O Desenvolvimento Turístico nas Cidades Rurais de Origem Alemã da Grande Florianópolis (SC), Brasil



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Transcrição:

1 O Desenvolvimento Turístico nas Cidades Rurais de Origem Alemã da Grande Florianópolis (SC), Brasil Karina Martins da Cruz 1 Resumo Este trabalho busca entender e avaliar três aspectos. O primeiro diz respeito ao turismo no espaço rural enquanto um conjunto de atrativos, equipamentos e serviços turísticos que precisam ser planejados. O segundo trata de uma análise com relação às ações públicas e privadas que vêm sendo organizadas para o desenvolvimento turístico das oito cidades rurais envolvidas. Como terceiro ponto para debate, está o resgate da colonização alemã para a valorização da paisagem rural regional. No quarto ponto, apresenta-se por resultado através da análise empírica, pesquisa bibliográfica e comparação fotográfica uma classificação da tipologia arquitetônica alemã presente na Grande Florianópolis. Este artigo contém ainda, em anexo, algumas fotos para ilustrar a classificação. Palavras-chave Turismo no espaço rural; pequeno produtor; origem alemã; arquitetura; Grande Florianópolis. Introdução O turismo no espaço rural é uma oportunidade que, através do apoio dos organismos de fomento e participada por pequenos produtores, torna-se uma importante forma de diversificação de renda na propriedade rural. A atividade turística no meio rural trata-se, basicamente, do convívio temporário do homem urbano com as áreas de produção agrícola, locais estes, em vários casos, repletos de paisagens naturais e histórico-culturais. É considerado o turismo no espaço rural uma segunda atividade econômica visando promover 1 Bacharel em Turismo pela Associação de Ensino de Santa Catarina - ASSESC; Especialista em Turismo Empreendedor pela Escola de Novos Empreendedores - ENE/UFSC; Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. E-mail: cruzkarina@hotmail.com.

2 algumas áreas que ainda preservam um patrimônio cultural e paisagístico com potencial de desenvolver oferta/demanda de bens e serviços a nível local-rural, tendo em vista que natureza e cultura não são duas realidades opostas, mas interdependentes (CARDOSO, 2002). Como o turismo é seletivo, determinadas localidades se desenvolvem mais do que outras. O desenvolvimento turístico implica numa ampliação da oferta dos equipamentos e serviços nas cidades rurais envolvidas. Tendo a possibilidade de complementação econômica e uma alternativa às economias das áreas agrícolas, o turismo vem gerando nas famílias rurais ações de pluriatividade. Até mesmo para reduzir os êxodos dos mais jovens para as áreas urbanas, a tendência é que o turismo no espaço rural defina novas ocupações não-agrícolas ligadas ao lazer e à prestação de serviços. Segundo Schneider & Fialho (2000), uma vez que a população rural de um modo geral é pouco qualificada, o turismo possui como ponto positivo a absorção dessa mão-de-obra, apesar de que também representa uma baixa remuneração nos níveis operacionais. Mesmo que as atividades de turismo no espaço rural sejam consideradas de baixo impacto (SOUZA, 2006), não significa que devam crescer livremente e sem orientação. Tão somente são necessários potencialidades, atrativos turísticos, empreendedores e trabalhadores, como também uma mentalidade preocupada com o planejamento. A ideia do turismo no espaço rural implica em mudanças e numa nova dinâmica econômica e social, nas quais são gerados impactos positivos e negativos nas comunidades envolvidas, nas áreas agrícolas e no próprio meio natural, conforme as ações tomadas pelos atores sociais e, sobretudo, tendo em conta o modelo de desenvolvimento adotado. 1. Caracterização sócio-econômica das cidades analisadas Enquanto núcleos pioneiros da colonização alemã catarinense ocorrida no século XIX, as colônias de São Pedro de Alcântara, Vargem Grande, Santa Isabel, Leopoldina, Piedade e Teresópolis, mesclaram-se às colônias nacionais vizinhas (Angelina e Santa Teresa), e em contato com o tropeirismo acabaram estabelecendo um abastecimento alimentar destinado à cidade de Desterro/Florianópolis. Essas colônias resultam atualmente nos municípios de São Pedro de Alcântara, Antônio Carlos, Angelina, Santo Amaro da Imperatriz, Águas Mornas, Rancho Queimado, São Bonifácio, Anitápolis e Alfredo Wagner, situados em áreas interioranas da Grande Florianópolis. De tais municípios, apenas o último, Alfredo Wagner, não apresenta manifestações da cultura alemã quanto à origem dos seus habitantes. Basicamente, o meio rural da Grande Florianópolis apresenta as seguintes características o relevo é bastante acidentado e pedregoso, o solo apresenta uma

