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SEGURANÇA SOCIAL NÚMEROS

Transcrição:

C A D E R N O S D E E C O N O M I A A complementaridade das pensões na Lei de Bases da Segurança Social CARLOS PEREIRA DA SILVA* PEDRO CORTE REAL** * Professor Catedrático do ISEG/UTL. ** Professor auxiliar da UNL/FCT. Tomando como referência os Planos de Benefício Definido (em oposição aos de contribuição definida) que se substanciam no pagamento de uma renda vitalícia emitida por uma seguradora do ramo vida ou por um fundo de pensões, um regime complementar de pensões, integrado com as pensões da Segurança Social, é um mecanismo de poupança de longo prazo que permite a um indivíduo participante no regime obter, tendo como referência uma pensão final substitutiva do salário, um complemento que, somado à pensão do sistema público, complete 100% da pensão final. Se a pensão final tiver um limite (e.g. 100% do último salário pensionável), denomina-se complementar não integrado). Se não existir complementaridade mas o regime continuar integrado com a Segurança Social, denomina-se independente. Neste caso, a pensão é suplementar e a soma desta com a pensão pública pode ser maior, igual ou inferior à que resultaria de um plano complementar. I AS MUDANÇAS PRINCIPAIS Do que é que se fala quando se define um regime de complementaridade na nova Lei de Bases da Segurança Social e na regulamentação em curso, mas já referida como muito provável pela comunicação social? Em nossa opinião, não se trata de regimes complementares como anteriormente se definiu, mas de esquemas suplementares integrados, uma vez que a pensão resultante da contribuição definida (pensão não-pública), se adicionará à pensão pública a fim de obter uma pensão final, cujo montante é aleatório e mais desprotegido no seu valor real. Para bem compreender como se articulará o regime complementar é importante analisar as mudanças que afectam directamente a formação da pensão final do sistema público. JUL/SET 2004 13

Três mudanças fundamentais são efectuadas, designadamente: no cálculo das pensões; na criação, entre um valor mínimo e um valor máximo de remuneração, de um regime de capitalização complementar optativo; e uma nova metodologia de indexação das remunerações de carreira. TAXA DA FORMAÇÃO DL329/93 VERSUS DL35/02 (40 ANOS CIVIS) Taxa de Formação 0,92 0,90 1 Cálculo das pensões 0,88 1.1 Em relação à remuneração de referência 0,86 Passa a ser determinada recorrendo a toda a carreira contributiva, revalorizada em função de um índice composto com o Índice Geral de Preços no Consumidor (sem habitação, IPC), em vez dos 10 melhores anos dos últimos 15 revalorizados pelo IPC. O índice é composto do seguinte modo: 75% de um índice de preços ao qual acresce 25% da taxa de crescimento efectivo das remunerações 0,84 0,82 0,80 1,1 2 4 8 Múltiplos SMN DL 329/1993 DL 35/2002 1.3 Fórmula de cálculo da pensão com um limite de 0.5% em excesso do IPC. Se a taxa de crescimento das remunerações for inferior ao IPC, então o índice coincide com o IPC. 1.2 Em relação à taxa de formação da pensão a) Beneficiários com 20 ou menos anos de contribuição 2% por cada ano civil aplicada à remuneração de referência considerando toda a carreira contributiva (taxa de formação máxima de 40% da remuneração de referência). b) Beneficiários com mais de 20 anos de contribuição Três casos são considerados a) Tripla garantia Beneficiários que cumpram pelo menos uma das condições: Com prazo de garantia completo em 31 de Dezembro- 2001 Inscritos e com remunerações registadas até 31 de Dezembro de 2001 e cuja pensão tenha início entre 1 de Janeiro de 2002 e 31 de Dezembro de 2016 podem escolher a melhor de entre três pensões: Resultante da antiga fórmula de cálculo Definição das parcelas da remuneração de referência (RR) por indexação ao valor do Salário Mínimo Nacional (SMN) Taxa de formação da pensão % remuneração P1 = RR1 x 2% x N 1.