Palavras-chave: revista, logotipos, história

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Transcrição:

Logotipos das revistas do século XX em Pernambuco: um estudo dos aspectos intrínsecos e extrínsecos da linguagem gráfica verbal Logos on XX century magazines of Pernambuco: a study about intrinsic and extrinsic aspects of the verbal graphic language FINIZOLA, Fátima. Mestranda em Design, Universidade Federal de Pernambuco LEÃO, Lucídio. Mestrando em Design, Universidade Federal de Pernambuco ERLICH, Maíra. Graduanda em Design, Universidade Federal de Pernambuco FREITAS, Karina. Graduanda em Design, Universidade Federal de Pernambuco FREITAS, Stênio. Graduanda em Design, Universidade Federal de Pernambuco COUTINHO, Solange. Doutora em Design, Universidade Federal de Pernambuco Palavras-chave: revista, logotipos, história O presente artigo apresenta o resultado da análise gráfica da evolução dos logotipos nas capas de periódicos pernambucanos, mais especificamente das revistas A Pilheria, Revista da Cidade e Vitrina, que circularam na cidade de Recife entre as décadas de 20, 30 e 40. O estudo se inicia com uma pesquisa de campo no acervo da Fundação Joaquim Nabuco, aliada ao levantamento bibliográfico sobre o tema. Em seguida foi construído um instrumento de análise capaz de descrever os aspectos intrínsecos e extrínsecos da composição tipográfica dos logotipos de cada revista, assim como observar os elementos verbais, pictóricos e esquemáticos que interagem com os mesmos, além de registrar informações gerais para catalogação de cada exemplar. Por fim, a partir do universo analisado, foi traçado um perfil das principais características visuais dos logotipos presentes nas capas de revistas pernambucanas da primeira metade do século XX, que apontou para uma tendência ao uso cambiante de logotipos, mesmo que de forma aparentemente não planejada no ato da concepção da linha editorial. Key-words: magazine, logos, history This article presents the result of a graphic analysis of the evolution of logos presents at the covers of some Pernambuco s magazines, specially A Pilheria, Revista da Cidade and Vitrina. These magazines circulated in Recife (Pernambuco capital) during the decades of 20, 30 and 40 of the XX century. The study initiates with a field research within the Joaquim Nabuco Foundation archives along with a bibliographic review on the subject. Next, an analytical device of analysis was set in order to describe the intrinsic and extrinsic aspects of typographical composition within the logotypes in each magazine and to observe the verbal, pictorial and schematic elements that interact with it, allied to that general information about the artefacts were register and catalogued. Finally it describes the main visual characteristics of the logos that figures at Pernambuco s magazines in the first half of XX century, although apparently not planned in the act of designing each magazine, it is possible to observe a constant variation in its visual configuration. Introdução A produção de revistas no Brasil sempre acompanhou, registrou e narrou os principais fatos históricos e acontecimentos marcantes no cenário econômico, social e cultural do país, revelando a busca por uma identidade nacional singular. A evolução gráfica e editorial destes periódicos reflete diretamente o estabelecimento e desenvolvimento da imprensa e do design gráfico brasileiro, através da evolução do seu layout, bem como de suas técnicas de impressão. Quando a imprensa se estabelece no Brasil no início do século XIX, com a instituição da Imprensa Régia em 1808, inicia-se a produção dos primeiros efêmeros e folhetins a circular no país e logo em seguida, com a 944

popularização dos impressos, surgem às primeiras revistas brasileiras. Segundo A Revista no Brasil (2000), a revista As Variedades ou Ensaios de Leitura, publicada em Salvador em 1812 por Manoel Antônio Silva Serva, é considerada o primeiro exemplar deste gênero a circular no país. As primeiras revistas brasileiras publicadas a partir do século XIX, se assemelhavam a livros apresentando apenas textos sem o uso de imagens. No entanto, ainda na última metade deste mesmo século, surgem às primeiras ilustrações editoriais com o papel de reforçar informações, ornamentar e divertir o leitor. Nota-se uma influência inicial dos movimentos de arte e design vigentes na Europa como o Art Nouveau e mais adiante o Art Déco e o Expressionismo. As capas das revistas sempre foram um poderoso