REEMBOLSO DE QUANTIAS PAGAS AO TRABALHADOR SINISTRADO



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valor tributário do recurso do despacho que indefere o pedido de intervenção, não indicado no requerimento de interposição do recurso, é, em conformidade com o nº 2 do artigo 11º do C.C.J., o valor do incidente e não o valor da acção proposta pelos autores. IV- O nº 5 do artigo 31º da Lei 100/97, de 13 de Setembro (lei dos acidentes de trabalho e doenças profissionais, em vigor à data do acidente), norma especial relativamente ao art. 320º do CPC, reconhece expressamente à entidade empregadora e à sua seguradora laboral, para reembolso de importâncias pagas ao trabalhador sinistrado (ou aos seus sucessores), a titularidade do direito de intervirem como parte principal no processo em que este (ou os seus sucessores) exigir de terceiros responsáveis pelo acidente a indemnização respectiva. V- A concretização processual do direito de intervir conferido por aquela disposição à entidade patronal e à seguradora laboral é prosseguida através do incidente de intervenção principal activa: intervenção espontânea ou, no caso de a entidade patronal e/ou a sua Seguradora serem chamadas à lide, intervenção provocada. Acordam, em Conferência, na Secção de Contencioso Administrativo, 2º Juízo, do Tribunal Central Administrativo Sul: Na acção administrativa comum sob a forma ordinária - proposta por Maria...., em seu nome e em representação dos filhos contra Rui.., Caminhos de Ferro Portugueses, EP e Rede Ferroviária Nacional - REFER EP, para fazer valer o direito de indemnização pelos danos resultantes do acidente ocorrido entre o veículo. e o comboio.., na passagem de nível ao km 149,697 da linha do leste, que vitimou João, marido da primeira e pai dos restantes Autores - a C... Seguros - Companhia de Seguros, SA, veio interpor recurso jurisdicional dos seguintes despachos judiciais proferidos pelo TAF de Leiria: - De 3 de Outubro de 2011, que não admitiu o seu pedido de intervenção principal activa espontânea, na qualidade de seguradora laboral da vítima no acidente, para obter a condenação dos Réus no reembolso das quantias por si adiantadas aos Autores; 2

- De 18 de Janeiro de 2012, que indeferiu o seu requerimento a pedir que o tribunal considerasse correctamente efectuada a auto-liquidação da taxa de justiça do despacho de indeferimento da intervenção principal espontânea e, consequentemente, que fosse dada sem efeito a multa e respectiva guia..., seguindo o recurso os seus termos normais. Em sede de alegações, relativamente ao primeiro dos recursos referidos, a Recorrente formulou as seguintes conclusões: 1º. Vem o presente recurso interposto do despacho de fls -, que indeferiu o pedido de intervenção principal espontânea apresentado pela ora recorrente ( ) em virtude de não se encontrarem reunidos os pressupostos de que a lei faz depender a admissibilidade do pedido formulado. 2º. Contudo, ( ), o douto despacho recorrido não poderá subsistir, sob pena de violar manifestamente a Lei de Acidentes de Trabalho que expressamente prevê o direito da seguradora intervir espontaneamente em acção instaurada pelos lesados (neste caso herdeiros) contra o ou os responsáveis civis pelo acidente (art. 31º da Lei 100/97, de 13 de Setembro) 3º. A ora recorrente aderiu totalmente à petição inicial dos autores, na parte respeitante à descrição e circunstâncias em que se deu o acidente, bem como, quanto à imputabilidade da responsabilidade aos Réus pela sua ocorrência. 4º. Os factos são os mesmos e, uma vez provados na acção, serão o suporte para a procedência do pedido de intervenção espontânea e da responsabilidade do(s) réu(s) pelo reembolso à ora interveniente (recorrente) das quantias já pagas aos Autores em virtude do acidente de trabalho ocorrido em 29.09.2005 com João 5º. A causa de pedir é a mesma e a interveniente apresenta-se com um interesse equivalente e paralelo ao dos autores na procedência da acção! 6º. Estamos perante um acidente que reveste dupla natureza de acidente de trabalho e de acidente por facto ilícito de outrem (art. 31º da Lei 100/97, de 13.09) podendo existir por parte dos herdeiros da vítima, mais do que um tipo de direito de indemnização, por virtude do mesmo acidente e em relação ao mesmo dano concreto (morte). 7º. A ora seguradora pode e deve intervir, como parte principal no processo em que o sinistrado/beneficiários exigem aos responsáveis, a indemnização pelos danos decorrentes do acidente a que se reporta os autos. 3

