CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA EMENTA: RESIDÊNCIA MÉDICA. TÍTULO DE ESPECIALISTA. REGISTRO DO TÍTULO NO CRM. COMISSÃO NACIONAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA-CNRM. COMISSÃO DE RESIDÊNCIA MÉDICA-COREME. REVOGAÇÃO E INVALIDAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO. PRESCRIÇÃO DO DIREITO DE REVOGAR OU INVALIDAR ATO ADMINISTRATIVO. CONFIRMAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO. DIREITO ADQUIRIDO. ORIGEM: CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA Referência: Protocolo CFM nº 3609/97 INTERESSADO: Dra. A. M. DE O. - PRESIDENTE PARECER Nº 158/97 do Setor Jurídico Aprovado em Reunião de Diretoria do dia 24/7/1997. PARECER O Conselho Regional de Medicina encaminha expediente a este CFM, solicitando parecer acerca de programas de residência médica e registro de títulos de especialista. A preocupação do CRM recai precipuamente no que tange ao registro de títulos de especialista, quando expedidos por programas de residência médica não credenciados pela Comissão Nacional de Residência Médica. sejam: Dessa feita, formulam os quesitos abaixo elencados, quais a) - Os T.E. registrados equivocadamente, garantiriam ao médico direito adquirido sobre estes ou poderíamos e deveríamos cassá-los? b) - Se os outros médicos se incluem em situação similar, isto lhe garantiria direito de registrar seus títulos? c) - Se a CNRM autoriza uma RM, não está ela por sua vez, garantindo-lhe qualidade, e portanto, este não seria bastante ao CFM, como critério permissivo ao reconhecimento pelo CRM do T.E. emitido pela COREME? suscitado. temas de relevância. Este Setor Jurídico foi instado a pronunciar-se sobre o assunto Por oportuno, mister se faz tecer um breve relato sobre os
I - RESIDÊNCIA MÉDICA A Residência Médica está disciplinada pela Lei nº 6.932 de 07 de julho de 1981, in verbis: Lei nº 6.932 de 07 de julho de 1981 Art. 1º - A Residência Médica constitui modalidade de ensino de pós-graduação, destinada a médicos, sob a forma de cursos de especialização, caracterizada por treinamento em serviço, funcionando sob responsabilidade de instituições de saúde, universitários ou não, sob a orientação de profissionais médicos de elevada qualificação ética e profissional. 1º - As instituições de saúde de que trata este artigo somente poderão oferecer programas de Residência Médica depois de credenciadas pela Comissão Nacional de Residência Médica. 2º - É vedado o uso da expressão residência médica para designar qualquer programa de treinamento médico que não tenha sido aprovado pela Comissão Nacional de Residência Médica. Art. 2º - Para a sua admissão em qualquer curso de Residência Médica o candidato deverá submeter-se ao processo de seleção estabelecido pelo programa aprovado pela Comissão Nacional de Residência Médica. Art. 6º - Os programas de Residência Médica credenciados na forma desta Lei conferirão títulos de especialistas em favor dos médicos residentes neles habilitados, os quais constituirão comprovante hábil para fins legais junto ao sistema federal de ensino e ao Conselho Federal de Medicina. (grifamos e negritamos) Em apertada síntese, temos que: (i) a Residência Médica é considerada como uma modalidade de ensino de Pós-Graduação, sob a forma de especialização; (ii) as instituições de saúde somente poderão oferecer Residência Médica depois de credenciadas pela Comissão Nacional de Residência Médica; e, (iii) os Programas de Residência Médica credenciados na Comissão Nacional de Residência Médica conferirão títulos de especialista que constituirá documento hábil para registro junto aos Conselhos Regionais de Medicina, que é a entidade competente para efetivar tais registros. 1.1) Comissão Nacional de Residência Médica - CNRM O órgão responsável pelo credenciamento, controle e avaliação dos Programas de Residência Médica é a Comissão Nacional de Residência Médica, criada pelo Decreto nº 80.281 de 05 de setembro de 1977, in litteris:... 2
