GT 11 Política de Educação Superior

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Transcrição:

1 GT 11 Política de Educação Superior O PERFIL DOS ESTUDANTES COTISTAS DA UFBA: UM ESTUDO DESCRITIVO1 Jaqueline Dourado do Nascimento 2 Sheila Regina dos Santos Pereira 3 INTRODUÇÃO As ações de democratização com o acesso e permanência de grupos com subrepresentação ao ensino superior tem se ampliado nas últimas décadas, no entanto, os espaços universitários configuram-se num espaço restrito em que se encontram presentes as desigualdades sociais. No Brasil, a oferta da educação alterou-se significativamente a partir dos anos 90. Houve a universalização do ensino fundamental, o crescimento do ensino médio e principalmente do ensino superior. Apesar desse intenso crescimento observado no ensino superior, o percentual de acesso dos jovens é ainda muito restrito abrange 19% na faixa etária de 18 a 24 anos (PNAD, 2009). Os dados do censo demográfico de 2010 com relação às pessoas que frequentavam curso superior de graduação com relação à cor ou raça, 63% dos estudantes são da cor/raça branca, 5,3% preta, 1,5% amarela, 30% parda e 0,18% indígena (IBGE, 2010). Esses dados nos revelam uma situação preocupante, em quem tem menos acesso ao ensino superior são os negros, amarela, pardos e indígenas. 1 O presente trabalho é resultado parcial do Projeto "Determinantes da Equidade no Ensino Superior" realizado com apoio do Programa Observatório da Educação, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES/Brasil. 2 Doutorandas em Educação pela UFBA e pesquisadoras do Projeto Determinantes da Equidade no Ensino Superior financiado pelo Programa OBEDUC / CAPES. 3 Bolsistas Programa do OBEDUC/CAPES.

2 Nesse cenário, tem-se elaborado um conjunto de ações que visam atenuar essas desigualdades na perspectiva de possibilitar oportunidades equitativas, na busca da superação das diferenças sociais de acesso e permanência no campo educacional, principalmente, no ensino superior evidencia-se nas diversas leis e propostas oriundas de um campo político cercado de tensões (FELICETTI; MOROSINI, 2009). A partir do processo de mobilização da sociedade para modificação da falta de acesso de grande parte da população brasileira ao ensino superior, tendo como tentativa aumentar a representatividade de diversos grupos excluídos e marginalizados inicia-se à implantação do sistema de cotas nas universidades públicas. Inicia-se a partir do final da década de 90 do século XX as discussões, elaborações e implementações de políticas de ações afirmativas pelas universidades públicas, espalhadas no país. Entre as universidades pioneiras na aprovação e execução de ações afirmativas estão a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (2002-2003 4 ), a Universidade do Estado da Bahia (2003), a Universidade de Brasília (2003), a Universidade Federal da Bahia (2004), a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (2003). Estas instituições e as demais que também criaram políticas de ações afirmativas possuem sistemas de reserva de cotas de acordo com as especificidades da população de cada região (SANTOS, 2012). A Universidade Federal da Bahia (UFBA) implantou, no ano de 2005,um sistema de reserva de vagas para alunos que tenham cursado os três anos do ensino médio e mais um ano do ensino fundamental no sistema público de ensino. O sistema estabelece o percentual de 45%, 5 das vagas para todos os cursos e tem um diferencial em relação à cor do estudante. Dessa reserva, 43% são assim distribuídos: 85% destinam-se aos autodeclarada dos pretos e pardos e15% aos autodeclarados brancos. Um percentual de 2% foi destinado aos índiosdescendentes e uma reserva de duas vagas, em cada curso, foi destinada aos índios aldeados e estudantes vindos de comunidades quilombolas (CONSEPE, 2004).Assim, o presente trabalho tem como objetivo descrever o perfil dos estudantes cotistas da Universidade Federal da Bahia nos anos de 2005, 2009 e 2012. Este artigo encontra-se organizado em cinco partes, na primeira parte apresentamos uma introdução do cenário atual da Educação Superior no Brasil e a implementação da politica de cotas na UFBA. A segunda parte refere-se aos procedimentos metodológicos utilizados nas análises. A terceira parte apresenta os resultados e discussão em relação ao público alvo. Inicialmente, faremos uma descrição do perfil dos estudantes cotistas e em 4 O período (anos) apresentado em parênteses refere-se ao ano de criação das políticas de ações afirmativas nas instituições públicas de Ensino Superior.

