Estudo da Produção de Oclusivas do Português Europeu

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Transcrição:

Estudo da Produção de Oclusivas do Português Europeu Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para obtenção do Grau de Mestre em Ciências da Fala e da Audição Marisa Lobo Lousada Orientador: Professor Doutor Luís Miguel Teixeira de Jesus Aveiro, 12 de Dezembro de 2006 OBJECTIVOS Analisar as características acústicas relacionadas com a produção das oclusivas orais do Português Europeu (PE): Características associadas ao ponto de articulação e Características associadas à distinção do vozeamento. Análise temporal - determinação de diferentes parâmetros acústicos. Análise espectral - utilização de três técnicas na tentativa de caracterizar os diferentes pontos de articulação das oclusivas. 1

MÉTODO Corpus 54 palavras com as oclusivas /p, t, k, b, d, ɡ/ nas posições: Inicial, seguidas das vogais /a/, /i/ e /u/; Medial, precedidas das vogais /a/, /i/ e /u/ e seguidas da vogal /ɐ/; Final, precedidas das vogais /ɔ/ e /a/. As palavras foram produzidas sem contexto (corpus 1) e no contexto da frase Diga,... por favor. (corpus 2). Informantes 6 informantes, falantes nativos do PE (3 homens, 3 mulheres). MÉTODO Gravação A gravação foi realizada com um microfone de condensador unidireccional Philips SBC ME 400, localizado a 20 cm de distância da boca e em frente aos informantes. Foi também gravado o sinal de electroglotografia (EGG) usando um electroglotógrafo (modelo EG-PC3 produzido por Tiger DRS, Inc., USA). Os sinais acústico e EGG foram pré-amplificados (Rane HS 1-b) e gravados com um gravador Sony PCM R300 DAT, de 16 bits com uma frequência de amostragem de 48 khz. 2

MÉTODO Anotação IV1 IO IR FR FV FV2 Figura 1: Anotação da sequência VCV da palavra ['napɐ] produzida pelo informante PA. MÉTODO Anotação Nos ficheiros de anotação foram ainda registados A posição na palavra Inicial (0) Medial (1) Final (2) O tipo de vozeamento (Jesus e Shadle, 2002): Quando o sinal acústico ou o sinal de electroglotografia não apresentavam uma estrutura periódica, considerou-se não vozeada (0). Quando a duração do pré-vozeamento (estrutura periódica no sinal acústico ou no sinal de electroglotografia) foi < ⅓ do intervalo de oclusão, considerou-se desvozeada (1). Quando a duração do pré-vozeamento estava entre ⅓ e ½ do intervalo de oclusão, considerou-se parcialmente desvozeada (2). Quando a duração do pré-vozeamento foi > ½ do intervalo de oclusão, considerou-se vozeada (3). 3

MÉTODO Análise Temporal As durações das diferentes fases de produção foram calculadas a partir dos ficheiros de anotação: Duração da V1: IO-IV1. Duração do vozeamento durante a oclusão: FV-IO (para oclusivas em posição medial e final). Duração do pré-vozeamento: FPV-IPV. Duração da oclusão: IR-IO. VOT: FR-IR (no caso das oclusivas não vozeadas, das oclusivas desvozeadas e das oclusivas parcialmente desvozeadas) ou IPV- IR (no caso das oclusivas vozeadas). Duração da distensão: FR-IR. De salientar que para as oclusivas não vozeadas, a duração da distensão é igual ao VOT. Duração da V2: FV2-FR. Duração total das oclusivas: FR-IO. MÉTODO Análise Espectral O espectro multitaper foi calculado com uma janela de 11 ms alinhada à esquerda, no início da distensão da oclusiva, tal como pode ser observado na Figura 2. IR 11ms Figura 2: Forma de onda e espectro da oclusiva [t] produzida pela informante ML. 4