3 deficiência natural amenizada pela modernização agrícola a partir da década de 1990, as fontes de água natural perfuradas são de ótima qualidade, os diversos rios e córregos favoreceram na irrigação da horticultura, as propriedades rurais se dedicam à policultura e algumas possuem aviários para abate em uma indústria da região. A rodovia BR-282 contrasta com diversas estradas sem calçamento. A maior parte delas é um legado dos caminhos utilizados pelos tropeiros e das trocas comerciais com os alemães e descendentes moradores das localidades. A proximidade com a Capital catarinense, sendo que a menor distância é de 32 km em relação a São Pedro de Alcântara, pouco alterou a vida de relações das cidades analisadas, que mantiveram uma ocupação estritamente rural. Esta agricultura com base na pequena propriedade em áreas rurais qualifica a Grande Florianópolis como a segunda mesorregião produtora de hortaliças em Santa Catarina, sob um volume de 176 mil toneladas/ano (ICEPA, 2004 apud HENKES, 2006), estimando-se a participação de 3,7 mil famílias envolvidas diretamente com a produção agrícola (EPAGRI, 2005 apud HENKES, 2006). A área média das propriedades não ultrapassa 30 hectares, com área cultivada em mais da metade no tamanho de cada uma das mesmas (CEASA, 2005 apud HENKES, 2006). Tendo a pequena propriedade como característica das cidades rurais, a renda passou a ser mais bem distribuída entre as localidades de produção agrícola. O volume comercializado na Central de Abastecimento de Santa Catarina (CEASA/SC), situada no município de São José (vizinho a Florianópolis), é de 54% de hortaliças, 44% de frutas e 2% de outros gêneros agrícolas (CEASA, 2004 apud HENKES, 2006). A presença do pequeno agricultor na comercialização dos seus próprios produtos é significativa, pois no movimento de comercialização da CEASA representa 40% em relação aos agentes de mercado (HENKES, 2006). Dessa forma, o pequeno produtor da região apresenta o atributo de ser também um negociante bastante pró-ativo. Estes produtos agrícolas comercializados e consumidos nas cidades urbanas de Florianópolis e arredores (Biguaçú, São José e Palhoça), sustentam a vida socioeconômica das cidades rurais na região. Os municípios rurais apresentam uma hierarquia de crescimento relativo na sua população. Das onze cidades emancipadas na década de 1960, atualmente apresenta 18 e 24 mil habitantes, respectivamente - Santo Amaro da Imperatriz e São João Batista; cerca de 10 mil - Alfredo Wagner e Canelinha; 7 mil - Antônio Carlos; tendo as demais entre 2 e 4 mil habitantes - Águas Mornas, Anitápolis, Rancho Queimado, São Bonifácio, Leoberto Leal e Major Gercino. Os municípios de Angelina e São Pedro de Alcântara possuem cerca de 5 mil habitantes (IBGE, 2009).

