Análise do uso de material fresado como agregado no Micro Revestimento Asfáltico a Frio (MRAF)

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Transcrição:

1 Análise do uso de material fresado como agregado no Micro Revestimento Asfáltico a Frio Felipe Cipriani Luzzi fcluzzi@gmail.com MBA em Infraestrutura de Transportes e Rodovias Instituto de Pós-Graduação - IPOG Porto Alegre, RS, 30 de maio de 2016 Resumo Nestes últimos anos, os materiais asfálticos vem sofrendo aumentos sucessivos e cada vez mais a busca por soluções inovadoras para redução de custos é fundamental. Diante disto, objetiva-se com este trabalho reduzir o consumo de emulsão asfáltica do micro revestimento asfáltico a frio, através da substituição de parte do agregado por material fresado em sua composição granulométrica. O material fresado foi retirado do Km 68 da BR 290/RS e o agregado, da britagem situada no Km 30,5, na mesma rodovia. A emulsão asfáltica é do tipo RC-1C, desenvolvida e fornecida pela empresa Betunel. Substituiu-se o agregado por fresado em três projetos diferentes com as quantidades de 10, 20 e 30%, respectivamente. Realizou-se a dosagem destas composições e do projeto original (sem fresado), através dos métodos preconizados na norma DNIT 035/2005 e NBR 14948 e as diretrizes ISSA - International Slurry Surfacing Association. Os teores de emulsão obtidos (% da mistura seca) foram 9,87, 9,14, 8,80 e 9,02, respectivamente, no projeto original e nos projetos com 10, 20 e 30% de fresado. Verificou-se a redução de aproximadamente 16,02%, em média, no consumo de emulsão asfáltica. Conclui-se que há a possibilidade desta substituição, mantendo parâmetros técnicos, visando a redução de custos. Palavras-chave: Micro revestimento asfáltico. Redução de custos. Material fresado. 1. Introdução O Micro Revestimento Asfáltico a Frio é um tipo de revestimento que no Brasil é utilizado desde a década de 1990. Constituído basicamente por emulsão asfáltica modificada por polímero, agregados britados, fíler e água, é considerado como uma alternativa para a manutenção preventiva para pavimentos asfálticos, desde que este não esteja comprometido estruturalmente. Na composição de sua granulometria, os materiais britados podem acabar se tornando onerosos, levantando assim a questão para a utilização de materiais alternativos em sua composição. Deste modo, a pesquisa objetiva, de maneira geral, verificar a viabilidade técnica, econômica e ambiental da incorporação de material fresado (RAP) na mistura do micro revestimento asfáltico a frio, montando cenários com diferentes porcentagens de RAP na mistura do MRAF. Os materiais agregados utilizados eram todos de origem basáltica, a emulsão modificada por polímero catiônica do tipo RC1C e o material fresado retirado de um segmento da BR- 290/RS. As misturas, após a definição do traço de projeto (utilizando-se da norma DNIT ES 035 de 2005) e das porcentagens de material fresado (10, 20 e 30%), foram submetidas aos

2 ensaios normatizados de determinação da coesão e características da cura, adesividade de misturas, resistência à ação da água da mistura após a sua cura, perda por abrasão úmida e determinação de excesso de asfalto e adesão de areia pela máquina, baseados nas normas da ABNT e especificações da ISSA. A partir destes ensaios, os resultados demonstraram que o material fresado tem a possibilidade de ser utilizado em projetos de dosagens de micro revestimento asfáltico a frio, sem alteração de suas qualidades técnicas e ainda proporcionar uma significativa redução de custos em função da diminuição do consumo de emulsão asfáltica. 2. Referencial Teórico 2.1. Micro Revestimento Asfáltico a Frio O Micro Revestimento Asfáltico a Frio é uma técnica que utiliza emulsões asfálticas modificadas por polímero em sua composição para aumentar a sua vida útil e por utilizar o mesmo princípio e concepção, esta técnica pode ser considerada uma evolução das lamas asfálticas (BERNUCCI, 2008). Durante a segunda metade da década de 70, em paralelo ao uso das técnicas de aplicações a frio, na Europa surgiu da lama asfáltica, o micro revestimento asfáltico a frio, com um uso mais amplo (ABEDA, 2010). A pavimentação via MRAF foi introduzida no Brasil na decada de 1990 e desde lá vem ganhando crescente utilização (CERATTI, 2011). Ceratti (2011) relata que esta técnica é aplicada na conservação preventiva e corretiva de rodovias e vias públicas com pavimentação asfáltica apresentando bons resultados de desempenho. O principal campo da aplicação do MRAF é em pavimentos que sua estrutura não esteja comprometida, ou seja, na manutenção preventiva, rejuvenescendo a superfície de rolamento e melhorando as condições de aderência da interface pneu-superfície (ABEDA, 2010). Bernucci (2008) define, além dos descritos anteriormente, possíveis utilizações para o MRAF em capa selante, revestimento de pavimentos de baixo volume de tráfego e camada intermediária anti-reflexão de trincas em projetos de reforço estrutural. A figura 01 ilustra o serviço de micro revestimento asfaltico sendo realizado na BR-290/RS com objetivo de melhoria nas condições de aderência pneu-pavimento e impermeabilização da superfície do pavimento. Figura 01 Serviços de micro revestimento asfáltico sendo realizados Fonte: Dados produzidos pelo o autor (2016)