ª parcela Até 1.1 SMN 2,3% 2.ª parcela Sup. a 1.1 SMN até 2 SMN 2,25% 3.ª parcela Sup. a 2 SMN até 4 SMN 2,2% 4.ª parcela Sup. a 4 SMN até 8 SMN 2,1% 5.ª parcela Sup. a 8 SMN 2,0% Como exemplo das diferenças na determinação da taxa de formação, apresenta-se no gráfico acima a carreira máxima, 40 anos de densidade contributiva. Resultante da nova fórmula de cálculo, onde a taxa global de formação da pensão depende do nível da remuneração de referência: P2 = (RR 1 de acordo com o SMN à data da reforma) x N 92% Resultante da pensão proporcional (P*), ou seja, P* = (P 1 xn 1 +P 2 xn 2 )/(N 1 +N 2 ) Com: N: Total de anos civis com registo de remunerações relevantes para os efeitos da taxa de formação da pensão, com o limite de 40. 14 Cadernos de Economia

Do que é que se fala quando se define um regime de complementaridade na nova Lei de Bases da Segurança Social? RR 1 : RR 2 : Remuneração de referência (DL329/93), ou seja, a antiga fórmula. Remuneração de referência (DL35/02), ou seja, a nova fórmula. N 1 : Anos civis até 31 de Dezembro de 2001. a dimensão aleatória do processo de cálculo sai substancialmente privilegiada relativamente ao método antigo. 2 Limites nas remunerações para efeitos de criação de uma pensão complementar N 2 : Anos civis após 31 de Dezembro de 2001. P 1 : P 2 : Pensão calculada pela antiga fórmula. Pensão calculada pela nova fórmula. b) Dupla garantia - Beneficiários que cumpram as duas condições: sem prazo de garantia completo em 31 de Dezembro de 2001 cuja pensão tenha início após 31 de Dezembro de 2016 podem escolher a melhor de entre duas pensões: Resultante da nova fórmula de cálculo Resultante da pensão proporcional Um limite superior que isenta de contribuição para a Segurança Social o rendimento em excesso. Se por exemplo o limite máximo da remuneração para efeito de prestações da Segurança Social for fixado em 10 salários mínimos (de acordo com as informações veiculadas pela comunicação social), 65% da taxa social única deixa de incidir sobre a remuneração acima do limite. A empresa e o trabalhador economizam o custo com a contribuição na proporção respectivamente de 68% e 32% de 22,5875%. O participante é livre de aforrar ou consumir o montante daí resultante. Um limite inferior acima do qual é possível exercer a opção de ficar no sistema ou sair do sistema através da subscrição de um regime de capitalização complementar. Se por exemplo, como tem sido mencionado, o limite inferior for de seis salários mínimos, tem-se a seguinte distribuição: c) Restantes beneficiários, relativamente aos quais é aplicada a nova fórmula. Nova pensão que não é mais do que a antiga fórmula de cálculo considerando toda a carreira contributiva com um novo índice de revalorização das remunerações auferidas durante a vida profissional. Na verdade, difícil de perceber e de determinar! E, não menos importante, muito mais difícil de prever dado que Até seis salários mínimos a taxa de contribuição incide sobre a totalidade da remuneração. A pensão é calculada com as regras actuais; Acima de seis salários mínimos e até 10 salários mínimos, o indivíduo constitui uma pensão complementar em capitalização no regime público (?) ou num regime privado (mutualista ou em produtos do mercado financeiro). 16 Cadernos de Economia

