AULA 3 23/02/11 A ANÁLISE TIPOLÓGICA DO ART. 121 1 CÓDIGO PENAL, ART. 121, CAPUT O caput do art. 121, do Código Penal 1, trata da forma simples do crime de homicídio. É a forma basilar do tipo, desprovida de qualquer elemento que possa tornar a conduta mais gravosa (sanção recrudescida) ou menos (sanção abrandada). Percebe-se que, o homicídio simples, em regra não é crime hediondo. A exceção corre por conta segundo roga a Lei n. 8.072/1990 do homicídio praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que por um só agente (ex.: justiceiro). 2 CÓDIGO PENAL, ART. 121, 1º O 1º, do art. 121, do Código Penal 2, trata das causas de diminuição da pena (de 1/6 a 1/3) (erroneamente a doutrina fala em homicídio privilegiado). Essas causas estão reunidas em três grupos e todas elas são subjetivas, valendo dizer, dizem respeito ao motivo determinante do crime. Primeiro motivo relevante valor social: é o motivo valoroso para o grupo social. É o motivo que beneficia a sociedade e, por conseguinte, ao invés da repulsa, nota-se certa aquiescência desta. Exemplos: matar o estuprador que vem fazendo vítimas no bairro; matar o traidor da pátria. 1 Código Penal do Brasil (1940): Homicídio simples Art. 121 - Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. [...]. 2 Ib.: Art. 121 [...] Caso de diminuição de pena 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. [...]
12 DIREITO PENAL Segundo motivo relevante valor moral: é o motivo valoroso para o agente e os seus.. É o motivo que beneficia o agente e seus familiares, mas não um seguimento social expressivo. Exemplos: matar o estuprador da própria filha; eutanásia. Terceiro motivo domínio de violenta emoção logo em seguida a injusta provocação da vítima: percebe-se, neste momento, que três dados merecem serem pormenorizados, quais sejam o domínio de violenta emoção, o logo em seguida e a injusta provocação da vítima. O domínio de violenta emoção : registre-se fortemente que, há quase um transtorno mental que levo o agente a atuar, praticamente, às cegas. Em nada se confunde com a influência 3 de violenta emoção posto corresponder, esta, a mera atenuante genérica. O logo em seguida : o intervalo temporal entre o conhecimento da injusta provocação da vítima e o homicídio deve ser mínimo, risível. É a ação quase que imediata. Exemplo: estupro da filha em 2000, pai toma conhecimento em 2005 e cinco minutos depois já matou o estuprador. A injusta provocação da vítima : é necessário que a vítima provoque de modo injusto o agente. Pode ser a sobredita injusta provocação da vítima concretizada por meio, por exemplo, de uma ofensa verbal ou através de uma agressão física. Por fim, evidencie-se fortemente que, todos os homicídios que podem ser aqui enquadrados os homicídios privilegiados ou ainda melhor, aqueles para os quais cabe uma causa de diminuição de pena jamais preenchem os requisitos para caracterização de crime hediondo. 3 CÓDIGO PENAL, ART. 121, 2º O 2º, do art. 121, do Código Penal 4, trata das circunstâncias qualificadoras. São elas conjunturas que tornam o crime mais grave e a sanção mais severa. A pena sofre alteração de patamar, passando dos seis a vinte anos para doze a trinta anos. 3 Código Penal do Brasil (1940): Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) [...] III - ter o agente: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) [...] c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; [...]. 4 Ib.: Art. 121 [...] Homicídio qualificado 2 Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
13 AULA 3 A ANÁLISE TIPOLÓGICA DO ART. 121 Podem ser de natureza subjetiva (quando vinculadas ao motivo: incisos I, II e V) ou objetiva (meio ou modo: III e IV). O legislador criou todos os incisos aplicando a mesma técnica: exemplos + fórmula genérica. Logo, os dispositivos devem ser apreciados de trás para frente. O inciso I: fórmula geral motivo torpe (desprezível, abjeto, repugnante, asqueroso); exemplos paga (antes do crime) ou promessa de recompensa (depois do crime a natureza jurídica da contraprestação é pecuniária, sexual ou qualquer outra). São os chamados homicídios mercenários. O inciso II: fórmula geral motivo fútil (insignificante, mínimo); exemplo roubar um tênis. Quanto ao ciúme inexiste consenso entre os doutrinadores. Por outro lado, note que a ausência de motivo não configura motivo fútil, mas sim motivo torpe. O inciso III: fórmula geral meio insidioso (enganoso, que cria falsa percepção da realidade), cruel (sádico, que gera sofrimento desnecessário) ou que possa resultar perigo comum (que exponha bens jurídicos de duas ou mais pessoas). Quanto aos exemplos, percebe-se que podem eles figurar em mais de uma das três categorias estabelecidas pelo legislador (insidioso, cruel e que resulte em