3 seguida apresentamos as principais características dos estudantes cotistas com alto desempenho. A quarta parte está destinada as considerações finais e a última às referências. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Trata-se de um estudo que busca caracterizar os estudantes cotistas da Universidade Federal da Bahia através das informações fornecidas pelos candidatos no ato da inscrição para o exame vestibular, através do manual do candidato e as informações acadêmicas dos candidatos selecionados para ingresso na UFBA nos anos de 2005, 2009 e 2012 no campus de Salvador. Os dados foram fornecidos pela Pró-Reitoria de Ensino de Graduação (PROGRAD) da UFBA cuja uma de suas responsabilidades é registrar e gerenciar informações e dados relativos à graduação. Como descrito, um dos principais objetivos deste trabalho é descrever e analisar o perfil dos estudantes cotistas em três momentos diferentes após a implementação do sistema de cotas na UFBA. Sendo assim, acreditamos que o ano de 2005 seja importante porque é o marco inicial dessa política de ação afirmativa. Os anos de 2009 e 2012 foram escolhidos porque consideramos que são momentos distintos, separados por um curto espaço de tempo. Os bancos de dados utilizados nas análises apresentam informações referentes ao desempenho acadêmico do estudante até o momento da geração dos dados. Informações sobre o curso, composição racial, renda, escolaridade dos pais, tipo de escola que cursou o ensino fundamental e médio, número de vezes que prestou o vestibular, participação na renda familiar e expectativa em relação ao curso também foram selecionadas para compor as análises. Essas informações foram coletadas do Questionário Socioeconômico Cultural, parte integrante do Requerimento de Inscrição composto de 34 itens destinados à coleta dos dados que caracterizará o candidato ingressante nos cursos de graduação da UFBA. É importante esclarecer que o preenchimento do questionário por parte do candidato não é obrigatório, e, portanto, pode ocorre variação no número amostral. Para compor a amostra foram selecionados os estudantes cuja forma de ingresso na universidade se deu unicamente pelo vestibular e que foram selecionados com base no sistema de cotas. Foram excluídos das análises alunos que ingressaram nos cursos de Bacharelado Interdisciplinar (BI s) e nos Cursos Superior de Tecnologia (tecnólogos) porque em 2005 não existiam essas formas de ingresso na UFBA. Também,foram excluídos os estudantes que não tinham informações sobre o Coeficiente de Rendimento (CR) ou que apresentaram CR igual a

4 zero. Assim, o total de sujeitos que fizeram parte das análisesfoi 3038, 4418, e 3415, que corresponde aos anos de 2005,2009 e 2012 respectivamente. Para compor as análises foi criadaum nova variável que agrega os estudantes em duas categorias, Cotistas e Não Cotista. Uma vez que o sistema de cotas da UFBA considera seis categorias de seleção distintas. A categoria Cotista foi formada com base nas seguintes categorias de seleção: (A)Cotas: candidatos preto ou pardo de escola pública; (B) Cotas: candidatos de qualquer etnia ou cor de escola pública; (D) Cotas: candidatos Índiodescendente de escola pública e (F) Cotas: candidatos aldeado ou quilombola de escola pública. A categoria Não Cotista foi formada pelos (C) Sem Cotas: candidatos preto ou pardo de escola privada e (E) Sem cotas: todos os candidatos, qualquer que seja a procedência escolar e a etnia ou cor. A fim de criar grupos de distintos com base no coeficiente de rendimento, foi criada outra variável categórica para representar o CR com base nos quartis. A criação dessa variável nos possibilitará descrever o perfil dos estudantes com CR mais altos. Os métodos estatísticos empregados nesse trabalho são de natureza exploratória e nos auxiliando a análise dos perfis dos sujeitos estudados. Vale ressaltar, que os resultados são de caráter essencialmente empírico e descritivo e servirão de base para futuros trabalhos envolvendo a mesma temática. Todas as informações foram analisadas utilizando o software estatístico SPSS versão 22. RESULTADOS E DISCUSSÃO Essa pesquisa se insere no contexto da educação brasileira, mais especificamente, no campo das políticas de ações afirmativas desenvolvida pela Universidade Federal da Bahia, que em 2005 inicia o acesso à universidade via vestibular utilizando o sistema de cotas. Após nove anos de implementaçãodessa nova forma de ingresso na UFBA, se faz necessário avaliar seus primeiros efeitos e as transformações ocorridas na universidade. No decorrer desses anos vários estudos - como os de Almeida Filho (2005), Queiroz (2006), Santos (2009), Queiroz e Santos (2013) e Peixoto (2013) - foram publicados como o intuito de avaliar a efetividade dessa política, principalmente, no que se diz respeitoàs diferenças do desempenho acadêmico dos estudantes cotista e não cotista. Dessa forma, esse trabalho visa contribuir com essa discursão ao descrever o perfil dos estudantes cotistas nos anos de 2005, 2009 e 2012. O Total de estudantes que fizeram parte da amostra foi 3038 em 2005, 4418 em 2009 e 3415 em 2012, sendo que, o quantitativo