8º. O direito de regresso da seguradora contra os terceiros causadores do acidente por acto ilícito, ou seja contra o responsável civil, tem por base a subrogação, cujo pressuposto essencial é o prévio pagamento ao sinistrado ou beneficiários legais das prestações devidas pela reparação do acidente de trabalho, o que poderá ser sempre exigido numa acção em que os beneficiários/herdeiros estão a pedir indemnização pelos mesmos danos ou outros derivados do mesmo acidente (estando assim preenchidos os pressupostos do litisconsórcio voluntário). 9º. A recorrente, seguradora, tem o direito e legitimidade de intervir na acção em que o sinistrado ou beneficiários/herdeiros instauraram contra os responsáveis civis pelo acidente (31º nº 5 da Lei 100797), e a intervir como parte principal em paralelo com os interesses dos autores. 10º. É assim evitada a dupla indemnização sobre o mesmo dano, pois que as indemnizações por acidente de trabalho e por acto ilícito deverão ser complementares uma da outra, discriminando-se ainda todos os encargos/indemnizações já pagas. 10º E a forma processual que o legislador encontrou foi através da intervenção principal espontânea ou da intervenção principal provocada. 11º ( ) 12º É totalmente irrelevante o facto dos autores na petição inicial não fazerem alusão a que o acidente revestiu também natureza de acidente de trabalho, pois que tal enquadramento bastava ser efectuado pela ora interveniente. 13º. Não obstante o especialmente previsto no artigo 31º nº 5 da Lei 100/97 ( ), certo é que estão reunidos também os pressupostos dos artigos 320º e 27º do CPC. 14º. Pelo que a ora recorrente/interveniente tem legitimidade e interesse directo em intervir na presente causa como parte principal - qualidade que lhe é dada, aliás, directamente pela lei - artigo 31º nº 5 da lei 100/97 de 13.09, devendo ser admitida a sua intervenção principal espontânea. A Rede Ferroviária Nacional - REFER, EP, contra-alegou pugnando pela manutenção do decidido. 4

No recurso interposto do despacho judicial proferido em 18 de Janeiro de 2012 a Recorrente, nas respectivas alegações, formulou as seguintes conclusões (sintetizadas): ( ) 5º- É manifesto que o recurso apresentado pela interveniente respeita única e exclusivamente à intervenção principal espontânea indeferida! 6º- A taxa de justiça devida pelo recurso deverá ser calculada pelo valor da intervenção espontânea (pedido autónomo e paralelo ao dos Autores). 7º- O valor do recurso corresponde ao valor do interesse patrimonial da recorrente no âmbito da acção, e é esse também o valor da sucumbência, ou seja, o valor de 48.293,04! 8º- O valor da intervenção e o valor da sucumbência diferem do valor da acção e estão perfeitamente identificados e determinados. 9º- O valor atribuído ao recurso e respectiva taxa de justiça considerados pelo Tribunal a quo são manifestamente desproporcionais, conduzindo a um resultado claramente contrário ao princípio da proporcionalidade que esteve na base do Código das Custas Judiciais, e ínsito nos princípios do Estado de Direito democrático. 10º- Não obstante não se ter indicado no requerimento de interposição o valor do mesmo, certo é que, sendo o valor da sucumbência determinável e limitado à intervenção principal indeferida, é esse o valor que se deve atender no recurso. 11º- Discordando a recorrente ( ) do entendimento do Meretíssimo Juiz a quo, ao considerar o valor do recurso igual ao valor da acção; ( ) 13º- A ora Recorrente não necessitava de indicar o valor do recurso, pois só nos casos em que o valor da sucumbência não é determinável é que, na falta da sua indicação, o valor do recurso é igual ao valor da acção, como resulta da utilização no artigo 11º, nº 2 do CCJ, da conjunção ou. 14º- E a recorrente indicou suficientemente o valor/objecto da sucumbência no requerimento de interposição do recurso, cumprindo assim o disposto no artigo 11º nº 1 do CCJ. 5

15º- Pelo que foi bem liquidada a taxa de justiça devida pela interposição de recurso do despacho que indeferiu a intervenção principal espontânea. 16º- Contudo, o douto despacho recorrido faz agravar de forma injusta, desproporcionada e infundada o valor da taxa de justiça e custas do recurso, pois que o valor da sucumbência ( ) é substancialmente inferior ao valor da acção principal ( ), efectuando uma incorrecta interpretação e aplicação do artigo 11º do CCJ (erro de interpretação). 17º- Com a manutenção da douta decisão recorrida ( ) poderão recair sobre a ora recorrente a responsabilidade por taxas de justiça e custas equivalentes à apreciação de um interesse patrimonial com o valor de cerca de 1.700.000,00, quando, efectivamente, a mesma apenas está a submeter à consideração das instâncias judiciais superiores, a apreciação de um interesse patrimonial com o valor de cerca de 48.000,00! 18º- Existe assim uma total desadequação do valor tributário à verdade processual, podendo conduzir a resultados manifestamente anómalos e desrazoáveis. 19º- O douto despacho recorrido violou manifestamente o princípio da proporcionalidade, constitucionalmente previsto. Não foram apresentadas contra-alegações. julgamento. Colhidos os vistos legais, foi o processo submetido à Conferência para Para apreciar e decidir os recursos interpostos pela ora Recorrente, importa considerar o seguinte que se passa a transcrever. 1- Em 23 de Novembro de 2006, Maria, por si e em representação dos filhos (João.., António... e Diogo ), únicos herdeiros de João.., falecido no acidente ocorrido entre o veículo. e o comboio nº. na passagem de nível ao km 149,697 da linha do leste, vieram, na presente acção administrativa 6

