Violência(s), Direitos Humanos e Periferia(s): Quais relações? Priscila Queirolo Susin Psicóloga; Técnica Social Responsável PMCMV-E; Pesquisadora do CAES Mestre em Ciências Sociais (PUCRS) Doutoranda em Ciências Sociais (PUCRS)
Violência(s), Direitos Humanos e Periferia(s): Quais relações? Conceitos e (pré)conceitos: direitos humanos e violência Lugares e (des)lugares: cidadanias periféricas O caso do Rio de Janeiro, Recife e São Paulo
O que são Direitos Humanos? Declaração Universal dos Direitos Humanos foi dotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro 1948. Criou um sistema de princípios fundamentais abrangendo direitos civis e políticos, bem como direitos econômicos, sociais e culturais. Reconhece que cada ser humano pode desfrutar de seus direitos humanos sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política, origem social ou nacional ou condição de nascimento ou riqueza. É um acordo entre Estados, que se comprometem com regras específicas. Foi assinada pelo Brasil na mesma data em que foi proclamada.
A Declaração Universal de Direitos Humanos foi redigida sob o impacto das atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial. Retomando os ideais da Revolução Francesa, representou a manifestação histórica do reconhecimento dos valores supremos da igualdade, da liberdade e da fraternidade (ou solidariedade) entre os homens. Embora não seja um documento com obrigatoriedade legal, serviu como base para os dois tratados sobre direitos humanos da ONU de força legal: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
Direitos Humanos em tempos de neoliberalismo econômico e social A noção de direitos humanos passa a se conectar com a de cidadania na Constituição de 1988. Contradições entre a reestruturação da democracia e a ideia de igualdade, liberdade e fraternidade. Fortes desigualdades sociais e econômicas. Ideia de Estado mínimo e pouca responsabilidade governamental com a área de investimento social. Paradoxo da democracia: cidadania, direitos humanos (redemocratização, Constituição de 1988, expansão da sociedade civil) e desigualdades sociais (governos neoliberais)
Violência(s) no Brasil * A violência está na base da construção da agenda de direitos humanos no Brasil; * Terrorismo do Estado nas décadas de 60 e 70 (regime militar) * Criminalidade urbana; * Violência Institucionalizada; * Homicídios e latrocínios; * Crimes sexuais; * Crimes contra o patrimônio.
A violência e a criminalidade no Brasil devem ser entendidas como produto de relações históricas, particularizadas por cinco séculos de colonialismo e por um passado escravocrata recente, por relações fortemente hierarquizadas, autoritárias e arbitrárias. Alguns grupos são mais vulneráveis à violência cotidiana e crônica. A violência urbana tem dizimado, sobretudo, a população jovem, de 15 a 24 anos, do sexo masculino e negra.
A democracia, a cidadania e os direitos humanos são para todos no Brasil? Direitos humanos básicos não podem ser assegurados adequadamente em países onde as violações são parte estrutural da sociedade. Os obstáculos estruturais são os mais difíceis de romper. Constituição de 1988 trouxe consigo um novo conceito, que se fez forte em nossa sociedade: o de cidadania. As pessoas se tornaram mais conscientes de seus direitos, ficaram mais exigentes em relação às instituições, sendo tal fato um convite aos desejosos de bem servir, para uma revisão de postura.
A teoria das classes perigosas
Cotidiano e violência: experiência de pesquisa em favelas do Rio de Janeiro, Recife e São Paulo A violência no Brasil tem classe, cor e lugar; Segregação espacial afeta as relações sociais (cidade entre muros ); Contiguidade territorial com os bandos armados ligados ao tráfico, assédio da polícia e milícias; desconfiança de moradores de outras localidades.
Saber localizar fronteiras entre favelas e dentro delas, distinguir sinais de facções rivais, bem como a troca de comandos, são elementos cruciais para a orientação das rotinas e para a circulação dos moradores; Diferentes tratamentos da polícia e da população em geral com os que são da favela e dos que são do asfalto; O silencio dos moradores e líderes comunitários em relação ao tráfico é uma forma de defesa diante de ameaças a segurança pessoal. Moradores de favela no espaço público: menor possibilidade de expressão das dificuldades, demandas e reinvindicações dos moradores de territórios favelados;
CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS NAS PERIFERIAS? Imaginário social sobre a periferia: constituição da periferia enquanto um problema. Crescentes taxas de homicídio entre a população jovem (entre 15 e 24 anos), onde pelo menos 90% destas mortes foram associadas ao tráfico de drogas. O engajamento de crianças no tráfico de drogas tem crescido consideravelmente nos últimos trinta anos. Atuação da polícia como forma de limpeza, que visa jovens negros e pobres.
CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS NAS PERIFERIAS? Ou... Criminalização da pobreza? Artigo 3 Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 5 Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo 6 Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei. Artigo 9 Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 11 1.Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. Artigo 25 1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.
Direitos formais X Direitos substantivos