Art. 2º - Fica criada no âmbito do Departamento de Assuntos Universitários do Ministério da Educação e Cultura a Comissão Nacional de Residência Médica, com as seguintes atribuições: a) credenciar os programas de Residência cujos certificados terão validade nacional; b) definir, observado o disposto neste decreto e ouvido o Conselho Federal de Educação, as normas gerais que deverão observar os programas de Residência em Medicina; c) estabelecer os requisitos mínimos necessários que devem atender as Instituições onde serão realizados os programas de Residência, assim como os critérios e a sistemática de credenciamento dos programas; d) assessorar as instituições para o estabelecimento de programas de Residência; e) avaliar periodicamente os programas, tendo em vista o desempenho dos mesmos em relação as necessidades de treinamento e assistência à saúde em âmbito nacional ou regional; f) sugerir modificações ou suspender o credenciamento dos programas que não estiverem de acordo com as normas e determinações emanadas da Comissão. Art. 5º - Aos médicos que completarem o programa de Residência em Medicina, com aproveitamento suficiente, será conferido o Certificado de Residência Médica, de acordo com as normas baixadas pela Comissão Nacional de Residência Médica. (grifamos) Ante ao exposto, dessume-se, pois, que toda a matéria atinente à Residência Médica será coordenada e orientada pela CNRM, a qual, sob a nossa ótica, caracteriza-se como órgão máximo dos Programas de Residência Médica. 1.2) Comissão de Residência Médica - COREME A Comissão de Residência Médica deverá ser formada no âmbito da Instituição de Saúde que mantém o Programa de Residência Médica, e se constitui, através de sua Secretaria Executiva, como elo entre a Comissão Nacional de Residência Médica e o referido Programa. Em remessa à legislação pertinente, podemos trazer a lume as Resoluções da Comissão Nacional de Residência Médica, sobre o tema, quais sejam: Resolução nº 4/78 Art. 5º - Para que possa ser credenciado o Programa de Residência Médica deverá reger-se por regulamento próprio, onde estejam previstos: a) Uma Comissão de Residência integrada por profissionais de elevada competência ética e profissional, portadores de título de especialista devidamente registrado no Conselho Federal de Medicina ou habilitados ao exercício da docência em medicina, de acordo com as normas legais vigentes, com a 3
a atribuição de planejar, coordenar, supervisionar as atividades, selecionar candidatos e avaliar o rendimento dos alunos dos vários Programas da Instituição; h) A forma de avaliação dos conhecimentos e habilidades adquiridas pelo residente, os mecanismos de supervisão permanente do desempenho do residente; e os critérios para outorga do Certificado de Residência Médica. (grifamos e negritamos) Resolução nº 15/82 Art. 1º - A Comissão de Residência Médica - COREME, da instituição de saúde, é o órgão competente para manter os entendimentos com a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) através de sua Secretaria Executiva. 1º - Os membros da COREME devem ser escolhidos entre os Supervisores e Preceptores de programas de Residência Médica, observado o disposto na Resolução nº 04/78. (grifamos e negritamos) Como se observa, os Programas de Residência Médica devem reger-se por regulamentos próprios, onde estejam previstos, entre outros, a Comissão de Residência Médica-COREME e os critérios de outorga dos Certificados de Residência Médica. Ocorre que as normas gerais dos Programas de Residência Médica são definidas pela CNRM, consoante o que preconiza o artigo 2º, b do Decreto nº 80.281/77. Logo, é a Comissão Nacional de Residência Médica quem define, indiretamente, a COREME, bem assim o regulamento geral dos Programas de Residência Médica e os critérios de outorga dos certificados. Portanto, é princípio basilar para que o certificado outorgado pela COREME se constitua como documento hábil para registro junto aos Conselhos Regionais de Medicina, que o referido Programa esteja devidamente credenciado na CNRM, por ser esta a autoridade máxima relativamente aos Programas de Residência Médica. II - SECRETARIA DE SAÚDE ESTADUAL 2.1) Decreto Estadual Em 26 de junho de 1991, foi publicado no Diário Oficial de Goiás o Decreto Estadual nº 3.651/91, o qual delega ao Secretário de Saúde competência para instituir Programas de Residência Médica, em termos: Art. 1º - Fica delegado ao Secretário de Saúde competência para instituir, no âmbito do Sistema Unificado de Saúde do Estado, Programa de Residência Médica, respeitados os princípios da legislação federal pertinente e, ainda, os seguintes critérios: 4
