REPRODUÇÃO INDUZIDA DE CACHARA Pseudoplatystoma reticulatum CAPTURADOS NO PANTANAL SUL, SUBMETIDOS A DIFERENTES INTERVALOS DE TEMPO ENTRE AS APLICAÇÕES HORMONAIS Letícia Emiliani Fantini 1, Cristiane Meldau de Campos 2 1 Estudante do curso de Zootecnia da UEMS, Unidade Universitária de Aquidauana. Bolsista iniciação científica PIBIC/CNPq; E-mail: leticia.emiliani@hotmail.com 2 Professora do curso de Zootecnia da UEMS, Unidade Universitária de Aquidauana. Doutora em Aquicultura; E- mail: cmeldau@uems.br Ciências Agrárias/Zootecnia Resumo Este estudo apresenta índices reprodutivos de cachara Pseudoplatystoma reticulatum submetidos a diferentes intervalos de tempo entre as aplicações hormonais. Adotou-se delineamento inteiramente casualizado com dois tratamentos e duas repetições. As fêmeas receberam dose prévia de 0,5 mg kg -1 de peixe do hormônio Ovopel e dose definitiva de 5,0 mg kg -1 de peixe, com intervalo entre as aplicações hormonais de 10 e 12 horas para o tratamento 1 e tratamento 2, respectivamente. Os machos receberam dose única de 2,5 mg kg -1 de peixe quando as fêmeas receberam a dose definitiva. Não foram encontradas diferenças significativas entre os tratamentos para as variáveis analisadas (P>0,05). Os valores de índices reprodutivos encontrados no tratamento 2 foram numericamente mais satisfatórios quando comparado ao tratamento 1, indicando que existe uma interferência do tempo entre as aplicações de hormônio no peso da desova. É sugerido aumentar o número de animais dentro dos tratamentos, para uma confirmação estatística desses resultados prévios. Palavras-chave: desova. siluriforme. surubim. Introdução A maioria dos estoques naturais de peixes comerciais estão em sobrexploração, com uma taxa de captura acima da capacidade natural de recuperação (STREIT JR et al, 2002), motivo pela qual a aqüicultura mundial vem ganhando espaço ano após ano. Os sistemas de aqüicultura privam o comportamento migratório (MURGAS et al, 2003), deixando de emitir certos estímulos externos aos animais, fazendo com que não haja uma resposta endócrina apropriada para a indução da maturação gonadal final, (ANDRADE & YASUI, 2003) e liberação dos gametas da maioria dos peixes mantidos em cativeiro (CARNEIRO & MIKOS, 2008) impedindo que esses peixes atinjam o preparo fisiológico para a reprodução (MURGAS et al, 2003). Entre as principais técnicas de reprodução induzida, se destaca a hipofisação, que consiste na aplicação de hormônios naturais presentes na hipófise de peixes maduros (ZANIBONI FILHO &WEINGARTNER, 2007), alternativa utilizada principalmente para os
peixes reofílicos, que habitam águas correntes, grupo onde se enquadram os peixes que realizam migração reprodutiva conhecida como piracema (ANDRADE & YASUI, 2003). Os hormônios utilizados geralmente para a maioria das espécies de peixes de interesse comercial são o extrato hipofisário da carpa comum, o HCG (gonadotrofina coriônica humana) e análogos de hormônios liberadores de gonadotrofinas (GnRHa), sendo os últimos muitas vezes associados a bloqueadores de receptores da dopamina, como é o exemplo do hormônio comercial Ovopel. O cachara Pseudoplatystoma reticulatum, além de apresentar alto valor econômico, possui características zootécnicas desejáveis. Hoje é considerado uma das espécies prioritárias para o crescimento da aquicultura nacional, tendo sido escolhida para as pesquisas no estado de Mato Grosso do Sul. Com o intuito de colaborar com dados de reprodução de espécies com potencial para a piscicultura, este trabalho tem como objetivo apresentar índices reprodutivos de cachara Pseudoplatystoma reticulatum submetidos a diferentes intervalos de tempos entre as aplicações hormonais. Material e Métodos O experimento foi conduzido no setor de piscicultura da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), no Laboratório de Reprodução e Larvicultura de Peixes, em Aquidauana-MS. Reprodutores de cachara Pseudoplatystoma reticulatum foram capturados em ambiente natural, selecionados e estocados em viveiros na piscicultura da UEMS. Para seleção dos