Recebido em: agosto de 2015 Aceito em: dezembro de 2015

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Transcrição:

Perfil Epidemiológico da Hanseníase em uma Cidade do Sul de Minas Gerais no Período de Nove Anos: Estudo Retrospectivo Epidemiologic Profile of Leprosy in a Southern City of Minas Gerais State in a Nine -Year Period: Retrospective Study Livia Santiago Peneluppi¹ Marco Aurélio Muniz Moreira¹ Thaís Juliano Garcia Tosta¹ Hugo Ribeiro Bellato¹ Guilherme Benfatti Olivato¹ Clarissa Santos de Carvalho Ribeiro² 1. Graduandos da Faculdade de Medicina de Itajubá FMIt. 2. Mestre em Ciências da Saúde pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, FCMSCSP e Professora Adjunta de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Itajubá. Recebido em: agosto de 2015 Aceito em: dezembro de 2015 Correspondência Faculdade de Medicina de Itajubá. Av. Renó Júnior, 368 - São Vicente CEP: 37502-138 - Itajubá MG Tel: 3629-8700 E-mail: liviapeneluppi@uol.com.br RESUMO Objetivo: Traçar o perfil epidemiológico dos pacientes diagnosticados com hanseníase em Itajubá, Minas Gerais, do ano 2005 até 2013. Materiais e Métodos: Estudo epidemiológico, retrospectivo, transversal e descritivo através de pesquisa em banco de dados, no período de 2005 a 2013. Resultados: Foram identificados 43 casos de hanseníase no período analisado (média de 4,7 casos/100mil habitantes). Os registros mostraram que a população masculina (62,8%) e economicamente ativa, entre 16 a 60 anos (79,06%) foi a mais afetada. Também se obteve registro de todos os tipos de formas clínicas, graus de incapacidade ao diagnóstico, sequelas da doença e, principalmente, falhas nos registros e falta de dados. Houve um predomínio da forma multibacilar, estando presente todas as formas clínicas. Conclusão. Uma melhor análise dos contactantes é necessária para melhor diagnosticar todos os portadores da doença. Soma-se a isso o fato de haver escassez dos dados nas fichas de notificação, o que impossibilita mostrar a realidade da população estudada. Palavras chave: Hanseníase, Perfil epidemiológico, Incidência. ABSTRACT Objective: The objective of this article was to analyze and trace the epidemiological profile of patients seen and diagnosed with leprosy in the city of Itajubá, south of Minas Gerais in the period from 2005 to 2013. Materials and Methods: The research was based on an epidemiological, retrospective, bibliographic and documentary study in the city of Itajubá, Minas Gerais, in the period of 2005-2013. Results: Forty-three cases were diagnosed in this period. It was possible to observe an average of 4.7 cases / 100.000 inhabitants. The records showed that the male population (62.8%) and the economically active population, 16 to 60 years (79.06%) were the mostly affected. It was also obtained registration of all types of clinical forms, degrees of disability at diagnosis, the disease sequelae and mainly failures in collecting info. In the analysis, there was a predominance of multibacillary form being present in all clinical forms. Conclusion: A better analysis of contacts is needed to better diagnose all patients with the disease. In addition to this is the fact that there is scarcity of information in the reporting forms, making it impossible to demonstrate the reality of the population studied. Keywords: Leprosy, Epidemiology, Incidence