comum, pedir a condenação da CP e da REFER a pagar-lhes uma indemnização global de 1.734.500,00 pelos danos resultantes desse acidente; 2- Em 20 de Setembro de 2010, por requerimento de fls 269 a 273 (que aqui se dá integralmente por reproduzido), a C... Seguros Companhia de Seguros., SA, invocando que o acidente de viação dos autos é também um acidente de trabalho e que a responsabilidade por acidente de trabalho da vítima estava transferida para si, veio pedir a sua intervenção principal ao lado dos Autores, para reclamar dos Réus as importâncias que pagou àqueles e as que ainda lhes venha a pagar pela perda da capacidade de ganho do sinistrado, aderindo ao alegado nos artigos 1º a 75º da petição inicial dos Autores sobre o circunstancialismo do acidente e a imputabilidade da responsabilidade, e indicando como valor do incidente, a importância de 48.293,04; Seguradora; 3- Apenas a Ré REFER deduziu oposição ao requerimento de intervenção da 4- Por despacho datado de 3 de Outubro de 2011, o tribunal a quo indeferiu o pedido de intervenção deduzido pela C... Seguros, fazendo constar do respectivo despacho designadamente o seguinte: da conjugação dos normativos supra referidos - Artigo 320º, al. a) e artigos 27º e 28º do CPC - resulta que o interesse igual ao do Autor ou do Réu tem como premissa que a relação material controvertida respeita a várias pessoas - Litisconsórcio Voluntário - ou exija a intervenção dos vários interessados na relação controvertida - Litisconsórcio Necessário. No caso em análise e, desde logo, no que tange à Petição Inicial e respectiva causa de pedir, não é feita qualquer alusão como sendo acidente de trabalho, ao acidente ocorrido na passagem de nível ao Km 149,697 da linha do leste, em 29/09/2005, no qual foram intervenientes o veículo de matrícula conduzido pela aqui vítima de João.. e uma locomotiva da CP caminhos de Ferro Portugueses, E.P. (hoje Comboios de Portugal, E.P.E.). Por outro lado, os autores nesta acção formulam o pedido de indemnização na qualidade de herdeiros da vítima ( ), enquanto que o pedido que a Requerente C... SEGUROS - Companhia de Seguros de pretende formular, funda-se em alegado direito de regresso por quantias já pagas aos Autores, no âmbito do Processo..., que correu termos no tribunal de Trabalho de Abrantes, no qual era Ré. 7

5- Inconformada com este despacho, a C... Seguros dele recorreu, não tendo contudo indicado qualquer valor no respectivo requerimento de interposição, vindo a juntar aos autos o documento comprovativo da autoliquidação da taxa de justiça correspondente ao valor indicado no requerimento de intervenção principal (cfr. fls 400 a 413); 6- Tendo sido notificada de ter sido omitido o pagamento de parte da taxa de justiça e do prazo de 10 dias para pagar a taxa em falta acrescida de multa de igual montante (fls 417), a Interveniente, por requerimento de fls 420/421,veio pedir que o tribunal considerasse correctamente efectuada a auto-liquidação da taxa de justiça no recurso do despacho de indeferimento da intervenção principal espontânea e, consequentemente, se digne dar sem efeito a multa e respectiva guia., seguindo o recurso os seus termos normais ; 7- Sobre esse requerimento, em 18 de Janeiro de 2012, foi proferido o seguinte despacho judicial (cfr. fls. 429): «A Requerente, C... Seguros, não se conformando com a decisão que indeferiu o seu pedido de intervenção principal espontânea veio interpor recurso. Não indicou da causa quanto ao recurso. Refira-se, desde já que quanto aos presentes autos, e no que a custas diz respeito vigora o Código das Custas processuais (cf. art 27º do Decreto-Lei nº 34/2008).Assim, nos termos do artigo 11º, nº 2 do Código das Custas judiciais, no caso em apreço, o valor do recurso é igual ao valor da acção. Bem andou, pois, a secretaria ao notificar aquela Requerente para efectuar o pagamento omitido, relativo à parte da taxa de justiça devida pela apresentação do recurso, acrescido de multa de igual montante, observando assim os normativos supra referidos e o disposto nos arigos 23º, nº 1 e 28º ambos do CCJ. Atento o exposto, não colhem os argumentos expendidos no requerimento apresentado pela C... Seguros, razão pela qual indefiro o pretendido» 8- A C... Seguros veio interpôr recurso deste despacho. Tudo visto cumpre decidir. 8

Como adiantamos supra, estão em crise dois recursos distintos interpostos pela ora Recorrente C... SEGUROS - Companhia de Seguros de Ramos Reais : A - Do despacho que indeferiu o seu requerimento a deduzir o incidente de intervenção principal espontânea ao lado dos Autores; e B - Do despacho que indeferiu o requerimento a pedir que fosse considerada correctamente efectuada a auto-liquidação da taxa de justiça do despacho de indeferimento da intervenção principal espontânea e fosse dada sem efeito a multa. A Por razões de ordem lógica, comecemos por apreciar o recurso interposto do despacho judicial de 18 de Janeiro de 2012, que indeferiu o requerimento da ora Recorrente a pedir que fosse considerada correctamente efectuada a auto-liquidação da taxa de justiça do despacho de indeferimento da intervenção principal espontânea, efectuada com base no valor indicado no seu requerimento de intervenção, e fosse dada sem efeito a multa. Em face das conclusões das alegações da Recorrente, a decisão sobre o objecto do recurso passa por: - Delimitar o sentido e alcance do art. 11º do Código das Custas Judiciais (doravante designado CCJ), maxime, o significado que comporta o dever de o recorrente indicar o valor da sucumbência no requerimento de interposição de recurso e as consequências da sua não indicação, nomeadamente, nas hipóteses em que esse valor resulte, com relativa facilidade, das alegações de recurso e seja significativamente inferior ao valor da acção; - Aferir se, na interpretação que se apurar, foi feita correcta aplicação do art. 11º do CCJ ao caso sub judice. Analisemos então as questões assim enunciadas. Resulta do despacho judicial em crise, transcrito no nº 7 supra, que o tribunal a quo entendeu que, não sendo indicado um valor no requerimento de interposição de recurso, o valor do recurso do despacho que indeferiu o pedido de intervenção principal da ora Recorrente C... SEGUROS é igual ao valor da acção ( 9