instrumento de sedução na conquista do público leitor. A estruturação de seu layout e logotipo cria uma identidade visual para cada periódico que facilita a sua identificação imediata em meio a outras revistas expostas nas bancas. No início do mercado editorial as capas de revista também eram apenas tipográficas e quando passaram a apresentar reproduções de desenhos, fotos e pinturas, estas nem sempre refletiam seu conteúdo. O estilo das primeiras ilustrações era bastante realista, mas aos poucos abre espaço para estilos pessoais de grandes ilustradores como J. Carlos, K. Lixto e Pederneiras. Somente a partir da década de 1940 é que as primeiras chamadas passam a compor também o visual da capa. De acordo com A Revista no Brasil (2000), os primeiros logotipos de revistas não eram imutáveis, mas ao contrário, se adequavam às ilustrações da capa. Aos poucos, na segunda metade do século XX estes logotipos adquirem uma maior estabilidade e passam a assinar as capas de revista de forma idêntica e repetitiva, fortalecendo a identidade visual de cada periódico ao longo de sua vida, conferindo uma maior identificação e fidelidade do público leitor. Com a evolução das técnicas de impressão, as fotografias surgem também como uma alternativa para ilustrar as revistas. Inicialmente as fotos eram utilizadas de forma indireta como base para as litografias, porém a partir de 1884, com o uso da impressão por fototipia 1, começam a ter um uso direto. A partir da segunda metade do século XX é que o uso das fotografias se firma definitivamente no mercado editorial com o surgimento da rotogravura 2 e do offset. O estilo fotográfico adotado por cada revista passa a definir também a sua identidade visual e, grandes foto-jornalistas e fotógrafos editoriais entram em evidência, como o francês Jean Manzon, José Medeiros, J. R. Duran, Bob Wolfenson, entre muitos outros. A partir do século XX, diante de um cenário de desenvolvimento de novas tecnologias, novas formas de comunicação e locomoção, luz elétrica, cinema, diversos periódicos começam a circular também no Recife e em Pernambuco. Os jornais recifenses Diario de Pernambuco, Jornal do Commercio, Jornal do Recife, entre outros, imprimiam em suas folhas o cotidiano e os acontecimentos deste novo século. A partir da década de 1920, as polêmicas e discussões sobre as idéias modernistas movimentaram os intelectuais da cidade que estavam ávidos por disseminar sua produção nas revistas da época como a Mauricéia, A Pilhéria, Rua Nova, entre outros inúmeros periódicos pernambucanos que circularam no efervescente cenário político cultural da cidade. A abrangente e diversificada produção editorial do Recife das décadas de 20, 30 e 40 torna-se um rico universo de análise para a observação da evolução do tratamento gráfico editorial das capas de revista, bem como do tratamento tipográfico utilizado em seus logotipos, revelando um pouco da história do design pernambucano. Desta forma, o objetivo geral desta pesquisa é analisar a evolução dos logotipos nas capas de revistas pernambucanas que circularam no Recife entre as décadas de 20 e 40, com ênfase na análise tipográfica dos mesmos, em busca de indícios de um design particular que caracterize o design pernambucano na primeira metade da década de XX. Também destacamos os seguintes objetivos específicos: Catalogação da produção de periódicos já extintos publicados na cidade do Recife, a partir do olhar do design gráfico; Análise dos aspectos tipográficos intrínsecos e extrínsecos dos logotipos catalogados; Análise dos elementos verbais, pictóricos e esquemáticos que interagem com os logotipos. 945

1. Universo de Pesquisa Esta pesquisa compreendeu análise de 106 capas das revistas pernambucanas A Pilhéria, Revista da Cidade e Vitrina, publicadas entre as décadas de 1920 e 1940. Esses exemplares foram observados a partir de seus originais, que fazem parte do acervo de Documentação Histórica da Fundação Joaquim Nabuco. De todos os periódicos observados, foram selecionadas 44 capas, de acordo com a variação de seu logotipo, sendo 13 da revista A Pilheria, 22 da Revista da Cidade e nove da revista Vitrina. A revista A Pilheria circulou em Recife no período de 1921 a 1932. Era uma revista semanal produzida pela Typographia do Jornal do Recife. Seu conteúdo trazia informações sobre a vida social, cultural, literatura, moda feminina e esportes, e ainda charges e caricaturas. A Revista da Cidade foi publicada em Recife, no período de 1926 a 1929, sob a coordenação