fls. 176 SENTENÇA Processo Digital nº: Classe Assunto: Requerente: Requerido: 1018XXX-71.2015.8.26.0564 Procedimento Ordinário - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro Jesus C. L. e outros Acs Beta Empreendimentos Imobiliários Ltda. Juiz(a) de Direito: Dr(a). Fabiana Feher Recasens Vistos. JESUS C. L., ELENA G. L., CLAUDINEI C. L, qualificado(s) na inicial, ajuizou(aram) ação de Procedimento Ordinário em face de Acs Beta Empreendimentos Imobiliários Ltda., alegando que adquiriram o imóvel descrito nos autos, ainda na planta, junto à requerida, com promessa de entrega do empreendimento até setembro de 2014. Alegam que a obra apresentou atrasos e as partes firmaram um aditivo contratual com novo prazo de entrega para maio de 2015. Alegam que o prazo já se escoou e o imóvel ainda não foi entregue, sendo certo que o empreendimento sequer possui habite-se. Contam que até o momento pagaram o montante de R$ 133.828,57 pelo imóvel, além de R$ 17.878,40 a título de comissão de corretagem e prêmios. Pretendem, assim, que seja declarada a rescisão do contrato, com a consequente devolução de 100% do importe quitado pelos autores, além dos valores relativos à comissão de corretagem e prêmios. 1018XXX-71.2015.8.26.0564 - lauda 1
fls. 177 Citada, a requerida apresentou contestação a fls. 106 e seguintes arguindo, preliminarmente, sua ilegitimidade passiva com relação a devolução do importe relacionado a comissão de corretagem. Pretende a denunciação da lide de Abyara Brokers Intermediação Imobiliária Ltda. No mérito, defende que não há abusividade na cláusula 10.8, que prevê a retenção de 30% do valor quitado pelos autores. Afasta a alegação de mora na entrega do bem. Aduz que o atraso decorreu de força maior. Defende a cobrança das taxas referentes à comissão de corretagem. Pugna pela improcedência da ação. Réplica a fls. 150 e seguintes. É o breve relatório. D E C I D O. Passo ao julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 330, I, do Código de Processo Civil, posto que a matéria debatida entre as partes é meramente de direito. Afasto também a preliminar de ilegitimidade passiva em relação à devolução da comissão de corretagem suscitada pela requerida, eis que o autor busca a restituição justamente por entender que não deveria pagá-la, e não por defeito na prestação do serviço. No mérito, a ação merece procedência. No que toca ao atraso na obra, não há dúvidas de que a cláusula de prazo de tolerância possui plena validade. 1018XXX-71.2015.8.26.0564 - lauda 2
fls. 178 Justamente pelas dificuldades que as empresas de construção civil encontram em relação à mão de obra, também é praxe constar um prazo de cento e oitenta dias para eventual atraso na obra, por fatos previsíveis e inerentes à própria atividade, como chuvas excessivas, dificuldade na contratação de mão de obra, problemas administrativos na regularização do empreendimento. Nesse sentido já decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, conforme ementa que segue: "COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA INDENIZAÇÃO - Cerceamento de defesa - Inocorrência -Dilação probatória desnecessária para o deslinde da controvérsia - Alegação de atraso da requerida na entrega da obra - Descabimento - Cláusula prevendo o prazo de tolerância de 120 dias úteis que não se mostra abusiva, mesmo em se tratando de contrato de adesão - Dilação por tempo razoável para acobertar fatores extras que podem demandar maior tempo para a construção do empreendimento - Termos de vistoria e entrega da unidade que não evidenciam o atraso alegado - Inadimplemento contratual da ré afastado -Improcedência corretamente decretada - Recurso impróvido". (Apelação nº 9131878172008826 SP 9131878-17.2008.8.26.0000, Relator Salles Rossi, Julgamento: 13/07/2011, Órgão Julgador: 8ª Câmara de Direito Privado, Publicação: 19/07/2011). Entretanto, a análise do prazo de tolerância não se faz necessária nos autos, eis que as partes firmaram um aditivo contratual prevendo que a entrega do bem se daria em março de 2015, com previsão, ainda, de um prazo de tolerância de 60 dias, ficando a entrega do bem para maio de 2015. Ocorre que, tal prazo escoou e o bem não foi entregue aos adquirentes. Assim, patente o atraso no cumprimento da obrigação pela requerida. Afasto a alegação de que o atraso decorreu de existência de força maior, pois para tais fatos é que, justamente, 1018XXX-71.2015.8.26.0564 - lauda 3
fls. 179 se admite a convenção do prazo de tolerância. Deste modo, tem-se que o atraso decorreu, sim, de culpa da ré, sendo de rigor a rescisão contratual por culpa exclusiva da requerida. No contrato firmado entre as partes não há clausula que regulamente a rescisão contratual que não seja por culpa exclusiva dos compradores, ora requerente, que não é o caso dos autos. A cláusula 10.8, invocada pela requerida, não se aplica ao caso em tela, pois trata-se claramente de rescisão contratual por inadimplemento dos requerentes, de modo que não se justifica sua aplicação com relação a rescisão por culpa da requerida. Patente, portanto, o descumprimento contratual por parte da ré, de rigor a devolução de 100% da quantia paga, inclusive comissão de corretagem e SATI, eis que o negócio está sendo desfeito não por desistência dos compradores, mas por culpa da vendedora, que não entregou o que prometeu, retornando-se ao status quo ante. ISTO POSTO, e pelo que mais dos autos consta, julgo PROCEDENTE A AÇÃO, extinguindo o feito com resolução do mérito, com fundamento no art. 269, inciso I, do Código de Processo Civil, declarando rescindido o contrato versado nos autos e condenando a requerida na devolução de 100% do montante quitado pelos autores, inclusive comissão de corretagem e SATI, atualizado desde o desembolso e com juros de mora de 1% ao mês a partir da citação. Condeno a ré no pagamento de custas e despesas processuais, bem como honorários advocatícios que arbitro em 10% do valor da condenação. Transitada em julgado e decorrido o prazo para pagamento voluntário, nos 1018XXX-71.2015.8.26.0564 - lauda 4
fls. 180 termos do art. 475, J, caput, do CPC, diga o credor. Decorrido o prazo previsto no parágrafo 5º do mesmo dispositivo legal, arquivem-se os autos. P.R.I. São Bernardo do Campo, 23 de novembro de 2015. FABIANA FEHER RECASENS Juíza de Direito DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA 1018XXX-71.2015.8.26.0564 - lauda 5