I - a Residência Médica, destinada exclusivamente a médicos, consistirá de cursos de especialização, mediante treinamento em serviço, em unidades de saúde da Secretaria de Saúde e sob a orientação e supervisão de profissionais médicos; II - somente as unidades de saúde credenciadas pela Comissão Nacional de Residência Médica poderão oferecer programa de residência médica; III - o ingresso de candidato na Residência Médica será precedida de processo seletivo, de acordo com normas e programa aprovados pela Comissão Nacional de Residência Médica; VIII - a Secretaria de Saúde conferirá certificado de residência Médica aos médicos habilitados, de acordo com as normas estabelecidas pela Comissão Nacional de Residência Médica; Art. 2º - É o titular da Secretaria de Saúde autorizado a instituir, no âmbito daquela Pasta, uma Comissão de Residência Médica, que atuará em conformidade com normas a serem baixadas pela referida autoridade. (grifamos) Consoante este Decreto, o Secretário de Saúde Estadual poderá: a) instituir Programa de Residência Médica; b) conferir certificados de Residência Médica; e, c) instituir a Comissão de Residência Médica - COREME. Ora, em obediência ao princípio da hierarquia das leis, um Decreto Estadual não poderá dispor de forma diversa de uma Lei Federal. A Lei nº 6.932/81 em seu artigo 1º, 2º veda o uso da expressão residência médica para designar qualquer treinamento médico que não tenha sido aprovado pela Comissão Nacional de Residência Médica. Conforme o artigo 2º da mesma sobredita lei, o processo de seleção dos candidatos à Residência Médica deverá ser aprovado pela Comissão Nacional de Residência Médica. Por fim, o artigo 6º da Lei nº 6.932/81 determina que tão somente os Programas de Residência Médica credenciados junto à CNRM poderão conferir títulos de especialista em favor dos médicos residentes. Já o Decreto nº 80.281/77, em seu artigo 2º, letra b, preconiza que caberá à Comissão Nacional de Residência Médica definir as normas gerais que deverão observar os Programas de Residência Médica. Por seu turno, a Resolução nº 4/78 da CNRM determina que os Programas de Residência Médica devem reger-se por regulamento próprio onde esteja prevista, entre outros, a Comissão de Residência Médica - COREME. Portanto, quem define a Comissão de Residência Médica, determinando a sua forma, composição e atribuições, é a CNRM. Dessa feita, não se pode conceber, nem parcimoniosamente, que um Decreto Estadual disponha sobre o tema de forma diversa da lei federal, criando 5
e delegando competências ao Secretário de Saúde Estadual, em matéria já disciplinada por lei. Dessarte, o Decreto Estadual nº 3.651/91 mostra-se maculado com a eiva da ilegalidade. III - TÍTULOS DE ESPECIALISTA 3.1) Certificados de Residência Médica Para que os Certificados de Residência Médica ou Títulos de Especialista gozem de validade nacional, devem obediência às seguintes Resoluções do Conselho Nacional de Residência Médica: Resolução nº 4/78 Art. 1º Para que os seus certificados gozem de validade nacional, os Programas de Residência Médica deverão ser credenciados pela Comissão de Residência Médica, na forma do Decreto nº 80.281 de 05 de setembro de 1977. Art. 8º - Os Programas de Residência Médica credenciados são equivalentes a Cursos de Especialização, e os certificados de Residência Médica por eles emitidos na conformidades das presentes normas, constituirão comprovante hábil para os fins previstos junto ao sistema federal de ensino e ao Conselho Federal de Medicina. (grifamos e negritamos) Resolução nº 8/82 Art. 1º - O registro do certificado de conclusão do Programa de Residência Médica no Conselho Federal de Medicina será da responsabilidade do interessado, após registro na Secretaria Executiva da Comissão Nacional de Residência Médica, de acordo com as normas legais vigentes. (grifamos e negritamos) Ante ao exposto, para que os certificados de residência médica tenham validade nacional é mister que: (i) os programas de residência médica estejam credenciados junto à Comissão Nacional de Residência Médica; e (ii) os certificados devem ser registrados na Secretaria Executiva da CNRM antes de serem registrados no Conselho Regional de Medicina. 3.2) Resolução do CFM A Resolução CFM nº 1.288/89 é clara ao disciplinar o registro de títulos de especialista pelos CRM s: 1. Os Conselhos Regionais de Medicina devem registrar os títulos de especialistas conferidos por: 6
