vez que seis vidas foram retiradas de forma brutal (MENDES, 2010). Adimar não era doente mental, por isso não fazia uso de medicamentos. Também, provavelmente, simulou o comportamento de um cidadão apto a conviver entre outros, fingiu ser alguém que durante seu tempo de prisão refletiu sobre sua conduta e resignificou seu modo de ser e de agir. Era um psicopata e conseguiu seu intento, enganou várias pessoas. Jamais saberemos, efetivamente, quais monstros e fantasmas habitavam Adimar, pois ele foi encontrado morto na prisão. Contudo, sabemos que ele era psicopata e que o diagnóstico desde sua primeira condenação parece não ter sido adequado, pois ele foi para um presídio comum e depois posto em liberdade. Erraram psicólogos, psiquiatras e o Juiz. Este e outros casos evidenciam a questão já apontada de que há a necessidade premente da atenção da Justiça Criminal na questão da psicopatia. Isso porque, como já foi dito, os criminosos psicopatas violentos não são criminosos comuns e por isso não devem ser presos, uma vez que não há, em linhas gerais, chances dos mesmos serem reintegrados ao convívio social. Considerando que a função da pena é, sobretudo, a de readaptar o indivíduo para o convívio em sociedade, 9 ao psicopata violento a medida de segurança seria a sanção mais adequada, uma vez que após o término do prazo de internação o indivíduo só é posto em liberdade mediante rigorosa perícia psiquiátrica e psicológica a qual será avaliada pelo juiz. Conclusão É importante ressaltar o fato já citado de que as medidas de segurança têm tempo indeterminado; ou seja, elas subsistem enquanto durar a periculosidade. Mas se em nossa legislação não há pena perpétua qual a solução para o psicopata cuja perícia oferece parecer 9 Quando dizemos sobretudo queremos enfatizar a concepção da pena como um meio de reintegrar o apenado ao convívio social após o cumprimento da sentença, mas não desconhecemos que...as finalidades das penas e medidas de segurança são as de prevenir novos crimes, como forma subsidiária de proteção dos bens jurídicos. Paulo Queiroz, Inconstitucionalidade das medidas de segurança?, p. 22. 167
Tatiana Silva Dunajew Lemos Afonso, Marcos Lemos Afonso contrário ao laudo de cessação de periculosidade? Situação controversa que divide doutrinadores, pois se no sentenciado persistir a periculosidade a execução da medida de segurança durará por toda sua vida. Entretanto, se toda execução penal deve ter um limite, uma vez que...o contrário seria admitir a privação perpétua da liberdade, que é proibida pela Constituição Federal... (FRANCO; STOCCO, 2007, p.486) o que fazer com o psicopata que não pode ser posto em liberdade, sob a pena de colocar em evidente risco outras pessoas? Vemos, pois, três pontos de vistas doutrinários divergentes: o primeiro apoiado na medicina forense o qual apóia a medida de segurança como meio paliativo, porém necessário, de proteger a sociedade do psicopata com alta periculosidade; o segundo ponto de vista discorda veementemente de que o psicopata seja semi-imputável, e por isso este deve ser apenado como qualquer outro criminoso e, finalmente, o terceiro ponto de vista de cunho eminentemente positivista diz que a medida de segurança deve ter um tempo determinado, pois, se assim não for, coloca-se em risco a segurança jurídica, pois os princípios de legalidade e de igualdade resguardam os direitos de todos e a indeterminação da privação da liberdade fere estes mesmos princípios. Certamente o ideal, como já se dá em outros países, seria a criação de instituições para os portadores de transtornos crônicos oriundos dos Hospitais de Custódia. Com isso, em 2004 a psiquiatra forense Hilda Morana conseguiu criar um projeto de lei para a criação destas instituições, entretanto tal projeto não foi aprovado. Se tais instituições existissem não apenas trariam solução para esta delicada questão abordada neste trabalho como ensejaria novas possibilidades de intervenção e pesquisas no terreno dos transtornos de personalidade as quais ainda, no Brasil, são bastante incipientes. Sendo assim, a medida de segurança pode não ser caminho ideal para a resolução desta questão, mas apresenta-se até então como o meio mais viável diante do grau de periculosidade do psicopata assassino. Referências Bibliográfias ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Leonel Vallandro e Gerd Borheim. São Paulo: Nova Cultural, 1996. 168
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