perigo comum). Passemos a análise de cada um dos exemplos apresentados no dispositivo. O veneno: substância animal, vegetal ou mineral que diminui a saúde e pode ocasionar morte. Alimento não é veneno: açúcar para diabético. Remédio não é veneno: super dosagem. Venecídio é o homicídio com uso de veneno. É meio insidioso (veneno no chá) ou perigo comum (caixa d água). O fogo: pode caracterizar meio cruel (ex.: carrego João para uma praia deserta, derramo-lhe gasolina e ateio-lhe fogo), bem como meio que resulte em perigo comum (ex.: carrego João para dentro do seu barraco na favela, derramo-lhe gasolina e ateio-lhe fogo). O explosivo: pode caracterizar meio cruel (ex.: amarro uma bomba em João a fim de explodi-lo), bem como meio que resulte em perigo comum (ex.: envio uma carta bomba para João endereçando-a ao seu escritório no qual trabalham outras tantas pessoas). A asfixia: tóxica perigo comum (inalação de substância) ou mecânica cruel (esganadura é a constrição do pescoço com as mãos; enforcamento é a constrição do pescoço com o peso do corpo; estrangulamento é a constrição com um artefato; soterramento com sólido; e afogamento com água). A tortura: há duas situações. Tortura qualificada com morte (preterdoloso): tipificada na Lei n. 9.455/97, art. 1º, 3º - pena menor (a morte é conseqüência). Homicídio qualificado com tortura (doloso): tipificado no CP, art. 121, 2º, III pena maior (a tortura é meio para a morte).
14 DIREITO PENAL Por fim, perceba a interessante ocorrência: João estava torturando Pedro, após atingida a finalidade da tortura, João mata Pedro. Trata-se da primeira ou da segunda situação? Nenhuma delas: há dois crimes tortura consumada em concurso material com homicídio. 4 OBSERVAÇÕES 4.1 A TENTATIVA DE HOMICÍDIO Crime tentado é aquele que, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstância alheia à vontade do agente. Não admite tentativa o crime: unissubsistente, culposo, preterdoloso ou habitual. O homicídio admite posto ser plurissubsistente (conduta fracionada em atos) e doloso. A tentativa admite diversas classificações. Pode ser perfeita ou imperfeita, conforme o quão longe se caminhou no inter criminis. Pode ser branca ou cruenta, segundo tenha ou não sido maculada, ofendida a figura da vítima. As tentativas de crimes vêm disciplinadas no Código Penal 5, na Parte Geral, no art. 14, II. Neste norte, em se considerando o crime de tentativa de homicídio a aplicação da pena buscara escopo neste dispositivo, não no art. 121, da Parte Especial. 5 Código Penal do Brasil (1940): Crime consumado (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Tentativa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Pena de tentativa(incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.(incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
15 AULA 3 A ANÁLISE TIPOLÓGICA DO ART. 121 4.2 A CONSUMAÇÃO DO HOMICÍDIO O crime é tido por consumado quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal. O homicídio (matar alguém) há consumação quando há morte. E há morte, segundo a Lei dos Transplantes 6 quando cessam em caráter irreversível as funções cerebrais. O homicídio é um crime material, ou seja, é aquele crime no qual algo estava assim e fica assado. Nestes casos, impõe-se a necessidade da análise técnica que é realizada através do chamado exame de corpo de delito. O exame de corpo de delito direto: é praticado no cadáver e é chamado de exame necroscópico. O indireto: é praticado em todos os elementos sensíveis ao crime que tenham orbitado em torno do objeto primaz tal qual o local (exame perinecroscópico), instrumentos, testemunhas etc.. Note que, o exame de corpo de delito indireto adquire relevâncias nos casos em que inexiste materialidade direta do delito, ou seja, o corpo. Exemplo: João e Pedro são vistos em uma jangada rumo mar adentro, observa-se ao longe um desentendimento e somente João retorna. 6 Lei n. 9.434/1997: Art. 3 A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina. 1 Os prontuários médicos, contendo os resultados ou os laudos dos exames referentes aos diagnósticos de morte encefálica e cópias dos documentos de que tratam os arts. 2, parágrafo único; 4 e seus parágrafos; 5 ; 7 ; 9, 2, 4, 6 e 8 ; e 10, quando couber, e detalhando os atos cirúrgicos relativos aos transplantes e enxertos, serão mantidos nos arquivos das instituições referidas no art. 2 por um período mínimo de cinco anos 2 As instituições referidas no art. 2 enviarão anualmente um relatório contendo os nomes dos pacientes receptores ao órgão gestor estadual do Sistema Único de Saúde. 3 Será admitida a presença de médico de confiança da família do falecido no ato da comprovação e atestação da morte encefálica.
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