INTRODUÇÃO Hanseníase é uma doença crônica granulomatosa, de notificação compulsória, proveniente de infecção causada pelo Mycobacterium leprae, um bacilo intracelular obrigatório. Esse bacilo tem alta virulência e baixa patogenicidade, propriedades essas que dependem de sua relação com o hospedeiro e o grau de endemicidade do meio. O ser humano é o reservatório do bacilo e sua transmissão se dá principalmente pela eliminação destes pelos pacientes multibacilares, sendo o trato respiratório a mais provável via de entrada. 1,2 Apenas em 1873, através do médico norueguês Gerhard Armauer Hansen, foi identificado o bacilo M. leprae como o causador da doença, tendo sua terminologia substituída por hanseníase em sua homenagem. 3 O tempo entre o contágio e o aparecimento dos sintomas pode variar de dois até dez anos. É observado um largo espectro de apresentações clínicas, porém o principal sinal é a presença de manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas, em qualquer parte do corpo, com alguma alteração de sensibilidade. Acomete os nervos periféricos, atingindo desde as terminações na derme até os troncos nervosos, sendo clinicamente uma neuropatia mista, que compromete fibras nervosas sensitivas, motoras e autonômicas. As sensibilidades térmica, dolorosa e tátil são alteradas. 1,4 O diagnóstico é clínico, epidemiológico e através do exame dermato-neurológico, para identificar lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade e/ou comprometimento de nervo periférico. A classificação operacional, visando o tratamento com Poliquimioterapia (PQT) é baseada no número de lesões cutâneas de acordo com os seguintes critérios: Paucibacilar (PB), onde ocorrem casos com até cinco lesões de pele, e o Multibacilar (MB), onde existe mais de cinco lesões de pele. 1 São descritos quatro diferentes padrões fisiopatológicos, de acordo com o sistema de classificação seguido no Brasil: virchowiana, tuberculóide, indeterminado e dimorfo. 5 A Organização Mundial de Saúde (OMS) 6, determinou metas para reduzir prevalência e até erradicar a doença, utilizando o regime de PQT e medidas de detecção precoce da doença. 7 Com isso, em 1991, dez anos após a introdução dessa terapia, a OMS propôs a eliminação da hanseníase como problema de saúde pública até o ano 2000. Passou a ser considerada eliminada a doença quando a prevalência de casos conhecidos for menor do que um por 10mil habitantes. 4,7 O Brasil é considerado o segundo país do mundo em prevalência de hanseníase, com uma média de 47mil casos novos por ano de 2009 a 2012, onde temos a região Norte e Centro- Oeste como as mais prevalentes, seguidas de Nordeste, Sudeste e Sul. Em Minas Gerais, atualmente, 80% dos 853 municípios do Estado fazem diagnóstico e realizam tratamento com PQT. O Estado possui o segundo maior coeficiente de prevalência na região Sudeste (com taxa de 0,55:10.000hab). 8 A eliminação da hanseníase como problema de saúde pública se tornou um dos componentes estratégicos do Plano Brasil Sem Miséria. 7,8 Este estudo tem como objetivo determinar o perfil epidemiológico da hanseníase na cidade de Itajubá, no sul do Estado de Minas Gerais, no período de nove anos (2005-2013).

MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de um estudo epidemiológico, transversal, retrospectivo e descritivo realizado no município de Itajubá, Minas Gerais. Os dados foram obtidos através da base de dados do SINAM (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) do Ministério da Saúde. A amostra foi censitária, sendo incluídos todos os hansenianos diagnosticados, residente do município de Itajubá e notificados pelo sistema no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2013. As variáveis estudadas foram: número de casos, idade, sexo, número de lesões cutâneas, as formas clínicas e classificação técnica da doença, complicações gerais e o grau de incapacidade, o qual é determinado a partir da avaliação neurológica dos olhos, mãos/pés da seguinte maneira: Grau zero: não há comprometimento neural; Grau I: há diminuição ou perda da sensibilidade; Grau II: presença de incapacidade ou deformações. Não foram incluídos pacientes que não residiam neste município. Os parâmetros de endemicidade para o coeficiente de detecção da hanseníase recomendados pelo Ministério da Saúde utilizados nesta pesquisa foram os graus: Hiperendêmico: > 40,00/100.000 hab/ano; Muito Alto: 20,00 a 39,99/100.000 hab/ano; Alto: 10,00 a 19,99 /100.000 hab/ano; Médio: 2,00 a 9,99 /100.000 hab/ano; Baixo: < 2,00/100.000 hab/ano. Os dados foram inseridos no software MS Office Excel 2007 e em seguida foram categorizados e foram apuradas suas frequências absoluta e relativa. RESULTADOS Do total de 43 pacientes notificados em Itajubá, 39 deles foram casos novos e 4 ignorados, não havendo nenhuma transferência ou relato de recidiva. Aplicando este número absoluto no cálculo do coeficiente de detecção anual de casos novos de hanseníase por 100.000 habitantes por ano, obteve-se uma média de 4,7 casos/100.000 habitantes/ano, baseado nos cálculos propostos pelo Ministério da Saúde. 9 No que tange as variáveis sociodemográficas, verificou-se que a maioria era do sexo masculino, residia na zona urbana e a faixa etária mais prevalente foi a de 45-60 anos. Não houve ocorrência de casos em menores de 15 anos. Estes dados estão dispostos na Tabela 1. Tabela 1- Dados sociodemográficos Sexo Feminino Masculino Zona Habitada Urbana Rural Casos Indeterminados Idade Abaixo de 15 anos 16 30 anos 30 45 anos 45 60 anos Acima de 60 anos n % 16 27 29 6 8-12 8 14 9 37,2 62,8 67,4 13,9 18,6-27,9 18,6 32,6 20,9