4 Estabeleceu-se uma relação de dependência entre os dois sistemas rural e urbano pactuados pelas cidades em apreço. Além do maior consumo de alimentos produzidos nas cidades rurais, o crescimento urbano nas cidades litorâneas próximas a Florianópolis têm levado seus moradores à procura por descanso de fim de semana nas oito cidades de origem alemã, como alternativa de lazer de curta distância e sem congestionamentos de trânsito, apresentando estâncias naturais que atendem às estações frias e quentes do ano. As estâncias hidrominerais dos municípios de Santo Amaro da Imperatriz e Águas Mornas, por exemplo, já são conhecidas nacionalmente, recebendo turistas que visitam Florianópolis. Além disso, Rancho Queimado apresenta uma média de 25 geadas/ano, favorecendo os hábitos de clima frio nas encostas da Serra Geral. Recentemente, a proximidade com Florianópolis vem envolvendo as cidades rurais num mesmo processo de mudança na estrutura econômica devido à expansão dos condomínios fechados em tais áreas. Como extensão da urbanização na Capital catarinense, surgem segundas ou até terceiras residências de seus moradores dando um novo conteúdo às áreas rurais, na medida em que se estabelecem relações capitalistas recentes. É o que se pode apurar com a leitura de Santos (1985, p.69): A penetração, no campo, das formas mais modernas do capitalismo conduz a dois resultados complementares. De um lado, novos objetos geográficos se criam, fundando uma nova estrutura técnica; de outro, a própria estrutura do espaço muda. Designações tais como região urbana ou zona rural ganham um novo conteúdo. Numa área onde a composição orgânica do capital é elevada, onde quantidade e qualidade das estradas favorece a circulação e as trocas, onde a proximidade de uma grande cidade e a especialização produtiva e espacial conduz a complementariedades, o campo se industrializa, torna-se objeto de relações capitalistas avançadas, claramente distintas das que têm lugar tanto nas regiões agrícolas tradicionais, quanto naquelas que, sendo modernas, estão distanciadas das áreas urbanas mais desenvolvidas. No caso em tela, a região urbana tanto compreende a grande cidade e as áreas urbanas satelizadas, como as áreas que, derredor ou próximo aos grandes centros, participam de um mesmo nível de relações. Na verdade, essa nova região urbana compreende, também, por contiguidade, as áreas que não são diretamente tocadas pelo processo modernizador e podem, desse modo, manter aspectos tradicionais ou arcaicos no interior de uma zona motora. Ocorre uma troca desigual entre as cidades urbanas e rurais envolvidas. Enquanto as cidades urbanas percorrem processos de acelerada urbanização e de acumulação balizadas pela indústria de alta tecnologia, a construção civil, o turismo e o funcionalismo público na Capital as comunidades rurais, apesar da agricultura consolidada, arrastam-se num processo de diferenciação e exclusão socioeconômica que pode dificultar num acompanhamento das exigências de desenvolvimento turístico impostas pelas classes A e B,

5 que ocupam as áreas rurais através dos condomínios fechados. Assim, é preciso observar de que maneira as comunidades estão envolvidas nas atividades do turismo dessas cidades rurais. 2. Turismo no espaço rural da Grande Florianópolis: um breve diagnóstico A busca pela qualidade de vida levou a um movimento público-privado e de opinião popular a partir do início do século XXI, o que acarretou nas ampliações de infra-estrutura e na chegada de investidores exógenos a Florianópolis. Os balneários incorporaram usos elitizados, espalharam-se condomínios fechados e loteamentos, rodovias de acesso às praias foram ampliadas e o preço dos imóveis passou a ser inflacionado na ilha. Esse mesmo anseio pela qualidade de vida, atualmente está em associação crescente com algumas áreas rurais da Grande Florianópolis, já que as pessoas vêm procurando ambientes mais saudáveis, limpos, bonitos, agradáveis, com boa alimentação, lazer diversificado e seguro, ambientes estes, dessa forma, de reprodução social (SCHNEIDER & FIALHO, 2000; ARANA, 2007). As oito cidades rurais de origem alemã na Grande Florianópolis estão em localização privilegiada, pois se encontram a poucos quilômetros da Capital e na rota que liga a mesma ao Planalto Catarinense, região na qual se desenvolveu intensamente o turismo rural, sob o modelo de hotéis-fazenda e evento do pinhão de expressão nacional (ZIMMERMANN, 1996). É importante salientar que a própria estrutura fundiária de pequena propriedade já determina um tipo de desenvolvimento turístico diferente na Grande Florianópolis. A região apresenta raros hotéis-fazenda e numerosos hotéis de águas termais, parques aquáticos com chalés, pousadas, além de um convento com hospedagem. A recente expansão das residências secundárias, casas de campo e condomínios fechados nas cidades rurais, reflete a procura dos moradores da Capital e sua vizinhança por opções de segurança e qualidade de vida. As festas promovidas pelas prefeituras municipais, em comemoração ao colono (agricultor), específicas de frutas, verduras ou hortaliças e em homenagem à colonização alemã, repercutem numa maior visibilidade dos atrativos das cidades rurais, bem como fortalecem as ações de sindicatos, associações, grupos de dança e artesanais, empresas locais, paróquias, etc, envolvidas na organização de cada evento. Apesar de incipiente, as atividades de turismo no espaço rural vêm oferecendo uma pluralidade de atrativos e equipamentos de lazer: estâncias hidrominerais, parques aquáticos, pesque-pagues, operadoras de rafting e voo livre, casas de artesanato, venda dos produtos coloniais, alguns museus ou casas de cultura, cafés coloniais, restaurantes, cachoeiras, grutas