3 Segundo a norma DNIT ES 035 (2005) a espessura de aplicação do micro revestimento varia de 4 a, aproximadamente, 40mm, podendo ser utilizado em vias urbanas, rodovias de tráfego pesado e em aeroportos. A aplicação do MRAF deverá ser realizada usinas móveis próprias acopladas em chassis de caminhões, que garantam a continuidade no espalhamento do MRAF. Estas devem ser providas de silos para agregados, fíler, fibras (quando houver), tanques separados para emulsão asfáltica, água e aditivos, dispositivo de mistura e caixa espalhamento e nivelamento (CERATTI, 2011). É importante para a aplicação do micro revestimento que a superfície esteja bem preparada. Para tal situação, algumas condições precisam ser verificadas, como: a avaliação correta das condições estruturais e funcionais do pavimento, a superfície deve receber uma limpeza prévia com vassouras mecânicas e/ou sopradores, serviços de tapa-buraco prévios e selagem de trincas com caráter não estrutural. Ceratti (2011) relata que outros cuidados que devem ser tomados antes do início dos serviços são com a temperatura, não inferior a 10ºC, e as chuvas, as quais podem ocasionar trincas e desgastes prematuros no MRAF. Os agregados devem ser estocados em locais que possa ser mantida umidade entre 3 e 4% para não ocasionar a segregação de finos e serem livres de contaminação por argilas. Os fílers necessitam ser estocados em local arejado e livre de umidade para que não formem grumos, prejudicando a mistura e a qualidade final de acabamento do micro revestimento. A emulsão asfáltica deve ser reservada em tanques a temperatura ambiente e que possuam dispositivos de controle e manejo ambiental. Todos estes devem ser testados de acordo com a normativa vigente e a dosagem inicial de projeto, devendo ser imediatamente substituídos, caso não atenderem os parâmetros, para não prejudicar a qualidade final produto. 2.2. Materiais Constituintes e Dosagem do MRAF Conforme a norma DNIT ES 035 (2005), o micro revestimento asfáltico a frio com emulsão modificada por polímero é a mistura de agregado mineral, material de enchimento (filer), emulsão asfáltica modificada por polímero do tipo SBS, água, aditivos se necessários, com consistência fluida, uniformemente espalhada sobre uma superfície previamente preparada Os agregados constituintes do MRAF são basicamente pó de pedra, pedrisco ou a mistura de ambos. Suas partículas individuais devem ser livres de torrões de argila e substâncias nocivas, resistentes e ter características como: desgaste Los Angeles igual ou inferior a 40% (aceitos valores maiores caso desempenho satisfatório em casos anteriores), durabilidade com perda inferior a 12% e equivalente de areia igual ou superior a 60% (DNIT ES 035, 2005). As emulsões asfálticas utilizadas são de ruptura controlada modificada por polímero. Esta é preparada para permitir a mistura aos agregados como se fosse uma emulsão de ruptura lenta e logo após sua ruptura se torna rápida para permitir a rápida liberação ao tráfego (BERNUCCI, 2008). Como materiais de enchimento, normalmente os mais utilizados são a Cal hidratada e o Cimento Portland. De maneira geral são utilizados para melhorar as condições de consistência e ajustar as condições de rompimento e cura da mistura (ISSA A143, 2010). Os limites de utilização variam de 0,2 a 1,5% em relação ao peso total de agregados (REIS, 2005).