1.734.500,00), pelo que a secretaria actuara em conformidade com os arts 11º, nº 2, 23º, nº 1 e 28º do C.C.J.. A Recorrente, que procedera à autoliquidação da taxa de justiça pela interposição de recurso no valor indicado no seu requerimento de intervenção principal activa ( 48.293,04), sustenta que essa autoliquidação está correcta, por o valor da sucumbência ser determinável e limitado à intervenção principal indeferida, cujo valor consta do respectivo requerimento de intervenção, devendo atender-se no recurso a esse valor, pois só nos casos em que a sucumbência não é determinável é que, na falta da sua indicação, o valor do recurso é igual ao valor da acção, concluindo que isto mesmo resulta da utilização da conjunção ou estatuída no nº 2 do artigo 11º do CCJ (cfr. conclusão 13ª). Importa previamente esclarecer o seguinte. No caso em apreço, a acção foi intentada pelos Autores em 2006, o incidente de intervenção principal e o presente recurso foram respectivamente interpostos pela ora Recorrente, no âmbito desse processo, em 20 de Setembro de 2010 e 27 de Fevereiro de 2012. Assim, embora deduzidos na vigência do Regulamento das Custas Judiciais, aprovado pelo Decreto-Lei nº 34/2008, de 26 de Fevereiro (que apenas entrou em vigor em 20 de Abril de 2009), considerando o disposto no seu art. 27º, nº 2 na redacção introduzida pelo art. 156º da Lei 64-A/2008, de 31 de Dezembro - Lei do Orçamento do Estado - (...as alterações às leis de processo e Regulamento das Custas Processuais, aplicam-se apenas aos processos iniciados a partir da entrada em vigor do presente decreto-lei, respectivos incidentes, recursos e apensos ), o presente recurso convoca primordialmente o art. 11º do Código das Custas Judiciais, na redacção introduzida pelo Decreto-Lei nº 324/2003, de 27 de Dezembro, que se mantém no actual nº 2 do art. 12º do Regulamento das Custas Processuais. Adiantamos já que há consenso na jurisprudência e na doutrina acerca da interpretação desse preceito do C.C.J., sendo que por ora apenas determinaremos o seu sentido e alcance, deixando para um segundo momento a sindicância da sua aplicação ao caso sub judice. Na redacção primitiva, conferida pelo Decreto-Lei nº 224-A/96, de 26 de Novembro, o artigo 11º prescrevia que, Nos recursos, o valor é o da sucumbência quando esta for determinável, sem fazer alusão a qualquer indicação no requerimento de interposição. 10

Na redacção que resultou da alteração introduzida pelo Decreto-Lei nº 324/2003, de 27 de Dezembro, aplicável a todos os processos entrados a partir de 1 de Janeiro de 2004, sob a epígrafe, valor da causa nos recursos, o artigo 11º passou a estabelecer que: «1. Nos recursos, o valor é o da sucumbência quando esta for determinável, devendo o recorrente indicar o seu valor no requerimento de interposição do recurso. 2. Se o valor da sucumbência não for determinável ou na falta da sua indicação, o valor do recurso é igual ao valor da acção.» Por conseguinte, nesta versão (que se mantém no nº 2 do art. 12º do Regulamento das Custas Processuais), o funcionamento da sucumbência passou a depender da indicação do seu valor pelo recorrente, recuperando-se parcialmente o nº 3 do art. 8º do anterior Código das Custas Judiciais de 1962 (com sucessivas alterações, mas esse número na redacção do Decreto-Lei nº 387-D/87, de 29 de Dezembro), que prescrevia que, Para efeito de tributação dos recursos, o valor da causa mede-se pelo valor da sucumbência nos termos prescritos no nº 1 do artigo 678º do Código de Processo Civil, devendo o recorrente indicar esse valor no próprio requerimento de interposição do recurso, sob pena de se atender aos valores constantes dos números anteriores. Destarte, à luz da disposição ora em análise e ao invés do afirmado pela Recorrente, não basta que o valor da sucumbência seja determinável, competindo ainda ao recorrente indicá-lo no requerimento de interposição do recurso, como logo prevê o seu nº 2: se o valor da sucumbência não for determinável ou, sendo determinável, não for indicado, o valor do recurso será igual ao valor da acção. Assim, no art. 11º, na redacção que resultou da alteração introduzida pelo Decreto-Lei nº 324/2003, como esclarece, entre outros, o Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 8 de Abril de 2013, in Proc. 840/08, o valor tributário era, consoante as situações, o seguinte: Se a sucumbência não fosse determinável (o seu valor impassível de quantificação) o valor do recurso aderia ao valor da acção (nº 2, início). Na falta de norma especial, a adesão ao contexto subsidiário do valor processual; aqui justificado pelas dificuldades de medição exacta, discernida e quantificada, do volume do decaimento. Havia, então, de apelar às disposições típicas do processo. Nas demais hipóteses, sendo a sucumbência determinável (passível de uma quantificação), a regra consistia em ser a sua medida a fixar o valor tributário (nº 1, 11