6 religiosas, monumentos, casarios típicos, visita a engenhos ou alambiques em funcionamento e o dialeto do alemão conservado em algumas localidades. No desenvolvimento do turismo no espaço rural, geralmente os pequenos empreendimentos são frutos de uma diversificação econômica do pequeno produtor rural, que aplica, na maioria dos casos em 82% dos empreendimentos catarinenses (TOREZAN, GUIZZATTI, NART & BITENCOURT, 2002) os recursos próprios numa outra atividade como renda complementar da família. Esta nova atividade ligada ao turismo é uma alternativa para utilizar o tempo disponível entre os afazeres rurais. Entre as mesorregiões catarinenses dedicadas ao turismo no espaço rural, o turismo como negócio apresenta maior contribuição relativa na composição da renda familiar dos empreendedores na Grande Florianópolis, numa média de 59% do total pesquisado. Porém, os meios de hospedagem representam a menor quantidade proporcional entre as mesorregiões. Este perfil de empreendedores da região é considerado o de menor número no qual o empreendimento ligado ao turismo no espaço rural está acoplado à propriedade de exploração agrícola, ou seja, a criação de animais e/ou cultivo de vegetais para fins econômicos ocorrendo em paralelo ou em complementação às atividades de atendimento ao turista. Dos empreendimentos da Grande Florianópolis, correspondem: 18% alimentação; 18% pesquepague; 18% hospedagem; 15% venda de produtos; 31% demais (TOREZAN, GUIZZATTI, NART & BITENCOURT, 2002). Apenas 1/3 dos meios de hospedagem da região que foram pesquisados por Novaes (2007), apresentam práticas ambientais aos seus hóspedes, como educação ambiental e coleta seletiva de lixo. Essas informações resultam nas seguintes hipóteses quanto ao perfil dos empreendimentos ligados ao turismo no espaço rural da Grande Florianópolis: A representatividade das atividades ligadas ao turismo no espaço rural, de 59% com relação às rendas familiares, está em fase ascendente; Se as atividades de turismo estão separadas dos locais de produção agrícola, o negócio do turismo pouco se relaciona com o modo de vida do pequeno agricultor; A baixa ocorrência de meios de hospedagem deve-se ao ainda reduzido fluxo turístico, como também é inibido o seu crescimento por causa da expansão dos condomínios fechados e casas de campo; As práticas ambientais precisam ser ampliadas e associadas à vida rural. Considerando o cenário que se apresenta das atividades turísticas no espaço rural da Grande Florianópolis, vale destacar que as mesmas deveriam estar diretamente relacionadas com a principal atividade econômica da pequena propriedade, o que muitas vezes não

7 acontece nas cidades rurais catarinenses (NOVAES, 2007). A falta de afinidade da atividade turística com a vida do pequeno produtor repercute numa diminuta valorização dos saberes e fazeres do espaço rural. Instaurado este quadro, facilmente são introduzidos novos hábitos, com a tendência de repelir os membros menos favorecidos nas comunidades. Na análise do município de Rancho Queimado sobre a interferência dos condomínios fechados, Cabreira & Rosa (2009) perceberam que apenas os moradores influentes e os turistas de segunda residência frequentam esses espaços, além de verificarem um aumento no setor informal por parte de diversos habitantes. Na leitura de um jornal local, verificou-se que a instalação de um restaurante de alto padrão num condomínio fechado com campo de golfe transmite uma noção fragmentária e distante da realidade do meio rural, já que o condômino deseja tranquilidade e segurança junto à natureza, porém, num ambiente restrito e sem interação com o modo de vida da própria cidade. O retorno gerado pelos condomínios fechados às cidades rurais está no acréscimo dos impostos municipais, pois os materiais de construção e os serviços subsequentes de manutenção, limpeza e compra de alimentos podem ser trazidos das cidades urbanas da própria região. O desenvolvimento turístico contribui para a melhoria da infra-estrutura e dos meios de comunicação, propiciando condições de ampliar o empreendedorismo local. Contudo, segundo Schneider & Fialho (2000), com a intensificação das relações mercantis promove-se a descaracterização da cultura devido à modificação nos padrões de sociabilidade tradicionais. Algumas características local-rurais rapidamente podem ser esgotadas sem um planejamento regulador à introdução de empreendimentos externos. Aborda Cardoso (2002) o modelo territorialista, o qual parte do princípio que a satisfação das necessidades da população passa pela mobilização das potencialidades endógenas e das pessoas associadas e envolvidas no próprio processo de desenvolvimento local, ou seja, um desenvolvimento pela base. Nesse sentido, o desenvolvimento turístico no meio rural não deveria ser descontextualizado do patrimônio cultural rural-material e imaterial, tendo ainda os agentes locais como protagonistas na compatibilização das questões ecológicas, já que o ambiente não pode ser explorado acima da sua capacidade de absorção e regeneração. Relevante para os projetos de turismo, o modelo territorialista possui a vantagem de desconcentrar capital e demais recursos nos meios urbanos e, por outro lado, criar condições de contemplar os menos favorecidos das áreas rurais nas políticas de desenvolvimento, assumindo-os não apenas como beneficiários de políticas sem o conhecimento popular, mas, como parceiros ativos desse desenvolvimento. Para ampliar a conexão das atividades agrícolas com as práticas ambientais, é preciso entender que as atividades de agroturismo, ecoturismo e turismo de aventura ainda vêm sendo