4 A água para a mistura deve ser limpa, isenta de matéria orgânica óleos e substâncias prejudiciais a ruptura (DNIT ES 035, 2005). A água será empregada de maneira a promover a adequada consistência a mistura, normalmente com teores entre 4 e 12% em peso dos agregados. Esta quando em pouca quantidade pode dificultar o espalhamento na pista, mas por outro lado, se utilizada em porcentagens muito elevadas pode deixar a mistura com aspecto muito fluido, causando segregação e exsudação (ABEDA, 2010). Os procedimentos para a adequada dosagem do MRAF devem assegurar não só a qualidade dos materiais envolvidos e a compatibilidade entre eles, mas também a garantia das características físico-químicas da mistura. Os materiais devem ser selecionados de acordo com as condições da superfície e climáticas e o tráfego da rodovia. O fíler mineral, que é limitado a no máximo 3% em peso do agregado, deve ser constituído por materiais finamente divididos, não plásticos, secos, isentos de grumos e de composição granulométrica bem definida com pelo menos 65% do material passante na peneira de 0,075 mm, conforme descreve a norma DNER EM 367 (1997). A emulsão asfáltica, conforme as especificações vigentes (DNIT ES 035/2005, NBR 14948/2003 e ISSA A143/2010), deve ser do tipo catiônica, elastomérica e de ruptura controlada, tipo RC1C E, apresentando limites conforme a norma DNIT EM 128 (2010). O primeiro passo na dosagem de um projeto de MRAF, passa pela seleção da composição granulométrica (traço) a ser utilizado em função do tráfego da rodovia na qual serão realizados os serviços. Segundo a norma DNIT ES 035 (2005), a faixa I é utilizada para rodovias urbanas e aeroportos, a faixa II para rodovias de tráfego pesado e trilhas de roda e a faixa III para regularização e rodovias de tráfego pesado. Após a seleção e ensaios de granulometria dos materiais agregados, a mistura é submetida aos ensaios de determinação do tempo mínimo de mistura (NBR 14758), o qual define o tempo mínimo para a misturação dos materiais antes da ruptura da emulsão e, também ao ensaio que determina o teor de aditivo regulador de ruptura, quando este é previsto na dosagem inicial. Segundo Ceratti (2011) e Bernucci (2008), para a avaliação da compatibilidade dos materiais da mistura, é necessária a realização dos ensaios descritos abaixo: Determinação da coesão e características da cura pelo coesímetro (MCT NBR 14798 e ISSA TB 139): Define o tempo de cura e de liberação ao tráfego do MRAF; Determinação da adesividade de misturas (WST NBR 14757 e ISSA TB 114): Resistência à ação da água da mistura após a sua cura; Determinação da perda por abrasão úmida (WTAT NBR 14746 e ISSA TB 100): Resistência à abrasão sob ação simulada da água e do tráfego; Determinação de excesso de asfalto e adesão de areia pela máquina (LWT NBR 14841 e ISSA TB 109): Resistência a exsudação de asfalto sob a ação simulada do tráfego. Os ensaios de WTAT e LWT ainda determinam o teor mínimo e máximo, respectivamente, do ligante residual do MRAF. Estes dois ensaios quando combinados e plotados em apenas um gráfico (figura 02), determinam também o teor ótimo de emulsão asfáltica que deve ser utilizado no micro revestimento asfáltico a frio. Figura 02 Exemplo de plotagem dos valores dos ensaios de LWT e WTAT

