A PRODUÇÃO DO ESPAÇO NO ESTADO DA BAHIA: UMA ANÁLISE DA SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL RESULTANTE DA CONSTRUÇÃO DE CONDOMÍNIOS FECHADOS EM FEIRA DE SANTANA

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Transcrição:

A PRODUÇÃO DO ESPAÇO NO ESTADO DA BAHIA: UMA ANÁLISE DA SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL RESULTANTE DA CONSTRUÇÃO DE CONDOMÍNIOS FECHADOS EM FEIRA DE SANTANA INTRODUÇÃO LIMA, Eliany Dionizio Mestranda em Geografia Universidade Federal de Sergipe (UFS) lialima_1981@hotmail.com Este artigo é fruto das reflexões realizadas sobre a produção do espaço no Estado da Bahia, especificamente no município de Feira de Santana, buscando explicar as transformações que ocorrem no mesmo, com destaque para a segregação socioespacial, analisada a partir da implantação de condomínios fechados. Desta forma, interessa explicar a produção do espaço urbano em Feira de Santana, com a intensificação da implantação de condomínios fechados, que são aqui definidos como exemplo da segregação socioespacial. Assim, as questões que direcionam a análise pretendem avaliar de que forma se dá a produção do espaço urbano a partir da construção dos condomínios fechados observando como se concretiza a segregação socioespacial em Feira de Santana? A relevância da pesquisa é verificada diante da necessidade de investigar os reflexos da implantação de condomínios fechados em Feira de Santana no processo de produção do espaço, pois se constatou um aumento na construção dos mesmos, especialmente na última década, com conseqüentes transformações nos bairros onde são instalados. Esse processo que ainda não foi averiguado de modo mais detalhado, mas, ao ser analisado, fornece importantes subsídios para compreender a realidade e, apesar de existirem estudos sobre Feira de Santana, a avaliação nesta perspectiva é inédita. Desta forma, utilizou-se como base a análise de Andrade (1984), Bernardelli (2003), Carlos (1994), Corrêa (1989), Gomes (2002) e Smith (1988), para o entendimento sobre a produção do espaço. Na discussão sobre a segregação socioespacial foram consideradas as contribuições de Castells (2000) e Rolnilk (1995). Para a efetivação do trabalho inicialmente fez-se uma revisão de literatura para subsidiar a discussão teórico-conceitual. Em seguida, realizou-se a pesquisa de campo, nesta etapa da investigação foram aplicados questionários com os moradores do Condomínio Residencial Maria Quitéria, e também a produção de material fotográfico. 1

Com base nestas informações foi possível ampliar a análise da realidade, estabelecendo uma relação teórico-prática para discutir mais detalhadamente a temática. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO E SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL: DISCUSSÃO TEÓRICO-CONCEITUAL Este item tem como objetivo definir as bases conceituais para analisar a produção do espaço urbano e a segregação socioespacial, de modo a fornecer elementos que possibilitem explicar o processo que está ocorrendo na área delimitada para a realização do estudo específico. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO A Geografia é a ciência que tem como objeto de estudo o espaço geográfico, desse modo, o mesmo constitui o ponto inicial para a realização desta pesquisa. Gomes (2002, p. 172) afirma que (...) o espaço geográfico é, simultaneamente, o terreno onde as práticas sociais se exercem, a condição necessária para que elas existam e o quadro que as delimita e lhes dá sentido. O autor analisa o espaço geográfico como um terreno das práticas sociais, apresentando-o como receptáculo onde a sociedade desenvolve suas atividades para atender às sua condição de vida. Entretanto, é importante considerar que o mesmo é uma produção social em constante transformação, pois é reflexo da relação entre sociedade e a natureza. De acordo com Andrade (1984, p. 17) O processo de produção do espaço é, (...), dinâmico, está permanentemente em ação e permanentemente em reformulação. Em sendo dinâmico é também dialético, de vez que a evolução da sociedade e a ação do Estado que a representa não se procedem de forma linear, mas sofrem contestações, contradições que reformulam os princípios e as ações. Para o autor a produção do espaço é um processo resultado do desenvolvimento da sociedade e, portanto, está em constante transformação, o que neste estudo é atribuído à desigualdade inerente ao capitalismo, onde as contradições são concretizadas no espaço. 2

