CONTAMINAÇÃO POR NITRATO DO AQUÍFERO BAURU EM MEIO URBANO

Documentos relacionados
Mini - curso Monitoramento de Águas Subterrâneas

ÁGUA SUBTERRÂNEA: USO E PROTEÇÃO

Ocorrência de nitrato no sistema aquífero Bauru e sua relação com a ocupação urbana no município de Marília.

Água subterrânea... ou... Água no subsolo

Tema 4 Uso da Água Subterrânea na RMSP

RECURSOS HÍDRICOS. Prof. Marcel Sena Campos (65)

Professor Thiago Espindula - Geografia. Subterrânea. Gráfico (disponibilidade de água)

MECANISMOS E FONTES DE CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DE NATAL/RN POR NITRATO

PHD Hidrologia Aplicada. Águas Subterrâneas (2) Prof. Dr. Kamel Zahed Filho Prof. Dr. Renato Carlos Zambon

Indústria Comércio Resíduo Acidentes Desconhecida. Figura Distribuição das áreas contaminadas em relação à atividade (CETESB, 2006).

Ciclo hidrológico e água subterrânea. Água como recurso natural Água como agente geológico Clima Reservatórios Aquíferos

Introdução ao Ciclo hidrológico

UTILIZAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO MUNICÍPIO DE PARAÍSO DO TOCANTINS

VULNERABILIDADE DE AQÜÍFEROS

CÓDIGO NITRATO NAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO ESTADO DE SÃO PAULO: COMO DESARMAR ESSA BOMBA RELÓGIO?

O que são Áreas Contaminadas???

OCUPAÇÃO URBANA E AS CONCENTRAÇÕES DE NITRATO NO SISTEMA AQUÍFERO BAURU

(Adaptado de Revista Galileu, n.119, jun. de 2001, p.47).

O Homem sempre utilizou materiais de origem geológica que a Natureza lhe fornecia. Idade da Pedra Idade do Bronze Idade do Ferro

Hidrogeologia vs. Engª do Ambiente

Claudia Varnier 1 ; Sandra Procel Guerra 2 ; Ricardo Hirata 3

PROPOSTA DE PADRONIZAÇÃO DAS DENOMINAÇÕES DOS AQUÍFEROS NO ESTADO DE SÃO PAULO. José Luiz Galvão de Mendonça 1

INTERACÇÃO ÁGUA-ROCHA O caso das rochas ígneas, sedimentares e metamórficas

Mananciais de Abastecimento. João Karlos Locastro contato:

Riscos para os aquíferos decorrentes da não selagem/isolamento de captações

Água Subterrânea 16/03/2016. Revisão: Composição do solo: Revisão: Porosidade do solo: Porosidade do solo:

BLOCO V ÁGUA COMO RECURSO NO MOMENTO ATUAL. Temas: Escassez. Perda de qualidade do recurso (água) Impacto ambiental

INFLUÊNCIA DE FOSSAS NEGRAS NA CONTAMINAÇÃO DE POÇOS SUBTERRÂNEOS NA COMUNIDADE VILA NOVA, ITAIÇABA-CEARÁ 1

Ciclo hidrológico: ciclo fechado no qual a água de movimenta

José Cláudio Viégas Campos 1 ; Paulo Roberto Callegaro Morais 1 & Jaime Estevão Scandolara 1

Divisão Ambiental Prazer em servir melhor!

BLOCO V ÁGUA COMO RECURSO NO MOMENTO ATUAL. Temas: Escassez. Perda de qualidade do recurso (água) Impacto ambiental

de lençóis subterrâneos, bacias brasileiras

SISTEMA DE TRATAMENTO INDIVIDUAL DE ESGOTO SANITÁRIO

USO E QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS PARA ABASTECIMENTO PÚBLICO NO ESTADO DE SÃO PAULO

II DISPOSIÇÃO DE LODO DE ESGOTO NO SOLO AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS SANITÁRIOS

Água Subterrânea Parte 1 de 2

Vamos aprender: Importância para os seres vivos; Ciclo da água; Tratamento da água e esgoto; Poluição da água e Saneamento básico; Doenças ;

O que é a fossa Séptica

VULNERABILIDADE DE AQUÍFEROS

Contaminação de aqüíferos por compostos imiscíveis à água subterrânea

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DOS SOLOS E INTERAÇÃO COM ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

EVAPOTRANSPIRAÇÃO INTERCEPTAÇÃO PELO DOSSEL

DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO SOLO ATERROS DE RESÍDUOS

Ciclo Hidrológico. Augusto Heine

BIOSFERA. Comprometimento e conflitos das águas subterrâneas

ÁGUAS SUBTERRÂNEAS INTRODUÇÃO:

Proteção de nascentes

Ciências do Ambiente

Monitoramento da qualidade das águas de fontes alternativas de abastecimento do Bairro dos Ingleses- Florianópolis/SC (1)

NITRATO EM AQÜÍFERO FREÁTICO NA AMAZÔNIA ORIENTAL CIDADE DE SANTA IZABEL DO PARÁ BRASIL

CARGAS DIFUSAS URBANAS DE POLUIÇÃO

GESTÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS EM ÁREAS URBANAS

Qualidade da Água em Rios e Lagos Urbanos

AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO ESTADO DE SÃO PAULO

A HIDROSFERA. É a camada líquida da terra

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária PHD 2537 Águas em Ambientes Urbanos POLUIÇÃO DIFUSA

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA APLICADOS À PRESERVAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO GRUPO CUIABÁ

CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS E HIDRÁULICAS DOS POÇOS TUBULARES DA APA CARSTE LAGOA SANTA E ENTORNO, MG

MINERAIS HIDROGEOLÓGICOS ENERGÉTICOS. de acordo com a finalidade

Hidrogeologia: Conceitos e Aplicações

PALAVRAS CHAVE Aquífero Furnas, revestimento de poços tubulares profundos, qualidade da água.