de Octavio Moraes, Diretor Gerente da Empreza Graphico Editora. Ricamente ilustrada com fotos, registrava em suas páginas fatos cotidianos da cidade do Recife. No projeto gráfico da Revista da Cidade destaca-se o trabalho do pintor, desenhista e caricaturista recifense Lauro Villares responsável por quase todas as capas deste periódico durante o seu período de circulação. Por fim a revista Vitrina circulou em Pernambuco no período de 1932 a 1954. Descrita como uma Revista de arte, literatura e mundanismo, tinha como diretor e proprietário Sanelva de Vasconcelos. Sua peridiocidade, a princípio destinada a ser mensal, sofreu inúmeras descontinuações ao longo de sua publicação. Vale destacar que apesar da Vitrina ter circulado até 1954, esta pesquisa abrangeu apenas os exemplares publicados até a década de 40. 2. Metodologia de Pesquisa Esta pesquisa de abordagem histórica e analítica foi desenvolvida de acordo com as seguintes etapas: Etapa 1 Pesquisa de campo desenvolvida através de visita ao Acervo da Fundação Joaquim Nabuco para registro fotográfico de capas das revistas pernambucanas extintas: A Pilheria, Revista da Cidade e Vitrina. Etapa 2 Construção do Universo de Análise, a partir e uma pré-seleção das capas registradas na etapa anterior. Etapa 3 Pesquisa bibliográfica sobre a revista no Brasil e em Pernambuco. Etapa 4 Elaboração do Instrumento de Análise, através de desenvolvimento de Ficha de Análise para catalogação dos logotipos. Etapa 5 Análise Gráfica dos exemplares através da aplicação da Ficha de Análise para registro e descrição dos 44 logotipos selecionados. Etapa 6 Análise dos Dados e discussão de Resultados Finais. 3. Construção do Instrumento de Análise O instrumento de análise utilizado na construção das fichas de catalogação desta pesquisa foi resultado da interação entre três modelos desenvolvidos anteriormente por Waechter & Finizola (2006), Valadares & Coutinho (2006) e Aragão et al. (2008) em projetos de pesquisa de cunho histórico. As informações catalogadas pela ficha de análise aqui proposta foram agrupadas em quatro tópicos: 1) identificação; 2) análise tipográfica - aspectos intrínsecos; 3) análise tipográfica - aspectos extrínsecos e, 4) elementos que interagem com o logotipo. O primeiro tópico identificação faz o registro da publicação e de algumas características técnicas do objeto de análise, além dos dados de captura e catalogação. Esses campos foram baseados na proposta de Valadares & Coutinho (2006), que por sua vez foi adaptado do sistema de catalogação SIMBA/Donato, criado em 1992 no intuito de organizar as informações do acervo do Museu Nacional de Belas Artes. Na seqüência, nos tópicos dois e três, os logotipos foram analisados de acordo com os aspectos intrínsecos e 946

extrínsecos presentes na sua construção tipográfica. De acordo com Twyman (1981), os aspectos intrínsecos se referem aos elementos que definem a forma particular de cada letra, caracterizando assim um conjunto específico de caracteres (alfabeto, fonte ou tipo) definindo o seu estilo. Já os aspectos extrínsecos se referem à relação entre os caracteres e a página impressa, à maneira de como são configuradas e organizadas as informações num layout, influenciando diretamente a diagramação e a hierarquia das informações. Os aspectos intrínsecos avaliados nesta pesquisa foram adaptados do modelo de análise construído por Waechter & Finizola (2006) para observar a tipografia no papel moeda brasileiro, são eles: forma, peso, largura, inclinação, eixo, uso de caixa alta/baixa, serifas, conexões, terminais, altura de X, bem como o uso recursos especiais como sombras, contornos, texturas, entre outros. É importante destacar que a forma dos logotipos foi avaliada a partir de sua derivação da caligrafia, letreiramento ou tipografia. Para descrever os estilos tipográficos foi utilizada a classificação tipográfica Vox/AtypI, que subdivide os tipos em Humanísticos, Garaldos, Transicionais, Didones, Mecanizados, Lineares, Incisos, Caligráficos, Manuais, Góticos e Não Latinos. Os aspectos tipográficos extrínsecos observados no tópico três da ficha de análise são derivados do modelo de Aragão et. al. (2008) para descrever rótulos de aguardente. Foram considerados os aspectos cor no logotipo, sua posição na página de acordo com alinhamento horizontal e vertical, bem como a disposição das letras na sua composição. Por fim, o último tópico elementos que interagem com o logotipo analisou a interação de elementos verbais-numéricos, pictóricos e esquemáticos com os logotipos das revistas. 