A complementaridade aplica-se a todos os indivíduos que entrem a partir da regulamentação da Lei no regime público, ou que tendo idade igual ou inferior a 35 anos e carreira inferior a 10 anos exerçam a opção de saída do regime público. Ou seja, todos os indivíduos na hipótese b) e c) para o cálculo da pensão. Como se depreende pelo cálculo do índice de revalorização composto, se o aumento do salário for superior à soma das duas componentes, o indivíduo perde o diferencial daí resultante para a definição da sua pensão pública, devendo por isso compensar na componente em capitalização se tivesse optado pela saída. É óbvio que nem toda esta sub-população está na situação de activo empregado nem aufere remunerações acima dos seis SMN. Se considerarmos a taxas de actividade do quadro seguinte (Inquérito ao Emprego do INE no terceiro trimestre de 2003), então o nosso mercado potencial será o seguinte: Escalões etários Taxa de actividade População 15-19 44,8% 308.531,3 20-24 44,8% 354.323,6 25-29 88,3% 719.345,7 30-34 88,3% 672.366,5 Total 2.054.567 Impõe-se a seguinte pergunta: II O POTENCIAL MERCADO DA COMPLEMENTARIDADE Quantos indivíduos dos escalões etários até 35 anos é que ganham acima dos seis SMN? Qual a população abrangida pelo plafonamento? O potencial de mercado obter-se-ia com base numa dada distribuição etária da população activa e respectiva remuneração. Para tal hipótese, vamos considerar os activos com menos de 35 anos e remunerações acima de seis salários mínimos nacionais. A hipótese é que 50% dos participantes adere a um esquema complementar privado. Para sabermos o efeito do plafonamento, temos que recorrer a estudos elaborados há já alguns anos ou então a dados estatísticos não actuais. O que nos leva, para facilitar, a manter a unidade monetária original os escudos. A O estudo do CIEF Num estudo efectuado pelo CIEF para o Livro Branco da Segurança Social, em 1995, os escalões de plafonamento encontrados foram os seguintes: POPULAÇÃO ABRANGIDA Escalões etários Escalões etários 15-19 688.686 20-24 790.901 25-29 814.661 30-34 761.457 Total 3.055.705 ESCALÕES DE PLAFONDS Escalão N.º de SMN Plafond 1.º 2 104.000$00 2.º 3 156.000$00 3.º 4 208.000$00 4.º 6 312.000$00 5.º 8 416.000$00 6.º 10 520.000$00 7.º 12 624.000$00 Os resultados foram os do quadro abaixo: DISTRIBUIÇÃO DE REMUNERAÇÕES POR NÚMERO DE SMN Plafonds N.º de beneficiários % Total de remunerações % R<2 2.621.432 79,95% 145.890.385,5 53,61% 2 R<3 346.450 10,57 43.836.125,8 16,11% 3 R<4 144.941 4,42% 26.184.173,1 9,62% 4 R<6 102.421 3,12% 25.814.025,7 9,49% 6 R<8 33.118 1.01% 12.011.205,5 4,41% 8 R<10 14.949 0,46% 7.050.965,0 2,59% 10 R<12 6.902 0,21% 4.002.832,6 1,47% R 12 8.544 0,26% 7.341.269,7 2,70% Total 3.278.748 100% 272.130.982,9 100% A complementaridade das pensões na Lei de Bases da Segurança Social 17

CONTRIBUIÇÃO LIBERTADA Plafonds Total de Remunerações isentas Contribuições não cobradas (N.