5 de estudantes cotistas participantes da amostra foi de 1766, 1894 e 1469 respectivamente, em que é traçado o seu perfil nesta pesquisa. Com relação aos dados dos estudantes que ingressaram no ano de 2005, observou-se uma predominância de estudantes do sexo masculino (54,4%). As faixas etárias predominantes foram até 24 anos (77,8%) e 25 29 anos (11,2%), os demais estudantes acima de 30 anos correspondem a 11% do total. No que se refere à cor da pele ou raça, verificou-se o aumento do acesso de estudante de cor/raça parda (61,5%), preta (25,9%) e indígena (2,5%) na universidade por meio das cotas do que estudantes não cotistas dessas mesmas variáveis, parda (55,4%), preta (11,5%) e indígena (1,3%) (Tabela 01). No ano de 2009, os dados referentes ao sexo indicaram uma similaridade na proporção de estudantes, com 49,4% e 50,6% do sexo feminino e masculino, respectivamente. As faixas etárias da maioria foram até 24 anos (72,3%) e 25 29 anos (13,7%) e 14% os estudantes com idade acima dos 30 anos. Com relação a variável, cor da pele ou raça, observou-se um amento do acesso de cotista de cor/raça preta (34,5%) e indígena (3,5%), existe uma diminuição de 61,5% em 2005 para 51,1% de estudantes de cor/raça parda. Já no ano de 2012, os estudantes são 54,4% do sexo feminino e 45,6% do sexo masculino. A maioria dos estudantes se insere nas faixas etárias de até 24 anos (79,8%) e de 25 a 29 anos (9,2%), os demais estudantes com 11% acima dos 30 anos. Com relação a cor/raça observa-se o aumento de estudantes de cor/raça parda(55,5%) e preta (35,0%). Tabela 01: CaracterísticasDemográficas e socioeconômicas dos estudantes cotistas enão cotistas da UFBA em 2005,2009 e 2012. (%) Sexo Variável Ano de Ingresso 2005 2009 2012 Cotista Não Cotista Cotista Não Cotista Cotista Não Cotista Masculino 45,6 47,2 50,6 48,0 45,6 44,9 Feminino 54,4 52,8 49,4 52,0 54,4 55,1 Idade Até 24 anos 77,8 91,9 72,3 86,5 79,8 87,8 25 a 29 anos 11,2 4,6 13,7 6,3 9,2 5,9 30 a 34 anos 4,9 1,9 5,1 2,9 4,6 2,7 35 a 39 anos 2,4 0,7 3,5 1,8 2,7 1,6 40 anos ou mais 3,7 0,9 5,4 2,5 3,7 2,1 Cor/Raça Branca 8,9 29,9 9,4 31,3 7,0 32,3

