SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM SEMENTES DE Annona crassiflora Mart. (araticum). Glauciana Pereira de Araújo 1,Joaquim Pedro Soares Neto 1 Jackeline dos Santos Miclos 2 Alessandra Terezinha Chaves Cotrim 2,( 1 Universidade do Estado da Bahia /UNEB,Br 242 Km 01, loteamento flamengo, Barreiras-galbrs@hotmail.com, CEP. 47800-000; 2 Base cerrado/ima Br 242, Km 01, loteamento flamengo, Barreiras-BA, CEP. 47800-000- jackelinemiclos@cra.ba.gov.br) Termos para indexação: Cerrado, fruteira nativa, germinação, GA 3. Introdução Com o fomento da ocupação agrícola do bioma cerrado a partir da década de 70 a vegetação autoctone começou a ser derrubada; esse modelo de ocupação vem proporcionando ao longo dos anos uma mudança gradativa da paisagem natural, e a vegetação nativa, vem desaparecendo, dando lugar as grandes plantações agrícolas. O uso de espécies nativas pode ser uma alternativa econômica para o aproveitamento sustentado na região, pois várias espécies, já possuem a sua utilização regional (Almeida et al., 1998). No entanto, é de fundamental importância conhecer a morfologia, taxonomia e fisiologia das espécies, a fim de agregar valor econômico, para sua utilização sustentável. Atrelado ao conhecimento da espécie, torna-se de extrema importância a realização de projetos de pesquisas que contribuam com a produção de mudas, pois as mesmas poderão ser utilizadas em trabalhos de arborização e recomposição de áreas degradadas, contribuindo assim com a propagação da espécie, tornando possível sua existência no futuro. Entre as famílias de grande ocorrência no bioma cerrado, a família Annonaceae é representada por cerca de 27 espécies, tendo destaque pelo seu potencial frutífero, os gêneros: Annona, Rollinia e Duguetia. O gênero Annona apresenta duas espécies frutíferas no cerrado, Annona coriacea Mart. e Annona crassiflora Mart. A Annona crassiflora Mart., popularmente conhecida como bruto, cabeça-de-negro, marolo, cascudo e araticum cortiça caracteriza-se por ser uma planta arbórea, lenhosa, caducifólia na época seca, hermafrodita e xerófita. A
fenologia desta espécie é estabelecida pela floração no início da estação chuvosa, que ocorre entre setembro até dezembro, já a frutificação tem inicio em novembro, com maturação dos frutos de janeiro a março. A dispersão dos frutos é realizada por animais (Lorenzi, 2002). O fruto dessa espécie possui grande potencial nutritivo e são apreciados pela sua polpa doce; podendo ser consumida in natura ou sob a forma de doces, geléias, sucos, licores, tortas, iogurtes ou sorvetes. Na medicina popular, as sementes são utilizadas contra infecções parasitárias do couro cabeludo e, junto com as folhas em infusão servem para combater a diarréia e induzir a menstruação (Sano & Almeida 1998). De acordo com (Almeida et al., 1998), a dispersão dos frutos ocorre no final da estação chuvosa, estratégia que favorece a germinação tardia, pois se a germinação fosse imediata, as plântulas não teriam condições de sobrevivência. Desta forma, as sementes desta espécie desenvolvem a dormência como mecanismo de sobrevivência. Estudos realizados (Rizzini, 1973), indicam que as sementes desta espécie apresentam dormência endógena (embrionária), estudos complementares realizados por Melo (1993), mostram a eficiência do ácido giberélico (GA3) para germinação desta espécie. No campo a germinação ocorre entre 75 a 392 dias (Lorenzi, 2002). No entanto, a fim de facilitar a produção de mudas em viveiro é necessária a adoção de técnicas que antecipe a germinação. Conforme Sano & Almeida (1998) e Lorenzi (2002) os métodos de escarificação, estratificação e a aplicação de GA3, é indicado para indução no processo de germinação. Conforme Pereira et al. (2004), as concentrações de GA3 podem ser variadas, no entanto, as concentrações de 250 a 2000 mg/l -1 por quatro dias ou 1000 a 2000mg/L -1 por dois dias promoveram melhores taxas de germinação para esta espécie. Assim, neste trabalho procurou-se avaliar diferentes métodos de superação de dormência (exógena e endógena) em sementes de Annona crassiflora Mart., a fim de contornar o baixo poder germinativo, facilitando dessa forma a produção de mudas uniformes, que poderão ser utilizadas em projetos de recomposição de áreas degradadas e/ou em projetos de exploração sustentável, pois, é possível explorar de maneira sustentável os recursos e o verdadeiro banco de germoplasma hoje existentes nos Cerrados (Abramovay, 2000).