Carlos (1994, p. 24), afirma que ao produzir suas condições de vida, a partir das relações capital-trabalho, a sociedade como um todo, produz o espaço e com ele um modo de vida, de pensar, de sentir. Nessa perspectiva o espaço, conseqüentemente, reflete a relação capital-trabalho, pois é neste processo que o espaço e o modo de vida são produzidos pela sociedade, sendo, portanto, desiguais. Para Bernardelli (2003) (...) faz-se necessário considerar que o processo de produção do espaço está imbricado ao processo de produção e reprodução ampliada do capital que se dá de forma desigual e combinada. Para a autora, a produção do espaço garante a reprodução do capital, construindo as condições necessárias para sua ampliação, o que é estabelecido na relação entre a natureza e a sociedade e, essa interação é considerada contraditória, desigual e combinada. Neste sentido, assevera Smith (1988, p. 19) (...) enquanto nós, como teóricos, podemos ter drásticos problemas conceituais em realizar uma integração do espaço e da sociedade, o capital parece realizá-la na prática. Apesar das dificuldades conceituais para analisar o processo, o espaço na prática vai sendo produzido pelo capital de forma a garantir a sua reprodução e as desigualdades inerentes ao modo de produção capitalista se intensificam. Nesta perspectiva, para Corrêa (1989, p. 60) o espaço é (...) um produto da existência de classes sociais, sendo a sua espacialização no urbano. Sua origem remonta ao próprio aparecimento das classes sociais e da cidade, que se verificaram de modo simultâneo. Destaca-se, assim, um aspecto importante para a análise, pois ao entender que o espaço é produzido pela sociedade, alicerçada em um modo de produção, que tem por base a divisão de classes sociais, é possível entender que o mesmo não pode ser homogêneo, uma vez que existem os proprietários dos meios de produção, explorando e expropriando os despossuídos dos meios de produção, isto é, aqueles que vendem sua força de trabalho para sobreviver: são classes antagônicas, mas que em sua relação dialética, atendem ao capital e espacializam as desigualdades. Na visão de Smith (...) o desenvolvimento desigual é a expressão geográfica sistemática das contradições inerentes à própria construção e estrutura do capital (1988, p. 16), deste modo, considerando a sociedade capitalista e avaliando a produção do 3

espaço é necessário explicar as contradições que são expressas no mesmo porque tal análise permite a compreensão da realidade. Considera-se nesse estudo que o processo de produção do espaço é dialético, e que, portanto, se constitui uma totalidade. Para analisar a realidade é necessário explicar as contradições como caminho que possibilite a compreensão sobre as transformações que se evidenciam no mesmo. SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL: BREVE DISCUSSÃO A reflexão sobre a produção do espaço perpassa pela análise da realidade, considerando o processo que espacializa as desigualdades: neste caso selecionou, para desenvolver um estudo mais detalhado, a segregação socioespacial, como forma de explicar as contradições que se observam com a implantação de condomínios fechados. Neste sentido, Rolnik (1995, p. 40-41) afirma que É como se a cidade fosse um imenso quebra-cabeças, feito de peças diferenciadas, onde cada qual conhece seu lugar e se sente estrangeiro nos demais. É a este movimento de separação das classes sociais e funções no espaço urbano que os estudiosos da cidade chamam de segregação espacial. De acordo com a autora a segregação espacial é a expressão, no espaço, da separação das classes sociais, entretanto, é importante ressaltar que se trata de um processo de produção do espaço desenvolvido no seio da sociedade capitalista, onde a desigualdade é evidenciada tanto nas relações como nas formas que são construídas as cidades, por exemplo, a construção dos condomínios fechados. Para Castells (2000, p. 182), a segregação (...) refere-se ao processo pelo qual o conteúdo social do espaço torna-se homogêneo no interior de uma unidade e se diferencia fortemente em relação às unidades exteriores. O autor explica a segregação a partir da diferenças existentes entre uma unidade e seu exterior, uma visão de estrutura sob o ponto de vista sistêmico, contudo neste estudo, considera-se que as desigualdades são decorrentes de um processo, onde as diferenças que são identificadas nas formas da cidade, e são produzidas a partir das relações estabelecidas tendo em vista o modo de produção capitalista. 4