Água no Solo. V. Infiltração e água no solo Susana Prada. Representação esquemática das diferentes fases de um solo

Orientações para instalação. domiciliar do sistema de FOSSA E SUMIDOURO

# A água constitui a substância mais abundante na superfície do planeta.

DIAGNÓSTICO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE POÇOS PERFURADOS NO MUNICÍPIO DE ARARUNA PB

O SANEAMENTO AMBIENTAL E O MEIO URBANO. Aula 1: Aspectos Gerais e Controle Operacional das Águas Urbanas. Dante Ragazzi Pauli

Tratamento de Água para Abastecimento

CONCEITO DE SOLO CONCEITO DE SOLO. Solos Residuais 21/09/2017. Definições e Conceitos de Solo. Centro Universitário do Triângulo

Outubro/2018

AÇÃO GEOLÓGICA DA ÁGUA SUBTERRÂNEA. EQUIPE 5 Amanda Simonini Pereira Ana Carolina Nodari Eduardo Olavo Pereira Felipe Alcantera Dubeski Marina Nissel

Tipos de solo e suas características

ARTIGO COM APRESENTAÇÃO BANNER - RECURSOS HÍDRICOS

1) Conceitos e definições:

16 Efluentes/Processos de tratamento 56 Processos oxidativos avançados 58 Flotação 59 Descargas de efluentes após tratamentos químicos 59 Reúso da águ


Pressão antropogénica sobre o ciclo da água

POLUIÇÃO AMBIENTAL: DIAGNÓSTICO DAS FONTES CONTAMINANTES DO CÓRREGO DE TANQUES

VULNERABILIDADE NATURAL DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO MUNICÍPIO DE RESTINGA SECA, RS COM BASE NO MÉTODO GOD INTRODUÇÃO

CAPÍTULO 2 ÁREA DE ESTUDOS A proposta do Sítio Controlado de Geofísica Rasa - SCGR

Águas subterrâneas em ambientes urbanos: problemática, riscos e soluções

A água Subterrânea: Um tesouro invisível que usamos e devemos cuidar.

Geotécnica Ambiental. Aula 2: Revisão sobre solos

Controle da Poluição POLUIÇÃO DIFUSA. Fontes de poluição das águas

Hidrogeologia Ambiental. Gary Wealthall

Hidrologia Aplicada - Profª Ticiana Marinho de Carvalho Studart. Introdução - Aula 02 - Pág. 15

COMUNICAÇÃO TÉCNICA Nº

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL HIDROGEOLÓGICO NA ILHA DE ITAPARICA BAHIA

Universidade Tecnológica Federal do Paraná. CC54Z - Hidrologia. Infiltração e água no solo. Prof. Fernando Andrade Curitiba, 2014

10263 MÉTODOS DE CÁLCULO DE PERÍMETROS DE PROTEÇÃO DE POÇOS DE CAPTAÇÃO COMPARADOS À LEGISLAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO

MONITORAMENTO DE NÍVEL DO AQÜÍFERO BAURU NA CIDADE DE ARAGUARI COM VISTAS AO ESTUDO DA VULNERABILIDADE À POLUIÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

ALTERNATIVA DE TRATAMENTO DE ÁGUA DE ABASTECIMENTO PARA ÁREAS RURAIS

IFRN CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

Geografia. Claudio Hansen (Rhanna Leoncio) Água

A importância da água e os carboidratos

Transcrição:

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA HIDRÁULICA E AMBIENTAL CONTAMINAÇÃO POR NITRATO DO AQUÍFERO BAURU EM MEIO URBANO KATIA KAORI KAMINISHIKAWAHARA Nº USP: 5896594 MARTHA VERONIKA KOZAKA Nº USP: 5944451 MILENA YURI UYETA Nº USP: 5914648 MIRELLA ROSENBERGER JESUS - Nº USP: 5938631 MIYUKI LUCILA OHMURO Nº USP: 6803389 Trabalho apresentado à disciplina de Águas em Ambientes Urbanos, PHD 2537. Prof. Dr. Kamel Zahed Filho SÃO PAULO 2011

SUMÁRIO 1. Introdução... 4 2. Objetivos... 5 3. Aquíferos... 5 3.2 O Aquífero Bauru... 13 4. Poços... 14 4.1 Poços Tubulares... 15 4.2 Poços Cavados... 16 5. A contaminação das águas subterrâneas... 17 5.1 Doméstica... 17 5.2 Agrícola... 18 5.3 Industrial... 18 6. As águas subterrâneas em áreas urbanas... 19 7. Nitrato... 21 5.1 As fontes de Nitrato... 23 5.2 O consumo de água contaminada por nitrato... 24 7.1.1. Metemoglobinemia... 24 7.1.2. Câncer gástrico... 24 7.1.3. Outras reações... 24 8. A Urbanização... 25 9. Conclusões e Sugestões... 28 10. Bibliografia... 30 2 P ágina

ÍNDÍCE DE FIGURAS Figura 1: O Ciclo da água (Iritani; Ezaqui, 2009)... 6 Figura 2: Distribuição da água em subsuperfície (Iritani, Ezaqui, pg.16-2009).... 7 Figura 3: Os Aquíferos conforme Porosidade (Iritani; Ezaqui, pg 19-2009).... 9 Figura 4: Aquíferos Livres e Confinados (Iritani; Ezaqui, pg. 21-2009).... 10 Figura 5: Principais Aquíferos do Estado de São Paulo (IGG - 1974)... 11 Figura 6: Perfis hidrogeológicos do Estado de São Paulo, Geraldo Oda... 12 Figura 7: Aquífero Bauru (Iritani; Ezaqui, pg. 52-2009).... 13 Figura 8: Tipos de Poços (Silva 1986)... 16 Figura 9: Poluição de Origem Doméstica (Silva, 1986)... 17 Figura 10: Poluição de Origem Agrícola (Silva, 1986)... 18 Figura 11: Poluição de Origem Industrial (Silva, 1986)... 19 Figura 12: Localização de fossas em relação a poços (Iritani; Ezaqui, pg. 82-2009).... 20 Figura 13: Grau de Risco de Poluição em função do tipo de aquífero, da profundidade do nível da água e da incidência de chuva (Silva, 1986)... 26 Figura 14: Potenciais fontes de contaminação (Iritani, 2006)... 27 3 P ágina