Ao analisar a quantidade de lesões cutâneas ao diagnóstico, baseado no critério técnico, observou-se que na maioria dos casos os pacientes já apresentavam cinco ou mais lesões (20,9%). Em cinco casos não se obteve informação quanto ao número de lesões cutâneas ao registro. (Tabela 2). Tabela 2. Lesões cutâneas ao diagnóstico Lesões cutâneas n % 1 9 20,9 2 4 9,3 3 4 9,3 4 4 9,3 5 17 39,5 Não classificadas 5 11,6 Quanto à avaliação da forma clínica observou-se que, dos pacientes classificados, a maioria (25,5%) apresentavam a forma dimórfica. Porém, 32,2% não foram classificados quanto a forma clínica, o que revela falha ou negligência no preenchimento das fichas cadastrais dos pacientes de hanseníase. (Tabela 3). Tabela 3. Formas clínicas da hanseníase Forma clínica n % Virshowiana 7 16,2 Dimorfica 11 25,5 Tuberculoide 8 18,6 Indeterminada 3 6,9 Não classificada 14 32,2 Já a classificação técnica mostrou um percentual de 62.7% (n=27) de multibacilares, e 30,2% (n=13) de paucibacilares, e ainda três pacientes não classificados. Em se tratando dos graus de incapacidade física, 46,5% dos pacientes apresentaram algum grau de incapacidade ao diagnóstico. Os dados detalhados estão contidos na Tabela 4. Tabela 4. Grau de incapacidade ao diagnóstico Incapacidade n % Grau I 15 34,9 Grau II 5 11,6 Sem Registro 6 14 Ausência de Incapacidade 17 39,7 Complicações importantes nos membros superiores foram encontradas em 25 pacientes (58,1%), entre elas perda de sensibilidade e dor. Nos membros inferiores, pelo menos 30 pacientes (46,5%) também relataram alterações semelhantes (Tabela 5).

Tabela 5- Complicações nos membros superiores e inferiores Complicações n % Membro superior 25 58,1 Perda de sensibilidade 14 32,6 Dor 9 20,9 Membro inferior 30 46,5 Perda de sensibilidade 16 37,2 Dor 14 32,5 Perda de força 22 51,2 Além disso, espessamentos dos nervos foram encontrados. Nos membros superiores, 32,6% espessamento do nervo ulnar direito e 30,21% do ulnar esquerdo. Nos membros inferiores, espessamento de nervo fibular direito em 35% e espessamento dos nervos fibular esquerdo, tibial posterior direito e esquerdo em 25,6%. DISCUSSÃO O presente estudo permitiu que fosse possível a identificação do comportamento da hanseníase numa área endêmica do país. No período determinado no estudo, foram diagnosticados 43 casos e as taxas de incidência se apresentaram oscilações discretas de um ano para o outro. A média do coeficiente de detecção anual de novos casos de hanseníase por 100.000 habitantes ficou no ordem de 4,7 casos/100.000 habitantes/ano, encontrando-se na caterogia endemicidade média - 2,00 a 9,99 /100.000 habitante/ano, segundo o Ministério da Saúde. 9 De acordo com a literatura estudada, Ribeiro Junior e cols 10, demonstraram, em relação às variáveis sociais e demográficas, maior prevalência de hanseníase na faixa etária entre 31 e 60 anos, refletindo maiores riscos de comprometimento da dinâmica econômica familiar devido a doença ser limitante. Tal resultado vai de encontro aos encontrados na presente pesquisa, em que 32,6% dos casos atingiram uma população entre os 45-60 anos. Tais dados podem revelar a progressão da doença no decorrer da idade até por volta dos 60 anos, decaindo a partir daí sua prevalência/incidência, poupando a população mais idosa. Não foi encontrado nenhum caso em crianças menores de 15 anos, o que pode indicar subnotificação de pacientes bacilíferos e falhas nas ações de controle da doença. Segundo o atual levantamento houve predomínio na forma clínica dimórfica (25,5%) e uma pequena prevalência na forma indeterminada (6,9%), o que pode demonstrar um atraso do sistema de saúde no diagnóstico nas fases inicias da doença. Este atraso no diagnóstico da forma indeterminada é preocupante, pois as formas bacilíferas conhecidas como multibacilares (dimórfica e virchowiana) quando não destacadas precocemente levam ao acometimento neurológico e ocorrências de lesões incapacitantes por serem fontes de infecção, além de manter a transmissibilidade da doença. 11-13 Demais autores como Fernanda et. al e Francisco et. al 10-14 demonstraram uma predominância da forma multibacilar dos casos identificados de hanseníase, evidenciando a endemicidade da patologia no território nacional. Leva-se a pensar na necessidade de ações mais

