Organização e gestão dos tribunais administrativos e fiscais Jornadas Presente e Futuro da Jurisdição Administrativa e Fiscal Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa João Tiago Silveira 17 de fevereiro de 2017
Sumário 1. O problema 2. Instrumentos de gestão processual: potencial por explorar 3. Os responsáveis pela gestão 3.1 Presidentes de tribunais 3.2 Administradores judiciários 3.3 O juiz do processo 4. A gestão da carga processual global 5. Aproveitar o potencial das novas tecnologias 6. Conclusões
1. O problema A questão: Como garantir que os processos são mais rápidos e proporcionam decisões menos divergentes em casos semelhantes, correspondendo às exigências da Constituição e da sociedade, num contexto em que não é sustentável continuar a aumentar meios no sistema judicial?
2. Instrumentos de gestão processual: potencial por explorar CPTA e ETAF consagram elevado número de mecanismos de agilização processual e instrumentos de gestão processual; Muito escassa utilização de mecanismos de agilização processual e dos instrumentos de gestão processual pelos tribunais administrativos; A utilização de vários mecanismos de agilização processual e instrumentos de gestão processual poderiam acelerar os processo, evitar que se perca tempo no julgamento de casos idênticos e proporcionar decisões mais uniformes em casos semelhantes, com menos esforço.
2. Instrumentos de gestão processual: potencial por explorar Ex1: Reenvio prejudicial, para proporcionar uma decisão do STA (Pleno) o mais cedo possível, quanto a casos que possam originar novos processos semelhantes, permitindo decisões mais uniformes de forma antecipada (artigo 93.º CPTA). Ex2: Intervenção da formação alargada no julgamento em 1.ª instância, para evitar, de forma antecipada, divergências jurisprudenciais e evitar novos processos e recursos sobre questões semelhantes (artigo 93.º CPTA).
2. Instrumentos de gestão processual: potencial por explorar Ex3: Mecanismo dos processos em massa, para evitar a constante repetição e reapreciação de processos semelhantes e proporcionar, de forma antecipada, decisões mais uniformes (artigo 48.º CPTA). Ex4: Antecipação da decisão da causa principal, para que o pedido possa ser logo decidido no processo cautelar, quando este já contenha todos os elementos necessários para a decisão judicial (artigo 121.º CPTA).
3.1 Os responsáveis pela gestão: presidentes de tribunais Mecanismos de agilização processual e instrumentos de gestão processual do CPTA e ETAF são numerosos; Mas os poderes de gestão processual dos presidentes dos tribunais administrativos e fiscais são ainda pouco utilizados; Utilização mais intensa destes poderes, mecanismos e instrumentos pelos presidentes poderia ajudar a julgar em conjunto processos semelhantes e a formar padrões de decisão que evitem consumo de tempo e recursos nos tribunais.
3.1 Os responsáveis pela gestão: presidentes de tribunais A importância de uma formação que: Assegure a transmissão de conhecimentos de planeamento e gestão processual; Promova a utilização de mecanismos de simplificação e agilização processuais; Promova a utilização das novas tecnologias; Seja ministrada por responsáveis exteriores ao sistema judicial. A necessidade de garantir o efetivo cumprimento da lei: artigo 43.º-4 ETAF e Portaria n.º 46/2017, de 31/1.
3.1 Os responsáveis pela gestão: presidentes de tribunais Ex1: Monitorização constante da carga processual nos tribunais através das aplicações informáticas - conhecimento constante da evolução do perfil da litigância e dos processos que entram e são tramitados. Ex2: Promover a utilização do julgamento em formação alargada (artigo 93.º CPTA). Ex3: Melhor gestão do trabalho no tribunal, distribuindo-se os processo de acordo com critérios de i) especialização, ii) carga de trabalho ou iii) tipos processuais (artigo 26.º-2 CPTA).
3.1 Os responsáveis pela gestão: presidentes de tribunais Ex4: Identificar e promover juntos dos juízes casos de apensação processual (artigo 28.º CPTA). Ex5: Promover a utilização do reenvio prejudicial nos tribunais (artigo 93.º CPTA). Ex6: Promover reuniões de planeamento da atividades dos tribunais, com juízes e funcionários, implementar métodos de trabalho e fixar objetivos mensuráveis (artigo 43.º-A-2-c) e 4-a) ETAF).
3.2 Os responsáveis pela gestão: administradores judiciários Administrador judiciário enquanto figura subaproveitada para uma melhor gestão processual: Funções essencialmente burocráticas (artigos 56.º ETAF e artigo 106.º da Lei n.º 62/2013, de 26/8); Escassez de competências de gestão processual do administrador judiciário, quando poderia praticar atos processuais que evitassem a concentração de atos não jurisdicionais no juiz.
3.2 Os responsáveis pela gestão: administradores judiciários Ex1: Atribuição de competência ao administrador judiciário para decidir optar pela citação por publicação de anúncio quando haja mais de 10 contrainteressados (artigo 81.º-5 CPTA). Ex2: Atribuição de competência ao administrador judiciário para adotar decisão de segmentação da apreciação dos pedidos/diferimento da instrução, eventualmente com recurso para o juiz (artigos 5.º-2 e 90.º-4 CPTA).