b) Residências Médicas credenciadas pela Comissão Nacional de Residência Médica e reconhecidas pelo Ministério da Educação; 2. Os Conselhos Regionais de Medicina só deverão registrar os títulos de especialidades reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina; (grifamos e negritamos) Portanto, quando os títulos ou certificados são registrados na Secretaria Executiva, infere-se que este curso já está devidamente credenciado pela Comissão Nacional de Residência Médica, por ser aquela, uma longa manus da CNRM. Assim, os Conselhos Regionais de Medicina, ao receberem os referidos títulos ou certificados de especialista outorgados pela COREME, devem averiguar, desde logo, se o referido título foi registrado na Secretaria Executiva da Comissão Nacional de Residência Médica. Qualquer outro certificado, mesmo que outorgado pela Secretaria de Saúde Municipal, não terá validade para efeitos junto ao MEC, tampouco poderá ser registrado pelo CRM. IV - RETIRADA DO ATO ADMINISTRATIVO - PRESCRIÇÃO - CONFIRMAÇÃO - DIREITO ADQUIRIDO 4.1) Revogação Um ato administrativo poderá extinguir-se por retirada. Dentre os meios possíveis, podemos destacar a revogação (em que a retirada se dá por razões de oportunidade e conveniência) e invalidação (por razões de ilegalidade). A revogação, segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro 1 é o ato administrativo discricionário pelo qual a Administração extingue um ato válido, por razões de oportunidade e conveniência. Como a revogação atinge um ato que foi editado em conformidade com a lei, ela não retroage, os seus efeitos se produzem a partir da própria revogação. Portanto, o objeto da revogação é um ato administrativo válido ou uma relação jurídica válida dele decorrente. No magistério de Diógenes Gasparini 2, temos que a revogação só tem cabida quando a administração pública, reexaminando uma dada situação, assegurada por certo ato administrativo perfeito, válido e eficaz, conclui que sua permanência no ordenamento jurídico não mais atende ao interesse público, não é mais conveniente ou oportuna e resolve extingui-la total ou parcialmente, pondo fim ou modificando o ato que a criara. Como se trata de situação assegurada legalmente, os efeitos produzidos deverão ser respeitados. (grifamos) 1 in Direito Administrativo, Maria Sylvia Zanella di Pietro, 6ª ed., Editora Atlas, 1996, pás. 25 2 in Direito Administrativo, Diógenes Gasparini, 3ª ed., Editora Saraiva, 1993, pág. 99 7
4.2) Invalidação O ato administrativo praticado em desacordo com o ordenamento jurídico é inválido. Logo, o ato administrativo que afrontou as prescrições jurídicas é considerado inválido, desde o seu nascimento. Conquanto, carece este ato de legalidade. Assim, por portar vícios ou defeitos, deve ser extinto. Sua extinção, por essa razão, nada tem que ver com sua conveniência ou oportunidade. É extinção desejada, por ilegal. Como a desconformidade com a lei atinge o ato em suas raízes, a anulação retroage à data em que foi emitido. Seus efeitos consistem em fulminar retroativamente o ato viciado operando-se, portanto, ex tunc. Contudo, é claro que nem por isso invade o passado, pois é no presente que se recusa a validade dos efeitos pretéritos. Com base no poder de autotutela, a Administração Pública poderá anular seus próprios atos. É esse o entendimento consagrado pelo Supremo Tribunal Federal por meio das Súmulas 346 e 473. Segundo esta última, a Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos, ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade respeitados os direitos adquiridos e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial. (grifamos) Ainda o Superior Tribunal de Justiça, assim dispõe acerca da anulação pela Administração, de seus próprios atos, in verbis: MANDADO DE SEGURANÇA. PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA E CURSO DE APRIMORAMENTO MÉDICO. EQUIVALÊNCIA. ATO MINISTERIAL