6 Parda 61,5 55,4 51,1 50,6 55,5 50,5 Preta 25,9 11,5 34,5 14,2 35,0 14,7 Amarela 1,2 1,9 1,6 2,7 1,1 1,9 Indígena 2,5 1,3 3,5 1,2 1,4 0,6 Tipo de escola que cursou o ensino médio Escola Municipal 5,7 0,8 5,1 0,5 3,4 0,6 Escola Estadual 74,4 7,2 79,1 8,1 81,1 15,2 Escola Federal 18,7 5,2 15,7 4,5 15,5 3,6 Escola Particular 0,9 86,6 0,1 86,7 0,0 80,2 Escola Comunitária 0,2 0,2 0,1 0,3 0,0 0,4 Renda Familiar (em salário mínimo -sm) Até 1sm 5,3 1,4 11,2 2,0 19,8 3,5 Maior que 1 até 3 sm 33,0 9,4 44,8 13,2 51,6 21,7 Maior que 3 até 5 sm 32,9 20,3 25,4 24,4 17,6 22,4 Maior que 5 até 10 sm 20,9 28,4 13,6 26,4 7,7 24,8 Maior que 10 até 20 sm 6,3 24,5 3,2 20,9 2,8 16,3 Maior que 20 até 40 sm 1,4 12,9 1,7 9,5 0,5 7,9 Maior que 40 sm 0,1 3,1 0,1 3,6 0,1 3,4 Nível de Instrução do Pai Nunca frequentou a escola 2,5 1,1 3,1 0,6 3,8 0,5 Primário incompleto 13,2 2,8 16,7 2,8 15,8 2,9 Primário completo 9,4 2,2 9,1 2,0 10,5 2,5 Ginasial incompleto 12,2 3,0 11,0 3,3 10,8 4,6 Ginasial completo 5,3 4,0 6,6 2,6 4,7 2,7 Colegial incompleto 8,3 4,8 7,0 3,9 6,5 4,5 Colegial completo 32,8 30,1 30,1 30,5 32,9 28,5 Superior incompleto 3,9 10,4 3,8 12,1 3,8 11,1 Superior completo 9,4 40,1 7,4 40,1 7,2 39,4 Não sabe 3,0 1,5 5,2 2,0 4,1 3,3 Nível de Instrução da mãe Nunca frequentou a escola 1,9 0,9 2,1 0,8 2,9 0,5 Primário incompleto 9,9 2,0 12,1 2,0 10,0 2,1 Primário completo 9,4 1,3 7,7 1,4 7,5 1,4 Ginasial incompleto 11,9 2,8 11,0 3,2 11,3 3,2 Ginasial completo 5,6 3,0 5,8 2,4 5,1 2,9 Colegial incompleto 9,5 4,1 8,3 3,3 6,6 3,5 Colegial completo 40,4 36,9 37,5 32,2 39,4 31,0 Superior incompleto 3,7 8,7 4,9 9,0 4,6 8,7 Superior completo 7,3 39,9 9,6 44,8 11,7 46,2 Não sabe 0,3 0,5 1,0 0,9 0,9 0,5 Trabalho durante o tempo de formação escolar Não 71,2 91,3 70,4 90,0 76,1 91,6

7 Sim, durante o Ensino Fundamental 1,0 1,0 1,6 1,1 0,9 0,3 Sim, durante o Ensino Médio 23,0 6,9 24,2 7,5 18,1 6,7 Sim, durante a Educação Básica 4,8 0,7 3,8 1,4 4,9 1,4 Fonte: Elaborada pelas autoras a partir dos dados da UFBA. Com relação à idade, os estudantes cotistas em sua maioria concentram-se nas faixas etárias de até 24 anos e de 25 a 29 anos. Um dado importante observado refere-se ao acesso via cotas de estudantes acima de 30 anos sua inserção é maior na Universidade do que estudantes não contistas com a mesma faixa etária nos anos pesquisados (Tabela 01). Na variável sexo, parece haver uma predominância no acesso à Universidade pelas cotas por estudantes do sexo masculino, somente no ano de 2012,em que há uma predominância de estudantes cotistas do sexo feminino, o que já era observado em estudantes não cotistas desde 2005. Nos dados do Censo da Educação Superior - 2011, nos cursos de graduação, 55,8% dos ingressantes são estudantes do sexo feminino (INEP, 2013). Essa tendência nacional já é observada no estudo realizado por Mongim (2012) com estudantes cotistas da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em que a maioria de ingressantescotistas (62% em 2011) e não cotistas são estudantes do sexo feminino. No que se refere à cor/raça foi possível observar que com a implementação das cotas há um aumento da entrada de estudantes negros e pardos. Quanto ao tipo de escola em que cursou o ensino médio os estudantes cotistas acima de 70% são oriundos de escolas da rede estadual de ensino e de 15 a 18% vieram de escolas federais. Quando observada essa variável a partir de estudantes não cotistas esses percentuais são bem menores, com menos de 16% são provenientes da rede estadual e 6% da rede federal. Segundo Queiroz e Santos (2006) em sua pesquisa com estudantes da UFBA com cursos considerados de maior prestígio social, em 1998, eram em sua maioria estudantes de cor branca oriundos de escolas particulares, somente 27% dos estudantes estudaram em escolas públicas durante o ensino médio. Ressaltam que com a inclusão de estudantes cotistas inicia-se uma modificação das características de acesso na UFBA chegando a 43% dos estudantes egressos de escolas públicas. No relatório da Comissão para avaliação dos 10 anos de implantação da política de ação afirmativa para o ingresso de estudantes na Universidade de Brasília (UnB, 2013), primeira universidade pública federal a implementar a forma de acesso diferenciada para estudantes, no ano de 2013 possibilitou o acesso de 72,4% dos estudantes negros e 70,5% de estudantes oriundos de escolas públicas não teriam entrado na UnB no referido ano se não