animais com características reprodutivas, os peixes foram transportados até o laboratório onde foram mantidos em tanques de alvenaria. Inicialmente foram utilizadas 11 fêmeas e seis machos de cachara Pseudoplatystoma reticulatum, no entanto, apenas quatro casais apresentavam características desejáveis. A seleção dos reprodutores foi baseada em sinais externos, as fêmeas aptas, apresentavam abdômen desenvolvido e macio ao toque, poro genital dilatado e avermelhado, os machos liberavam pequenas quantias de sêmen sob leve pressão no abdômen. Durante a seleção, fêmeas e machos foram pesados individualmente para o cálculo das doses hormonais a serem administradas. Adotou-se o delineamento inteiramente casualizado com dois tratamentos e duas repetições, sendo que cada casal foi considerado uma repetição. As fêmeas receberam uma dose prévia de 0,5 mg kg -1 de peixe e uma dose definitiva de 5,0 mg kg -1 de peixe, com intervalo entre as aplicações hormonais de 10 e 12 horas para o tratamento 1 e tratamento 2,
respectivamente. Os machos receberam dose única de 2,5 mg kg -1 de peixe quando as fêmeas receberam a dose definitiva. No momento da indução hormonal, os animais foram sedados com solução anestésica de benzocaína a 10%, até perderem o equilíbrio. Posteriormente ocorreu a aplicação das doses hormonais, quando os peixes foram retirados da água para a aplicação do hormônio na cavidade abdominal (Figura 1A). Utilizou-se o hormônio Ovopel macerado e diluído em solução fisiológica em uma proporção de 1 ml para cada peixe. Após extrusão a seco (Figura 2B), realizou-se a mistura dos ovócitos e sêmen, adicionou-se água para a ativação dos gametas e fertilização dos ovócitos (Figura 1C). A incubação dos ovos ocorreu em incubadoras tipo funil, com capacidade de 200 L, com circulação de água constante. Figura 1- Aplicação hormonal (A); Extrusão dos ovócitos (B); Ativação do sêmen com água depois da fertilização dos ovócitos de fêmeas de Pseudoplatystoma reticulatum (C). Os parâmetros avaliados foram: peso da desova, número de ovócitos estimados e número de larvas/fêmea. A estimativa do número de ovócitos foi realizada de acordo com os dados citados por Sato et al. (2003), que apontam cerca de 1.200 ovócitos/g para P. reticulatum. Os dados coletados foram submetidos à análise de variância e quando significativas as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Resultados e Discussão A pequena quantidade de dados não proporcionou grau de liberdade que possibilitasse a realização de uma análise estatística consistente. No entanto, é possível observar resultados fisiológicos e produtivos interessantes, pois, existe uma interferência do tempo entre as aplicações de hormônio no peso da desova. As fêmeas de cachara P. reticulatum desovaram a partir de 22 horas após a indução hormonal com temperatura média de 26ºC. Embora não tenham sido observadas diferenças significativas (P>0,05) entre os tratamentos para os parâmetros avaliados, observou-se que o número médio estimado de ovócitos e o número de larvas fêmea -1 encontrados para o
tratamento 2 são numericamente superiores aos dos tratamentos 1 conforme apresentado na Tabela 1. Tabela 1- Índices reprodutivos de cachara Pseudoplatystoma reticulatum submetidos à reprodução induzida pelo método de extrusão a seco Tratamento 1 Tratamento2 Variáveis Fêmea 1 Fêmea 2 Média σ 2 Fêmea 1 Fêmea 2 Média σ 2 PT (kg) 3,19 5,63 4,41 2971922 7,18 5,59 6,39 125452 CT (cm) 72,00 97,00 84,50 312,5 94,00 86,00 90,00 32 HG 208 270 239 1922 227 255 241 392 PD (g) 29 43 36 98 352 134 243 23762 NOE/F 34800 51600 43200 141120 422400 160800 291600 342172 NL/F 2000 3333 2667 888444 17199 78000 47600 184838 PT- peso total da fêmea (kg); CT- comprimento total da fêmea (cm); HG- Hora Grau; PD- peso da desova (g); NOE/F- número de ovócitos estimados/fêmea; NL/F- número de larvas/fêmea; σ 2 - variância. Os valores médios encontrados para o peso da desova do tratamento 2 representaram apenas 3,8% do peso total das fêmeas de cachara P. reticulatum, inferiores aos citados por Sato et al. (2003) que encontrou