1. INTRODUÇÃO Os aquíferos desempenham um importante papel na sociedade apesar da maioria das pessoas não conseguirem associar a água contida nesses corpos d água com o que é consumido no dia a dia das pessoas. O Sistema Aquífero Bauru é um Aquífero livre sedimentar que ocupa uma área totalmente aflorante. É um dos mais extensos reservatórios subterrâneos do Estado de São Paulo, apresentando aproximadamente 96.900 km 2. Sua água apresenta, em geral, uma boa qualidade para o consumo humano, ele abastece várias cidades do Estado e é altamente explorado, apresentando produtividade média a alta. O monitoramento da qualidade das águas subterrâneas no Estado de São Paulo vem sendo realizado pela CETESB desde 1990 e para o Sistema Aquífero Bauru os resultados apresentaram em 16,4% dos seus poços concentrações de nitrato acima do valor de potabilidade, estabelecido em 10 mg/l N-NO3, e 46% deles ultrapassaram o valor de prevenção determinado em 5 mg/l N-NO3, em pelo menos uma amostra no período de 2007 a 2009. Logo, essa ocorrência de nitrato em aquíferos tem preocupado administradores dos recursos hídricos em diversos municípios brasileiros, dado que este é o contaminante mais comumente encontrado. O parâmetro de concentração de nitrato é muito utilizado como indicador da contaminação das águas subterrâneas devido à alta mobilidade desse constituinte químico, podendo contaminar extensas áreas. As principais fontes fornecedoras de compostos nitrogenados são: aplicação de fertilizantes orgânicos e sintéticos nitrogenados, utilização de fossas negras ou sépticas, vazamentos das redes coletoras de esgoto e influência de rios contaminados na zona de captação de poços. Algumas dessas fontes são relacionadas com o meio urbano, bem como o crescimento não planejado das áreas urbanas. 4 P ágina

Assim, destacando a relação intrínseca com a disciplina que estamos cursando esse semestre, que relaciona a água e suas diversas relações com o ambiente urbano, tornou-se necessário definir relações entre as densidades de ocupação, saneamento e os impactos consequentes nas concentrações de nitrato na água subterrânea, logo na potabilidade das águas urbanas. 2. OBJETIVOS Esse trabalho tem como objetivo relacionar a água subterrânea com o meio urbano, através da explicação de alguns conceitos relevantes ao assunto, bem como uma revisão bibliográfica que pretende destacar a ocorrência do nitrato, realizando uma avaliação sobre as principais fontes que impactam na concentração desse contaminante no sistema escolhido, o Aquífero Bauru. Também estabeleceremos critérios e recomendações que possam amenizar e prevenir essas anormalidades. 3. AQUÍFEROS O ciclo hidrológico tem grande importância nesse trabalho, pois a água do nosso planeta encontra-se em constante movimento através deste ciclo, sendo reservada em diferentes locais e em estados físicos distintos. A água na forma gasosa ocorre como vapor em nuvens na atmosfera; no estado sólido ocorre nas geleiras; e no estado líquido, ocorre em rios, lagos e oceanos. 5 Página

Na superfície, a água é armazenada nos poros e outras aberturas existentes nas rochas, formando os aquíferos que explicaremos o que são, como são classificados e como funcionam nesse trabalho. Outra forma de armazenamento de água é nos seres vivos, plantas e animais. Essas diversas reservas de água estão conectadas e em um ciclo, estão em permanente intercâmbio. Essas trocas são proporcionadas pela ação, principalmente, da energia solar. Figura 1: O Ciclo da água (Iritani; Ezaqui, 2009) Dentre os diversos processos que controlam essas trocas e a circulação da água em seus diversos estados, cabe destacar, devido à sua importância para as águas subterrâneas o processo de infiltração que permite que a água proveniente de precipitação ou de degelo seja transferida para a subsuperfície, atingindo os estratos mais profundos. 6 P ágina

Assim, ao atingir esses estratos, a água vai se concentrar em poros do solo e dos sedimentos, os espaços vazios entre os grãos, e nas fraturas das rochas, porções onde a rocha se rompeu quando a crosta terrestre movimentou, constituindo um aquífero. No aquífero a água continua a se movimentar. Ela circulará lentamente, nos espaços vazios, até atingir algumas áreas específicas denominadas áreas de descarga, formando nascentes ou compondo rios, lagos e oceanos. Ao infiltrar no solo a água passa por uma área denominada não saturada onde os poros são preenchidos parcialmente por água e ar. Parte da água que se encontra em pequena profundidade pode também ser absorvida por plantas ou evaporar para a atmosfera. A outra parte segue um movimento descendente, devido à ação da gravidade, atingindo a zona saturada. Essas são áreas do subsolo mais profundas que apresentam seus poros completamente preenchidos. Figura 2: Distribuição da água em subsuperfície (Iritani, Ezaqui, pg.16-2009). 7 Página

A água que circulará na zona saturada é denominada de água subterrânea, elas constituem cerca de 30% da água doce na Terra. O Aquífero é um reservatório subterrâneo de água, caracterizado por camadas ou formações geológicas suficientemente permeáveis, capazes de armazenar e transmitir água em quantidades que possam ser aproveitadas como fonte de abastecimento para diferentes usos (Iritani; Ezaqui, pg 19-2009). Os aquíferos podem ter diferentes características e podem ser classificados quanto ao tipo de porosidade da rocha que armazena a água, podendo ser granular, fissural ou cárstico. Os aquíferos granulares ocorrem em rochas sedimentares como arenitos e siltitos também por sedimentos, grãos minerais não consolidados, como areias e cascalhos e a sua porosidade é do tipo granular. Os aquíferos fissurais ocorrem em rochas maciças e compactas, como os granitos e gnaisses, essas não apresentam espaços vazios entre seus grãos, a porosidade é portanto devido à presença de fraturas conectadas, originadas da ruptura da rocha devido aos esforços físicos que ocorreram durante a história geológica da rocha. Os aquíferos cársticos são encontrados em rochas carbonáticas, como os calcários, essas, quando em contato com águas ácidas, sofrem um processo lento de dissolução formando cavidades que podem originar rios subterrâneos ou galerias por onde a água circulará. As águas ácidas são formadas pela combinação da água da chuva ou de rios com dióxido de carbono (CO 2 ) originado na atmosfera ou proveniente da decomposição da matéria orgânica no solo. 8 P ágina