Assim, análise sobre a produção do espaço e a segregação socioespacial em Feira de Santana permite evidenciar as contradições inerentes a sociedade, pois é nele que se expressam as desigualdades decorrentes das relações entre classes distintas, mas que em sua relação atendem a demanda do capital. FEIRA DE SANTANA: CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO A área delimitada para a análise corresponde o município de Feira de Santana que integra a Microrregião Geográfica de Feira de Santana e a Mesorregião Centro Norte Baiano. Este limita-se ao norte com Santa Bárbara, a noroeste com Tanquinho, Candeal, Serra Preta e Anguera, a oeste com Ipecaeta, a sudoeste com Antônio Cardoso, a sul com São Gonçalo dos Campos, a sudeste com Santo Amaro e Conceição do Jacuípe, a leste com Coração de Maria e a noroeste com Santanopólis. (FIGURA 1). FIGURA 1 - LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA Fonte: Centro de Estatísticas e Informações (CEI). Adaptado por FREITAS, N. B. 5

Feira de Santana possui uma área de 1.362,88 km², localizado numa área de transição entre o litoral e o sertão, denominada agreste baiano. A população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2009 era de 591.707, situando como o segundo município mais populoso da Bahia, em nível nacional por contar com uma população total maior que nove capitais do país, de acordo com as informações estimadas pelo IBGE. (TABELA 1). TABELA 1 POPULAÇÃO TOTAL DE CAPITAIS BRASILEIRAS. Estado Capital População MT Cuiabá 550.562 SE Aracaju 544.039 SC Florianópolis 408.161 RO Porto Velho 382.829 AP Macapá 366.484 ES Vitória 320.156 AC Rio Branco 305.954 RR Boa Vista 266.901 TO Palmas 188.645 Fonte: Instituto Brasileiro de geografia e estatística (IBGE). Estimativa da População de 2009, É importante ressaltar ainda a posição econômica do município, que desde o início de sua formação socioespacial destaca-se pela atividade comercial, e atualmente apresenta uma significativa participação nos diversos setores, como a indústria e os serviços, apresentando um Produto Interno Bruto (PIB), significativo tanto a nível estadual, quanto nacional, pois de acordo com dados obtidos na Câmara de Dirigentes Lojistas do município, Feira de Santana apresentava em 2006 um PIB total correspondente a R$ 3.853.347, encontrando em 4º lugar no Estado. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO EM FEIRA DE SANTANA O espaço está em constante transformação sob a égide do capital, pois é resultado da forma como a sociedade capitalista o produz. Nesse sentido, o presente estudo explica especificamente o processo em Feira de Santana, utilizando como objeto para ampliar a análise os condomínios fechados, como exemplo da segregação socioespacial, pois se averiguou que houve um crescimento da construção dos mesmos, com conseqüentes modificações no espaço. 6

Em Feira de Santana foram identificados 50 condomínios instalados na cidade, em 2009, distribuídos em 17 bairros. A maior concentração das construções está no centro e nos bairros Capuchinhos, Pedra de Descanso e Mangabeira, onde estão localizados um total de 26 condomínios. (FIGURA 2). FIGURA 2 FEIRA DE SANTANA: NÚMERO DE CONDOMÍNIOS FECHADOS POR BAIRRO, 2009. Fonte: Base Cartográfica IBGE, 2005. Elaborado por MOURA-OLIVEIRA, J. H. 7