MÉTODO Análise Espectral As frequências dos picos e dos vales espectrais das palavras produzidas pelos informantes ML e LJ (corpus 1) foram manualmente analisadas como é possível observar na Figura 3. 1º Pico 2º Pico 1º Broad Peak 2º Broad Peak Vale Figura 3: Espectro da oclusiva [k] produzida pela informante ML. MÉTODO Análise Espectral Parametrização das características espectrais das oclusivas (declives) Foi calculada a frequência média ( F ) para a qual a amplitude espectral foi máxima, numa gama de frequências até 16 khz. Aproximaram-se os dados a uma recta até esta frequência e a outra recta a partir desta frequência (Figura 4), e calcularam-se os respectivos declives (m1 e m2). A média dos valores de F de todas as oclusivas do corpus 1 produzidas pelos informantes ML e LJ foi: F /p,b/ = 3,7 khz ( broad peak ), F/ t, d / = 3,9 khz (2º pico) e F/ k, g / = 4,6 khz (2º pico). m1 m2 Figura 4: Espectro Multitaper da oclusiva [p] produzida pela informante ML. F 5

MÉTODO Análise Espectral Parametrização das características espectrais das oclusivas (momentos) Os seguintes momentos foram calculados (Forrest et al., 1988): Média Variância Assimetria Curtose ANÁLISE TEMPORAL Resultados Análise do desvozeamento em função do ponto de articulação e da posição na palavra Posição inicial (PI): a percentagem de oclusivas vozeadas é superior nas oclusivas [d] e [ɡ] comparativamente a [b]. Posição medial (PM): verifica-se um aumento da percentagem de desvozeamento à medida que o ponto de articulação é mais posterior. Posição final (PF): [ɡ] destaca-se de [b] e [d] por uma percentagem mais elevada de itens desvozeados. Percentagem 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 [b] PI PM PF Posição na palavra Desvozeada Parcialmente desvozeada Vozeada Figura 5: Desvozeamento de [b] para todos os informantes nas diferentes posições. 6

ANÁLISE TEMPORAL Resultados As oclusivas não vozeadas apresentam valores médios de duração total superiores às oclusivas vozeadas nas posições inicial, medial e final de palavra (Figura 7). Verificou-se que estas diferenças são estatisticamente significativas (p<0.000). Figura 7: Duração das oclusivas [p, t, k, b, d, ɡ] em posição inicial de palavra. Informante LJ - preto; Informante ML azul; Informante HR vermelho; Informante IM verde; Informante PA ciano; Informante SC magenta. Os símbolos fonéticos encontram-se no alfabeto fonético SAMPA. ANÁLISE TEMPORAL Resultados A duração da oclusão é superior nas oclusivas não vozeadas comparativamente às vozeadas nas diferentes posições analisadas (Figura 8). Figura 8: Duração da oclusão de [p, t, k, b, d, ɡ] em posição inicial de palavra. Informante LJ - preto; Informante ML azul; Informante HR vermelho; Informante IM verde; Informante PA ciano; Informante SC magenta. Os símbolos fonéticos encontram-se no alfabeto fonético SAMPA. 7

ANÁLISE TEMPORAL Resultados A duração da distensão é superior nas oclusivas não vozeadas em relação às vozeadas em posição inicial; nas posições medial e final verifica-se o contrário. A duração da vogal seguinte é maior quando a vogal é precedida por oclusivas vozeadas do que quando é precedida por não vozeadas para oclusivas em posição inicial e medial. A duração da vogal anterior é superior em contexto de oclusivas vozeadas quando as oclusivas ocorrem em posição medial e final de palavra. A duração do vozeamento durante a oclusão é superior nas oclusivas vozeadas relativamente às não vozeadas em qualquer posição. [k] apresenta um VOT, em média, maior do que [t], e [t] um VOT superior a [p], em posição inicial e medial. ANÁLISE ESPECTRAL Resultados Frequência dos picos e dos vales espectrais Os resultados mostram uma uniformidade quanto ao tipo e ao número de picos e de vales para as oclusivas do mesmo ponto de articulação. Também se verifica que a gama de frequências destes picos e vales é semelhante para oclusivas com o mesmo ponto de articulação. Tabela 1: Resultados da análise das frequências dos picos e dos vales. [p] [b] [t] [d] [k] [ɡ] Vale (khz) 0.8-4.6 0.7-5.0 1.7-7.0 1.5-5.5 2.9-6.3 0.8-7.4 1º Pico (khz) 0.3-3.7 0.3-1.7 0.6-3.8 1.0-2.6 2º Pico (khz) 0.2-4.6 2.4-5.6 3.9-5.4 3.9-4.9 1º Broadpeak (khz) 1.4-5.6 1.5-5.6 6.0-10.4 5.2-9.9 7.1-9.4 6.8-9.1 2º Broadpeak (khz) 11.0-12.8 10.0-13.2 12.0-13.6 8