4. Discussão dos Resultados 4.1 Considerações Gerais A Pilheria 1921-1932 O projeto editorial d A Pilheria contemplava uma identidade visual para suas capas que tentava inutilmente se manter estável por alguns poucos números. Essa identidade visual era construída a partir da definição de uma malha estrutural fixa que organizava as informações textuais, imagens, ornamentos e o logotipo sempre na mesma posição e configuração gráfica. Entre os exemplares catalogados foram encontrados em torno de 12 versões diferentes de logotipos (Figura 1). Uma peculiaridade deste periódico é que alguns destes logotipos interagiam com elementos pictóricos, configurando uma marca mais complexa, formada por símbolo e logotipo. Figura1. Algumas variações de logotipos na capa da revista A Pilheria. 947

Revista da Cidade 1926-1929 No primeiro ano de publicação, a Revista da Cidade procurou manter sempre a mesma estrutura gráfica do seu layout de capa, composto por uma moldura fixa, onde o cabeçalho e as informações textuais sempre organizados na mesma disposição. Tudo indica que a impressão destes primeiros exemplares era feita a partir de impressão por tipos e clichês de metal, definindo assim seu logotipo por uma fonte tipográfica. A partir do segundo ano de veiculação da revista houve uma mudança radical na configuração das capas da Revista da Cidade, provavelmente pela transição da técnica de impressão das mesmas, passando de um processo tipográfico para o litográfico. Há uma maior liberdade de criação no projeto de cada capa, que se configuram, quase todas, ricamente ilustradas pelos desenhos e pinturas do artista Villares, provavelmente, responsável também pelos letreiramentos diversificados que muitas vezes refletiam a linguagem e o estilo gráfico de cada ilustração de capa. Os letreiramentos, grande parte tipográficos, eram inspirados principalmente na estética Déco, apresentando formas bem geométricas, grande contraste entre hastes e uso de fontes em negrito (Figura 2). Figura 2. Algumas variações de logotipos na capa da Revista da Cidade. Vitrina 1931-1954 Por fim, foi analisada a revista ilustrada e artística denominada Vitrina. Esta publicação, talvez por possuir uma periodicidade mais espaçada e por vezes irregular, foi a que menos apresentou variação no logotipo de capa. A Vitrina, de uma maneira geral, apresenta um projeto gráfico menos inovador e experimental em relação às outras revistas analisadas. Suas capas apresentam basicamente o nome do periódico e uma foto de capa e mais nenhuma outra informação verbal numérica ou elementos esquemáticos de composição. Apesar de terem sido identificados alguns letreiramentos, os logotipos em sua grande maioria eram tipográficos. Nota-se o uso diferenciado do logotipo estruturado de forma vertical na lateral de algumas capas (Figura 3). 948

Figura 3. Algumas variações de logotipos na capa da revista Vitrina. 4.2. Análise Tipográfica dos logotipos aspectos intrínsecos A Pilheria A análise tipográfica dos aspectos intrínsecos dos logotipos d A Pilheria revelou que há uma maior utilização de letreiramentos, em comparação às formas tipográficas. Vale destacar ainda que, entre os letreiramentos alguns apresentavam características mais tipográficas. Com relação ao peso do logotipo, a grande maioria oscilou entre o regular e o negrito. A largura dos tipos variou entre o condensado, normal ou expandido. Quanto à inclinação, nota-se um uso restrito do itálico, predominado os tipos de eixo vertical. Na composição, é percebida também a preferência pelas caixas altas. Observa-se também que o recurso de conexões entre letras quase não é utilizado, assim como as serifas que foram encontradas em apenas um logotipo, sendo classificada como uma serifa quadrada. A grande maioria dos tipos possui terminações retas, quando tipográficos e terminações arredondadas ou mesmo com ornamentos quando apresentados na forma de letreiramentos. Foi observada a escolha de tipos tanto com hastes monolineares quanto contrastantes. Quanto ao uso de recursos especiais, foram observados dois casos de contorno e dois casos de textura, mas a grande maioria não apresentou qualquer artifício especial. Revista da Cidade Na análise dos aspectos intrínsecos dos logotipos da Revista da Cidade, percebe-se uma grande tendência para utilização de letreiramento, pois apenas dois foram identificados como tipografia com características das fontes Didones. Com relação ao peso