HOMOLOGATÓRIO. ANULAÇÃO. MOTIVAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO. NECESSIDADE. A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais. Impõe-se contudo, a motivação contextual ou não do ato. Vale dizer, no mesmo documento ou através de referência identificadora sobre as razões que o inspiraram. Ausente a motivação, concede-se a segurança aos prejudicados, para anular ato impugnado. (grifo nosso) Por seu turno, a anulação feita pela própria Administração independe de provocação do interessado, de modo que tem o poder-dever de zelar pela observância do princípio da legalidade. O objeto da invalidação é a retirada do ordenamento jurídico um ato administrativo inválido. A diferença entre a revogação e invalidação ancora no fato de que na revogação procura-se atender a uma conveniência administrativa, ou seja, o ato é válido mas inconveniente, ao passo que na invalidação pretende-se aniquilar o ato viciado. 8
4.3) Ato Nulo A administração, sob a nossa ótica, tem o dever de anular os atos ilegais, sob pena de cair por terra o princípio da legalidade. O ato que determinou o registro do certificado de especialista, ou o próprio registro, per si, é nulo. A nulidade advém do conteúdo do ato. O registro não poderia ser efetivado, uma vez que a legislação pertinente determina que o CRM somente poderá registrar certificado expedidos por Residência Médica credenciadas pela CNRM e reconhecidas pelo Ministério da Educação, conforme a Resolução CFM nº 1.288/89. Ensina ainda Maria Sylvia Zanella di Pietro 3, que segundo o artigo 2º, parágrafo único, c da Lei 4.717, a ilegalidade do objeto só ocorre quando o resultado do ato importa em violação de lei, regulamento ou outro ato normativo. Portanto, haverá vício em relação ao objeto quando qualquer desses requisitos deixar de ser observado, o que ocorrerá quando for proibido por lei ou diverso do previsto na lei para o caso sobre o qual incide (grifamos). O registro dos referidos títulos de especialista é, pois, ato anulável, posto que padece de vício de vontade, decorrente de erro. Dessa feita, deverá ser decretada a sua nulidade. A decretação de sua nulidade se opera por invalidação do ato, tendo em vista que a revogação não se aplica no caso em análise. 4.4) Prescrição Bem alude sobre a prescrição Diógenes Gasparini 4, quando discorre sobre o tema em sua obra Direito Administrativo: Prescrevem os recursos administrativos pelos quais o administrado ou a própria Administração Pública pode pleitear a declaração de invalidade de um ato administrativo? Ao nosso ver sim. Nada justifica ser declarado inválido depois de um longo tempo de sua edição. Destarte, decorrendo um determinado prazo, o ato, mesmo que inválido, firma-se, estabiliza-se, não podendo mais ser invalidado pela Administração Pública ou anulado pelo Judiciário. Nesse sentido é a lição de Clenício da Silva Duarte, ao afirmar que as situações irregulares consolidam-se com o decurso do tempo, não sendo mais passíveis de qualquer retificação, seja para melhor, seja para pior (RDA, 116:368). Assim, prescrito o direito de a Administração invalidar o ato, está o mesmo consolidado no decurso do tempo. Consoante ao prazo de prescritibilidade, Diógenes Gasparini 5 ensina que a prescrição administrativa consuma-se com o escoamente do prazo legal, e, na falta desse, cremos que o prazo deve ser o mesmo instituído pelo artigo 1º do Decreto Federal 20.910/32, para prescrição de qualquer ação contra a Fazenda Pública, isto é, de cinco anos, já que a regra é a prescritibilidade. (negritamos) 3 Ob. citada, pág. 199 4 Ob. citada, pág. 106 5 in Ob. citada, pág. 367 9