º de SMN) Beneficiários Remunerações (acima do plafond) Valor % (1) (2) (3) (4) (5) (6) 2 657.325 126.240.597,3 57.878.797,3 20.112.882,1 21,27% 3 310.875 82.404.471,5 33.907.971,5 11.783.020,1 12,46% 4 165.934 56.220.298,3 21.706.026,3 7.542.844,1 7,98% 6 63.513 30.406.272,7 10.590.216,7 3.680.100,4 3,89% 8 30.395 18.395.067,1 5.570.747,1 1.998.384,7 2,11% 10 15.446 11.344.102,3 3.312.182,3 1.150.983,3 1,22% 12 8.544 7.341.269,7 2.009.813,7 698.410,2 0,74% Acima de seis SMN estavam cerca de 1,01% dos beneficiários e 4,41% das remunerações. A contribuição libertada era a do quadro anterior. Acima de seis salários mínimos libertavam-se cerca de 3,7 milhões de contos de contribuições por mês, o que correspondia a 3,9% do potencial não cobrado. A simulação para o ano de 1997 deu o seguinte resultado: PERDA DE RECEITA DE CONTRIBUIÇÕES Plafond % Valor 2 21,27% 255,24 3 12,46% 149,52 4 7,98% 95,76 Plafond de 8 SMN % absoluta % acumulada Menos de 15 anos - - 15-19 0,00% - 20-24 0,01% 0.01% 25-29 0,08% 0,09% 30-34 0,23% 0,32% 35-39 0,32% 0,64% 40-44 0,33% 0,97% 45-49 0,37% 1,34% 50-54 0,34% 1,68% 55-59 0,26% 1,94% 60-64 0,13% 2,07% 65-69 0,03% 2,10% 70 e mais anos 0,01% 2,11% 6 3,89% 46,68 8 2,11% 25,32 10 1,22% 14,64 B Dados estatísticos mais recentes Unidade: milhões de contos 12 0,74% 8,88 Nesse ano, se o plafond fosse fixado em seis SMN a receita de contribuições libertada seria de 46,7 milhões de contos. Ora os indivíduos de menos de 35 anos estão no início da carreira, o que significa que só uma minoria terá remunerações acima dos seis plafonds. Quantos? O que sabemos é que para oito SMN, o mesmo estudo do CIEF deu a libertação de contribuições expressa na tabela seguinte. Como se constata, para oito salários mínimos, 0.32% vezes o montante total das contribuições daquele ano dava cerca de quatro milhões de contos de libertação de contribuições. Para seis salários mínimos daria pouco mais. Se atendermos a dados estatísticos mais recentes retirados das publicações do Ministério do Trabalho e da Segurança Social, nomeadamente os relativos às remunerações médias dos trabalhadores por conta de outrem, com idade inferior a 35 anos, temos a distribuição por grupos etários conforme quadro da página 19. Apesar dos constrangimentos associados às médias, é fundamental reflectirmos sobre estes valores. Daqui sobressai que, em 1998, a remuneração média mensal em cada grupo etário não conseguiu exceder dois salários mínimos. Estes valores das remunerações médias mensais são apurados através da divisão das remunerações base dos indivíduos com uma determinada idade pelo seu respectivo número (de indivíduos). Ao analisarmos as remunerações médias mensais por sector de actividade económica, podemos chegar à conclusão que num determinado sector a remuneração base média mensal é superior à dos outros. Na maioria dos grupos etários, o 18 Cadernos de Economia

sector das actividades financeiras apresentou remunerações base mais elevadas. Ora, ao usarmos estes valores máximos de remunerações médias dos diversos sectores e por grupos etários, a relação entre estes e o salário mínimo não é superior a 3,2. Número longínquo dos seis salários mínimos nacionais fixados para a opção de complementaridade! Visualizamos melhor esta constatação na figura seguinte. MÁXIMO DAS REMUNERAÇÕES MÉDIAS MENSAIS DOS JOVENS TCO EM 1998 POR ESCALÃO ETÁRIO Esc. 200.000 150.000 100.000 estão a entrar no sistema. É claro que tudo depende da evolução das remunerações desses jovens. Qual será então o potencial de mercado? Apenas podemos especular que o mercado será o equivalente ao da perda de pensão em relação à fórmula em vigor até agora, dependendo da opção de escolha dos indivíduos com idade inferior a 35 anos, sem 15 anos de garantia. E esperar que as remunerações da generalidade dos jovens portugueses convirjam para a média europeia. Para finalizar e abrir uma reflexão sobre a justiça da alteração da fórmula, apresentamos mais um aspecto desta última. Ao consideremos um diferencial entre o crescimento salarial e a inflação de 1% e duas carreiras, uma de 25 anos e outra de 40 anos, temos os seguintes resultados: Para uma base 100 no início da carreira e um diferencial de 1%, a perda para 25 anos de carreira é de 25% e para 40 anos de carreira é de 33%. Quanto maior o diferencial entre o crescimento salarial e o índicie oficial, maior é a perda. 