do logotipo, há uma preferência na utilização de bold ou extrabold. A largura foi bastante equilibrada entre o condensado, o normal e o expandido. A maioria absoluta dos logotipos apresentou inclinação normal e eixo vertical. Percebe-se também a predominância da utilização de caixas altas e apenas duas utilizações de versalversalete. É notória a preferência pelas terminações retas e fontes sem serifas ou conexões. Há uma leve preferência pela utilização das hastes em contraste. A maioria dos logotipos apresentou também algum recurso especial, sendo o contorno o mais utilizado, seguido das texturas e posteriormente do efeito 3D. Vitrina Na análise dos aspectos intrínsecos ao logotipo da Vitrina, percebe-se um equilíbrio entre a utilização de letreiramento e tipografia. Com relação ao peso do logotipo predomina o regular, com algumas exceções em bold ou light. Já na largura, os logotipos variavam entre o expandido, normal ou condensado quase na mesma proporção. Quanto à inclinação, a maioria absoluta dos logos utilizou inclinação normal e eixo vertical. Percebe-se também a predominância na utilização de caixas altas ou maiúsculas e preferência pelas terminações retas, enquanto a utilização de serifa quase não foi percebida. Assim também foi com as conexões, já que nenhum logotipo apresentou esse recurso. 949

Há um equilíbrio na utilização das hastes em contraste, em comparação às monolineares. A maioria dos logotipos não apresentou qualquer recurso especial. De uma maneira geral, a maioria dos logotipos de todas as revistas não pôde ter sua altura de x avaliada, já eram compostos exclusivamente por maiúsculas. 4.3. Análise Tipográfica dos logotipos aspectos extrínsecos A Pilheria O uso de cores nos logotipos d A Pilheria foram catalogados da seguinte forma: onze logotipos foram compostos apenas em uma cor, sendo cinco em vermelho, cinco em azul e um em branco; e apenas dois logotipos foram compostos em duas cores. Nessa última situação, as cores utilizadas foram azul e branco associados. Isso mostra que o logotipo de A Pilheria apresentava uma variação em seu padrão cromático, ora priorizando o vermelho, ora priorizando o azul. Ao observar a diagramação do logotipo na capa, é praticamente igual o número de situações em que o logotipo está localizado na parte superior ou na parte inferior. Quanto ao alinhamento horizontal, percebe-se uma clara preferência para a centralização do logotipo na página. Finalmente, pode-se observar que em todos os casos as letras foram dispostas de forma linear e horizontal. Revista da Cidade Logo à primeira vista, percebe-se que é grande a variação cromática nos logotipos da Revista da Cidade. Apresentando variações de composição em uma, duas ou três cores, entre elas o azul, verde, vermelho, branco, preto, amarelo, laranja e rosa. Apesar dessa grande variação, é fácil perceber a recorrência na utilização de padrões vermelhos e azuis em diversas tonalidades. Ao examinar a diagramação do logotipo na capa, são bastante equilibradas as ocorrências em que o logotipo está localizado na parte superior ou na parte inferior. Quanto ao alinhamento horizontal, percebe-se a preferência para a disposição do logotipo de forma centralizada na página, mas na Revista da Cidade já se encontra alguns casos em que esse mesmo logotipo está alinhado á esquerda ou à direita, sem nenhuma indicação de centralização. Finalmente, pode-se observar que, em todos os casos, a disposição das letras no logotipo se deu de forma linear disposta horizontalmente. Vitrina A utilização de cores nos logotipos deste periódico é variada, observando-se uma pequena preferência pelo uso do vermelho. Quanto à disposição do logotipo na capa, percebe-se que, quando o mesmo é disposto na horizontal, possui linha de base regular e aparece na área superior da capa, na maioria dos casos. Observa-se também o uso de logotipos com letras dispostas na vertical alinhados à margem esquerda. 4.4. Elementos verbais, pictóricos e esquemáticos que interagem com o logotipo A Pilheria Na absoluta maioria dos exemplares analisados da revista A Pilheria foram encontrados elementos esquemáticos (molduras, fios, barras ou ornamentos) que interagem com o logotipo. Em seguida, destacam-se os elementos pictóricos, como ilustrações. Revista da Cidade A maioria dos exemplares deste periódico não traz qualquer elemento que interage com seu logotipo. Entre as poucas exceções, a mais recorrente é a interação do logotipo com o elemento verbal que traz a informação de ano e edição do exemplar publicado. Vitrina Aqui, apenas uma edição apresentou elementos verbais interagindo com o logotipo, trazendo informações de ano e edição. 