8 pouco exploradas. Estima-se que a Grande Florianópolis corresponde a apenas 5% em distribuição de empreendimentos de agroturismo catarinenses (TOREZAN, MATTEI & GUZZATTI, 2002), apesar de considerada a segunda mesorregião catarinense em volume de produção hortícula. Cardoso (2002) alerta para que o solo não perca a sua função como fator produtivo, além do que as redefinições aos usos e costumes são dadas por novos protagonistas urbanos e pelas próprias instituições estatais e comunitárias. Assim, o papel do pequeno produtor como empreendedor é importante para um desenvolvimento turístico de dentro para fora, que vise primar pela diversidade de atrativos. No aproveitamento das atividades agropastoris e das singularidades geográficas existentes nas propriedades como diferenciais turísticos, há ações que podem ser empreendidas pelos pequenos produtores por um baixo custo: abertura de trilhas ecológicas, banhos de cachoeira e observação de pássaros com condutores locais, tirolesas, paredões de escalada e rappel, passeios a cavalo, pequenas hospedarias familiares, venda de pães, queijos, embutidos e compotas, visita ao interior de casas antigas ou à propriedade para tratamento de animais, venda direta de produtos da agricultura orgânica ou sistemática do colha e pague, reaproveitamento de resíduos na fabricação de artesanato, venda de mudas de plantas, entre outros. Trata-se de pequenos empreendimentos acoplados à propriedade rural que podem vir a compatibilizar o funcionamento da mesma com novas fontes de renda familiares, que independem de demandas ocasionais e criam novas relações com o ecoturismo, o turismo rural e o agroturismo. Tais atividades deveriam ser divulgadas através de mapas turísticos e sites, compondo roteiros de visitação às comunidades em evidência. 3. Identidade das áreas rurais de origem alemã na Grande Florianópolis A singularidade da paisagem rural está relacionada diretamente ao contraste dos ambientes naturais e os atributos das construções antigas e novas, sejam elas residenciais com arquitetura típica ou contemporânea, casas de antigos vendeiros, madeireiras, engenhos, alambiques, rodas d água, aviários, etc, personificando o modo de vida agrícola. Identificar e articular um percurso estendido à boa parte dos atores nas cidades rurais, com capacidade de oferecer elementos de atração e desenvolvimento coligados ao processo da colonização alemã, é tarefa que exige um planejamento articulado. O projeto Caminhos da Imigração Alemã é uma integração entre as cidades de origem alemã: Águas Mornas, Angelina, Anitápolis, Antônio Carlos, Rancho Queimado, Santo Amaro da Imperatriz, São Bonifácio e São Pedro de Alcântara. O ponto de partida do