Material e Métodos O experimento foi conduzido experimento no Viveiro de Pesquisa e Produção de Plantas Nativas para Recomposição de matas no Campus IX da UNEB-Barreiras-BA. O experimento foi acompanhado e irrigado diariamente por 392 dias, os dados referentes aos tratamentos foram anotados em cadernetas de campo para processamento e análises. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com 07 (sete) tratamentos e com 04 (quatro) repetições, com um total de 80 (oitenta) sementes por tratamento.os frutos foram coletados maduros em diferentes árvores e imediatamente despolpados (figura. 1-B); as sementes foram lavadas em água até retirar todo resíduo da polpa (figura. 1- C ) e secas ao sol por duas horas com permanência na sombra para completar o processo de secagem. Os tratamentos foram: Testemunha (T1); Escarificação mecânica + imersão em água por 24 horas (T2); Estratificação a frio 5 0 C 30 dias (Rizzini, 1973) (T3); Escarificação mecânica + estratificação a frio 5 0 C 30 dias (T4); Escarificação mecânica + Imersão em Ácido Giberélico (GA 3 ) 500 ppm / 72 horas (T5); Escarificação mecânica + Imersão em GA 3 1000 ppm por 72 horas (T6); Escarificação mecânica + Imersão em Ácido Giberélico (GA3) 2000 ppm/ 72 horas (T7). As sementes foram tratadas com fungicida não sistêmico a base de Dissulfeto de tetrametiltiuram e semeadas numa profundidade de 2 cm em bandejas de polietileno contendo areia desinfestada em estufa a 120ºC por 01 hora. Foi avaliado neste experimento o Índice de Velocidade de Germinação (IVG) e o índice de velocidade de emergência IVE (figura 1E). Os resultados foram avaliados estatisticamente pelo programa Assistat versão 7.5 beta (2008), e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, sendo o IVG transformado em arcoseno=(x/100) 0,5 A B C D E
Figura 1. Tratamentos (A); Fruto maduro (B); Sementes parcialmente sem polpa(c); Sementes lavadas (D); Plântulas emergidas (E). Resultados e Discussão Em campo o período de germinação varia entre 75 a 392 dias (Machado e Parente, 1986), com percentual de 42% de germinação, no entanto, ficou constatado neste trabalho, através da testemunha que as sementes sem prévio tratamento germinaram 8,75%, tendo sua primeira emergência aos 269 dias após o plantio, apresentando IVE de 0,00593 (Tabela 1). Tabela 1. Índice de Velocidade de Emegência (IVE) e Índice de Velocidade de Germinação (IVG) Tratamento IVG IVE (%) 1 0,00593 b 8,75 c 2 0,00962 b 13,75 b c 3 0,01633 b 8,75 c 4 0,01011 b 3,75 c 5 0,27330 a 63,75 a b 6 0,33554 a 82,5 a 7 0,39558 a 91,25 a A escarificacão mecânica e química aumenta a taxa de germinação podendo ser superior a 50% Lorenzi (2002), no entanto o tratamento 2, apresentou apenas 13,75% de sementes germinadas, com IVE de 0,00962, tendo a sua emergência iniciada aos 266 dias não diferindo estatisticamente dos tratamentos 1,3,4 e 5, em relação ao IVG. Estudos realizados por Rizzini (1973), indicam que as sementes antes de serem semeadas necessitam de escarificacão tendo em vista a dureza da testa, no entanto a imaturidade do embrião promove a dormência embrionária. De acordo com Galvão (2000), a estratificação favorece a maturação do