5. Considerações Finais Esta análise observou a evolução tipográfica dos logotipos nas capas de revistas em Pernambuco nas décadas de 20, 30 e 40, em paralelo com o desenvolvimento gráfico, editorial, cultural e até mesmo tecnológico do estado, a partir do estudo de caso das revistas A Pilhéria, Revista da Cidade e Vitrina. A partir dos aspectos observados, pode-se concluir que a liberdade de criação no projeto das capas desses periódicos proporciona uma mudança constante e em alguns casos até radical no desenho dos logotipos de todas as revistas analisadas. Algumas dessas variações também foram influenciadas provavelmente pela 950

transição da técnica de impressão das capas de um processo tipográfico para o litográfico. Kopp (2002) observa que este uso de logotipos cambiantes é novamente explorado a partir do pós-modernismo nos projetos editoriais de revistas mais experimentais, porém de forma planejada no ato da concepção da linha editorial de uma nova revista. Todos os logotipos fizeram um uso restrito de cores oscilando entre a monocromia, bicromia e mais raramente tricromia, porém apresentando aplicações de cores variadas a cada nova edição. Essas alterações eram também percebidas nos elementos esquemáticos, pictóricos e verbais, que apareciam na composição de cada capa. É notável, na configuração desses elementos, a influência inicial dos movimentos de arte e design vigentes na Europa como o Art Nouveau e o Art Déco. A maioria absoluta dos logotipos era composta por letreiramentos, em muitos casos desenvolvidos pelo mesmo ilustrador que fazia a imagem da capa. Nas versões tipográficas, estes logotipos apresentaram composições absolutamente diversificadas, utilizando-se de tipos mecanizados, lineares, didones e de transição. A imagem da capa (ilustração ou fotografia) era encarada como elemento marcante para a definição da identidade visual da capa destes periódicos, direcionando também a diagramação do logotipo na página. Pode-se dizer, por fim, que os logotipos analisados revelam suas identificações com estilos artísticos e técnica de impressão da época em que existiram. Isto enriquece de alguma forma o registro histórico desses periódicos, evidenciando a importância da pesquisa para o registro da memória gráfica pernambucana. Notas 1 Segundo Craig (1987): Fototipia é um método de impressão fotomecânico, similar à litografia, que utiliza uma chapa com camada de gelatina não reticulada em vez de uma retícula meio-tom para imprimir originais de tom contínuo. Produz reproduções extremamente fidedignas, porém adequada apenas para baixas tiragens. 2 Rotogravura é a impressão de gravura feita em rotativa. Usada para suplementos dominicais de jornais, revistas, embalagens e excelente para tiragens médias e grandes. Referências Bibliográficas ARAGÃO, I.; BARRETO CAMPELLO, S.; RAMOS, H.; SAMPAIO, M. Catalogação e análise dos rótulos de aguardente do Laboratório Oficina Guaianases de Gravura. 8º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. São Paulo, 2008. A Revista no Brasil. São Paulo: Editora Abril, 2000. 249p. CRAIG, J. Produção Gráfica: para planejador gráfico, editor, diretor de arte, produtor e estudante. São Paulo: Nobel. KOPP, R. Design Gráfico Cambiante. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2002. 134 p. TWYMAN, M. L. 2002. Further thoughts on a schema for describing graphic language. Proceedings of the 1 st Internacional Conference on Typography & Visual Communication History, Theory, Education. Thessaloniki, Greece. pp. 329-350. TWYMAN, M. L. Articulating graphic language: a historical perspective. In: Merald E. Wrolstad & Dennis F. Fisher (Eds). Towards a new understanding of literacy, Nova York: Praeger Special Studies, pp.188-251, 1981. VALADARES, P. V. R.; COUTINHO, S. G. Um modelo de análise para pesquisas históricas de design gráfico: em busca de características e significados. Anais do P&D Design 2006. Curitiba: 2006. WAECHTER, H. N.; FINIZOLA, M. F. W. A Cara e a Coroa da Moeda Brasileira: uma análise gráfica do papel moeda no Brasil. Anais do P&D Design 2006. Curitiba: 2006. Fátima Finizola fatima.finizola@gmail.com Lucídio Leão lucidioleao@gmail.com Maíra Erlich mairaerlich@gmail.com Karina Freitas anakarina.cf@gmail.com Stênio Freitas steniomonte@hotmail.com 951

Solange Coutinho solangecoutinho@globo.com 952