ANÁLISE ESPECTRAL Resultados Parametrização das características espectrais das oclusivas Declives dos espectros (Figura 9) O ponto de articulação da oclusiva influencia os valores dos declives m1 e m2. O declive m1 é mais acentuado em [p] comparativamente a [t], mantendo-se constante o declive m2 nestas duas oclusivas. [k] distingue-se de [p] e de [t] por um declive m2 tendencialmente menos acentuado. O declive m2 é menos acentuado em [ɡ] relativamente a [b], mantendo-se constante o declive m1. [d] apresenta valores dos dois declives semelhantes a [b] e [ɡ]. Os valores dos declives não parecem distinguir as oclusivas vozeadas das não vozeadas. ANÁLISE ESPECTRAL Resultados Figura 9: Relação entre os declives dos espectros de todas as oclusivas produzidas pelos diferentes informantes. As elipses estão centradas nos valores médios dos declives m1 e m2. 9

ANÁLISE ESPECTRAL Resultados Parametrização das características espectrais das oclusivas Momentos de distribuição (Figura 10) [p] e [t] diferem na assimetria mas não na curtose e na variância em todos os informantes. [p] e [t] diferem na média excepto para o informante PA. [p] apresenta na maioria das oclusivas valores de assimetria perto de zero, o que indica uma distribuição quase simétrica ou valores positivos, o que indica uma distribuição assimétrica positiva. [t] apresenta geralmente valores perto de zero, o que indica uma distribuição quase simétrica ou valores negativos, o que indica uma distribuição assimétrica negativa. [k], [p] e [t] não diferem na curtose. Os valores de assimetria de [k] e [p] são idênticos para os informantes SC, PA e IM. ANÁLISE ESPECTRAL Resultados Figura 10: Relação entre os momentos de distribuição em todas as oclusivas produzidas pela informante SC. Oclusiva [p] - ; Oclusiva [b] - ; Oclusiva [t] - ; Oclusiva [d] - ; Oclusiva [k] - ; Oclusiva [ɡ] -. 10

CONCLUSÕES Este estudo contribuiu para o conhecimento das propriedades acústicas das oclusivas portuguesas. Os resultados da análise temporal sugerem que quando [b, d, ɡ] são realizadas como desvozeadas, a duração total, duração da oclusão, duração da vogal seguinte, duração da vogal anterior e duração do vozeamento durante a oclusão devem ter um papel importante na oposição do vozeamento destas oclusivas. Verifica-se uma influência do ponto de articulação no VOT. [k] apresenta, em média, um VOT superior a [t], e [t] um VOT superior a [p], o que corrobora vários estudos para o PE e para o Inglês. CONCLUSÕES Os resultados da análise das frequências dos picos e dos vales espectrais indicam que o espectro da explosão contém características distintas consoante o ponto de articulação das oclusivas, ao nível do tipo, número e gama de frequências dos picos e dos vales espectrais. Os resultados da parametrização das características espectrais das oclusivas permitem concluir que o ponto de articulação, bem como as características das vogais adjacentes influenciam as características espectrais da explosão. 11

TRABALHO FUTURO Electropalatografia (EPG) Estudos de percepção Obtenção de uma base de dados com crianças com e sem perturbações da comunicação, que contemple consoantes e vogais do PE, de forma a conhecer idades de aquisição dos sons e identificar, acusticamente, padrões de normalidade para ser possível com maior precisão identificar as características de uma determinada alteração e, consequentemente, realizar uma intervenção adequada às especificidades de cada utente. 12