5 Fonte: MORILHA (2006) 2.3. Material Fresado e sua Utilização na Pavimentação De acordo com Bomfim (2007), a crise do petróleo dos anos 1970 e a escassez da fabricação dos materiais asfálticos, fizeram os técnicos rodoviários da época voltarem-se para a ideia de reprocessar os materiais de pavimentação de pistas deterioradas. O mesmo autor relata que a fresagem de pavimentos asfálticos é, nos dias atuais, uma técnica constantemente aplicada como parte de um processo de restauração de pavimentos deteriorados. Segundo Moreira (2005), a reutilização de material fresado surge como alternativa viável para utilização em vias de baixo volume de tráfego. Apesar da tecnologia de reciclagem ser bastante difundida, em locais de baixo poder orçamentário ainda se opta pela solução de depositar o material fresado em bota-foras. A ideia da utilização de fresado na solução para restauração de pavimentos deteriorados é antiga, segundo Moreira (2005) a reciclagem de pavimentos teve inicio na India e Cingapura em meados de 1930 e de acordo com Pinto (2010) no Brasil, a técnica de reciclagem de pavimentos chegou na década de 1960, sendo utilizada nas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Esta técnica consiste em reutilizar o pavimento deteriorado e transformar em uma estrutura homogênea adequadamente dimensionada para receber os esforços do tráfego (SPECHT, 2012). A utilização do material fresado é de grande utilidade dentro da pavimentação. Além dos trabalhos de reciclagem in situ, nota-se o grande leque de opções formado pela possibilidade de incorporação do RAP em novas misturas asfálticas, entre as quais, podem-se destacar: Specht (2012) que propõe a utilização deste material em camadas de base e subbase de pavimentos, Pinto (2010), que investiga a possibilidade de utilização deste material em bases de aterros e Zubaran (2014) avaliando o comportamento de misturas mornas recicladas. Além destes, Moreira (2005) incorpora aos Pré Misturados a Frio (PMF) porcentagens de fresado. Ainda não está tão difundido entre os técnicos rodoviários pesquisas com a incorporação de fresado em misturas de MRAF, mas, no Brasil, pode-se destacar Castro (2014), que compara não apenas a introdução de fresado a misturas de micro revestimento asfáltico, mas também a incorporação de materiais da siderurgia.

6 3. Materiais, metodologias e resultados Para a elaboração dos projetos de micro revestimento asfáltico desenvolvidos neste trabalho foram utilizados os agregados britados, de origem basáltica, da unidade de britagem da Triunfo/Concepa localizada as margens do km 30,5 da BR 290 no estado do Rio Grande do Sul. Foram coletados aproximadamente 120 kg de agregados, conforme a norma DNIT 035/2005, a qual preconiza, mediante recomendações técnicas da ISSA - International Slurry Surfacing Association, as composições granulométricas a serem utilizadas nestes projetos. A emulsão asfáltica, RC 1C Flex modificada por polímero, foi fornecida pela empresa Betunel e o material fresado, aproximadamente 60 kg, foi coletado no km 68 da mesma rodovia com a utilização do equipamento mini fresadora acoplado a uma BOBCAT 600, conforme figura 03. Figura 03 Equipamento utilizado para a coleta do material fresado Fonte: Dados produzidos pelo o autor (2016) Por se tratar de uma rodovia considerada de tráfego pesado, a faixa granulométrica de projeto de micro revestimento asfáltico utilizada é a faixa II da norma DNIT ES 035/2005, que por sua vez delimita o diâmetro máximo do agregado na peneira 3/8, ou seja, todo o material retido nesta peneira deve ser removido do projeto. Para a possibilidade de ajustar a curva granulométrica do material na já referida norma, após o recolhimento do fresado em campo, todo o material retido na peneira 3/8 foi removido e o restante foi separado para caracterização. A Figura 04 demonstra o material fresado retido (à esquerda) e passante (à direita) após a separação dos materiais com diâmetro maior que 9,5mm. Figura 04 separação granulométrica do material fresado

7 Fonte: Dados produzidos pelo o autor (2016) De posse do material fresado passante separado e os agregados coletados, foram utilizadas as peneiras, evidenciadas na Figura 05, para a composição e adequação da curva granulométrica conforme o que preconiza a norma já citada anteriormente. Além das composições granulométricas, no material fresado também foram realizados ensaios de extração de betume. Este ensaio é de fundamental importância, pois caracteriza o material da camada existente, como traços de CBUQ ou PMQ por exemplo, e fornece diretrizes para o comportamento destes em projetos que possam utilizar, futuramente, porcentagens de material fresado em suas composições. Os teores obtidos nos ensaios ficaram em torno de 5,08%, demonstrando que a camada de pavimento existente anteriormente era, possivelmente, de CBUQ. Os teores de ligante encontrados no fresado coletado, indicam o comportamento do material existente e tem por maior objetivo a utilização como comparação em próximos trabalhos, já que nesta pesquisa, o material fresado está sendo utilizado apenas como material agregado, não sendo utilizado, por exemplo, agente rejuvenescedor para dar vida novamente ao ligante incorporado na mistura. Figura 05 Peneiras para a composição da curva granulométrica Fonte: Dados produzidos pelo o autor (2016) A substituição de agregado por material fresado nas composições granulométricas foi realizada de modo com que as faixas de trabalho especificadas em norma não fossem