8 existisse essa forma de ingresso na universidade. O que confirma que a existência do sistema de cotas incluí segmentos que possuem baixa representatividade na universidade (sociedade). A Figura 01 apresenta a distribuição percentual dos cotistas não cursos mais concorridos, seguindo o critério da concorrência no vestibular, observamos que existe em leve crescimento da participação dos cotistas em cursos no decorrer dos anos analisados, exceto nos cursos de arquitetura e urbanismo, ciência da computação e engenharia química. Um dado interessante, é que as maiorias dos cotistas que cursaram a maior parte do ensino médio em instituições federais prestaram vestibular para um desses cursos, 60,7% (2005), 48,4% (2009) e 44,9% (2012). Mais de 48% dos cotistas que tem pais com nível superior completo também prestaram vestibular para os cursos mais concorridos. Gráfico 1: Distribuição percentual dos cotistas nos cursos mais concorridos nos anos de 2005, 2009 e 2012. Percentual 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 2005 2009 2012 Curso A seguir faremos uma análise do perfil dos estudantes cotistas levando em consideração o coeficiente de rendimento (CR) e o ano analisado. O CR é um índice que representa o desempenho acadêmico do estudante, que em seu cálculo leva em consideração a nota e a carga horaria de cada disciplina cursada pelo aluno. O CR utilizado nas análises foi calculado no momento da geração do banco de dados adquiridos junto a UFBA. Inicialmente, categorizamos a variável CR utilizando, a ideia dos quartis e analisamos apenas os estudantes que possuem alto desempenho. Entende-se por alto

9 desempenho a proporção da amostra que possuem CR acima do quartil 75. Para cada ano analisado temos pontos de cortes (baseado nos quartis) diferentes, uma vez que, as populações são distintas. Embora fazer uma comparação do perfil dos estudantes cotista e não cotistas, não seja o foco desse trabalho, em alguns momentos faremos referências às informações relevantes dos não cotistas comparando-as com o grupo de interesse. A Tabela 02 apresenta o desempenho geral dos cotistas e não cotistas, observamos que os estudantes não cotistas possuem desempenho superior aos dos cotistas. Embora esses valores sejam próximos, estatisticamente essa diferença é significante (pv<,000). Tais resultados corroboram com os encontrados por Peixoto et al (2013), que em suas análises mostraram que o desempenho geral dos não cotistas é superior aos cotistas e que essas diferenças tendem a se reduzir quando essa comparação é feita entre os estudantes que possuem melhor desempenho. Tabela 02: Rendimento médio dos estudantes cotistas e não cotistas da UFBA em 2005, 2009 e 2012. Ano de Ingresso 2005 2009 2012 Categoria Desvio Desvio Desvio n Média n Média n Média Padrão Padrão Padrão Cotista 1272 6,48 2,00 1894 5,88 2,04 1469 5,98 1,89 Não Cotista 1766 6,83 1,97 2524 6,43 2,02 1946 6,41 1,96 Fonte:Elaborada pelas autoras a partir dos dados da UFBA. *significância de 5%. Pv * 0,000 No ano de 2005 temos um total de 687 estudantes que possuem CR superior a 8,2 (estudantes com alto desempenho), sendo 34,9% cotistas e 65,1% de não cotistas. Ao analisar área acadêmica onde se concentravam os cotistas, observamos que 49,2% estão nas áreas de Filosofia e Ciências Humanas e 6,7% nas áreas de Matemática, Ciências Físicas e Tecnologia. 61,7% dos cotistas são mulheres e apenas 3,4% estão nas áreas de Matemática, Ciências Físicas e Tecnologia. Os cursos com maior percentual de cotistas são medicina (12,5 %), pedagogia (10,0%), Psicologia (8,8%) e Direito (5,04%) e grande parte dos cotistas do curso de medicina, direito e psicologia cursaram a maior parte do ensino médio em instituições federais. De acordo com o estudo realizado por Kern e Ziliotto (2011) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com relação a desempenho acadêmico de estudantes "86,1% não cotistas e 72,5% de cotistas no primeiro semestre, apresentando um bom aproveitamento e que a partir do segundo semestre essas diferenças deixaram de existir com cotistas tendo melhor desempenho do que não-cotistas. Os cotistas tiveram menor