4.5) Confirmação Todavia, o ato consolidado em decorrência da prescrição do direito de anular confirma-se. Não propriamente pela renúncia, mas pela impossibilidade decorrente da prescrição. Elucida a matéria Maria Sylvia Zanella di Pietro 6, quando afirma que a confirmação difere da convalidação, porque ela não corrige o vício do ato; ela o mantém tal como foi praticado. Somente é possível quando não causar prejuízo a terceiros, uma vez que estes, desde que prejudicados pela decisão, poderão impugná-la pela via administrativa ou judicial. 4.6) Direito Adquirido Objetivando elucidar a matéria, é mister conceituar o entendimento de direito adquirido. Pacifici Mazzoni, citado por Carlos Maximiliano 7, ressalta que o direito adquirido é a consequência de um fato idôneo a produzi-lo, em virtude da lei existente no tempo em que se realizou, tendo começado, antes de entrar em vigor a lei nova, a fazer parte do patrimônio de uma pessoa, ainda que esta não o tenha feito prevalecer por falta de oportunidade (in Instituzioni di Diritto Civile Italiano, 1880, v. I p. 73) (grifamos). No alto de sua cátedra, Pedro Nunes define direito adquirido como toda vantagem que, proveniente de fato jurídico concreto que a determinou, consentâneo com a lei, então vigente, alguém incorpora definitivamente ao seu patrimônio, desde quando começa a produzir efeito útil, dele não podendo ser subtraída por mera vontade alheia (in Dicionário de Tecnologia Jurídica, 1948, sub voce, Direito Adquirido) (grifamos). Infere-se, pois, que para caracterizar o direito adquirido é necessário que o fato que o produziu seja consentâneo com a lei existente no tempo em que se realizou. Portanto, o ato deverá ser produzido em virtude de lei. Entretanto, não se aplica ao caso em análise, de modo que o registro dos certificados de residência foram efetivados pelo CRM de forma diversa da lei vigente, portanto, viciados pela ilegalidade. adquirido. Nesta seara, não se vislumbra, in casu, qualquer direito V - CASO CONCRETO quais sejam: Ex positis, passamos a responder os quesitos ora formulados, 6 in Ob. citada, pág. 205 7 in Comentários à Constituição Brasileira de 1891, p. 227, nota 200. 10
a) - Os T.E. registrados equivocadamente, garantiriam ao médico direito adquirido sobre estes ou poderíamos e deveríamos cassá-los? Não. Os títulos de especialista registrados equivocadamente não garantem ao médico direito adquirido. Para caracterizar o direito adquirido, é necessário que o fato que o produziu seja consentâneo com a lei existente no tempo em que se realizou. Portanto, o ato deverá ser produzido em virtude de lei. Entretanto, não se aplica ao caso em análise, de modo que o registro dos certificados de residência foram efetivados pelo CRM de forma diversa da lei vigente, portanto, viciados pela ilegalidade. Os títulos registrados equivocadamente pelo CRM devem ser invalidados com supedâneo no princípio da autotutela, por estarem maculados com a eiva da ilegalidade, de modo que foram efetivados em desacordo com as normas vigentes (Resolução CFM nº 1.288.89). b) - Se os outros médicos se incluem em situação similar, isto lhe garantiria direito de registrar seus títulos? Não. Inexiste garantia de direito sobre algo que foi praticado ilegalmente, ou seja, diferentemente do que a lei preconiza. O registro dos títulos de especialista efetivados equivocadamente devem ser invalidados pelo CRM, pelos motivos aduzidos no parecer em tela. Urge lembrar que a revogação não se aplica no caso em apreço. Contudo, deve-se levar em conta a prescrição do direito de invalidar o ato. Nada justifica ser declarado inválido depois de um longo tempo de sua edição. Assim, decorrendo um determinado prazo, o ato, mesmo que inválido, firma-se, não podendo mais ser invalidado pela Administração Pública. Destarte, prescrito o direito de a Administração invalidar o ato, está o mesmo consolidado no decurso do tempo. A prescrição deve ser a mesma instituída pelo artigo 1º do Decreto Federal 20.910/32, isto é, de cinco anos. Sob este prisma, o ato consolidado em decorrência da prescrição do direito de anular deverá ser confirmado. c) - Se a CNRM autoriza uma RM, não está ela por sua vez, garantindo-lhe qualidade, e portanto, este não seria bastante ao CFM, como critério permissivo ao reconhecimento pelo CRM do T.E. emitido pela COREME? Residência Médica. A CNRM não pode garantir a qualidade dos Programas de Dessa feita, o meio pelo qual a CNRM poderá fiscalizar a qualidade e execução dos Programas de Residência Médica será mediante avaliações 11