8 ultrapassadas. Desta forma, o valor máximo desta substituição encontrado foi 30% e os valores de 10% e 20%, foram escolhidos para comparações a primeira porcentagem e também para facilitar a composição das misturas. A porcentagem restante de material foi composta por material agregado, complementando e ajustando as curvas granulométricas dentro das faixas especificadas. Na figura 06 estão ilustradas as curvas granulométricas dos 4 projetos elaborados. Vê-se que todas as curvas desta figura se encaixam dentro das faixas de trabalho utilizadas. Figura 06 Granulometrias encontradas para os projetos de micro revestimento asfáltico Fonte: Dados produzidos pelo o autor (2016) Com as granulometrias dos projetos já elaboradas, as 4 amostras foram enviadas ao laboratório para realização de ensaios de densidade, equivalente de areia e azul de metileno e posterior montagem dos projetos e dosagem da emulsão asfáltica. O primeiro ensaio auxilia posteriormente nos cálculos de consumo de materiais agregados e emulsão por m² de micro revestimento aplicado em campo. O ensaio de equivalente de areia indica a quantidade de impurezas e finos na mistura, já o azul de metileno quantifica os argilo-minerais presentes na fração passante na peneira nº 200 e sua reatividade superficial. A tabela 01 resume os valores. Ensaios Especificação Tabela 01 Resumo de ensaios da mistura seca Mistura sem fresado 10% de fresado 20% de fresado 30% de fresado Equivalente de areia (DNER ME 054/97) >60% 61,3 65,4 70,5 71,7

9 Azul de metileno (ABNT NBR 14949) <10 7 7 7 7 Densidades (kg/m³) 1,708 1,582 1,582 1,562 Fonte: Dados produzidos pelo autor (2016) A partir dos resultados adequados dos ensaios anteriores, as misturas de agregados e fresado foram encaminhadas ao laboratório para dosagens dos teores ótimos de emulsão asfáltica, a qual se faz confrontando os dados das condições de desgaste por abrasão (ensaio WTAT Wet Track Abrasion Loss) e exudação (ensaio LWT Loaded Wheel Test) pela absorção de areia. A figura 07 ilustra os equipamentos utilizados nos ensaios realizados. Figura 07 Ilustração dos processos de ensaios realizados Fonte: Dados produzidos pelo autor (2016) Em todas as amostras, os teores testados foram 8, 10, 12 e 14% e na tabela 02 estão resumidos os resultados dos ensaios para estes teores de emulsão utilizados. Tabela 02 Resultados dos ensaios de LWT e WTAT com diferentes teores de emulsão Ensaios Critério Ensaio Teores (%) Mistura sem fresado 10% de fresado 20% de fresado 30% de fresado WTAT Desgaste (g/m²) LWT Absorção de areia (g/m²) < 538g/m² < 538g/m² 8 584 576 535 603 10 355 364 308 362 12 230 280 176 265 14 173 215 115 188 8 235 198 157 215 10 368 368 310 356 12 540 545 542 562 14 610 618 619 659 Fontes: Dados produzidos pelo autor (2016) Com os dados obtidos nos ensaios fez-se o cruzamento entre LWT x WTAT e a partir destes encontrou-se valores de teor ótimo de emulsão asfáltica conforme está descrito na tabela 03. Tabela 03 Teores ótimos de emulsão e asfalto residual das misturas