início); porém, sujeito este critério a uma condição, exactamente a de o recorrente indicar o seu valor no requerimento de interposição do recurso (nº 1, final). Mais ainda se esclarecendo (sendo esta, então, a terceira variante) o caso de, embora quantificável o valor da sucumbência, o requerente o não acusar ou anunciar no requerimento de interposição; voltando nesta situação a operar o valor da acção (nº 2, intermédio); espécie de consequência desfavorável ao incumprimento do ónus, precisamente da falta da sua indicação». Aliás, em anotação ao referido preceito, SALVADOR DA COSTA in Código das Custas Judiciais anotado, 7ª edição, 2004, a pág. 140, considerou o seguinte: se a sucumbência não for quantificável ou, sendo-o, o recorrente a não indicar no requerimento de interposição de recurso, o valor deste para o efeito de custas é determinado, nos termos gerais, por referência ao valor da causa. (in Código das Custas Judiciais anotado, 7ª edição, 2004, a pág. 140): Tal interpretação parece ser inequívoca, percebendo-se bem qual é o objectivo da norma. Na verdade, tendo o funcionamento do valor da sucumbência como dependência da sua indicação pelo recorrente sido a disciplina do precedente código, que foi abandonada, voltando a ser retomada com o Decreto-Lei nº 324/2003 (mantendo-se ainda no actual Regulamento das Custas Processuais), a explicação para esta mutação normativa - para a recuperação da exigência de indicação pelo recorrente do valor da sucumbência funda-se em razões de certeza e de segurança, de supressão de dúvidas, e da necessidade de assegurar alguma solidez na tarefa da feitura da conta de custas, por parte daquele funcionário que esteja incumbido desse encargo. Com efeito, quando a lei refere o requerimento de interposição como o espaço de indicação do valor, pelo recorrente, não o faz de modo neutro. Fá-lo com o objectivo de direccionar o contador a consultá-lo - esse instrumento propriamente dito -; e para nele escrutinar a realização do ónus cometido no artigo 11º cód custas; e dessa consulta formulando as devidas ilações, consoante aí se mostre feita, ou não, a indicação. E mais ainda; quando ali se fala em indicação o que se quer significar é a aposição de uma informação clara, de uma menção, de um apontamento, que, sobre o assunto, se deve mostrar patente e intuitivo; precisamente para salvaguardar a supressão de constrangimentos» (cf., entre outros, citado acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 8 de Abril de 2013). 12

Assim, e, repetimos, ainda antes de passarmos à apreciação da aplicação do normativo ao caso sub judice, forçoso é concluir que não pode ser acolhida a interpretação do artigo 11º do C.C.J. feita pela Recorrente nas suas alegações de recurso, ou seja, de que só nos casos em que o valor da sucumbência não é determinável é que, na falta da sua indicação, o valor do recurso é igual ao valor da accção (ou dito de outro modo, de que em qualquer caso de sucumbência determinável, o valor desta representa sempre o valor tributário nos recursos), não só porque tal interpretação não tem correspondência à letra da lei (que é expressa e inequívoca), como também porque deixa sem explicação a referida mutação normativa. Em idêntico sentido, além do já citado Acórdão que acompanhámos de perto, vejam-se, exemplificativamente, os Acórdãos do Tribunal da Relação do Porto de 20 de Abril de 2009, in Proc. nº 2174/04, do Tribunal da Relação de Guimarães de 31 de Outubro de 2012, in Proc. nº 2027/06, e do Tribunal da Relação de Lisboa, de 26 de Junho de 2012, in Proc. nº 658/09. Também não colhe a objecção da ora Recorrente, contida na conclusão 9ª da sua alegação, de que a interpretação do art. 11º do C.C.J., adoptada pelo tribunal, seria inconstitucional (materialmente) por violar o princípio constitucional da proporcionalidade e o acesso aos tribunais, ao permitir um agravamento intoleravelmente injusto, desproporcionado e infundado do valor da taxa de justiça e custas do recurso nos casos em que o valor da sucumbência - estando omitido no requerimento de interposição do recurso mas sendo facilmente conhecível - se apresenta substancialmente inferior ao valor da acção. Pese embora nas conclusões da sua alegação a Recorrente não faça menção expressa da norma constitucional que entende susceptível de ser violada, no corpo das suas alegações referiu-se expressamente à conjugação dos artigos 20º e 2º da CRP, como sendo as disposições feridas com a interpretação acolhida pelo tribunal. Não lhe assiste, porém, razão. Por um lado, a disposição do CCJ em causa é expressa e inequívoca a estabelecer a indicação do valor da sucumbência como um ónus do recorrente e, por outro, sendo o valor da acção o critério tributário geral e subsidiário, sempre garante algum tipo de correspondência entre a abordagem judiciária e o custo que, a final, lhe vem a pertencer, impedindo que se crie um agravamento 13