9 projeto foi um estudo realizado pelo SEBRAE/SC, levantando os meios de geração de emprego e renda nas cidades onde havia previsão de crescimento do êxodo rural. Iniciado em 1999, o projeto conta com o apoio do governo do Estado em articulação com os oito municípios que, em conjunto, lançaram recentemente a Associação Turística Caminhos da Imigração Alemã, tendo a finalidade de buscar recursos, debater ações, divulgar e fortalecer os equipamentos turísticos existentes, na linha do desenvolvimento turístico regional. Sob a inspiração do projeto, vem ocorrendo a criação de festas, a restauração de alguns casarões, o surgimento de grupos de estudo ou folclóricos, além de alguns passeios organizados, como, por exemplo, a operadora de cicloturismo Caminhos do Sertão, que vem, desde 2004, reunindo grupos de 10 a 20 pessoas para percorrerem de bicicleta as cidades do roteiro. As prefeituras municipais têm investido na sinalização turística na maior parte sem a padronização internacional, mas, que se torna condizente com o ambiente rural, utilizando placas de madeira entalhada para indicar nomes de atrativos, a direção de bairros e distâncias. Recentemente implantados, os portais de acesso às cidades, embora esteticamente interessantes, remetem à colonização enxaimel do Vale do Itajaí e não à arquitetura local. A grande maioria das casas típicas são totalmente rebocadas, ou seja, sem as paredes em tijolo natural atravessadas por angulações de peças em madeira escurecida. Os colonos alemães e seus descendentes tiveram estreita relação com os tropeiros que chegavam dos Campos de Lages para comercializar mercadorias e conduzir o gado, e paralelamente, com o comércio de gêneros agrícolas que abasteciam a Capital. Entender e identificar a dinâmica dos vendistas alemães e descendentes resultaria num resgate cultural em benefício da ampliação dos atrativos turísticos. A identidade das cidades rurais de origem alemã deve ser redefinida a cada instante, através do conhecimento mais intenso das cidades sobre si mesmas. Nesse processo, a oralidade dos mais velhos não deve ser esquecida, tão pouco um acervo bibliográfico específico sobre a imigração alemã e as famílias fundadoras dos municípios, o que já vem acontecendo na região. Não obstante, falar da origem alemã na Grande Florianópolis é entender as ex-colônias resultando em oito municípios, nos quais há uma forte integração entre as culturas portuguesa (ou luso-brasileira) e alemã, seja nos casamentos contraídos no passado ou no próprio modo de vida atual. Significa dizer ainda, que os descendentes de alemães da Grande Florianópolis são representantes vivos do processo de uma cultura alemã híbrida com a portuguesa. É possível perceber este entrelaçamento de culturas, através do que restou da arquitetura rural de origem alemã presente nos oito municípios.

10 4. A tipologia arquitetônica A organização de um acervo fotográfico e os apontamentos de Peluso Júnior (1991) e Reitz (1988), sistematizaram uma análise empírica da arquitetura de origem alemã com a finalidade de contribuir nos estudos de ampliação e identificação da imagem turística local. Os conjuntos arquitetônicos compõem a paisagem rural das cidades analisadas. Contudo, a maior parte dos mesmos está mais no plano de recurso turístico em potencial do que como atrativos realmente conhecidos e admirados pelos visitantes da região. As edificações alcançaram uma configuração própria de caráter regional, inclusive, valendo uma sucessão arquitetônica. As construções foram tipificadas em: de influência portuguesa (tipo 1), chalés ornamentados (tipo 2), casarões de comerciantes (tipo 3) e casas comercial-residenciais (tipo 4). Determinadas edificações desta classificação aparecem, inclusive, no litoral próximo a Florianópolis ou nessa própria cidade. Em anexo, ilustra-se a classificação. Tipo 1 - O aprendizado de adaptação ao novo ambiente com os luso-brasileiros outorgou grande semelhança em seu aspecto construtivo nas residências situadas no meio rural, sendo casas pequenas e rebocadas (Foto 1 e 2). As casas apresentam janelas em guilhotina e folhas internas, telhas-de-canal com beirado curto ou sem-beira orientada para a estrada, diferenciando-se da casa luso-brasileira no aperfeiçoamento da inclinação do telhado (maior) para contemplar um sótão com janelas para o quarto do filho mais velho, além de molduras quadradas nas aberturas adornadas por cimalhas decoradas. Diverge da configuração das habitações em enxaimel das demais colônias alemãs catarinenses, também o fato de que o jardim ficou estabelecido nos fundos da casa, ao lado da horta diária. Tipo 2 - O segundo tipo corresponde às residências as quais o chalé é mais alto e o telhado com ângulo mais agudo, onde o sótão, mais amplo do que no primeiro grupo, funcionaria como o segundo andar, ou, em alguns casos, possuindo dois pavimentos. Com a empena voltada para a rua, as janelas são mais altas e envidraçadas do que no tipo 1, fechando-se algumas em quatro folhas. Janelas estão em simetria. Na maior parte, há três janelas frontais e a porta fica na lateral. As casas mais sofisticadas existiram, ou existem algumas ainda, em

