Desenvolvimento da lagarta da couve, Ascia manuste orseis: Lepidoptera: Pieridae, sob alimentação impregnada de solução aquosa extraída de espécies vegetais. Édina Cristina Rodrigues de F. Alves 1 ; José Maria F. de Assis 1 ; Celia T. Arimura 1. 1 UEMG-Campus Ituiutaba Rua Geraldo Moisés da Silva, s/nº, CEP 38.302-192, Ituiutaba, MG. RESUMO Estudou-se em laboratório, o efeito de extratos aquosos de citronela, teca, jaborandi e juá-de-capote sobre o ciclo de vida da lagarta da couve. Para isso, as lagartas foram alimentadas desde a eclosão, com folhas de couve previamente impregnada com os respectivos extratos aquosos. Os indivíduos foram avaliados durante as fases de larva e pupa, considerando o comprimento, diâmetro da caixa encefálica, longevidade e a área de folha consumida. Esses parâmetros não foram integralmente avaliados nas lagartas tratadas com jaborandi e juá-de-capote, já que a taxa de mortalidade foi muito elevada. Naquelas tratadas com citronela, observou-se consumo foliar normal e elevada taxa de emergência, enquanto que com a teca, ocorreu o inverso.
Palavras-chave: Brassica oleraceae var. acephala, plantas inseticidas, ciclo de vida. ABSTRACT Development of caterpillar, Ascia manuste oeseis: Lepidoptera: Pieridae, under on alimentation impregnated with aqueous solution extracted from vegetable species. A study has been held in laboratory, about the effect of aqueous extracts of Cymbopogon citratus, Tectona grandis, Policarpus jaborandi e Physalis angulata, on the cycle of life of the cabbage caterpillar. For this purpose, the caterpillars were fed, since the eclosion, with leaves of the cabbage previously impregnated with the respective aqueous extracts. The animals were appraised during the grub and pupa stages, considering the diameter of the encephalon, length, longevity and area of leaf eaten. These parameters weren t integrally appraised on the caterpillars fed with P. jaborandi and P. angulata, once the tax of mortality was very high. On the ones fed with C. citratus, it was observed a normal leave consume and elevated tax of emergence, while in T. grandis, the inverse happened. Keywords: Brassica oleraceae var. acephala, insecticidal plants, cycle of life. INTRODUÇÃO Inseticidas tradicionais, além do vasto leque de atuação dentro do nicho ecológico, permitem a seleção de grupos de insetos resistentes, o que realmente tem dificultado bastante o controle das pragas através desse método (OMOTO et al, 2000). Assim, as pragas constituem problema sério para a agricultura, pelos prejuízos diretos que causam e pelo manejo (GUEDES et al., 2000). Trabalhos alertam de uma forma contundente e preocupante, sobre os problemas advindos do uso incorreto de produtos químicos, desde a resistência até ao aparecimento de novas pragas, desequilíbrios biológicos e efeitos prejudicial ao homem (PARRA, 2000). Dezenas de trabalhos científicos envolvendo plantas inseticidas evidenciam resultados incontestáveis, como ressaltam Martinez (2002) ao citar a ação inseticida do Nim sobre mais de 400 espécies de insetos pragas. A convivência com todos esses tipos de problemas e a ânsia em colaborar para resoluções de forma segura, dentro dos parâmetros ecologicamente corretos, determinaram o objetivo deste trabalho: acompanhar o desenvolvimento e o comportamento da lagarta da couve, Ascia monuste orseis, tratada com extratos aquosos de quatro espécies vegetais. MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Biologia Vegetal da UEMG - Campus Ituiutaba, de fevereiro a junho de 2004, onde a UR média foi igual a 65,0 15,0%, fotofase de 12h e temperatura média igual a 28,0 3,0 C. Folhas de Cymbopogon citratus (Citronela=Ci), Tectona grandis (Teca=Te), Policarpus jaborandi (Jaborandi=Jb) e Physalis angulata (Juá-de-capote=Jc), foram coletadas e desidratadas em estufa a 40 C, por 48 horas. Depois de trituradas, o material foi misturado em água destilada na razão de 5g de pó por 100mL de solvente, e mantidos em frascos fechados. Após 24h, as suspensões foram filtradas para obtenção de extratos aquosos a 5%, os quais foram devidamente acondicionados em geladeira. Ovos de Ascia monutes orseis foram coletados em folhas de couve-manteiga (Brassica oleracea var. acephala). Lagartas no primeiro ínstar foram individualmente colocadas em copos plásticos de 100mL, juntamente com um pequeno chumaço de algodão embebido em água destilada, mais um disco de couve de 1,5cm de diâmetro, previamente introduzido no extrato aquoso, com leve agitação e enxuto naturalmente (testemunha = T, o disco em água