10 Descrição 1 - Teores Teor ótimo emulsão (PPC) Critério Teores Mistura sem fresado 10% de fresado 20% de fresado 30% de fresado Teor ótimo Máximo 10,37 9,64 9,3 9,52 Teor ótimo 9,87 9,14 8,8 9,02 Teor ótimo Mínimo 9,37 8,64 8,3 8,52 Teor ótimo residual (PPC) Entre 6,5-12 (+/- 2) 6,12 5,67 5,46 5,59 Fontes: Dados produzidos pelo autor (2016) De acordo com a norma DNIT ES 035 (2005), os valores de teor ótimo das misturas, bem como as suas granulometrias podem ser ajustadas em campo antes do inicio dos trabalhos. Deste modo estipula-se uma tolerância de 0,5% a mais ou a menos do teor de emulsão ótimo para eventuais correções que venham a precisar ser feitas em campo, de modo que a qualidade e produção dos serviços não seja afetada. Assim construiu-se, utilizando-se dos dados da tabela 03, um gráfico (figura 08) representando os limites possíveis de utilização de emulsões asfálticas para as quatro composições. Este gráfico facilita o entendimento do comportamento das misturas e, demonstra a faixa de trabalho que se pode utilizar em campo sem que a dosagem perca em qualidade técnica. Figura 08 Gráfico dos teores de emulsão por mistura e faixa de aplicação Fontes: Dados produzidos pelo autor (2016) A mesma norma citada anteriormente, no quadro de composição da mistura, mostra que os valores residuais de asfalto para a faixa II deve ficar entre 6,5 e 12% em peso do agregado, com uma tolerância de +/-2%. Esta norma também prevê que as tolerâncias apenas são permitidas se os limites das faixas não sejam ultrapassados. Deste modo, utilizou-se como parâmetro a ISSA A143 (especificação norte americana na qual está baseada a DNIT ES 035/2005, a qual, para o mesmo item de asfalto residual, estima um valor mínimo de 5,5% e máximo de 10,5%. Assim, pode-se afirmar que os resultados obtidos nos ensaios de

11 laboratório foram satisfatórios, atendendo as normativas em uso no Brasil para projetos de micro revestimento asfáltico. Ainda, para os teores ótimos de emulsão encontrados, foram realizados os ensaio de adesividade por via úmida (WET - Wet Stripping Test) e de determinação dos tempos de rompimento e cura da mistura. Para todas as amostras analisadas, o resultado do Wet Stipping Test foi satisfatório, mantendo-se o agregado 90% recoberto de película asfáltica. Para o segundo ensaio citado, na tabela 04 estão os resultados encontrados, os quais também são considerados adequados de acordo com os limites previstos na ISSA A143. Ensaios Coesão/ Torque (Kgm) Tempos ensaios (minutos) Tabela 04 Resultados dos ensaios de Torque/Coesão Critérios Mistura sem fresado 10% de fresado 20% de fresado 30% de fresado 30 > 12 12 13 12 12 60 > 20 21 22 22 22 Fontes: Dados produzidos pelo autor (2016) Com base nos resultados obtidos e na bibliografia consultada, pode-se simplificar a faixa de trabalho realizando o cálculo das médias dos limites superiores e inferiores dos teores de emulsão asfaltica encontrados. Desta forma, cria-se balizadores para facilitar a análise da redução dos teores em função da incorporação de fresado. O gráfico (figura 09) identifica os limites médios dos teores de emulsão. Figura 09 Limites médios de teores de emulsão Fontes: Dados produzidos pelo autor (2016)