11 certos bairros dos municípios de Florianópolis, São José e Biguaçú. Também aparecem nos oito municípios rurais nos seus aspectos mais simples (Fotos 3 e 4). Tipo 3 - Este tipo é formado pelas casas de comerciantes mais abastados, de função estritamente residencial, construídas entre o final do século XIX e anos 1920/30, que se edificam em sótão individualizado, profusa ornamentação de madeira, varanda, lambrequins e detalhes de influência francesa, suíça ou alemã, destacando-se pela volumetria eclética. Bastante sofisticadas, a maioria enquanto antigas sedes de chácara ou dotadas de grandes jardins, situadas na área central de Florianópolis. Também é encontrada uma dessas casas no centro de Biguaçú (Fotos 5 e 6). Tipo 4 - As casas de misto comercial-residencial compuseram o complexo vendeiro rural em várias localidades. Sob diversos estilos e períodos de construção que parecem ir até a década de 1950, igualam-se pelo pé direito alto, porão com janelas para estocagem de produtos, portas gêmeas imediatas à calçada e a maioria com nave do edifício orientada em paralelo com a rua. Algumas destas casas apresentam características de construção urbana, mesmo em áreas rurais e distantes, o que salienta a importância da expansão do negócio de determinadas famílias (Fotos 7 e 8). Considerações Finais O projeto Caminhos da Imigração Alemã parece estar seguindo as premissas do modelo territorialista, na medida em que procura, através das potencialidades regionais, a resolução dos problemas comuns entre os municípios no que tange um desenvolvimento turístico capaz de responder às exigências de demanda crescente. Este fortalecimento entre as cidades rurais procura reduzir a troca desigual no sistema econômico com as áreas urbanas, no sentido de oferecer o turismo no espaço rural em contraposição ao turismo de sol e mar em Florianópolis e proximidades. A diversidade de ambientes naturais da Grande Florianópolis resulta numa demanda turística interna e outra externa à própria região. A formação do público de turistas interessados nos atrativos rurais próximos a Florianópolis, também assume uma complementaridade a esta cidade, já consolidada como produto turístico nacional e internacional. As cidades rurais de origem alemã precisam continuar a desenvolver o turismo de maneira conjunta e orientadas pela demanda turística de Florianópolis, através do projeto mencionado. Para tanto, é preciso pautar as ações futuras em quatro pilares:

12 Fomento do atendimento familiar vinculado à unidade de produção, ou seja, tornar a pequena propriedade produtiva também um equipamento/serviço turístico, já que o pequeno produtor deve participar das atividades ligadas ao turismo; Capacitação para o turismo, em vários níveis, devendo chegar às cidades rurais dada a distância das instituições de ensino técnico, profissionalizante e superior; Manutenção e criação de novos eventos populares e continuidade dos encontros para discussão sobre um planejamento turístico com desenvolvimento sustentável; Medidas de preservação do patrimônio cultural de origem alemã e melhor divulgação das singularidades históricas e arquitetônicas. Os projetos de turismo devem acontecer de modo a propagar uma verdadeira turistificação no meio rural, ou seja, que sejam empreendidas ações e se colham resultados envolvendo os atores sociais das comunidades no processo de oferta e demanda turística. A concepção do turismo no espaço rural não pode esquecer a inserção do pequeno produtor no processo de mudanças socioeconômicas, visando reduzir os efeitos negativos sofridos pelo mesmo com relação à cultura e ao modo de vida, bem como os impactos ecológicos que interferem na qualidade ambiental e, dessa forma, também prejudicam a atividade agrícola. O levantamento dos aspectos culturais para a construção da imagem turística, atravessa, necessariamente, a valorização arquitetônica do meio rural da Grande Florianópolis. As ações futuras de planejamento deveriam entender que diversas pequenas propriedades apresentam singulares casas típicas de origem alemã enquanto atrativo turístico único de cada pequena propriedade, para serem vistas por aqueles que seguem os trajetos das estradas secundárias que ligam os oito municípios rurais. Assim, o envolvimento do pequeno produtor nas atividades estruturantes do turismo (meios de hospedagem, atrativos, serviços de alimentação, etc), também se relaciona com o resgate da arquitetura típica alemã. As casas típicas alemãs, com o devido resgate histórico-cultural, são um meio de integrar as pequenas propriedades no desenvolvimento turístico dos oito municípios. Referências Bibliográficas ARANA, A. R. A. Os desafios do turismo rural na valorização da cultura local. In: Colloquim Humanarum. Presidente Prudente, v. 4, n.2, dez 2007, p. 01-11. Bistrô Santa Rita. Jornal Folha de Rancho Queimado. ano 1, n.6. Rancho Queimado, 09/10/2009, p.7. CABREIRA, C. F.; ROSA, H. R. da. Turismo rural em Rancho Queimado: uma análise do espaço pela lógica capitalista. In: Encuentro de Geógrafos de America Latina, 2009,