intoleravelmente desproporcionado da taxa de justiça e custas. Mais ainda, se alguma desproporção se pode gerar em casos concretos de sucumbência determinável, a desproporção gerada fica a dever-se apenas à omissão por parte do recorrente, que, podendo, não fez uso da faculdade que a lei de custas expressamente lhe concedeu para prevenir casos de interposição de recurso que prossigam interesses de valor inferior ao valor atribuído à causa. Em suma, não se vislumbrando qualquer ofensa às citadas disposições constitucionais, a correcta interpretação do artigo 11º do CCJ é a de que, se a sucumbência não for determinável ou, sendo-o, o recorrente não a indicar no requerimento de interposição de recurso, o valor deste para o efeito de custas é o valor da causa. Aqui chegados, passemos à segunda questão que oportunamente deixámos enunciada e que se prende, já não com a interpretação do normativo do CCJ, mas com a sua correcta ou incorrecta aplicação ao caso sub judice, consubstanciada na necessidade de saber qual é o valor da causa que, no recurso de um despacho judicial de não admissão de um incidente de intervenção principal activa espontânea facultativa (que é o caso específico destes autos), deve ser considerado será o valor da acção pendente em que a seguradora pretende intervir ou apenas o valor do incidente quando indicado no requerimento de intervenção? A resposta a esta questão passa por adiantar algumas considerações gerais sobre este concreto incidente. De harmonia com o disposto no artigo 320º do Código de Processo Civil, a intervenção principal activa espontânea (tal como a passiva) é facultada ao terceiro que, em relação ao objecto da causa, tiver um interesse igual ao do autor, nos termos dos artigos 27º e 28º e àquele que, nos termos do artigo 30º, pudesse coligar-se com o autor, desde que não se verifiquem os obstáculos previstos no artigo 31º, todos também daquele diploma. Ou seja, o interveniente principal faz valer um direito próprio, paralelo ao do autor ou do réu (artigo 321º Código de Processo Civil), não actuando por conta dos sujeitos processuais primitivos. Na intervenção facultativa, quer litisconsorcial quer coligatória, há, pois, tantas acções quantos os pedidos formulados autonomamente. Assim sendo, entendemos que, pelo menos antes da admissão do requerimento de intervenção, esse requerimento constitui uma verdadeira petição inicial de um sujeito processual autónomo. 14

Ora, dispõe o artigo 313º, nº 1 do Código de Processo Civil que O valor dos incidentes é o da causa a que respeitam, salvo se o incidente tiver realmente valor diverso do da causa, porque neste caso o valor é determinado em conformidade dos artigos anteriores (o destaque é nosso). Como se pode ler em Lebre de Freitas e José Redinha, in Código de Processo Civil (anotado), 1º vol., pág. 554, neste ultimo caso, os incidentes têm valor autónomo relativamente à acção a que respeitam, sendo tratados para o efeito como causas próprias [in Código de Processo Civil (anotado), 1º vol., pág. 554]. Ora, estando-se perante um incidente de intervenção principal activa, em cujo requerimento/petição inicial vem indicado o respectivo valor autónomo e realmente diferente do da acção proposta pelos autores (com utilidade económica a realizar não coincidente com a da acção) - afigura-se-nos dever ser tratado, pelo menos até à efectiva admissão da intervenção, como valor de causa própria - do pretenso interveniente - autónoma da causa pendente onde é pedida a intervenção. Por conseguinte, o valor da causa do incidente de intervenção não é o valor da causa proposta pelos Autores, mas sim o valor indicado no requerimento do incidente e, necessariamente, impõe-se concluir que foi correcta a autoliquidação da taxa de justiça devida pela interposição do recurso do despacho que indeferiu a intervenção, efectuada com base no valor de 48.293,04, isto ainda em consonância com o nº 2 do artigo 11º do CCJ. Em conformidade com o exposto, é de conceder provimento o presente recurso jurisdicional, não com fundamento na errada interpretação do artigo 11º do CCJ, mas com o fundamento, igualmente invocado pela Recorrente, de erro de julgamento por errada aplicação do preceito à situação dos autos. B - Passemos agora à apreciação do recurso do despacho que, em 3 de Outubro de 2011, indeferiu o requerimento de intervenção principal activa espontânea, que apenas coloca a questão de saber se essa decisão viola, ou não, o nº 5 do artigo 31º da Lei 100/97, de 13 de Setembro (lei dos acidentes de trabalho e doenças profissionais, em vigor à data do acidente dos autos), e/ou ainda os artigos 320.º, 27º e 28º do Código de Processo Civil, disposições legais invocadas pela ora Recorrente nas suas alegações para sustentar a admissibilidade do seu pedido de intervenção. 15