periódicas, para que se verifique se estão de acordo com as normas e determinações emanadas da Comissão, sob pena de suspender o seu credenciamento. No que tange aos certificados, podemos inferir que, para terem validade nacional, é mister que: (i) os programas de residência médica estejam credenciados junto à Comissão Nacional de Residência Médica; e (ii) os certificados devem ser registrados na Secretaria Executiva da CNRM antes de serem registrados no Conselho Regional de Medicina. Portanto, quando os títulos ou certificados são registrados na Secretaria Executiva, dessume-se que este curso já está devidamente credenciado pela Comissão Nacional de Residência Médica, por ser aquela, uma longa manus da CNRM. Assim, os Conselhos Regionais de Medicina, ao receberem os referidos títulos ou certificados de especialista outorgados pela COREME, devem averiguar, desde logo, se o referido título foi registrado na Secretaria Executiva da Comissão Nacional de Residência Médica. VI - CONCLUSÃO Ante todo o exposto, temos por intelecção que: 1) A residência médica é considerada uma modalidade de ensino de pós-graduação, sob a forma de especialização. 2) As instituições de saúde somente poderão oferecer residência médica depois de credenciadas pela CNRM. 3) a CNRM é o órgão máximo dos Programas de Residência Médica. 4) Os Programas de Residência Médica devem reger-se por regulamentos próprios onde estejam previstos, entre outros, a COREME e os critérios de outorga dos certificados. 5) A CNRM é quem define as normas gerais dos Programas de Residência Médica. Logo, é a CNRM quem definirá, indiretamente, a COREME e os critérios de outorga dos certificados. 6) Os Programas de Residência Médica conferirão títulos de especialista que constituirá documento hábil para registro junto aos Conselhos Regionais de Medicina. 7) Para que os certificados de residência médica tenham validade nacional, é mister que: (i) os programas de residência médica estejam credenciados junto à Comissão Nacional de Residência Médica; e (ii) os certificados devem ser registrados na Secretaria Executiva da CNRM antes de serem registrados no Conselho Regional de Medicina. 8) Quando os títulos ou certificados são registrados na Secretaria Executiva, dessume-se que este curso já está devidamente credenciado pela Comissão Nacional de Residência Médica, por ser aquela, uma longa manus da CNRM. 9) O Conselho Regional de Medicina só pode registrar títulos de especialista conferidos por Residência Médica credenciadas pela CNRM e reconhecidas pelo MEC, conforme preceitua a Resolução CFM nº 1.288/89. 12
10) Os títulos registrados equivocadamente pelo CRM devem ser invalidados com supedâneo no princípio da autotutela, por estarem maculados com a eiva da ilegalidade, de modo que foram efetivados em desacordo com as normas então vigentes (Resolução CFM nº 1.288.89). 11) Deve-se levar em conta a prescrição, posto que, prescrito o direito de a Administração invalidar o ato, está o mesmo consolidado no decurso do tempo. 12) A prescrição deve ser a mesma instituída pelo artigo 1º do Decreto Federal 20.910/32, isto é, de cinco anos. 13) O ato consolidado em decorrência da prescrição do direito de anular deverá ser confirmado. Portanto, patenteada a prescrição o registro é mister a sua confirmação. 14) Não existe, in casu, direito adquirido. Para que se caracterize o direito adquirido, é necessário que o ato seja produzido em virtude de lei. Entretanto, não se aplica ao caso em análise, de modo que o registro dos certificados de residência foram efetivados pelo CRM de forma diversa da lei vigente, portanto, viciados pela ilegalidade. 15) O Decreto Estadual nº 3.651/91 mostra-se maculado com a eiva da ilegalidade, pois dispõe sobre os Programas de Residência Médica de forma diversa da lei federal, criando e delegando competências que são exclusivas da Comissão Nacional de Residência Médica. 16) Inexiste garantia de direito sobre algo que foi praticado ilegalmente, ou seja, diferentemente do que a lei preconiza. Assim, qualquer outro médico que se inclua em situação similar não terá direito de registrar seu título. 17) A CNRM quando autoriza uma residência médica não lhe garante qualidade. A CNRM promove fiscalização nos Programas de Residência Médica para averiguação da sua qualidade e execução, através de avaliações periódicas, sob pena de suspender o credenciamento, caso constatadas irregularidades. É o que nos parece, s.m.j. Brasília, 08 de julho de 1997. Claudia G. Pena Nogueira de Queiroz Assessora Jurídica l:prot3609.sj 13