Figura 3: Os Aquíferos conforme Porosidade (Iritani; Ezaqui, pg 19-2009). Outra classificação dos aquíferos é baseada nas características hidráulicas dos aquíferos, que depende da pressão na qual o Aquífero está submetido pode ser classificado em aquífero livre ou confinado. O aquífero livre, ou freático, está mais próximo da superfície, localiza-se onde a zona saturada tem contato direto com a zona não saturada, ou seja, está submetido à pressão atmosférica. Neste tipo de sistema, a água que infiltra no solo atravessa a zona não saturada e recarrega diretamente o aquífero. O aquífero confinado é limitado no topo e na base por camadas de rocha de baixa permeabilidade, como argila, folhelho, rocha ígnea maciça, denominados aquiclude ou aquitardo. Não há área não saturada e assim, consequentemente, a pressão, a qual o aquífero está submetido, é maior do que a atmosférica. Essa pressão da água é suficiente para que o nível da água atinja uma altura superior a do aquífero, porém, a área confinante acima dele não permite. Em aquíferos confinados, o nível da água é chamado de potenciométrico, ao contrário de freático, no caso anterior. 9 P ágina

A água que recarrega o aquífero passa por um processo lento, quando é necessário passar pela camada menos permeável acima dele. Ou pode se infiltrar diretamente pelas porções em que o aquífero se encontra livre. Quando a água infiltrada encontra uma barreira, pode acumular e ficar temporariamente, formando o que é chamado de aquífero suspenso. Em épocas sem chuvas, esses aquíferos podem se esgotar. Figura 4: Aquíferos Livres e Confinados (Iritani; Ezaqui, pg. 21-2009). 3.1 Os aquíferos do estado de são paulo No Estado de São Paulo a água subterrânea é encontrada em diferentes tipos de rochas, logo, diferentes aquíferos, com características hidrológicas distintas. 10 P ágina

Figura 5: Principais Aquíferos do Estado de São Paulo (IGG - 1974) Os aquíferos são então divididos em grupos conforme a rocha em que se situam. Os aquíferos sedimentares do Estado de São Paulo são os aquíferos Guarani, Bauru, Taubaté, São Paulo, Taubaté, Litorâneo e Furnas e Tubarão. Esses destacamse pela capacidade de produção de água, média a alta produtividade. Os aquíferos fraturados são o Serra Geral, o Cristalino e o Diabásio, esses também são incluídos no grupo de rochas carbonáticas como o calcário e mármore de porosidade cárstica. Os aquíferos estão sobrepostos uns aos outros. O aquiclude Passa Dois vai atuar no isolamento do aquífero Guarani do aquífero Tubarão. O perfil esquemático abaixo possibilita uma melhor visualização e entendimento da dinâmica e das estruturas destacadas. 11 Página

Figura 6: Perfis hidrogeológicos do Estado de São Paulo, Geraldo Oda 12 P ágina

3.2 O AQUÍFERO BAURU O Aquífero Bauru é um aquífero sedimentar de extensões regionais que ocupa a metade oeste do estado de São Paulo, estendendo-se por uma área de aproximadamente 96.900km² desde a faixa Barretos-Bauru até o Rio Paraná. Figura 7: Aquífero Bauru (Iritani; Ezaqui, pg. 52-2009). Formado há mais de 65 milhões de anos, é composto por rochas sedimentares arenosas, areno-argilosas e siltosas, depositadas em ambiente desértico e fluvial, sob clima árido e semi-árido. Sua espessura é irregular, podendo atingir mais de 300 metros na Região do Planalto de Marília. Sua área é totalmente aflorante em superfície, o que lhe confere comportamento de aquífero livre, em que a recarga de água se faz por toda a sua extensão. Por essa característica e pela pouca profundidade em que se situa a água subterrânea, a perfuração de poços e a extração de água são facilitadas neste aquífero. Apresenta, em geral, água com boa qualidade para o consumo humano e é considerado de produtividade média a alta. Por isso, é um Aquífero altamente explorado por cidades do interior paulista para o abastecimento público: Andradina, 13 Página

Araçatuba, Presidente Prudente e Marília são alguns exemplos dentro de um número de cerca de duzentos e quarenta municípios. Em função dessa exploração, no entanto, existem ocorrências de poços em que foram detectadas concentrações de cromo e nitrato em níveis acima dos padrões de potabilidade de água para o consumo humano. Além disso, o fato de ser um Aquífero livre e ter sua recarga pela infiltração direta da água o torna mais vulnerável à poluição pelas atividades que se desenvolvem sobre esta unidade hidrogeológica. Isso chama a atenção para a necessidade de um desenvolvimento de programas e uma implementação de medidas destinadas a sua proteção, num esforço conjunto entre governo e sociedade. 4. POÇOS Os poços são as obras de engenharia perfuradas para fazer uso da água subterrânea, retirar essa água de seu reservatório para trazê-la à superfície com objetivos para consumo ou econômicos. A construção dos poços também é um elemento que influirá na qualidade das águas que dele é extraído, pois, quando mal construídos, podem eles mesmos se tornarem fonte de contaminação para o aquífero. Um exemplo é quando o poço tubular não é cimentado em seus primeiros métodos, colocando em contato a água com o solo contaminado por nitrato, e consequentemente, levando esse nitrato às águas subterrâneas, contaminando-as. Os poços devem ser construídos longe de áreas com significativo potencial de contaminação do solo e águas. Existem normas para a construção de poços que devem ser respeitadas, estas chamadas de Proteção Sanitária de Poços e propõe que haja a construção de uma laje de concreto ao redor do poço com caimento para fora a 14 Página

laje de Proteção Sanitária. O poço deve possuir uma tampa localizada acima do nível do terreno e o mesmo permaneça sempre fechado, deve haver a cimentação de espaço entre o furo e a parede externa do poço. O poço deve estar cercado para que seja evitada a circulação de pessoas e animais. Há dois tipos de poços, diferenciados pelas suas características construtivas: 4.1 POÇOS TUBULARES São os poços que apresentam pequeno diâmetro, mas com profundidades que podem variar desde algumas dezenas de metros, até centenas. Muitas vezes são revestidos com tubos intercalados com filtros. Esses poços quando mal construídos, ou quando apresentam filtros que conseguem retirar água de mais de um aquífero, podem também misturar água dos dois aquíferos e, pode se tornar uma fonte potencial de contaminação se um dos aquíferos estiver ameaçado, contaminando o próximo. Essa situação pode ser observada no município de Bauru onde poços perfurados que atingem e apresentam filtros retirando águas do Bauru e do Guarani, em condições especiais, podem transmitir a água do Bauru para o Guarani, misturando-as e possivelmente contaminando o aquífero subjacente ou pelo menos, demonstrando contaminação ao coletar água da superfície, uma vez que a água coletada pertenceu a ambos aquíferos. A água nesses poços são geralmente extraída com bombas movidas à eletricidade e compressores. Quando esses poços retiram água de um aquífero confinado, como o Guarani na sua maior porção, é chamado de poços artesianos. 15 P ágina