10 desempenho no curso de engenharia civil (50%) e maior desempenho no curso de direito (98%). No estudo de Queiroz e Santos (2006) quando os estudantes são comparados pelo seu desempenho acadêmico os cotistas (61%) possuem desempenho igual ou superior a nãocotistas de onze cursos com maior prestígio social no estudo realizado nos dois primeiros semestres, pesquisa realizada em 2005. Quando ampliado esse período estes pesquisadores encontraram diferenças, os estudantes não-cotistas apresentaram melhor coeficiente de rendimento. Possivelmente, essa diferença nos achados neste estudo e o de Peixoto et al (2013) se diferem das pesquisas de Kern e Ziliotto (2011) e Queiroz e Santos (2006) ocorram pelas diferenças de estratégias de análises utilizadas, quando os dados do coeficiente acadêmico são separados por quartis consegue-se um maior detalhamento dos dados. Em relação às características socioeconômicas dos cotistas, 70,9% tem renda familiar de até cinco salários mínimos; 15,4% são o responsável pelo próprio sustento ou contribui parcialmente para o sustento da família e/ou de outras pessoas e 23,4% trabalhou durante a educação básica e/ou durante o ensino médio. Ao observamos o nível de escolaridade dos pais, notamos que apenas 10,9% dos cotistas tem pai com nível superior completo e 9,7% têm mãe com o mesmo grau de escolaridade. 26,7% têm pais cujo principal ocupação é vendedor e prestador de serviços do comércio e/ou Trabalha fazendo serviços diversos: turismo, segurança, etc. Com o intuito de verificar em que as características socioeconômicas dos cotistas se assemelham a dos não cotistas, sinalizamos algumas informações interessantes. 26,5 % dos não cotistas tem renda familiar de até cinco salários mínimos, 2,6 % trabalha e é responsável pelo próprio sustento ou contribui parcialmente para o sustento da família e/ou de outras pessoas, 6,9 % trabalhou durante a educação básica e/ou durante o ensino médio, 44,3% e 42,7% tem pai e mãe com nível superior completo respectivamente. 15% dos pais são proprietários de firma de pequeno porte e 24,3% são profissionais do ensino superior. No ano de 2009 temos total de 1031 estudantes com coeficiente de rendimento superior a 7,8 (estudantes com alto desempenho), em que 31,1% são cotistas e 68,9% não cotistas. 51,1% dos cotistas se concentram nas áreas de Filosofia e Ciências Humanas e 13,7% estudaram em instituições federais. Os cursos que têm o maior percentual de cotistas são pedagogia (10,6%), Direito (8,1), Psicologia (7,2%) e Medicina (5,6%). Em relação às características socioeconômicas, 80,9% dos cotistas tem renda familiar de até cinco salários mínimos, 16,2% são responsáveis pelo próprio sustento ou contribui parcialmente para o sustento da família e/ou de outras pessoas e 25,8% trabalhou durante a

11 educação básica e/ou durante o ensino médio. 23,1% têm pais que trabalham como vendedor e prestador de serviços do comércio e/ou Trabalham fazendo serviços diversos: turismo, segurança, etc., apenas 4,1% têm pai(s) proprietário de empresa de pequeno porte e 3,6 têm pais que são profissionais do ensino superior. Apenas 7,5 % dos cotistas têm pai com nível superior, esse percentual é maior quando observamos o nível de escolaridade da mãe (8,7%). Já entre os não cotistas, 39,4% tem renda familiar de até cinco salários mínimos, 8,0% trabalhou durante o ensino médio e 7,8% são responsável pelo próprio sustento ou contribui parcialmente para o sustento da família e/ou de outras pessoas. 39,0% tem pai com nível superior e 45,5% possuem mãe com o mesmo nível de escolaridade. Em relação a principal ocupação do pai, 9,3% são proprietários de empresa de pequeno porte e 19,4% são profissionais do ensino superior. Em 2012 consideramos estudantes com alto desempenho os que possuem coeficiente de rendimento superior a 7,7, o percentual de cotistas pertencentes a esse grupo foi de 30,8 %. Temos que 52,8% dos cotistas estão nas áreade Filosofia e Ciências Humanas e 11,9% nas áreas de Matemática, Ciências Físicas e Tecnologia. 13,8 % estão cursando Direito; 9,1% pedagogia; 7,5% serviço social e 7,5% psicologia. Observamos que 89,4% tem renda familiar de até cinco salários mínimos, 17,2% é responsável pelo próprio sustento ou contribui parcialmente para o sustento da família e/ou de outras pessoas e 23,6% trabalhou durante a educação básica e/ou durante o ensino médio. 16,4% dos cotistas têm pai que não exerce nenhuma atividade remunerada e 19,3% que trabalham como vendedor e prestador de serviços do comércio e/ou fazendo serviços diversos: turismo, segurança, etc. Analisando essas as mesmas variáveis em relação aos não cotistas, temos 41,6% com renda familiar de até cinco salários mínimos, 5,5% responsável pelo próprio sustento ou contribui parcialmente para o sustento da família e/ou de outras pessoas e 6,7% trabalhou durante a educação básica e/ou durante o ensino médio. 44,4% tem pai com nível superior e 20,9% dos pais são profissionais do ensino superior. Com relação à renda familiar observa-se um aumento do percentual de estudantes cotistas com renda familiar de até 1 salário mínimo (sm), com 5,3% (ano 2005), 11,2% (ano 2009) e 19,8% (ano 2012), os estudantes cotistas com concentração de renda familiar entre os grupos de - maior que 1 até 3 sm- com 33,0%; 44,8%; 51,6% e, de - 3 até 5 sm- com 32,9%, 25,4%; 17,6%, nos anos de 2005, 2009 e 2012, respectivamente. Tanto nos achados desta pesquisa e na de Mongim (2012) o sistema de cotas tem propiciado um aumento do acesso de estudantes com baixa renda nos cursos de graduação. No ingresso via sistema de cotas na