O despacho recorrido, parcialmente transcrito no item nº 4, não admitiu a intervenção em virtude de não se encontrarem reunidos os pressupostos de que a lei faz depender a admissibilidade do pedido formulado. Vejamos se assim é de entender. A ora Recorrente requereu a sua intervenção para se associar aos Autores, alegando que o acidente dos autos é também um acidente de trabalho e que a respectiva responsabilidade laboral estava transferida para si, pelo que pretende a sua intervenção principal activa para exercer o direito de regresso das quantias que pagou aos Autores, sucessores do sinistrado, pela perda de capacidade de ganho da vítima. No seu requerimento de intervenção espontânea, a ora Recorrente, não invocou a disposição legal em que estribava o pedido de intervenção, o que veio contudo fazer nas alegações de recurso, sustentando, em primeira linha, que o despacho em crise viola o artigo 31º da Lei 100/97, de 13 de Setembro (diploma legal que revogou e substituiu a Lei 2127, de 3 de Agosto de 1965, a qual, na Base XXXVII, já continha um regime muito semelhante ao estabelecido no referido art. 31º). Dispõe o citado artigo 31º que: 1 - Quando o acidente for causado por outros trabalhadores ou terceiros, o direito à reparação não prejudica o direito de acção contra aqueles, nos termos da lei geral. 2 - Se o sinistrado em acidente receber de outros trabalhadores ou de terceiros indemnização superior à devida pela entidade empregadora ou seguradora, esta considera-se desonerada da respectiva obrigação e tem direito a ser reembolsada pelo sinistrado das quantias que tiver pago ou despendido. 3 - Se a indemnização arbitrada ao sinistrado ou aos seus representantes for de montante inferior ao dos benefícios conferidos em consequência do acidente ou da doença, a desoneração da responsabilidade será limitada àquele montante. 4 - A entidade empregadora ou a seguradora que houver pago a indemnização pelo acidente tem o direito de regresso contra os responsáveis referidos no n.º 1, se o sinistrado não lhes houver exigido judicialmente a indemnização no prazo de um ano a contar da data do acidente. 16

5 - A entidade empregadora e a seguradora também são titulares do direito de intervir como parte principal no processo em que o sinistrado exigir aos responsáveis a indemnização pelo acidente a que se refere este artigo. Deste preceito resulta que o legislador estabeleceu um escalonamento de responsabilidades, considerando que a responsabilidade primária é a responsabilidade civil de terceiro e reconhecendo, por isso, à seguradora laboral que indemnizou o sinistrado, o direito de ser reembolsada pela totalidade do que prestou junto do responsável pelo sinistro (nas palavras de Antunes Varela, RLJ 103.º/26, «O risco da relação de trabalho aparece como uma causa remota do dano, situada num segundo plano; o facto ilícito culposo de terceiro é, por seu turno, a causa próxima ou imediata, destacada para o primeiro plano da responsabilidade no domínio das relações internas entre obrigados»). E como se pode ler no Acórdão do STJ de 11 de Dezembro de 2012, in Proc. nº 40/08.1TBMMV.C1.S1 ( disponível in www.dgsi.pt,), o direito ao reembolso do responsável laboral é, nos termos do referido art. 31º, efectivado necessariamente por uma de três formas: - substituindo-se ao lesado na propositura da acção indemnizatória contra os responsáveis civis, se lhe pagou a indemnização devida pelo sinistro laboral e o lesado não curou de os demandar no prazo de 1 ano a contar da data do acidente; (nº 4) - intervindo como parte principal na causa em que o sinistrado exerce o seu direito ao ressarcimento no plano da responsabilidade por factos ilícitos, aí efectivando o direito de regresso ou reembolso pelas quantias já pagas; (nº 5) - exercendo o direito ao reembolso contra o próprio lesado, caso este tenha recebido (em processo em que não haja tido lugar a referida intervenção principal) indemnização que represente duplicação da que lhe tinha sido outorgada em consequência do acidente laboral (nºs 2 e 3). Por conseguinte, a concretização processual do direito de intervir conferido pelo n.º 5 do artigo 31º à entidade patronal e à seguradora laboral é prosseguida através do incidente de intervenção principal activa: intervenção espontânea ou, no caso de a entidade patronal e/ou a sua Seguradora serem chamadas à lide, intervenção provocada. Ainda que lateralmente, dir-se-á que, pese embora a letra da lei, entendemos que a entidade patronal e a seguradora laboral que reclamam do responsável por 17