4.2 POÇOS CAVADOS Os poços cavados são os que vem à nossa memória quando pensamos em poços, similares aos conhecidos poços dos desejos. Apresentam grandes diâmetros com profundidades geralmente inferiores a 25metros. Em sua construção, são normalmente revestidos por cimento, ladrilhos ou fragmentos de rochas. A água geralmente é extraída com baldes, cataventos ou bombas de pequena potência. Figura 8: Tipos de Poços (Silva 1986) 16 P ágina

5. A CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS Segundo Silva (1986), a contaminação de águas subterrâneas pode ocorrer por duas formas: Transporte dos poluentes, quando as águas das chuvas levam consigo o composto químico, se infiltrando rapidamente no solo e atingindo o aquífero; Difusão do poluente, quando o poluente já está no aquífero, e se locomove lateralmente dentro dele. Pode também ser classificada como: 5.1 DOMÉSTICA É a contaminação relacionada com a matéria orgânica, que poluem as águas com resíduos domésticos que sofrem reações de origem química e microbiológica transformando-se em nitratos. Figura 9: Poluição de Origem Doméstica (Silva, 1986) 17 P ágina

5.2 AGRÍCOLA Os poluentes agrícolas advêm dos fertilizantes e agrotóxicos, utilizados nas plantações. Algumas cidades como Itajaí no estado de Santa Catarina apresentam leis que regulamentam o uso desses produtos. Essa preocupação está relacionada à preservação dos lençóis freáticos dos aquíferos livres da região. Figura 10: Poluição de Origem Agrícola (Silva, 1986) 5.3 INDUSTRIAL O descarte de água, utilizada na produção, sem tratamento pode ser uma fonte potencial, uma vez que as águas despejadas apresentam alta concentração de metais pesados e/ou compostos de orgânicos. Em Bangladesh, por exemplo, a principal contaminação das águas se dá por arsênio já no Brasil os corpos d água localizados próximo a grandes regiões urbanas estão sujeitos às altas concentrações de nitrato. 18 P ágina

Figura 11: Poluição de Origem Industrial (Silva, 1986) 6. AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS EM ÁREAS URBANAS Em regiões urbanas, um dos cuidados que se deve ter para evitar a contaminação de corpos d água por nitrato, é o uso de sistema de esgoto ou de captação dos dejetos, bem como seu tratamento. Com o adensamento urbano, a contaminação de rios, lagos e até mesmo aquíferos por diversos tipos de contaminantes (nitrato, arsênio, chumbo) está se tornando algo usual. 19 P ágina

Figura 12: Localização de fossas em relação a poços (Iritani; Ezaqui, pg. 82-2009). Em caso de área já contaminada, podem ser feitos in situ barreiras de poços de captação, que drenarão diariamente uma quantidade de água que será transportada para uma estação de tratamento e depois lançadas na própria rede de água urbana. A instalação de poços de monitoramento e amostragem de água em regiões contaminadas ou que apresentem potencial para teores altos de nitrato é imprescindível para o cuidado e proteção dos corpos d água. O aproveitamento das águas subterrâneas foi intensificando nos últimos anos devido ao aumento da demanda. Essa acontece devido ao crescimento populacional, desenvolvimento industrial e agropecuário. As vantagens do uso da água subterrânea são diversas, podemos destacar o custo de construção, a qualidade da água muitas vezes é potável, é uma alternativa para pequenas propriedades e vilarejos afastados do meio urbano, entre outras. 20 Página

Cabe destacar que, apesar dela representar 30% das águas doces de nosso planeta, a sua deteriorização pelo efeito da poluição, da superexploração, da contaminação pode acarretar graves consequências, podendo até tornar-se irreversível a exploração do aquífero para consumo. Avaliar o risco de poluição das águas subterrâneas á possível e depende de dois fatores, a vulnerabilidade intrínseca do aquífero, o tipo, a quantidade e a forma de lançamento desse poluente, seja no solo, seja na água. Vulnerabilidade é o conjunto de características do sistema aquífero que determinam qual será a dimensão da pluma de contaminação, bem como qual é o efeito desse contaminante sobre suas águas. Para esse interesse destaca-se a espessura da zona não saturada, o tipo de porosidade, a classificação do solo e da rocha, a velocidade e direção das águas subterrâneas e o rendimento do aquífero. Como já destacamos há diversos poluentes que podem influir na qualidade das águas subterrâneas, sua influência no aquífero será negativa quanto maior a sua mobilidade e persistência em meios saturados e não saturados. Também interessa a quantidade de poluente despejada. Destacamos, portanto, nesse trabalho o Nitrato, que apresenta a característica de mobilidade, está muito presente nos solos brasileiros e ainda, por ser o Brasil um país tropical com a presença de chuvas, uma pequena quantidade desse poluente pode chegar rapidamente à zona saturada pelo rápido transporte realizado pelas águas das chuvas. 7. NITRATO O nitrato é um constituinte inorgânico nocivo à saúde que pode ser encontrado na água subterrânea. Devido à sua alta mobilidade e estabilidade química 21 P ágina

apresenta uma ocorrência problemática. Ele é formado a partir de processos envolvendo agentes microbiológicos e químicos que podem ocorrer no ar, água, solo e vegetação. metemoglobina no sangue. Esta é uma espécie de hemoglobina, porém ela não libera de forma eficaz o oxigênio para os tecidos do corpo. Nas águas subterrâneas é comum a ocorrência de baixos teores de nitrato, substância que representa o estágio final da degradação da matéria orgânica. Mas em concentrações acima do valor de potabilidade essa ocorrência se torna um problema. De acordo com a Portaria nº 518/04 do Ministério da Saúde, o teor máximo permitido de nitrato para consumo humano é de 10mg/L na forma de N - -, NO 3 equivalente a 45mg/L como NO - 3. As águas compradas em garrafões de 20 litros ou mesmo em garrafinhas de 500ml, são envasadas diretamente de fontes associadas aos aquíferos. A contaminação deste por nitrato é na melhor das hipóteses relacionada ao consumo de um copo de água com um pingo de urina. Altas concentrações desse contaminante, sejam concentrações acima do padrão de potabilidade, sejam concentrações e valores de alerta, foram encontradas em vários poços tubulares ou cacimbas (poços rasos, com até 25m), situados nas áreas urbanas e rurais de vários municípios do Estado de São Paulo, como exemplo São José do Rio Preto, Fernandópolis, Votuporanga, Presidente Prudente, Bauru,... entre outros. É de extrema importância a preocupação com a qualidade das águas do sistema Aquífero Bauru, uma vez que aproximadamente 210 municípios do noroeste e centro-oeste paulista são parcialmente ou totalmente abastecidos pelas águas do Sistema Aquífero Bauru. 22 P ágina