destilada). Os copos depois de tampados, foram dispostos sobre uma mesa em seqüência aleatória, onde recebiam assepsia diária, como a troca dos chumaços e limpeza dos resíduos. Novos discos de couve foram introduzidos assim que as lagartas se apresentavam sem alimentação. Nos copos onde o alimento era recusado, os discos eram trocados diariamente. Medidas sobre os parâmetros biológicos e consumo de alimento, foram feitos em intervalos de dois dias, sendo as médias comparadas pelo Teste Student (P < 0,05). RESULTADOS E DISCUSSÃO As lagartas que receberam as essências vegetais Jb e Jc apresentaram dimensões e longevidade larvais inferiores àquelas que foram alimentadas com Ci e Te, justamente porque apenas algumas ultrapassaram o segundo ínstar. Entretanto, os indivíduos alimentados com Jc, ainda foram menores e duraram menos do que aqueles que receberam Jb. Martinez e Enden (2001), observaram que Azadirachta indica em Spodeptera littoralis, aumentou a longevidade, não da fase de pupa, mas sim do período larval, além de provocar, evidentemente, atraso das ecdises; em concentrações mais elevadas, observaram situação análoga ao presente trabalho. Alves e Assis (2003), observaram que Azaderachta indica, na concentração de 5,0%, é mais efetiva no controle da lagarta Ascia monuste orseis quando esta se encontra no primeiro ínstar. Em relação à fase de pupa, só foi possível comparar os indivíduos dos tratamentos Ci e Te, uma vez que aqueles que receberam Jb e Jc, não atingiram essa fase. Entre os dois tratamentos que permitiram observações, os resultados colhidos demonstraram o mesmo comportamento entre espécies vegetais e testemunha. Bogorni e Vendramim (2005),
acompanhando o efeito de extratos aquosos de Trichilia sp sobre Spodoptera frugiperda, também observaram ação da planta sobre o desenvolvimento e sobrevivência das lagartas e pupas. Entre os tratamentos que apresentaram indivíduos em todas fases, observou-se que Te foi mais consumido que a testemunha, talvez por possuir algum princípio ativo que direta ou indiretamente, torna as lagartas mais vorazes. Entre os tratamentos de maior eficiência inseticida (Jb e Jc), observou-se maior consumo entre os indivíduos alimentados por Jb, ao passo que em termos de porcentagem de emergência de adultos, aqueles alimentados com Ci alcançaram a maior porcentagem. Trabalhos realizados por Gonçalves et al (2001), mostraram que extrato de Azadirachta indica 2,5 e 5%, são promissores para o tratamento de Mononychellus tanajoa, devido à sua ação letal na fase embrionária e estágio imaturo das fêmeas. Todavia, observaram também que larvas de Plutella xylostella alimentadas com extratos de Melia azedarach, tiveram um alongamento da fase larval em 3,5 dias, conforme situação análoga no presente trabalho, considerando o elevado consumo de alimento impregnado com Teca. As lagartas alimentadas com Ci e Te, apresentaram todas as fases do ciclo de desenvolvimento, a exemplo da testemunha. Entretanto, no tratamento Ci observou-se maior número de indivíduos tanto no segundo ínstar, como na emergência de adultos. Verificou-se que as espécies vegetais Jb e Jc têm ação inseticida, concordando com Alves et al. (2004), quando concluíram que Azadirachta indica tem capacidade de eliminar a praga Ascia monuste orseis, enquanto Melia azedarach, apresentou ação repelente. As plantas inseticidas têm mostrado efeito inseticida em diversas modalidades de emprego, conforme ressaltam Souza e Vendramim (2005), quando observaram ação inseticida da Azadirachta indica sobre Bemisia tabaci biótipo B, ocasião em que utilizaram extratos aquosos em três modalidades: translaminar, sistêmica e contato. Assim, os resultados obtidos no presente trabalho, permitiram concluir que Juá-de-capote e Jaborandi exerceram ação inseticida sobre a lagarta da couve, enquanto que Citronela e Teca, apresentaram efeitos opostos. LITERATURA CITADA ALVES, E.C.R.F.; ASSIS, J.M.F. Tratamento de lagarta da couve (Ascia monuste orseis) a partir de extratos aquosos de espécies silvestres. In: 5º SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA e 2º ENCONTRO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DA UEMG, 5., 2003, Carangola (MG). Resumo Expandido, CD-ROM. ALVES, E.C.R.F.; ASSIS, J.M.F; ARIMURA, C.T. Efeitos de extratos aquosos de plantas sobre o ciclo de vida da lagarta da couve: Ascia monuste orseis: Lepidoptera: Pieridae. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 44., 2004, Cuiabá (MT). Resumo Expandido, CD-ROM.
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