12 Notou-se que o teor para o projeto sem a adição de fresado está fora do limite máximo calculado, mas este fato não é de maior relevância, pois aceitam-se as tolerâncias aplicadas devido a possíveis alterações em campo. Não se verificou uma linearidade no comportamento, mas houve redução dos teores em todos os projetos onde se utilizou fresado na mistura em relação ao projeto apenas com o agregado britado. A partir destes dados, foi possível realizar o cálculo dos consumos de emulsão asfaltica por metro quadrado aplicado de microrevestiento em campo. De posse das densidades, conhecendo os teores emulsão de projeto (partes por cem por cento da mistura seca de agregados) e utilizando um volume para uma espessura de 8mm (espessura utilizada pela concessionária da rodovia) chegou-se aos resultados dos consumos de emulsão (em kg/m²), conforme indicado na tabela 05. Projeto Tabela 05 Resultados encontrados para consumos de emulsão Densidade mistura seca (kg/m³) Espessura (m) Consumo agregados (kg/m²) Teor de projeto (PPC) Consumo emulsão (kg/m²) Projeto 1 - Sem fresado 1,708 0,008 13,664 9,870 1,349 Projeto 2-10% Fresado 1,582 0,008 12,656 9,140 1,157 Projeto 3-20% Fresado 1,582 0,008 12,656 8,800 1,114 Projeto 4-30% na mistura 1,562 0,008 12,496 9,020 1,127 Fontes: Dados produzidos pelo autor (2016) A tabela 05 demonstra que para todos os casos analisados os consumos de emulsão asfaltica sofreram uma redução, mesmo que não seguindo uma sequência proporcional de redução em função do aumento da incorporação de material fresado a mistura. Em média, o consumo de emulsão asfáltica para os projetos que possuiam material fresado em sua composição ficou em 1,133 Kg/m², representando uma economia de aproximadamente 16,02% em relação ao projeto inicial, sem adição de material fresado. Castro (2014), também constatou que há a redução de aproximadamente 17% do teor de emulsão asfáltica em virtude da incorporação de 30% de fresado na mistura de MRAF mantendo-se os parâmentros técnicos da mistura. Não se pode comparar diretamente estes valores de redução, pois assim como os agregados (do tipo gnaisse), emulsão asfáltica (Asfaltos Nordsteste) e fresado (região de Fortaleza-CE) são de origem diferentes dos aqui utilizados, mas demonstra o comportamento da utilização deste material nas misturas asfálticas a frio. Deste modo, verifica-se que, realmente, a adição de material fresado a mistura de microrevestimento asfáltico pode colaborar com a redução dos consumos de emulsão asfáltica, contribuindo, desta maneira para reduzir custos com a compra do material asfáltico e diminuir o impacto ambiental, ja que o fresado pode ser reutilizado, eliminando, quase que em sua totalidade, o tratamento ou descarte do residuo gerado. A partir deste trabalho podem ser desenvolvidas mais pesquisas que objetivem a utilização de materiais alternativos na composição de misturas não só para os projetos de

13 microrevestimento asfáltico, mas também para misturas usinadas a quente, objetivando a redução de custos, minimização de efeitos ambientais nocivos e ainda, a melhoria de características finais de projetos. Ainda, cabe ressaltar que os projetos aqui definidos e ensaiados, com o material fresado na mistura, não foram testados em campo e estas podem ser desenvolvidas em próximas pesquisas a fim de verificar as condições de alinhamento, espessura e segregação dos agregados. 4. Conclusão A pesquisa fundamentou-se na preocupação com duas principais linhas: a economia quanto ao uso de materiais asfálticos e a reincorporação destes materiais em projetos para a pavimentação. Os processos utilizados na elaboração dos projetos foram referenciados em normas brasileiras do DNIT e ABNT e recomendações norte americanas da ISSA, conforme já comentado no item anterior. As amostras foram submetidas a ensaios normatizados, desde granulometria até a determinação dos tempos de cura e rompimento da mistura. Em todos estes ensaios realizados, as amostras contendo o material fresado tiveram um comportamento semelhante aos resultados obtidos na mistura sem este material, comprovando ser tecnicamente viável a utilização do RAP nas misturas a frio por estarem dentro dos limites estabelecidos, não apenas nas normas do país, mas também nas especificações internacionais. Os projetos elaborados no presente trabalho não foram testados em campo. Pode-se, em próximas pesquisas, realizar novas composições granulométricas de micro revestimento asfáltico com materiais alternativos, até mesmo diferentes de fresado, e testa-las em campo a fim de verificar as condições da graduação da mistura, condições de acabamento, taxas de aplicação de emulsão e a desagregação da composição granulométrica após a liberação ao tráfego de veículos. Os teores de emulsão asfáltica reduziram em relação a amostra original (sem RAP), 0,73%, 1,07% e 0,85% respectivamente para as amostras com 10%, 20% e 30% de fresado na mistura. As amostras também foram submetidas a ensaios de densidade e após estes, os consumos de emulsão por metro quadrado foram calculados. Os consumos reduziram em média 0,216 Kg/m² e o consumo final médio resultou em 1,133 Kg/m² de emulsão asfáltica para uma camada com espessura de 8 mm. Deste modo, verificou-se uma redução média no consumo de emulsão em, aproximadamente, 16,02%, demonstrando que a possibilidade do uso de RAP em misturas asfálticas a frio é viável, técnica e economicamente. Por fim, nota-se que a utilização de materiais alternativos na composição de misturas asfálticas assume um papel relevante na busca por soluções que reduzam os custos na elaboração e execução de projetos destas misturas e também contribuem de maneira muito significativa para o controle dos impactos ambientais originados da produção de material fresado em obras de construção e manutenção de rodovias. 5. Referências ABEDA, Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Asfaltos. Manual Básico de Emulsões Asfálticas. Rio de Janeiro, 2010.