5.1 AS FONTES DO NITRATO As principais fontes relacionadas à contaminação do Aquífero Bauru por nitrato são consequência do crescente aumento da urbanização como: esgoto sanitário tratado em fossas, práticas agrícolas de adubação nitrogenada, lixão, vazamento da rede de esgoto e resíduos enterrados em valas sem impermeabilização. Uma das fontes potenciais de nitrato são os sistemas de saneamento, dos quais se destacam as fossas sépticas e negras, bem como redes coletoras mal projetadas e executadas que contribuem para a contaminação em áreas urbanas, sobretudo em locais de grande densidade populacional. Além dos compostos nitrogenados (nitrogênios orgânico e amoniacal, nitrito, nitrato), ressalta-se também a presença de contaminantes microbiológicos (bactérias patogênicas e vírus) e, em alguns casos, compostos orgânicos sintéticos (VARNIER, 2007). A CETESB é a organização responsável pelo monitoramento da qualidade da água de aquíferos no Estado de São Paulo. Logo, considerando-se os Sistemas dos Aquíferos de Bauru e Guarani, já foram constatados cerca de 80 poços tubulares destinados ao abastecimento público que apresentam concentrações elevadas de nitrato, portanto, a concentração do mesmo ultrapassa ou é equivalente a 10mg/L N- NO3 o que é considerado Valor de Intervenção proposto pela CETESB. Fossas devem ser construídas em níveis mais baixos do terreno e bem longe de outros sistemas de captação de água de água subterrânea, mínimo 15m, para evitar conta inações. Outro ponto a ser destacado seria a de que deve haver manutenção periódica das fossas e, que fossas sem revestimento ou construídas no nível da água não devem ser utilizadas. Para a desativação de uma fossa, os resíduos existentes devem ser eliminados antes que seja fechada para que não haja a possibilidade de conta unção futura das água subterrânea. Sistema de Esgotamento Sanitário: necessário maior cobertura, manutenção periódica, tratamento adequado das águas antes de serem distribuídas para consumo, rios, etc. 23 Página

5.2 O CONSUMO DE ÁGUA CONTAMINADA POR NITRATO O consumo de água com altas concentrações de nitrato podem ocasionar efeitos adversos, a saber: 7.1.1. METEMOGLOBINEMIA Também conhecida como a Síndrome do Bebê Azul, segundo o artigo da MedlinePlus, é uma doença na qual há a produção anormal de de metemoglobina no sangue. Esta é uma espécie de hemoglobina, porém ela não libera de forma eficaz o oxigênio para os tecidos do corpo. 7.1.2. CÂNCER GÁSTRICO É um câncer comum entre as pessoas que consomem por longos períodos água com altos teores de nitrato. De acordo com o INCA os sintomas mais comuns são: perda de peso, fadiga, náuseas, vômitos e desconforto na região abdominal. (WARD. et al, 2005). 7.1.3. Outras reações Além dessas duas enfermidades citadas acima, o consumo de água contaminada por este composto químico pode causar, dores de cabeça e hipotensão. 24 P ágina

8. A URBANIZAÇÃO O processo urbanização do Oeste paulista iniciou no século XIX com o estabelecimento de Vilas com centralização das colônias de trabalhadores da agricultura, que na época, movia a economia do Estado. No século XX as cidades começaram a crescer através das construções das ferrovias a população se interiorizou, bem como o escoamento da produção foi facilitado. No meio do mesmo século, o setor secundário foi impulsionado em algumas cidades, destacando-se a agroindústria, fortalecendo o poder do mercado consumidor interno. O entroncamento rodo-ferroviário fortaleceu a logística da região, tornando-a um atrativo para novos investimentos. Todo esse crescimento urbano aconteceu sem um Planejamento real, novos bairros surgiram, as cidades cresceram e logo, a instalação de fossas aconteceu, e em grande quantidade, proporcionaram um aumento da contaminação dos solos, refletida hoje nas águas do aquífero Bauru. Em meados da década de 70, o governo lançou o Plano Nacional de Saneamento (PLANASA) com o objetivo de ampliar o acesso ao esgotamento sanitário para os diversos Estados brasileiros, iniciando assim, um processo de desativação das fossas. Entretanto, apesar da abrangência considerável das redes coletoras de esgoto, o nitrogênio ainda está presente em elevadas concentrações nas zonas não-saturada e saturada do Sistema Aquífero Bauru. 25 P ágina

Figura 13: Grau de Risco de Poluição em função do tipo de aquífero, da profundidade do nível da água e da incidência de chuva (Silva, 1986) Essas altas concentrações devem-se também ao fato de que no solo, esse elemento, consegue permanecer por um intervalo temporal superior ao seu tempo na água, necessitando da água para diluí-lo, retirá-lo do solo e transferi-lo para a camada saturada do subsolo. Há a existência de alguns artigos que relacionam a contaminação dos Aquíferos com a Urbanização. Um exemplo relacionado ao Aquífero Bauru seria um estudo de Cagnon & Hirata (2004) que teve por objetivo correlacionar a urbanização do município de Urânia - SP com a contaminação do Aquífero por nitrato. Durante o desenvolvimento de tal pesquisa, houve o levantamento de dados como: os locais com maiores índices de contribuição para a contaminação por nitrato, histórico da ocupação do solo, relevo, tipo de solo, analise química e analise das águas. A conclusão obtida foi a de que houve maior contaminação nas regiões mais próximas de locais de considerável concentração de fossas. 26 P ágina