12 UFES esse percentual foi de 46% de estudantes, no ano de 2011, com renda familiar de até5 salários mínimos. Na variável nível de instrução dos pais, aqui apresentamos o nível de instrução incluído o pai e da mãe, cerca de 30% possuem o Colegial Completo o que equivale, atualmente, ao Ensino Médio tanto para cotistas e não cotistas, mas quando olhamos para o quantitativo de pais que possuem ensino superior observa-se que menos de 10% dos pais de cotistas tem nível superior contra cerca de 40% dos pais de não cotistas com nível superior (Tabela 01). Nos achados de Mongim (2012) menos de 5% dos pais de estudantes contistas possuem nível superior e quando observados os pais de estudantes não cotistas cerca de metade destes possuem nível superior concluído e/ou incompleto. Com relação ao trabalho durante o tempo de formação escolar cerca de 20% dos cotistas e menos de 8% de não cotistas trabalharam no Ensino Médio. É nítido que existe uma diferença significativa do perfil dos cotistas em relação aos estudantes não cotistas que se reflete no desempenho acadêmico desses estudantes. Observamos que mesmos entre os estudantes com alto desempenho a diferença se mantem e se apresenta de forma mais evidente. Um fato interessante, e que não foi objetivo desse estudo, é que mais de 40% dos estudantes com baixo desempenho, entende-se por baixo desempenho a proporção da amostra pertencente ao quartil 25, estão presentes nas áreas de Matemática, Ciências Físicas e Tecnologia e o seu perfil socioeconômico é muito parecido com o perfil geral. CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise dos resultados nos remete a uma reflexão do impacto da política de cotas na sociedade baiana, principalmente a parte da população economicamente e socialmente excluída. Os dados demonstram que os estudantes cotistas estão em desvantagem quando o comparamos, descritivamente, com os estudantes não cotistas, uma vez que os dois grupos possuem condições socioeconômicas distintas e essa diferença se tende a se mantem com o evoluir dos anos. É importante observar que a implementação do sistema de cotas possibilitou a entrada de cotistas, mesmo que em baixa proporção, em cursos de alta concorrência, por exemplo, medicina. Quando analisados os dados de acesso de cotistas da UFBA com relação há outras experiências similares podemos perceber que a entrada de estudantes são em porcentagem maiores para estudantes com renda familiar com até 5 salários mínimos, acima de 80%. Isso

