O ENSINO DA GEOMETRIA ANALÍTICA NA PERSPECTIVA DE UMA PROFESSORA FORMADORA

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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Rio Grande do Sul Campus Rio Grande CAPÍTULO 4 GEOMETRIA ANALÍTICA

Transcrição:

ISSN 2316-7785 O ENSINO DA GEOMETRIA ANALÍTICA NA PERSPECTIVA DE UMA PROFESSORA FORMADORA Franciele Catelan Cardoso Unijuí francielecatelan@gmail.com Cátia Maria Nehring Unijuí catia@unijui.edu.br Resumo Este estudo resulta de um recorte de uma pesquisa de Mestrado realizada. Neste artigo analisamos as concepções de uma professora formadora de um curso de Licenciatura em Matemática de uma Universidade comunitária do interior do estado do RS com relação ao ensino da geometria analítica no ensino superior. Para tanto, apoiamo-nos na Teoria dos Registros de Representação Semiótica de Duval (2003), em especial na forma como o autor compreende a aprendizagem em matemática, bem como em pesquisas que tem o ensino da geometria analítica como temática. O método escolhido para a realização foi uma pesquisa qualitativa na forma de estudo de caso, cuja fonte de análise foi uma entrevista semiestruturada, composta por cinco questões propostas para a professora formadora. Através dessa entrevista concluímos que a professora leva em consideração para a sua prática a teoria de Duval (2009), bem como, busca articular os registros de representação semiótica através de diversas ferramentas, principalmente a partir da utilização de softwares matemáticos. Além disso, ela apoia sua prática em documentos curriculares oficiais bem como em pesquisas na área da geometria analítica. Palavras-chave: Geometria Analítica; Ensino e aprendizagem; Registros de Representação Semiótica; Professor Formador. Introdução A geometria analítica se destaca como um método de estudo da geometria que permite o desenvolvimento de formas mais elaboradas de pensamento, definida por Boulos e Camargo (1987, p. 13 apud RICHT, 2005, p.41) como: [...] o estudo da Geometria pelo método cartesiano (René Descartes, 1596-1650), que em última análise consiste em associar equações aos entes geométricos, e através do estudo dessas equações (com o auxílio da Álgebra, portanto), tirar conclusões a respeito daqueles entes geométricos.

Levando em conta essa definição, é possível constatar que a geometria analítica relaciona a álgebra com a geometria, pois permite que os problemas de geometria sejam resolvidos a partir de procedimentos algébricos, bem como as relações algébricas podem ser analisadas geometricamente. Concordamos com Richt (2005) que essa relação se torna um processo de fundamental importância para a apreensão dos conceitos da área. Além disso, por essa característica especial de relacionar a geometria com a álgebra, a geometria analítica se estabelece como uma das bases do currículo do curso de Matemática, tanto do curso de Licenciatura quanto de Bacharelado. Essa base não é apenas restrita à Matemática, ela se apresenta no currículo de diversos cursos da área de ciências exatas e tecnologia. Além disso, se destaca como um campo de exploração das várias representações matemáticas. Nessa perspectiva se faz importante o trabalho voltado à significação do conhecimento matemático por meio da coordenação dos Registros de Representação Semiótica, na medida em que a aprendizagem em Matemática se constitui um conjunto de habilidades cognitivas que envolvem a conceitualização, o raciocínio, a resolução de problemas além da interpretação dos textos matemáticos, e isso é possível a partir da mobilização de um sistema de expressão e de representação afora da linguagem natural ou de imagens (DUVAL, 2009). Considerando a importância da articulação entre os Registros de Representação para a aprendizagem em Matemática, este estudo resulta de um recorte de nossa pesquisa de Mestrado. Aqui buscamos compreender as perspectivas de uma professora que lecionou uma disciplina eletiva denominada Tópicos Especiais em Ensino de Matemática em Universidade Comunitária do interior do RS, em relação ao ensino dos conceitos da Geometria Analítica para licenciandos que estavam no último semestre do curso. A metodologia da pesquisa é qualitativa, na forma de estudo de caso. Sendo assim, é destinado um olhar para as concepções da professora e sua vivência de ensino e aprendizagem da geometria analítica. Os dados foram coletados por meio de uma entrevista semiestruturada constituída de cinco questões que a professora respondeu oralmente e foram gravadas, transcritas e analisadas por esta pesquisadora. 2