3.2 Os responsáveis pela gestão: administradores judiciários O cargo tem sido encarado como um degrau mais na carreira de oficial de justiça em vez de proporcionar a procura de novos profissionais e massa crítica para o sistema judicial e a introdução de novas práticas nos tribunais; Apenas oficiais de justiça podem concorrer ao curso necessário para o exercício de funções oficiais de justiça (Portaria n.º 288/2016, de 11/11).
3.3 Os responsáveis pela gestão: o juiz do processo A resposta que a Constituição e o cidadão exigem do sistema judicial é relativa a uma decisão judicial quanto a um pedido e não quanto a uma fase processual específica relativa a um interveniente concreto; No tribunal, deve existir quem assegure que o processo seja tramitado de forma célere, sem formalismos processuais excessivos e de forma ágil, ao longo de toda a sua tramitação; Juiz não se deve limitar a que processo lhe seja concluso para só então praticar atos, atuando apenas nesse momento; Juiz não pode ter uma atuação passiva relativamente ao ciclo de vida de processo, apenas sendo avaliado pelo tempo que o processo lhe esteve concluso e até ao momento em que o despachou para outro interveniente processual; Vários atos no processo devem poder ser praticados em simultâneo e em paralelo, sem necessidade de serem praticados sequencialmente.
3.3 Os responsáveis pela gestão: o juiz do processo É necessária uma atitude dinâmica e proativa do juiz, que implica: Acompanhar o ciclo de vida do processo desde que entra no tribunal e até à emissão da decisão judicial, independentemente de lhe estarem conclusos; Conhecer, a todo o tempo, o perfil dos processos que lhe estão distribuídos; Conhecer os tempos de decisão/resposta ao cidadão do tribunal relativamente a cada um dos processos que lhe estão distribuído; Praticar atos sempre que necessário nos processos, sem esperar por conclusões da Secretaria, para: Eliminar obstáculos formais que obstem ao conhecimento da causa; Conhecer rapidamente do pedido sempre que possível; Adotar decisões com base em mecanismos de agilização processual que acelerem o processo ou permitam gerir melhor a carga processual.
3.3 Os responsáveis pela gestão: o juiz do processo Ex1: Apensar processos o mais cedo possível, assim que detetar processos que o devam ser (artigo 28.º CPTA). Ex2: Sanar a falta de pressupostos processuais ou promover a correção dos articulados, o mais cedo possível no processo, sem esperar que a Secretaria abra conclusões ou pelo despacho présaneador (artigo 7.º-A-2 CPTA).
3.3 Os responsáveis pela gestão: o juiz do processo Ex3: Utilizar o diferimento da instrução/antecipação do conhecimento do pedido principal mais intensamente e aplica-lo o mais cedo possível (artigo 5.º- 2 e 90.º-4 CPTA). Ex4: Utilizar mais intensamente a antecipação da decisão da causa principal no processo cautelar (artigo 121.º CPTA). Ex5: Utilizar intensamente as novas tecnologias para a gestão processual e prática de atos, sem promover a cópia em papel do processo de forma desnecessária.
4. A gestão da carga processual global Necessidade de CSTAF e Presidente do STA assumirem competências de gestão e utilizarem mecanismos legalmente previstos. Ex1: Diálogo com outras jurisdições, planeamento e antecipação - o caso de pedidos de indemnização por omissão de deveres de regulação bancária e financeira pendentes nos tribunais judiciais, a sua possível incompetência e o eventual surgimento de centenas de casos idênticos nos tribunais administrativos. Ex2: A aplicação do mecanismo dos processos em massa a processos a correr em diferentes tribunais (artigo 48.º-7 CPTA). A competência do Presidente do STA está a ser exercida? Ex3: A deteção precoce de processos idênticos que possam originar divergência processual e aconselhar a utilização de mecanismos como o reenvio prejudicial, processos em massa ou julgamentos em formação alargada está a ser efetuada?
5. Aproveitar o potencial das novas tecnologias O potencial ainda por aproveitar nas novas tecnologias: Integração CITIUS/SITAF; Utilização dos dados do SITAF para gerir o fluxo e a carga processual e antecipar decisões de gestão (ex: que tipo de processos está a entrar num certo tribunal); Minimização do circuito burocrático do processo em papel e impedir cópias desnecessárias de documentos do processo em papel; Simplificação de processos e aceleração do processo com utilização mais intensa de novas tecnologias Ex: Citação eletrónica e automática, sem intervenção da Secretaria, das entidades públicas demandadas (artigo 24.º-3 CPTA)
6. Conclusões Organização e funcionamento dos tribunais administrativos e fiscais pode melhorar muito com utilização mais intensa de mecanismos e competências em matéria de gestão e agilização legalmente previstas, mas escassamente utilizadas; Realidade verifica-se em vários planos: Gestão global pelo CSTAF e Presidente do STA Presidentes de tribunais Juízes Novas tecnologias Vantagens evidentes para os cidadãos, com processos mais rápidos e decisões mais uniformes em situações semelhantes.
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