50.000 0 <15 15-19 20-24 25-29 30-34 SMN em 1998 Só no escalão etário de 30-34 anos é que poderia existir algum negócio! O potencial é baixo! Certo? Não, errado. Temos que considerar também que o potencial de mercado vem da alteração da fórmula de cálculo das pensões para os indivíduos que estão de acordo com a dupla garantia ou que Outro exemplo surge de se considerar carreiras com trajectórias salariais distintas. Considere duas carreiras, ambas longas, 42 anos, iniciadas em 1992 com 24 anos e terminadas em 2033 com 65 anos. Suponha que a carreira 1 tem um crescimento salarial médio 1% acima da inflação (que se considera 3,75% em média) e que a 2 tem 5% acima da inflação. Para facilitar os cálculos o vencimento inicial é de 14.000 euros. A tabela resumo, que publicamos ao lado, é bastante ilustrativa. Muito havia a dizer sobre este exemplo, mas destacamos o indicador referente à taxa de substituição do último salário. A carreira 1, muito menos dinâmica, obtém uma taxa de substituição de 75,72%, enquanto a carreira 2 obtém (simplesmente?) 45,94%. REMUNERAÇÕES MÉDIAS MENSAIS DOS TCO, POR GRUPO ETÁRIO EM 1998 Grupos etários <15 15-19 20-24 25-29 30-34 Remuneração média mensal 66.526 63.617 80.082 102.082 114.734 Remuneração média mensal/smn 1,1 1,1 1,4 1,7 1,9 Máximo da remuneração média mensal (1) 94.750 98.925 122.857 164.212 186.827 Máximo de remuneração média mensal/smn 1,6 1,7 2,1 2,8 3,2 N.º trabalhadores por conta de outrem (2) 32 67.069 253.105 313.133 284.912 SMN (Esc.) 58.900 Fonte: Remunerações Dep.Estatística M.T.S. (Disponibilizados em Janeiro de 2002). (1) - Consiste no valor máximo de remuneração média mensal entre os valores médios de remunerações mensais dos diversos sectores de actividade económico. (2) - Média Mensal em 1998. A complementaridade das pensões na Lei de Bases da Segurança Social 19

DIFERENTES CRESCIMENTOS SALARIAIS E O ÍNDICE OFICIAL Cresc. salarial 25 anos Cresc. inflação 25 anos Cresc. índice oficial 25 anos Cresc. salarial 40 anos Cresc. inflação 40 anos Cresc. índice oficial 40 anos Média 10 m 15 216,2 214,1 211,5 346,1 342,8 338,7 Média carreira 167 165 163 238 235 233 Redução -0,23-0,26-0,25-0,31-0,32-0,33 Taxa substituição 0,65 0,64 0,64 0,58 0,58 0,58 Ora, é na percepção desta perda que poderá existir um mercado potencial. Nota para encerrar. Como os indivíduos que serão atingidos por esta redução, os mais jovens, recebem menos em relação às gerações precedentes, não seria justo que pudessem pagar menos para a Segurança Social Pública? A resposta fica para quem a souber dar! Parafraseando um programa de Jô Soares, Perguntar não ofende? Né?. [.] CARREIRA 1 Dados do Beneficiário Total de Anos Civis: 42 Total de Anos Civis até 31 de Dezembro 2001: 10 Total de Anos Civis aos 55: 32 A idade de reforma é: 65 anos REMUNERAÇÃO DE REFERÊNCIA RemunRefVelhiceDL329/93=4657.74 e RemunRefVelhiceDL35/02=4220.41 Dif.=437.33 e Dif. Relat.=9.39% O SMN previsto em 2033 é de: 1076.03 (Múltiplos Salário Mínimo Nacional=3.92) TAXA DE FORMAÇÃO Taxa Formação DL329/93=80% e Taxa Formação DL35/02=89.58% Dif.=-9.58% e Dif.Relat.=-11.98% PENSÃO ESTATUÁRIA Pensão Estatutária Velhice DL329/93=3726.19 e Pensão Estatutária Velhice DL35/02= Dif.