14 ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14746: Microrrevestimentos asfálticos e lamas asfálticas Determinação da perda por abrasão úmida. Rio de Janeiro, 2001. ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14757: Microrrevestimentos asfálticos Determinação da adesividade de Misturas. Rio de Janeiro, 2001. ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14758: Microrrevestimentos asfálticos Determinação do tempo de Misturação. Rio de Janeiro, 2014. ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14841: Microrrevestimentos asfálticos Determinação de excesso de asfalto e adesão de areia pela máquina LWT. Rio de Janeiro, 2002. ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14948: Microrrevestimentos asfálticos a frio modificados por polímero - Materiais, execução e desempenho. Rio de Janeiro, 2003. ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14949: Microrrevestimentos asfálticos - Caracterização da fração fina por meio da absorção de azul de metileno. Rio de Janeiro, 2003. BALBO, José Tadeu. Pavimentação Asfáltica: Materiais, Projeto e Restauração. São Paulo: Oficina de Textos, 2007. BERNUCCI, Liedi Bariani; MOTTA, Laura Maria Goretti da; CERATTI, Jorge Augusto Pereira; Soares, Jorge Barbosa. Pavimentação Asfáltica: Formação Básica para Engenheiros. Rio de Janeiro: PETROBRAS-ABEDA, 2008. BOMFIM, Valmir. Fresagem de Pavimentos Asfálticos. São Paulo, Exceção, 2007. CASTRO, Pedro Bastos de; Avaliação do Emprego de Agregados Alternativos em Micro Revestimento Asfáltico. Fortaleza, 2014. CERATTI, Jorge Augusto Pereira; REIS, Rafael Marçal Martins de. Manual de Microrevestimento Asfáltico a Frio. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. DNER, DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. EM 367: Material de Enchimento para Misturas Betuminosas. Rio de Janeiro, 1997 DNER, DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. ME 054: Equivalente de Areia. Rio de Janeiro, 1997.

15 DNER, DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. ME 083: Agregados Análise Granulométrica. Rio de Janeiro, 1998. DNIT, DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. EM 128: Emulsões asfálticas catiônicas modificadas por polímeros elastoméricos. Rio de Janeiro, 2010. DNIT, DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. ES 035: Pavimentos flexíveis Micro revestimento asfáltico a frio com emulsão modificada por polímero. Rio de Janeiro, 2005. ISSA, International Slurry Surfacing Association. Recommended Performance Guideline For Micro Surfacing. Annapolis, Maryland, 2010. ISSA, International Slurry Surfacing Association. TB 100: Wet Track Abrasion Loss - WTAS. Annapolis, Maryland, 1990. ISSA, International Slurry Surfacing Association. TB 109: Loaded Wheel Tester - LWT. Annapolis, Maryland, 1990. ISSA, International Slurry Surfacing Association. TB 114: Wet Stripping Test - WST. Annapolis, Maryland, 1990. ISSA, International Slurry Surfacing Association. TB 139: Classify Emulsified Asphalt/Aggregate Mixture Systems by Modified Cohesion Tester Measurement of Set and Cure Characteristics. Annapolis, Maryland, 1990. MOREIRA, Heberton Souto; SOARES, Jorge Barbosa; MOTTA, Laura Maria Goretti da. Comparação do Comportamento Mecânico de Misturas Asfálticas a Frio com Diferentes Teores de Fresado Incorporado. Fortaleza, 2005. MORILHA, Armando Junior; TEIXEIRA, Luiz Henrique. Micro Revestimento Asfáltico a Frio. Rio de Janeiro, 2006. PINTO, C. S. Reutilização de Material Asfáltico Fresado: avaliação da potencialidade de utilização em aterros rodoviários. Porto Alegre, 2010. REIS, Marcus dos; FORTES, Rita Moura. Análise da reconstituição do traço do Micro revestimento Asfáltico. Curitiba: 36ª RAPv, 2005. SPECHT. Luciano Pivoto. Reciclagem de Pavimentos: Alternativas de Utilização de Material Fresado como Camada de Base e Sub-Base. Santa Maria, 2012.

16 ZUBARAN, Marcelo. Avaliação do Comportamento de Misturas Asfálticas Recicladas Mornas em Laboratório e Usina de Asfalto. Rio de Janeiro, 2014.