Figura 14: Potenciais fontes de contaminação (Iritani, 2006) Existem também outros estudos que relacionam a urbanização com a contaminação de águas realizados em diferentes regiões e países com utilização de diferentes materiais e métodos, desse destacam-se: Drake & Bauder (2005) que analisa as águas em Helena, no Estado de Montana, nos Estados Unidos, obtendo resultados semelhantes ao estudo anterior, logo, afirma-se que a contaminação é produto do crescente e rápido aumento da ocupação do solo e urbanização, o que implica no aumento no número de instalações irregulares e sobrecarrega de outras, como é o caso do sistema coletor de esgotos que muitas vezes não atende a toda população; o escasso e ineficaz tratamento de águas, que muitas vezes acaba por destinar grande parte do esgoto coletado aos rios, córregos e represas próximos, contaminando-os; a falta de impermeabilização do solo em locais onde resíduos são enterrados; o contínuo uso de fossas negras e, ou, sistemas sépticos irregulares. Também podemos citar o estudo de Reynolds-Vargas et al (2006) que analisou as águas subterrâneas no Vale Central, na Costa Rica. O método utilizado para analisar os recursos hídricos foram através de isótopos estáveis e dados hidrogeoquímicos. Os resultados obtidos, assim como as pesquisas anteriores, também indicaram uma forte relação entre o aumento da densidade populacional e as concentrações e assinaturas de isótopos de nitrogênio. 27 Página

O trabalho desenvolvido em Phoenix nos Estados Unidos foi realizado por Xu, Baker e Johnson (2007). Eles fizeram uso de métodos estatísticos e SIG, Sistemas de Informação Geográfica e verificaram os padrões de concentração de nitrato durante um período de 60 anos, em mais de 200 poços situados na cidade e em seus arredores, no Estado do Arizona. Essas informações foram correlacioadas com o histórico de uso do solo, nível d água e aspectos construtivos dos poços e resultaram na avaliação das mudanças nas concentrações de nitrato relacionadas aos padrões de ocupação urbana. Umezawa et al. (2009) três cidades asiáticas, Manila, Bangcoc e Jacarta, foram contempladas com o estudo das concentrações de nitrato e amônio nas águas subterrâneas a partir do uso de análises químicas e isotópicas aliadas a dados de sistema de informação geográfica. As conclusões sugeriram que vazamentos intensos na rede de esgoto é a fonte maior de contaminação da água subterrânea nas áreas urbanas trabalhadas. Destacou-se a incerteza sobre as fontes em Bangcoc, onde destacou-se a ocorrência eventual do uso agrícola do solo nas regiões de subúrbio como um possível ator que provocou a alteração das concentrações e da pluma de contaminação por nitrato. Por fim, Procel (2011) analisou as águas de Presidente Prudente - SP mostrando que o aumento da população promoveu alterações no ciclo hidrológico devido ao uso intensivo dos sistemas de saneamento 'in situ', o deficiente sistema de esgotamento sanitário por toda a região promovendo o aumento das concentrações de nitrato nas águas subterrâneas. 9. CONCLUSÕES E SUGESTÕES O desenvolvimento do tema da contaminação do aquífero Bauru por nitrato nas diferentes áreas urbanas atingidas foi então contemplado, cabe destacar para concluir, algumas sugestões para a proteção das águas subterrâneas na área urbana. 28 Página

Nessas zonas, foi destacada a função das águas subterrâneas como fonte de abastecimento hoje em dia, mas também como uma futura fonte. Para que essas fontes estejam disponíveis para o futuro, faz-se mister o estabelecimento do zoneamento da vulnerabilidade à poluição das águas subterrâneas. Esse estabelecimento, objetiva analisar as características hidrológicas naturais do aquífero bem como a sua localização e uso. Observando as suas características físicas devem ser analisados o tipo de rocha que o sistema está estabelecido. Uma rocha permeável como um arenito deve ter um acompanhamento mais rigoroso, uma vez que as águas se infiltraram rapidamente, e estando contaminadas, podem contaminar o aquífero também. Outra característica dependerá do nível freático ou piezométrico do aquífero, que se for pouco profundo, apresenta uma maior vulnerabilidade com relação ao que acontece na superfície, estando mais conectados à ela. Também as áreas de recarga de aquíferos confinados devem ser protegidas e definidas como áreas vulneráveis. Para que isso aconteça é necessário tomar algumas atitudes. Exigir o controle das instâncias públicas responsáveis pelas águas subterrâneas, como a CETESB e DAEE, para que assim a vigilância sobre a qualidade química da água seja realizada com freqüência necessária. Também a qualidade física dos poços deve ser repensada, exigir a correta construção dos poços, conforme as medidas citadas no trabalho. Também deve ser pensado no Plano Diretor da cidade o uso do solo relacionado à extração da água, pois como destacamos deve-se evitar algumas instalações nas proximidades dos poços, como a instalação de indústrias com efluentes, se já instaladas, exigir o tratamento correto desses efluentes, limitar a instalação de aterros, instalar uma rede de coleta e tratamento de esgotos. Essa medida deve ser entendida como uma medida estrutural para a manutenção da qualidade das águas urbanas. Nas zonas rurais um controle de tipo de fertilizantes e pesticidas e nas áreas mineradoras um controle dos rejeitos evitando assim a contaminação dos solos e das águas. 29 P ágina

Uma medida não estrutural, que nesse caso deverá ser destacada é a conscientização da população. Informar, educar e proporcionar uma maior publicidade sobre a importância das águas subterrâneas para as cidades bem como os efeitos da contaminação de águas por nitrato. Também as possíveis soluções e prevenções de tal problema evitando a ampliação do problema. Essa medida pode ser atribuída também ao profissional da área da Educação Física com aulas lúdicas com inclusão do tema de sustentabilidade e preservação ambiental. Analisar a legislação vigente e adequá-las as necessidades do município é uma atitude que também deve ser entendida como uma medida não estrutural de responsabilidade das instancias públicas, municipal, estadual ou federal. Também realizar pesquisas e programas para o melhor entendimento do problema, entendendo as suas particularidades com relação a fonte poluidora, soluções e medidas para contornar a situação futura. Assim, destacamos e relacionamos o tema escolhido com os conteúdos desenvolvidos em cada um dos nossos cursos de origem, bem como interagimos com os conteúdos aprendidos em aulas. Preservar as águas subterrâneas é cuidar da saúde de todos! 10. BIBLIOGRAFIA BRASIL., Ministério da Saúde. Portaria 518/2004/ Ministério da Saúde. Secretaria da Vigilância Sanitária em Saúde, Coordenação-Geral de Vigilância em Saúde Ambiental, Brasília. Editora do Ministério da Saúde, 2005. CAGNON F. & HIRATA R. Source of nitrate in the groundwater of Adamantina Aquifer in Urania, SP Brazil. In: XXXIII INTERNATIONAL ASSOCIATION OF 30 P ágina