O ensino da Geometria Analítica pautado pelos Registros de Representação Os estudos dos conteúdos de geometria analítica oportunizam ao aluno a realização de transformações de problemas geométricos ao tratá-los na resolução de equações, sistemas e inequações. Para tanto, é importante que o aluno perceba que um mesmo problema pode ser tratado com instrumentos diversos conforme suas características, como na proposta dos PCN+: [...] a construção de uma reta que passe por um ponto dado e seja paralela a uma reta dada pode ser obtida de diferentes maneiras. Se o ponto e a reta estão desenhados em papel, a solução pode ser feita por meio de uma construção geométrica, usando-se instrumentos. No entanto, se o ponto e a reta são dados por suas coordenadas e equações, o mesmo problema possui uma solução algébrica, mas que pode ser representada graficamente (BRASIL, 2002, p. 124). A geometria analítica não se restringe a simples aplicações de conceitos de uma área em outra, Munhoz (1999 apud RICHT, 2005) destaca que a geometria analítica proporciona um diálogo entre a geometria e a álgebra, intercalado pela língua natural. Sendo assim, qualquer problema proposto em geometria analítica pode ser interpretado geométrica e algebricamente. É importante, no processo de ensino da geometria analítica, que o professor compreenda a especificidade do conhecimento matemático, pois a diferença entre aprender matemática e aprender outras áreas do conhecimento não deve ser procurada nos conceitos. Duval (2010) destaca duas características que explicariam essa especificidade da aprendizagem matemática, sendo a primeira a grande importância das representações semióticas, pois, segundo o autor: É suficiente observar a história do desenvolvimento da matemática para ver que o desenvolvimento das representações semióticas foi uma condição essencial para a evolução do pensamento matemático. [...] há o fato de que as possibilidades de tratamento matemático [...] dependem do sistema de representação utilizado [...] há o fato de que os objetos matemáticos, começando pelos números, não são objetos diretamente perceptíveis ou observáveis com a ajuda de instrumentos. O acesso aos números está ligado à utilização de um sistema de representação que os permite designar (DUVAL, 2010, p. 13-14). A segunda característica destacada pelo autor é o fato de haver uma grande variedade de representações semióticas utilizadas em Matemática, pois, além dos sistemas de numeração, existem as figuras geométricas, as escritas algébricas e formais, as representações gráficas e a 3

língua natural, mesmo se ela é utilizada de outra maneira que não a da linguagem corrente (DUVAL, 2010, p. 14). Nesse sentido, a aquisição de um conceito por meio da mobilização e coordenação de vários registros de representação ocorre através do entendimento de que as atividades cognitivas de tratamento e conversão são transformações bem diferentes. No tratamento as transformações ficam num mesmo sistema semiótico, já na conversão muda o sistema, permanecendo a referência ao mesmo objeto, por exemplo, o tratamento algébrico dos elementos de uma reta (DUVAL, 2009). No Quadro 1 é apresentada uma categorização dos diferentes registros de representação utilizados para a exploração dos conceitos da geometria analítica, bem como seus sistemas de representações semióticas correspondentes, baseados na classificação dos diferentes registros mobilizáveis no funcionamento cognitivo matemático, proposto por Duval (2010). 4

Quadro 1: Representações semióticas dos conceitos da geometria analítica (CARDOSO, 2014, p. 67). Neste momento, apresentamos as análises em relação às concepções da professora sobre o ensino da geometria analítica e às suas perspectivas quanto ao ensino desse conteúdo em um curso de Licenciatura em Matemática. As percepções da professora colaboradora em relação ao ensino da geometria analítica As análises se pautam nas percepções da professora sobre os conceitos da geometria analítica que ela considera que precisam ser tratadas tanto na Educação Básica quanto no Ensino Superior, bem como a sua análise em relação à importância das representações semióticas para a compreensão em Matemática. Apresentamos no quadro 2 as perguntas respondidas pela professora que desencadearam as análises realizadas neste estudo. 5