acidente, simultaneamente de viação e de trabalho, a indemnização paga à vítima de acidente de trabalho - ou aos respectivos familiares sucessores -, actuam subrogadas nos direitos do sinistrado e não alicerçadas num direito de regresso. Retomando o caso sub judice, em causa está a intervenção principal activa espontânea da seguradora laboral, pelo que só a esta modalidade de intervenção nos passaremos a debruçar. De harmonia com o disposto no artigo 320º, al. a) do Código de Processo Civil, a intervenção principal espontânea é facultada ao terceiro que, em relação ao objecto da causa, tiver um interesse igual ao do autor ou do réu, nos termos dos artigos 27º e 28º; e, de acordo com o disposto na al. b) do mesmo artigo 320º, àquele que, nos termos do art. 30º, pudesse coligar-se com o autor, desde que não se verifiquem os obstáculos previstos no artigo 31º, todos preceitos também do Código de Processo Civil. Assim, a intervenção espontânea pode ser litisconsorcial, no caso da al. a) do citado art. 320º, ou coligatória, no caso previsto na al. b) do mesmo normativo, diferindo quanto aos respectivos pressupostos e quanto ao regime processual. O interveniente principal faz valer um direito próprio, paralelo ao do autor ou do réu (art. 321º CPC), não actuando, pois, por conta dos sujeitos processuais primitivos, mas no seu próprio interesse, ainda quando o pedido ou a contestação se faça por mera aderência aos articulados já apresentados (cfr. Lebre de Freitas, Código de Processo Civil, Anotado, vol.1º, pág. 566). Ora, como se adiantou supra, o nº 5 do art. 31º da Lei 100/97, que é uma norma especial relativamente ao artigo 320º do Código de Processo Civil, reconhece expressamente à entidade empregadora e à sua seguradora laboral a titularidade do direito de intervirem como parte principal no processo em que o sinistrado (ou os seus sucessores) exigir de terceiros responsáveis pelo acidente a indemnização respectiva, independentemente de saber se estamos perante uma intervenção activa litisconsorcial ou coligatória (o que já acontecia no nº 4 da Base XXXVII da Lei 2127 e continua a acontecer no nº 5 do seu art. 17º da Lei 98/2009, de 4-09, diploma que veio a revogar a Lei 100/97). No entanto, sempre se dirá - reconhecendo-se embora que não há unanimidade na jurisprudência sobre o âmbito em que se situa a participação da entidade patronal e/ou da seguradora laboral na lide - que nos inclinamos para o entendimento sufragado no acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra de 22-01- 2008, in Proc. nº 576-A/2002, de que essa participação se situa no âmbito da 18

intervenção coligatória activa prevista na alínea b) do art.º 320º do CPC, legitimada pela conexão e compatibilidade da pretensão da interveniente com a do autor, conexão essa evidenciada pela circunstância de ambas as pretensões... estarem dependentes da verificação dos pressupostos da responsabilidade civil quanto ao terceiro demandado como causador do dano. Diversamente, no sentido de que a situação se configura antes como um caso de litisconsórcio activo facultativo [art. 320º, al. a) do CPC], veja-se o Acórdão do Tribunal da Relação Lisboa de 27-05-2009, in proc. 3927/07.5TTLSB. Assim sendo, é inquestionável que, independentemente da posição que tomemos sobre a natureza listisconsorcial ou coligatória da intervenção requerida, a C... SEGUROS - Companhia de Seguros de, tendo-se apresentado na lide como a Seguradora da entidade patronal do sinistrado no acidente dos autos para ser reembolsada de importâncias pagas aos Autores, sucessores do sinistrado, tem, por força da norma especial do nº 5 do artigo 31º da Lei 100/97, direito de intervir ao lado destes, sem prejuízo da qualificação da referida participação à luz do disposto no art. 320º do Código de Processo Civil poder ser necessária para determinar o regime processual dessa intervenção, nomeadamente no que respeita ao momento até ao qual o incidente de intervenção pode ser deduzido. Embora no caso em apreço esta questão não tenha sido suscitada, ainda se dirá que, quer se entendesse ser uma participação litisconsorcial na lide quer se entendesse ser coligatória, tendo a intervenção sido requerida antes do saneador (em acção administrativa comum com processo ordinário, que segue os termos do processo de declaração, obedecendo à tramitação própria do processo ordinário do CPC - cfr arts 35º, nº 1 e 42º do CPTA, sempre o requerimento da seguradora C... SEGUROS se revelava tempestivo, conforme resulta respectivamente da 1ª e 2ª partes do nº 1 do artigo 322º e nº 1 do artigo 323º do Código de Processo Civil. Por ultimo, ainda se esclarece que a REFER, nas suas contra-alegações de recurso, sustentou que o direito que a ora Recorrente pretende fazer valer na acção está prescrito. Acontece que esta questão já não tem que ver com a admissibilidade da intervenção mas com a defesa da Recorrida por excepção, que o tribunal de 1ª instância, em momento processual próprio apreciará. Em face do que ficou exposto impõe-se concluir que o tribunal a quo, ao indeferir o requerimento de intervenção activa espontânea da ora Recorrente, incorreu em manifesto erro de julgamento por violação dos artigos 31º, nº 5 da Lei 100/97 e 320º [em nosso entendimento al. b)] do Código de Processo Civil, razão pela 19

qual o despacho judicial de fls 364 a 366 merece a censura que lhe é dirigida devendo por isso ser revogado. interpostos. Termos em que é de conceder provimento aos dois recursos jurisdicionais Acordam, pois, os juízes que compõem a Secção de Contencioso Administrativo, 2º Juízo, deste TCAS, em conceder provimento aos recursos jurisdicionais interpostos, revogando esses mesmos despachos e determinando: a) - A restituição à Recorrente das importâncias pagas a título de taxa de justiça em falta pela interposição de recurso e a título de multa; b) - A admissão da intervenção principal activa da Recorrente, com a consequente baixa dos autos ao TAF de Leiria para prosseguimento da acção. Custas pela Recorrida REFER apenas quanto ao recurso interposto do despacho de 3 de Outubro de 2011, não havendo lugar à fixação de custas no recurso interposto do despacho de 18 de Janeiro de 2012. Lisboa, 20 de Junho de 2013 António Vasconcelos Paulo Gouveia Coelho da Cunha 20