HYDROGEOLOGISTS (IAH) CONGRESS, Zacatecas, 2004. Anais. Zacatecas, IAH. (CD-ROM), 2004. CAGNON, F. A. Origem e Hidroquímica do Nitrato nas águas subterrâneas do Aquífero Adamantina em Urânia, SP. Dissertação (Mestrado em Geociências) Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. CAMPOS, H.; HIRATA, R.; ROCHA, G.; MISTRETA, G. Origem e ocorrência de nitrato nos aquíferos do Estado de São Paulo, Brasil. In: II CONGRESO LATINOAMERICANO DE HIDROGEOLOGIA SUBTERRÁNEA, Santiago, v. 1, p. 111-126, 1994. CAMPOS, H.C.M.S. Contribuição ao estudo hidrogeoquímico do Grupo Bauru no Estado de São Paulo. Dissertação (Mestrado em Geociências) - Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1987. COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Relatório de Qualidade das Águas Subterrâneas do Estado de São Paulo 2004-2006. São Paulo, CETESB, 2007. GIAFFERIS, G.P.; OLIVEIRA, E.L. Gestão da qualidade das águas subterrâneas, pela autarquia municipal de água, no município de Bauru-SP. In: XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, São Paulo, 2007. Anais. São Paulo, ABRH. (CD-ROM), 2007. GIAFFERIS, G.P.; OLIVEIRA, E.L. Investigação da qualidade das águas subterrâneas do município de Bauru. In: XIV Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, Curitiba, 2006. Anais. Curitiba, ABAS. (CD-ROM), 2006. GODOY, M.T.F; BOIN, M.; SANAIOTTI, D.; SILVA, J. Contaminação das águas subterrâneas por nitrato em Presidente Prudente SP, Brasil. Revista Instituto Adolfo Lutz, v. 63, n. 2, p. 208-214, 2004. HIRATA, R. Estudo da contaminação por nitrato no Distrito de Tibiriçá, Bauru. Relatório técnico, DAE/IGc-USP, 2000. INCA INSTITUTO NACIONAL DO CANCÊR. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=329, acessado em novembro de 2011. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA IBGE. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008. Disponível em 31 Página

<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acessado em Novembro de 2011. IRITANI, M. A.; EZAKI, S. As águas subterrâneas do Estado de São Paulo. Secretaria do Estado do Meio Ambiente SMA, São Paulo, 2008. 104p MANCUSO, M.A.; CAMPOS, J.E. 2005. Aquífero Bauru. In: G. Rocha (coord.) Mapa de Águas Subterrâneas do Estado de São Paulo. São Paulo, DAEE/IG/IPT/CPRM, p. 30-38. McCASLAND M. et al. Nitrate: Health effects in drinking water. Disponível em: <http://pmep.cee.comell.edu/facts.slides self/facts/nit-heefgrw85.html>. Acessado em novembro de 2011. MEDINE PLUS, disponível em http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/article/000562.htm acessado em novembro de 2001. PAULA E SILVA, F.; Kiang, C.; Caetano-CHANG, m. Hidroestratigrafia do Grupo Bauru (K) no Estado de São Paulo. Águas Subterrâneas, v. 19, n. 2, p.19-36, 2005. PROCEL, S. 2011. Contaminação por nitrato e sua relação com o crescimento urbano no Sistema Aquífero Bauru em Presidente Prudente (SP). Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, Dissertação de Mestrado, 146 p. SILVA, R. B. G. da. Águas Subterrâneas: um valioso recurso que requer proteção. São Paulo, DAEE, 2007. SILVA, R. S. Caracterização Hidrogeoquímica dos Sistemas Aquíferos Bauru e Guarani no Município de Bauru. 2009. 115p. Dissertação (Mestrado) Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE SANEAMENTO SNIS. Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos 2008. Disponível em <http://www.snis.gov.br/paginacarrega.php?ewrerterterterter=85>. Acesso em novembro de 2011. STRADIOTO, M. R. et al. Nitrato nas águas subterrâneas dos sistemas Aquíferos Bauru e Guarani, área urbana de Bauru SP. In: II Congresso 32 P ágina

Internacional de Meio Ambiente Subterrâneo, São Paulo, 2011. Anais. São Paulo, Abas. (CD-ROM), 2011. SUHOGUSOFF, A. V. Minimização de Impactos nos Recursos Hídricos Causados por Sistemas de Saneamento In Situ: Estudo Piloto em Parelheiros, São Paulo. Tese (Doutorado em Geociências) Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. TOLEDO, E. F. T. A Indústria Bauruense como Transformadora do Espaço Urbano. In: 1º Simpósio de Pós-Graduação em Geografia do Estado de São Paulo, Rio Claro, 2008. Anais. Rio Claro, SIMPGEO. Disponível em <http://www.rc.unesp.br/igce/simpgeo/1167-1181eli.pdf>. Acesso em novembro de 2011. VARNIER et al. Nitrato nas águas subterrâneas do Sistema Aquífero Bauru. Revista do Instituto Geológico. No prelo. 2011 VARNIER, C. L. Avaliação da contaminação de uma fossa negra desativada na zona não saturada do Aquífero Adamantina em Urânia (SP). 2007. Tese (Doutorado em Geociências) Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, 2007. VARNIER, C. L. O efeito do nitrogênio proveniente de sistemas de saneamento in situ na qualidade das águas subterrâneas em aquíferos livres e rasos. Dissertação (Mestrado em Geologia) Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. WARD, M. H. et al. Workgroup report: Drinking-water nitrate and healthrecent findings and research needs. Environmental. Health Perspective. 113 (11):1607 1614; 2005. 33 P ágina