aproximadamente 5% para peixes da mesma família, o pintado Pseudoplatystoma corruscans. O peso médio da desova do tratamento 2 (243 g) foi numericamente superior ao peso médio da desova do tratamento 1 (36 g), esse fato pode ser explicado pelo tempo necessário entre as aplicações hormonais para estimular a migração da vesícula germinal. Como o intervalo entre as aplicações hormonais foi menor no tratamento 1, possivelmente não houve tempo para induzir a quebra vesicular, que segundo Crepaldi et al. (2006) é onde há o rompimento do envelope folicular e a conseqüente ovulação e liberação dos ovócitos na luz do ovário para ocorrer a desova. Poucas informações sobre reprodução de cachara P. reticulatum foram obtidas em seu ambiente natural (RESENDE et al, 1995) e em cativeiro (ROMAGOSA et al, 2000; ROMAGOSA, 2003). Dessa forma pesquisas com o objetivo de obter maiores informações sobre a reprodução, bem como os índices zootécnicos devem ser incentivadas, o que pode contribuir grandemente para o crescimento da produção de alevinos em qualidade e quantidade suficiente para atender a demanda do mercado. Conclusões A espécie em estudo, Pseudoplatystoma reticulatum, apresentou índices reprodutivos satisfatórios com intervalo entre as aplicações hormonais de 12 horas. No entanto, novos
estudos com índices reprodutivos de P. reticulatum para avaliar o tempo ideal entre as aplicações hormonais devem ser realizados para confirmar os resultados obtidos. Referências ANDRADE, D. R. & YASUI, G. S. 2003. O manejo da reprodução natural e artificial e sua importância na produção de peixes no Brasil. Revista Brasileira de Reprodução Animal. v.27, n. 2, p. 166-172. CARNEIRO, P. C. F. & MIKOS, J. D. 2008. Gonadotrofina coriônica humana e hormônio liberador de gonadotrofina como indutores da reprodução do jundiá. Acta Scientiarum Animal Sciences. v. 30, n. 3, p. 345-350. CREPALDI, D. V.; FARIA, P. M. C.; TEIXEIRA, E. A. et al. 2006. Utilização de hormônios da reprodução induzida do surubim (Pseudoplatistoma spp). Revista Brasileira de Reprodução Animal, v.30, n.3/4, p.168-173. KAVAMOTO, E. T.; FERRAZ, E. M.; ANDRADE-TALMELLI, E. F. et al. 1996. Estimulação da espermiação em curimbatá Prochilodus scrofa (Steindachner) através de aplicações de HCG (Osteichthyes, Characiformes, Prochilodontidae). Revista Brasileira de Zoologia. v.13, n.1, p.27-38. MURGAS, L. D. S.; VIVEIROS, A. T. M.; MARIA, N. A. et al. 2003. Reprodução/espécies próprias para a piscicultura. Lavras, UFLA/ FAEPE, p.28. RESENDE, E. K.; CATELLA, A. C.; NASCIMENTO, F. L. et al. 1995. Biologia do curimbatá (Prochilodus lineatus), pintado (Pseudoplatystoma coruscans) e cachara (Pseudoplatystoma fasciatum) na bacia hidrográfica do rio Miranda, Pantanal do Mato Grosso do Sul. Corumbá, MS: EMBRAPA CPAP, 1995. 75 p. (EMBRAPA-CPAP. Boletim de Pesquisa, 02). ROMAGOSA, E.; ANDRADE-TALMELLI, E. F.; PAIVA, P. et al. 2000. Observações preliminares sobre o comportamento reprodutivo das fêmeas de cachara, Pseudoplatystoma fasciatum (Teleostei, Siluriformes, Pimelodidade) na região do Vale do Ribeira, São Paulo, em condições de confinamento. In: INTEGRAÇÃO DA MORFOLOGIA LUSO- BRASILEIRA COMEMORAÇÃO DOS 500 ANOS DO BRASIL, Goiânia, 2000. Anais... Goiânia, p. 224 ROMAGOSA, E.; PAIVA, P.; ANDRADE-TALMELLI, E. F.; GODINHO, H. M. 2003. Características morfométricas e crescimento do cachara Pseudoplatystoma fasciatum (Linnaeus, 1766), mantido em confinamento. Acta Scientiarieum. 25 (2): 277 a 283. SATO, Y. & GODINHO, H. P. 2003. Migratory fishes of the São Francisco River. In: CAROLSFELD, J. et al. (Eds.) Migratory fishes of South America. Vitoria, BC, Canada: World Fisheries Trust, p.229-274. STREIT JR., D. P.; MORAES, J. V.; RIBEIRO, R. P.; et al. 2002. As tendências da utilização do extrato bruto de hipófise na reprodução de peixes-revisão. Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia, UNIPAR, v.5, n.2, p.231-238. ZANIBONI FILHO, E. & WEINGARTNER, M. 2007.Técnicas de indução da reprodução de peixes migradores. Revista Brasileira de Reprodução Animal. v. 31, n. 3, p. 367-373.