Quadro 2: Perguntas propostas à professora formadora (CARDOSO, 2014). A professora formadora destacou, inicialmente, que no ano de 2011 trabalhou a geometria analítica no Ensino Médio já como professora da Educação Básica, nessa experiência ela buscou explorar a relação entre a geometria analítica e a função afim, na exploração da equação da reta. A professora destaca ainda que optou por trabalhar com o auxílio do software Geogebra, mencionando que: [...] trabalhei utilizando o software Geogebra para poder articular melhor. Porque em relação à geometria espacial, eles tiveram mais dificuldades que na geometria analítica [...] na espacial eles tinham sempre os sólidos geométricos e eles faziam as relações algébricas com maior facilidade do que na geometria analítica (Professora, Entrevista, 2012). Podemos destacar dessa fala que é preciso lançar mão de mais de um registro de representação para que se atribua significado e se obtenha a compreensão do objeto matemático. A professora entende que, na exploração da geometria analítica e na sua abordagem em sala de aula, tanto na Educação Básica quanto no Ensino Superior, o ensino deve potencializar As relações, porque não basta apenas escrever a equação da reta, ou, por exemplo, nas retas paralelas, os coeficientes angulares devem ser iguais, e [...] apenas manipular a equação e verificar isso algebricamente, e graficamente? [...] Pode-se trabalhar articulando com a ideia de função. [...] Então relacionar as representações é fundamental (Professora, Entrevista, 2012). Nessa fala, podemos identificar que a professora defende a ideia de articular não só os registros de representação, mas também os conteúdos matemáticos. Acreditamos que esse tipo de abordagem proporcione a significação de tais conceitos por parte dos alunos de maneira mais efetiva. 6

A importância que a professora dedica à articulação entre os conceitos e entre os diferentes registros de representação pode ser identificada quando ela revela que [...] precisa ser trabalhado no Ensino Médio [...] a ideia de distância entre dois pontos, ponto médio...determinar a área de um triângulo pela geometria analítica relacionando com determinantes, é interessante, um outro olhar, outra possibilidade, [...] talvez o professor só trabalha o procedimento de resolução. [...] a partir do determinante. Mas o porquê disso? É possível relacionar com a geometria plana, apresentar essas questões... Se for relacionado, fica interessante. Se for só um amontoado de fórmulas, não terá significado pelo aluno. (Maria, Entrevista, 2012). Quando a professora refere-se ao termo "um amontoado de fórmulas", entendemos que fica implícito em sua fala que sua intencionalidade quando trabalha a geometria analítica é de dar significado às equações; para tanto, ela considera o registro gráfico como um importante aliado nesse processo, visto que a geometria analítica propõe essa relação entre a geometria e a álgebra, ou seja, é importante que o professor não a explore via um único registro. Ao destacar que é importante trabalhar a ideia da distância entre dois pontos, ponto médio, determinação de área de triângulos sob um enfoque da geometria analítica estabelecendo a relação com os determinantes, é possível observar traços dessa intencionalidade. Ela destaca a importância em trabalhar com o software como recurso desde o curso de formação inicial, para que o licenciando atribua significado as demonstrações e possa trabalhar depois em sala de aula. [...] é um trabalho que precisa ser com o professor, iniciar na sua formação [...] se o professor consegue atribuir significados para as demonstrações com o futuro professor, ele vai fazer na sua sala de aula com os alunos, procurando encaminhar à significação, mobilizando os conceitos, mas se ele não compreender, não vai fazer, vai centrar o ensino da geometria analítica apenas nas fórmulas (Professora, Entrevista, 2012). Ao mencionar sua intencionalidade de ensino da geometria analítica na disciplina que iria lecionar, a professora afirma que O objetivo principal é retomar os assuntos que são foco da Educação Básica...via resolução de problemas,... a pretensão é de trabalhar com eles e enfatizar o olhar da geometria... [grifo nosso] trabalhando com as várias representações e usando os softwares. [...]. A ideia é articular os elementos da geometria com a álgebra, e também fazer o contrário, a álgebra e os elementos da geometria (Professora, Entrevista, 2012). 7