=-54.48 e Dif.Relat.=-1.46% Pensão Proporcional=3767.7 Dif.=-41.51 e Dif.Relat.=-1.11% Recorre-se à DUPLA garantia. Pensão Estimada a Atribuir=3780.67 (757956.3$) Taxa de Substituição do Último Salário=75.72% Taxa de Substituição da Média Actualizada=94.03% CARREIRA 2 Dados do Beneficiário Total de Anos Civis: 42 Total de Anos Civis até 31 de Dezembro-2001: 10 Total de Anos Civis aos 55: 32 A idade de reforma é: 65 anos REMUNERAÇÃO DE REFERÊNCIA RemunRefVelhiceDL329/93=18642.86 e RemunRefVelhiceDL35/02=11130.28 Dif.=7512.58 e Dif. Relat.=40.3% O SMN previsto em 2033 é de: 1076.03 (Múltiplos Salário Mínimo Nacional=10.34) TAXA DE FORMAÇÃO Taxa Formação DL329/93=80% e Taxa Formação DL35/02=85.24% Dif.=-5.24% e Dif.Relat.=-6.55% PENSÃO ESTATUÁRIA Pensão Estatutária Velhice DL329/93=14914.29 e Pensão Estatutária Velhice DL35/02= Dif.=5426.86 e Dif.Relat.=36.39% Pensão Proporcional=10779.54 Dif.=5426.86 e Dif.Relat.=27.72% Recorre-se à DUPLA garantia. Pensão Estimada a Atribuir=10779.54 (2161104$) Taxa de Substituição do Último Salário=45.94% Taxa de Substituição da Média Actualizada=106.24% 20 Cadernos de Economia

Anexo 1 NOVA FÓRMULA DE CÁLCULO DAS PENSÕES DE VELHICE E DE INVALIDEZ Considerando: tfp Taxa anual de formação da pensão. tgfp Taxa global de formação da pensão. N Número de anos civis com entrada de contribuições, com máximo de 40 anos. P Montante mensal da pensão estatutária. RR Remuneração de referência, correspondendo à média das remunerações anuais revalorizadas considerando-se toda a carreira contributiva com máximo de 40 anos. Remunerações revalorizadas Remunerações actualizadas com o IPC sem habitação até 31 de Dezembro de 2001, depois desta data são actualizadas com base num índice formado por 75% do IPC sem habitação e 25% da evolução média dos ganhos subjacentes às contribuições. IPC Índice Geral de Preços no Consumidor SMN Montante da remuneração mínima garantida à generalidade dos trabalhadores em vigor à data do início da pensão. P* Pensão proporcional, ou seja, P* = (P1x C1 + P2 x C2) / (C1 + C2) P1 Antiga fórmula de cálculo das pensões. P2 Nova fórmula de cálculo das pensões. C1 Número de anos civis da carreira contributiva com registo de remunerações relevantes para a taxa de formação da pensão completos até 31 de Dezembro de 2001. C2 Número de anos civis da carreira contributiva com registo de remunerações relevantes para a taxa de formação da pensão completos desde 1 de Janeiro de 2001. Período de Garantia Período necessário de contribuições para a obtenção de uma pensão (15 anos para as pensões de velhice e 5 anos para as pensões de invalidez). A nova fórmula de cálculo da pensão é obtida: Indivíduo com 20 ou menos anos de contribuições: 30% tgfp = 2% x N tfp = 2% P2 = RR x 2% x N Indivíduos com mais de 20 anos de contribuições: tgfp = (RR de acordo com o SMN à data da reforma) x N 92% Se RR 1,1 SMN P2 = RR x 2,3% x N Se RR >1,1 SMN 2 SMN P2 = (1,1 x RR x 2,3% x N) + ((RR-1,1 SMN) x 2,25% x N) Se RR >2 SMN 4 SMN : P2 = (1,1 x RR x 2,3% x N) + (0,9 x SMN x 2,25% x N) + ((RR - 2 x SMN) x 2,2% x N) Se RR >4 SMN 8 SMN P2 = (1,1 x RR x 2,3% x N) + (0,9 x SMN x 2,25% x N) + (2 x SMN x 2,2% x N) + + ((RR - 4 x SMN)x 2,1% x N) Se RR >8 SMN P = (1,1 x RR x 2,3% x N) + (0,9 x SMN x 2,25% x N) + (2 x SMN x 2,2% x N) + (4 x SMN x 2,1% x N) + ((RR - 8 x SMN) x 2,1% x N) A complementaridade das pensões na Lei de Bases da Segurança Social 21

22 A complementaridade das pensões na Lei de Bases da Segurança Social