13 Montevideo. Anais... XII, EGAL 2009. Caminando en una America Latina en transformación. Montevideo: Universidad de la República, 2009. Disponível em: egal2009.easyplanners.info/.../8072_fracchiolla_cabreira_carla.pdf>. Acesso em: 16 mar 2010. CARDOSO, A. M. F. Turismo, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável em áreas rurais. In: Observatório Medioambiental. v. 5, Instituto Politécnico de Viana Castelo, Portugal, 2002, p.21-45. CRUZ, K. M. da. A Contribuição de Alemães e Descendentes para a Formação Sócio- Espacial Catarinense: O Caso da Região Metropolitana de Florianópolis (SC). Dissertação de Mestrado em Geografia. Florianópolis, UFSC, 2008. HENKES, J. A. Caracterização dos agentes do mercado atacadista da Ceasa/SC unidade de São José. Dissertação de Mestrado em Agroecossistemas. Florianópolis, UFSC, 2006. IBGE Cidades@ - Estimativa da população em 2009. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>.acesso em: 17 mar 2010. MOLETTA, V. F.; GOIDANICH, K. L. Turismo Rural. Porto Alegre: Sebrae/RS, 1999 (6, Desenvolvendo o Turismo). Notícias do Dia mostram Caminhos da Imigração Alemã. Site Caminhos do sertão. <http://www.caminhosdosertao.com.br/blog/2010/03/01/noticias-do-dia-mostram-caminhosda-imigracao-alema/>. Acesso em: 18 mar 2010. NOVAES, M. H. Turismo no espaço rural de Santa Catarina: uma análise dos meios de hospedagem, no enfoque da gestão ambiental, de 2004 a 2006. Tese de Doutorado em Turismo e Hotelaria. Balneário Camboriú, UNIVALI, 2007. PELUSO JÚNIOR, V. A. Aspectos Geográficos de Santa Catarina. Florianópolis: Editora da UFSC, FCC, 1991. REITZ, R. Alto Biguaçú. Narrativa cultural tetrarracial. Florianópolis: Lunardelli, Editora da UFSC, 1988. SANTA CATARINA. Grande Florianópolis. Roteiros Turísticos Regionais. Florianópolis: Letras Brasileiras, 200-. SANTOS, M. Espaço & método. São Paulo: Nobel, 1985. SCHNEIDER, S.; FIALHO, M. A. V. Atividades não agrícolas e turismo rural no Rio Grande do Sul. In: ALMEIDA, J.A. RIEDL, M. (orgs). Turismo Rural: ecologia, lazer e desenvolvimento. Bauru/SP: Edusc, 2000, p.15-50. SOUZA, L. S. O turismo rural: instrumento para desenvolvimento sustentável. Edição Eletrônica. Disponível em: <http://www.eumed.net/libros/2006c/194/>. Acesso em: 15 mar 2010. TOREZAN, L.; GUIZZATTI, T. C.; NART, D.; BITENCOURT, R. B. Levantamento dos Empreendimentos de Turismo no Espaço Rural de Santa Catarina: Localização, Categorização e Descrição Geral. Florianópolis: Instituto CEPA/SC, 2002. TOREZAN, L.; MATTEI, L.; GUZZATTI, T. C. Estudo do potencial do agroturismo em Santa Catarina: impactos e potencialidades para a agricultura familiar. Florianópolis: Instituto CEPA/SC, 2002. ZIMMERMANN, A. Turismo rural: um modelo brasileiro. Florianópolis: Edição do autor, 1996. Disponível em: http://www.zimmermann.com.br/turrural.htm>. Acesso em: 15 mar 2010.

14 Tipo 1 - De influência portuguesa CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS ARQUITETÔNICOS Foto 1 - Casa no município de Antônio Carlos Fonte: Arquivo da autora (2007). Foto 2 - Casa no município de São Pedro de Alcântara

15 Fonte: Arquivo da autora (2007). Tipo 2 - Chalés ornamentados Foto 3 - Casa no município de Angelina Fonte: Arquivo da autora (2010). Foto 4 - Casa na rua Alves de Brito, centro de Florianópolis

16 Fonte: Arquivo da autora (2007). Tipo 3 - Casarões de comerciantes Foto 5 - Sobrado de João Nicolau Born (1892), centro de Biguaçú Fonte: Arquivo da autora (2007). Foto 6 - Casa que pertenceu a Fernand Hackradt (Século XIX), família Scheele e ao barão Dietrich Freiherr von Wangenheim, centro de Florianópolis

17 Fonte: Arquivo da autora (2007). Tipo 4 - Casas comercial-residenciais Foto 7 - Casarão Philippi (1907), município de Águas Mornas Fonte: Arquivo da autora (2008). Foto 8 - Casa de Germano Kretzer (1920), município de São Pedro de Alcântara

Fonte: Arquivo da autora (2007). 18