Nesse trecho, é possível identificar que ela considera o contexto em que desenvolveria sua prática, ou seja, em um curso de formação de professores de Matemática, portanto, o planejamento de ensino desenvolvido precisava potencializar a significação dos conceitos, propiciando aos licenciandos uma análise dessa situação didática em relação às suas próprias práticas, presentes e futuras. Acreditamos que nesse contexto seja necessário que eles cheguem à reflexão de como as atividades de ensino propostas pela professora poderiam possibilitar que os alunos da Educação Básica atribuíssem significados aos elementos da geometria analítica. A professora, em relação à escolha pela utilização de softwares como recursos que auxiliam na tarefa de compreensão e atribuição de significado para a geometria analítica, destaca que esse recurso possibilita [...] articular os elementos da geometria com a álgebra, e também fazer o contrário, a álgebra e os elementos da geometria. Porque quando se trabalha com o Geogebra, o que eles [os licenciandos] vão fazer: eles têm os elementos da geometria e articulam com a álgebra (Professora, entrevista, 2011). Podemos perceber por meio dessa fala que a ideia da professora era de explorar as atividades cognitivas em diversos sentidos. A professora também reafirma a sua ideia de levar os licenciandos, a partir da manipulação do software, a analisar e a formalizar os conceitos. Algumas Considerações A partir das análises realizadas entendemos que a professora formadora considera a importância em articular as diferentes representações do objeto matemático para que ocorra a aprendizagem dos conteúdos da geometria analítica. Destacamos ainda, que, em sua fala fica explicito o seu entendimento quanto à riqueza de representações que podem ser exploradas em geometria analítica. Nessa perspectiva, identificamos que ela considera a relevância de levar os licenciandos a estabelecer e analisar as relações entre as representações (geométrica, algébrica, numérica) do objeto matemático. Consideramos esse tipo de trabalho fundamental, principalmente ao que tange à formação de professores. Além disso, acreditamos que importância que a professora formadora destina a utilização de um software no ensino da geometria analítica é plausível, visto que o mesmo permite transitar 8

entre os conceitos matemáticos a partir de análises que podem ser feitas observando os movimentos na tela do computador conforme as variações de parâmetros. A partir das análises realizadas, evidenciamos que a metodologia de ensino escolhida pela professora, resolução de problemas, e a possibilidade de manipulação do software trazem importantes contribuições no sentido de explorar as múltiplas representações a partir de diferentes perspectivas, o que amplia a compreensão dos conceitos por parte dos alunos. Cabe destacar que a tarefa de professor em um curso de licenciatura é fundamental e acarreta uma enorme responsabilidade, visto que é na formação inicial que o futuro professor constrói sua bagagem teórica e delineia sua constituição profissional. Geralmente o licenciando é influenciado por seus mestres ao desencadear suas primeiras ações educativas. Esperamos que a professora colaboradora deste estudo espelhasse em seus alunos a sua forma de trabalho e que eles entendessem a importância da proposta dela, de analisar, criticar, construir e descontruir o seu planejamento. Referências Bibliográficas BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. PCN+- Ensino Médio. Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias: Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: SEMTEC, 2002. CARDOSO, F.C. O ensino da geometria analítica em um curso de licenciatura em matemática: uma análise da organização do processo educativo sob a ótica dos registros de representação semiótica. Dissertação (mestrado) Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Educação nas Ciências. Ijuí, 2014.142 f. DUVAL, R. Semiósis e Pensamento Humano Registros semióticos e aprendizagens intelectuais. Tradutores- Lênio Fernandes Levy e Maria Rosâni Abreu da Silveira- São Paulo. Livraria da Física, 2009.. Registros de Representação Semióticas e Funcionamento Cognitivo da Compreensão em Matemática. In: MACHADO, Silvia Dias Alcântara (org.). Aprendizagem em Matemática: registros de representação semiótica- Campinas, São Paulo. Papirus, p. 11-33. 2010. RICHIT, Adriana. Projetos em geometria analítica usando software de geometria dinâmica: repensando a formação inicial docente em matemática. 2005. 169 f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2005. 9

SBEM - SOCIEDADE BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA. Subsídios para a discussão de propostas para os cursos de Licenciatura em Matemática: uma contribuição da Sociedade Brasileira de Educação Matemática. 2003. Disponível em: <http//:www.sbem.com.br>. Acesso em: 16 nov. 2013. 10