Com a intensificação da construção de condomínios fechados verificou-se que a produção do espaço também se ampliou, pois nos bairros, onde ocorre à implantação dos mesmos é possível observar também transformações como melhorias infraestruturais. Tal aspecto pode ser confirmado com a análise dos dados obtidos com moradores de condomínios, através de questionários aplicados durante a pesquisa de campo. Ressalta-se que diante da amplitude apresentada pela temática e pelas dificuldades na obtenção de dados sobre todos os condomínios fechados na cidade, foi necessário optar por um específico para coletar informações que subsidiasse a discussão. Desse modo, selecionou-se o Condomínio Residencial Maria Quitéria,- um dos mais antigos da cidade - inaugurado em 2000, situado no bairro Mangabeira. Este conta com 84 casas, em aproximadamente 150m² de área construída, e 250 habitantes. Com base nesses dados verificou-se, por exemplo, que ocorreram significativas transformações, na infra-estrutura do bairro, após sua construção, pois de acordo com os moradores que responderam ao questionário houve melhorias, como: pavimentação da Avenida Fraga Maia e da Rua Mazagão e a ampliação da iluminação das vias públicas. A partir de observações realizadas em trabalho de campo foi possível constatar também que os condomínios fechados na cidade são implantados, predominantemente, em espaços que apresentam as características necessárias para a construção deste tipo de área residencial, como terrenos planos e em condição de uso para o investimento, situados, prioritariamente nos bairros mais afastados do centro, configurando o que como afirma Corrêa (2001) uma antecipação espacial, pois as construtoras investem em espaços que ainda não apresentam uma infraestrutura urbana que atenda as demandas, mas que são áreas propícias para sua expansão. Assim, possibilita-se a reprodução do capital, como no Bairro Pedra do Descanso, localizado a sudoeste do centro da cidade que apresenta extensas áreas que favorecem o investimento na construção de condomínios e que associado a intensificação desse tipo de empreendimento tem passado por transformações, como pavimentação, iluminação e transporte (FIGURA 3). FIGURA 3 - BAIRRO PEDRA DO DESCANSO: ÁREA PARA IMPLANTAÇÃO DE CONDOMÍNIO FECHADO 8

Foto: LIMA, E.D., Pesquisa de campo. 2009 Assim, pode-se verificar que para analisar a produção do espaço urbano em Feira de Santana é necessário explicá-lo enquanto um processo que ocorre no contexto da sociedade capitalista, na qual os espaços são produzidos para atender o capital. Não obstante, a construção de condomínios fechados se configura como mais uma faceta nesse processo de produção, onde os espaço vão sendo transformados de acordo com a demanda do capitalismo. CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise sobre a produção do espaço urbano e a segregação socioespacial em Feira de Santana, foi explicada como resultado da relação sociedade-natureza, isto é, do entendimento da ação da sociedade que o produz. Como esta tem por base o capitalismo ocorre à espacialização das desigualdades que lhes são inerentes. Diante do exposto considera-se que a produção do espaço está relacionada às formas como se dão a reprodução ampliada do capital sob a égide do capital tem como característica mais evidente a desigualdade. Nesse sentido, ao explicar a segregação socioespacial, identifica-se um aspecto relevante para entender como ocorre esse processo na área delimitada para o estudo. A partir da leitura da realidade foi possível também inferir que a construção dos condomínios fechados reflete as bases do modo de produção capitalista, nas quais a 9

moradia deixa de ser valor de uso para ser valor de troca, atendendo, inicialmente, a demanda por habitação, mas constituindo-se em uma forma de acumulação do capital, que estabelece as contradições desse sistema. Assim, a análise da produção do espaço em Feira de Santana, tendo por base a implantação de condomínios fechados, permite compreender a segregação socioespacial e identificar as transformações que ocorrem no espaço como conseqüência das demandas do capital. REFERÊNCIAS ANDRADE, Manuel Correia. Poder político e produção do espaço. Recife: Massangana, 1984. BERNADELLI, M. L. F. da H., LOCATEL, C. D., BARBUDO, R. R. Reestruturação sócio-espacial e a segregação da vivenda: os casos de Santiago do Chile, Mendoza e Buenos Aires. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2003, vol. VII, núm. 146(134). Disponível em <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-146(134).htm> [ISSN: 1138-9788]. Acesso em 24/03/07. CARLOS, Ana Fani Alessandri. A (re)produção do espaço urbano. São Paulo: Edusp, 1994. CASTELLS, Manuel. A questão Urbana. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2000. CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço Urbano. São Paulo: Editora Ática, 1989. CORRÊA, Roberto Lobato, CASTRO, Iná Elias de, GOMES, Paulo Cesar da Costa (orgs) Geografia: Conceitos e Temas. 3.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. FREITAS, Nacelice B. Urbanização em Feira de Santana: Influência da industrialização 1970-1996. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia. Salvador: UFBA, 1998. GOMES, Paulo Cesar da C. A condição urbana: ensaios de geopolítica da cidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Estimativas da População. 2009. ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo: Brasiliense, 1995. (Coleção primeiros passos) SMITH, Neil. Desenvolvimento desigual: natureza, capital e a produção de espaço. Rio de Janeiro, RJ: Bertrand Brasil, 1988. 10

http://www.cdlfs.com.br/feiradesantana.php - acesso em 15/06/2010 11