efetivas para o alcance de melhores resultados. 8,11,14,15 É importante observar que no município estudado a grande maioria dos pacientes (46,5%) já apresentava algum grau de incapacidade ao diagnóstico. A maior parte deles encontrava-se em Grau I de incapacidade. Diferente de outros estudos 15,16 que mostraram uma prevalência do Grau II. Portanto pode-se concluir que a existência de algum tipo de incapacidade física avaliados no diagnóstico é um importante indicador para reforçar o argumento já citado sobre o diagnostico tardio, onde a doença quando detectada já provocou algum dano ao paciente. Não há com isso uma busca ativa de casos. A hanseníase no mundo vem se tornando mais rara, porém nos últimos 30 anos no Brasil o número de casos se manteve estável com áreas de extrema prevalência. 17 É necessário levar em consideração alguns itens, como falta de capacitação e sensibilização da equipe, não estabelecimento de vínculo entre profissionais de saúde e pacientes, além do escasso conhecimento da população e a maneira como lidam com a doença para solucionar a questão da endemia. CONCLUSÃO Conclui-se, portanto, que homens e mulheres foram acometidos de forma desigual pela hanseníase, sendo que um percentual considerável apresentou incapacidades ao início do tratamento, denotando um diagnóstico tardio da doença. Notou-se ainda predominância dos casos multibacilares em relação aos paucibacilares no período analisado. Os achados deste estudo reforçam a necessidade da realização de pesquisas regionais, para se conhecer melhor a distribuição da doença a nível local, levantando aspectos que possam contribuir para ações de prevenção, diagnóstico e tratamento precoce, evitando as incapacidades e deformidades da hanseníase. REFERÊNCIAS 1. Brasil. Ministério da Saúde- Doenças Infecciosas e Parasitárias. Guia de Bolso. 8ª ed. Brasília: MS; 2010. 444p. 2. Araújo MG. Hanseníase no Brasil. Rev da Soc Bras Med Tropical. 2003;33(3):373-82. 3. Leticia ME, Breve história da hanseníase: sua expansão do mundo para as Américas, o Brasil e o Rio Grande do Sul e sua trajetória na saúde pública brasileira. Rev Saúde Soc. 2004;13(2):76-88. 4. Penna MLF, Gross MAF, Rocha MCN, Penna GO. Comportamento epidemiológico no Brasil [Internet]. [Acesso em 2014 Abr 18] Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/ arquivos/saudebrasil2009_parte2_cap12.pdf 5. Beiguelman B. Genética e hanseníase. Ciênc Saúde coletiva. 2002;7(1):117-28. 6. Organização Mundial de Saúde. Guia para eliminação da Hanseniase como problema de saúde pública. Brasilia: OMS; 2000. 21p. 7. Barbosa DRM, Araujo AA, Damaceno JCF, Almeida G, Santos G. Perfil Epidemiológico da hanseníase em cidade hiperendêmicas do Maranhão, 2005-2012. Rev Rede de cuidados em Saúde. 2014;8(1): 1-13. 8. Brasil. Ministério da Saúde. Distribuição da Hanseníase no Brasil [Internet]. Brasília: Secretaria de Vigilância em Saúde; 2012. [Acesso em 2014 Ago 23]. Disponível em

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