embrião, no entanto os tratamentos 3 e 4, não diferiram estatisticamente dos tratamentos 1 e 2, com relação ao IVE e IVG, demostrando inviabilidade na adoção destes métodos, apesar de T2 não diferir estatisticamente de T5 em relação a taxa de germinação. O tratamento 4 apresentou menor percentagem de germinação 3,75%. Já os tratamentos 5, 6 e 7, onde as sementes foram escarificadas e imersas em GA3 por 72 horas apresentaram taxa de germinação de 63,75%, 82,5% e 91,25% respectivamente (Figura 2), corroborando com estudos realizados por Mello (1993). 82,5 91,25 63,75 8,75 13,75 8,75 3,75 1 2 3 4 5 6 7 Tratamentos Figura 2: Porcentagem (%) de sementes germinadas O tratamento 7, apresentou porcentagem de germinação superior aos demais onde foi utilizado 2000mg/L, com período de imersão por 72 horas. Os resultados da emergência das plântulas confirmam os estudos realizados por Pereira et al. (2004). No entanto, visando aproveitamento máximo do número de sementes, deve se adotar o tratamento 07, uma vez que se obteve maior percentual de sementes germinadas, apesar de não diferir estatisticamente dos tratamentos 5 e 6 em relação ao IVE, este tratamento é viável, pois, a diferença em quantidade de sementes germinadas é significativa, de aproximadamente 9%. Conclusões: 1. A utilização de Ácido Giberélico nas concentrações de 500, 1000 e 2000 mg/l -1 por 72 horas com escarificação mecânica promoveram quebra da dormência das sementes.
2. A concentração de 2000 mg/l -1 de GA3 atingiu maior porcentagem de germinação, apesar de não diferir estatisticamente das demais concentrações. 3. A escarificação mecânica com imersão em água por 24 horas apresentou porcentagem de germinação superior aos tratamentos com sementes estratificadas. 4. A Estratificação a frio com sementes intactas e escarificadas a 5ºC por 30 dias, não promoveram a quebra da dormência. 5. A escarificação nas sementes favoreceu a absorção da solução de GA3, e consequentemente acelerou a germinação. Referências Bibliográficas ALMEIDA, S.P., PROENÇA, C.E.B.;SANO, S.M.; RIBEIRO,J.F.Cerrado: espécies vegetais úteis. Planaltina; EMBRAPA CPAC, 1998.xii+464p. ALMEIDA, S. P. de. Cerrado: aproveitamento alimentar: Planaltina: Embrapa - CPAC, 1998.188 p. FOWLER, J. A. P. Superação de dormência e armazenamento de sementes de espécies florestais. In: GALVÃO, A. P. M. Reflorestamento de Propriedades Rurais para fins produtivos e ambientais: Um guia para ações municipais e regionais Brasília: Embrapa Floresta, 2000. 351 p,il. LORENZI, HARRI, 1949 Arvores Brasileira: Manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do Brasil, vol.02 / Harri Lorenzi. Nova Odessa. SP: Instituto Plantarum, 2002.
MELLO, J.T. de. Efeito de ácido giberélico GA3 sobre a germinação de araticum (Annona crassiflora Mart.) In: CONGRESSO FLORESTAL BRASILEIRO, 7., 1993, Curitiba. Anais... São Paulo: Sociedade Brasileira de Silvicultura, 1993. v.2, p.760. PEREIRA, E. B.C [et al.] Quebra da dormência de sementes de araticum Planaltina, DF: Embrapa Cerrados, 2004. 15 p.:il (Boletim de Pesquisa e desenvolvimento/ Embrapa Cerrados, ISSN 1676-918 X; 137) RIZINNI, C.T. Dormancy in seeds of annona crassiflora Mart. Journal of Experimental Botany, London, v.24, n.78, p. 117 123, Feb. 1973. SANO, S.M; A.LMEIDA, S.P. Cerrado: ambiente e flora. Planaltina: EMBRAPA CPAC, 1998.xii+556p. ABRAMOVAY, R. Preservar para lucrar com os cerrados. Disponível em:<http://www.econ.fea.usp.br/abramovay/artigos_jornal/2000/preservar_para_lucrar.pdf>. Acesso em: 20/02/2007.