13 pode evidenciar que uma das ações da política de Ação Afirmativas da UFBA tem se efetivado, o ingresso de estudantes de baixa renda.infere-se que nas famílias de estudantes cotistas estes fazem parte dos primeiros integrantes da família a entrarem em uma graduação.faz-se necessário um estudo mais detalhado do desenvolvimento acadêmico desses estudantes durante o seu percurso na UFBA. Ressaltamos a importância de considerarmos os diversos ganhos com a ampliação das discussões e garantia dos direitos de reserva de vagas para grupos que estiveram e continuam fora do sistema de educação, principalmente, na modalidade do ensino superior. As políticas de ações afirmativas se configuram um dos muitos instrumentos necessários para o enfrentamento das desigualdades sociais presentes na sociedade brasileira. Temos o desafio de transformar a garantia de direitos existentes nas leis, em ações reais que possam modificar a realidade atual e que possam suscitar a necessidade de um olhar aprofundado dos processos de implementações das políticas públicas de ações afirmativas. REFERÊNCIAS ALMEIDA FILHO, Naomar et al. Ações afirmativas na universidade pública: o caso da UFBA. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais, 2005. Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE) da Universidade Federal da Bahia. RESOLUÇÃO 01/04. Altera a Resolução 01/2002 do CONSEPE. Estabelece reserva de vagas na seleção para os cursos de graduação da UFBA realizada através do Vestibular. Disponível em: <https://www.ufba.br/sites/devportal.ufba.br/files/resolu%c3%a7%c3%a3o%2001.2004.p df>. Acesso em: 18 jul. 2013. FELICETTI, Vera Lucia; MOROSINI, Marília Costa. Equidade e iniquidade no ensino superior: uma reflexão. Ensaio:Avaliação e Políticas Públicas em Educação., Rio de Janeiro, v. 17, n. 62, p. 9-24, jan./mar., 2009. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE).Educação e Deslocamento. Resultados da Amostra. Censo Demográfico. 2010. Disponível em:<ftp://ftp.ibge.gov.br/censos/censo_demografico_2010/educacao_e_deslocamento/pdf/t ab_educacao.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2013. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE).Educação e Deslocamento. Resultados da Amostra. Censo Demográfico. 2010. Disponível em:<ftp://ftp.ibge.gov.br/censos/censo_demografico_2010/educacao_e_deslocamento/pdf/t ab_educacao.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2013. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Censo da educação superior: 2011 resumo técnico. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2013.

14 KERN, Maria Cristina Lunardi; ZILIOTTO, Denise Macedo. Universidade Pública e Inclusão Social: as cotas para autodeclarados negros na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 16, n. 59, Jul./Dez. 2011. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/cgpc/article/viewarticle/3752>. Acesso em: 16 jul. 2013. MONGIM,Andréa Bayerl. Diversidade, raça e classe: atributos sociais de discentes beneficiários de programa de reserva de cotas. Revista de Estudos AntiUtilitaristas e PosColoniais, v.2, n.1, p. 133-144, jan-jun. 2002. Disponível em: <http://www.nucleodecidadania.org/revista/index.php/realis/article/view/47>. Acesso em: 26 maio 2014. PEIXOTO, Adriano de Lemos Alves et al. Cotas e desempenho acadêmico na UFBA: Um estudo a partir dos coeficientes de rendimento. XIII Coloquio de GestiónUniversitariaen Américas: Rendimientos académicos y eficacia social de launiversidad. Florianópolis. p.1-15, nov., 2013. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/114822/2013258%20- %20Cotas%20e%20desempenho%20acad%C3%AAmico%20na.pdf?sequence=1>. Acesso em: 20 maio 2014. PNAD. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Síntese de Indicadores. 2009. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2009/pnad_sin tese_2009.pdf.>. Acesso em:abr.2013. QUEIROZ, Delcele Mascarenhas; SANTOS, Jocélio Teles dos. O impacto das cotas na Universidade Federal da Bahia (2004-2012). In: SANTOS, Jocélio Teles dos (Org.). O impacto das cotas nas universidades brasileiras (2004-2012). Salvador: CEAO, 2013.. Sistema de Cotas: um debate dos dados à manutenção de privilégios e de poder. Educação e Sociedade, Campinas, n.96, v. 27, Especial, p. 717-737, out. 2006. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/es/v27n96/a05v2796.pdf>. Acesso em: 13 jun. 2013. SANTOS, Adilson Pereira dos. Itinerário das ações afirmativas no ensino superior público brasileiro: dos ecos de Durban à Lei das Cotas. Revista de Ciências Humanas, Viçosa, n. 2, v. 12, p. 289-317, jul./dez. 2012. Disponível em:< http://www.cch.ufv.br/revista/pdfs/vol12/artigo1vol12-2.pdf>. Acesso em: 13 jun. 2013. SANTOS, Dyane Brito Reis. Para além das cotas: a permanência de estudantes negros no ensino superior como política de ação afirmativa. 2009. 214 f. Tese (Doutorado) - Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação, Salvador, 2009. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. Comissão para avaliação dos 10 anos de implantação da política de ação afirmativa para o ingresso de estudantes na UnB. Análise do Sistema de Cotas Para Negros da Universidade de Brasília no Período: 2º semestre de 2004 ao 1º semestre de 2013. Brasília: UnB, 2013. Acesso em:< http://www.unb.br/administracao/decanatos/deg/downloads/index/realtorio_sistema_cotas.pdf >. Acesso em: 30 maio 2014.