja relações que vocês sabem, ruins, entre os sexos. (3-2-72, O saber do psicanalista). O real, será que é impossível a pensar? Se ele não cessa, mas há uma nuance, não digo que ele não cessa de se dizer, pois o real o nomeio como tal, mas digo que não cessa de não se escrever (10-5-77, L insu). Não há rapport sexual (...) o que surge deste discurso (analítico), é a dimensão nunca até agora evocada da função fálica (...). É em redor do utensílio que a experiência analítica nos incita a ver girar tudo o que se enuncia do rapport sexual. (...) o que diz respeito ao exercício, ao registro do ato sexual, depende (relève) da função fálica. (3-3- 72,p.77, O saber do psicanalista). O outro está ausente, a partir do momento em que se trata do rapport sexual. (...) Para que haja algum fundamento de sexo, como se diz, é preciso que sejam dois. Zero e um, isto faz dois, isto faz dois no plano simbólico, a saber enquanto concordamos em que a existência se enraíza no símbolo. É o que define o ser falante. (...) A linguagem da acesso, mais somente de ser capaz de pegar o Zero e o Um. Seria por ali que se faria a entrada deste real, este real único a poder ser além da linguagem, a saber o único domínio em que pode se formular uma impossibilidade simbólica (3-3-72, p.82-83-84, O saber do psicanalista) No Seminário XX de 72-73, Encore, Lacan define a linguagem: o que funciona para suprir à ausência de (...) rapport sexual. (S XX, 47). 4

Em Les non-dupes errent, o Seminário XXI de 73-74, o real, o defino de o impossível porque ali, justamente, não acontece nunca - é a natureza da linguagem - não acontece nunca que o rapport sexual possa se inscrever (20-11-73). O dizer verdadeiro (...) supre a impossibilidade de escrever como tal o rapport sexual (12-2-74,p.5) Destes textos, sublinharia o paralelo que pode ser feito entre falo e palavra. Pois assim como a palavra diz a verdade pela metade, assim o falo é colocado como obstáculo ao rapport sexual, talvez pudéssemos dizer como metade deste rapport. E é dito tanto do falo quanto da palavra-verdade que fabricam homens e mulheres como semblantes (faz de conta). O real do impossível do rapport sexual é efeito do recalque do falo. É a partir do recalque do falo que temos este real. A palavra tem um papel de suplência porque não há rapport sexual, dali o R.S.I., o S vindo suprir ao real que se impõe. O real é sempre é efeito do limite do simbólico. Quando, a partir do Seminário XXI, Les non-dupes errent, Lacan escreve R.S.I., o R aparecendo em primeiro lugar, seguido do S, isso não quer dizer que o S é efeito do R. Significa que o S, o símbolo da palavra-verdade, tem um papel de suplência, se substitui ao real do impossível do rapport sexual. Mas este real é efeito do recalque do falo. Não há significante do rapport sexual a não ser o falo, o qual justamente obstaculiza este rapport. Voltando à fórmula da metáfora paterna, para tentarmos entender melhor, poderíamos dizer que o desejo materno não é de rapport sexual, mas de falo. Há pontos que merecem destaque nestas citações, por exemplo, a respeito do interdito à palavra de dar conta do rapport sexual. Podemos pensar que é o falo que proíbe à palavra, enquanto ele é dito entre a palavra e o rapport sexual. Há em Lacan os reais, por exemplo, da lei de gravidade e da colonização e o real, em primeiro lugar da psicose e dos fenômenos psicóticos e o real do impossível do rapport sexual. Uma das questões a debater é a relação entre o real como impossível e o real como impossível do rapport sexual. Por exemplo, fala-se do indizível que pode ser a respeito de qualquer assunto. Mas este indizível remete ao problemão colocado por Freud quando descobriu a importância da sexualidade, girando em redor do problema da castração, isto é do falo. Sendo a significação o falo, isto é sendo o falo o protótipo da relação significante/significado, falar é esbarrar no falo. O rapport sexual como tal é indizível, ou mais precisamente é inescrevível. 5

Quando se fala do real da psicose ou do impossível do rapport sexual, fala-se de dois aspectos do impossível. A respeito da psicose, se fala da impossibilidade da inscrição do falo, da impossibilidade que o desejo materno passe debaixo da barra da castração, efeito da indisponibilidade do significante Nome-do-Pai. Quanto à questão do impossível do rapport sexual, isso remete ao fato que, tendo havido o efeito da relação Nome-do-Pai ao desejo da mãe, este desejo passou debaixo da barra do recalque, sendo este desejo de falo. Fala-se por exemplo que o real como impossível é o mesmo em psicanálise e na ciência. Mas o real do nó borromeu é eminentemente do impossível do rapport sexual. Aliás, o nó borromeu só foi formalizado após Lacan definir o real como impossível do rapport sexual. A fórmula da metáfora paterna, o efeito do Nome-do-Pai como organizador do psiquismo nos alcança até aqui. Precisa-se do recalque do falo para se evitar a psicose e para se dar conta que não existe significante do rapport sexual como tal que possa ser inscrito no inconsciente. 6