Farid Nourani. Sistema de Informação sobre Violência Urbana (SiViU) como apoio à tomada de decisão em políticas públicas de cidades médias



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Transcrição:

i unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas Campus de Rio Claro Farid Nourani Sistema de Informação sobre Violência Urbana (SiViU) como apoio à tomada de decisão em políticas públicas de cidades médias Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas do Campus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, como parete dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Geografia, Área de Concentração Organização do Espaço. Orientadora: Profa. Dra. Maria Isabel Castreghini de Freitas Rio Claro (SP) 2010

ii 910.0285 Nourani, Farid N931s Sistema de Informação sobre Violência Urbana (SiViU) como apoio à tomada de decisão em políticas de cidades médias / Farid Nourani. Rio Claro : [s.n.], 2010 257 f. : il., figs., gráfs., forms., tabs., quadros, mapas Tese (doutorado) Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas Orientador: Maria Isabel Castreghini de Freitas 1. Geografia Programas de computador. 2. Sistema de Informação para mapeamento criminal. 3. SIG. 4. Segurança pública. I.Título. Ficha Catalográfica elaborada pela STATI Biblioteca da UNESP Campus de Rio Claro/SP

iii Autor: Farid Nourani Título do Trabalho: Sistema de Informação sobre Violência Urbana (SiViU) como apoio à tomada de decisão em políticas públicas de cidades médias. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, Área de Concentração Organização do Espaço, do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, Campus de Rio Claro, na Linha de Pesquisa Análise Ambiental e Sistemas de Informação Geográfica, para obtenção do título de Doutor em Geografia. Aprovada em: 30 de novembro de 2010. Comissão Examinadora: 01. Profa. Dra. Maria Isabel Castreghini de Freitas Orientadora DEPLAN - IGCE 02. Profa. Dra. Sueli Andruccioli Felix FFC UNESP Marília (SP) 03. Prof. Dr. Lindon Fonseca Matias IG UNICAMP Campinas (SP) 04. Profa. Dra. Maria Cecília V. S. Carneiro DEMAC - IGCE 05. Profa. Dra. Magda Adelaide Lombardo DEPLAN - IGCE Candidato: Farid Nourani

iv

v Agradecimentos Em especial meu agradecimento à Prof.ª Dr.ª Maria Isabel Castreghini de Freitas pela confiança depositada em mim, pela ajuda, orientação, incentivo e apoio neste trabalho e pela gentil amizade sincera de sempre. Aos amigos e colegas do GestaFUV, que sempre me incentivaram e ajudaram para concretização desta etapa. Em especial agradeço ao José Sílvio Govone, pela amizade e incentivo, mas sobretudo pelo apoio firme e irrestrito no desenvolvimento das minhas atividades e à Maria Cecília Carneiro, pela amizade e apoio e principalmente pelo seu verdadeiro e sincero coleguismo no desenvolvimento deste trabalho, ajudando em todos os momentos e etapas do trabalho. Ao amigo e colega José Gustavo Viégas Carneiro, pela amizade, apoio e pela valiosa troca de ideias, compartilhando a experiência e o conhecimento especializado da área de segurança pública. Aos alunos do curso de computação do IGCE-UNESP de Rio claro que contribuíram no desenvolvimento do sistema, com seus trabalhos de conclusão de curso ou iniciação científica, escovando bits, fuçando a internet, batendo a cara e achando a trilha para programar os módulos e rotinas necessários, em especial ao Thiago Luís Lopes Siqueira, Vitor Hugo Okudaira Petrone, Vânia de Oliveira Neves, Bruno Mazotti, Danilo Rodrigues Pereira e Eduardo Hideo Kuroda. Aos colegas e amigos do DEMAC que souberam me apoiar com sua amizade e estímulo. Aos meus familiares pela atenção, compreensão e torcida pelo êxito na vida. À amiga Maria Tereza Camargos de Mendonça, pela amizade sincera e também pela grande ajuda na aplicação dos questionários. À Dona Nadereh Bassrei, que sempre me oferece seu afeto e amor generosos e é um exemplo de constância e resignação. Às famílias Bassrei, Copi, Rezvani, Belo, Golshan, Pereira, Anvary, Lopes, Wanderley, Shougi, Dantas, Shahid, Nascimento, Nikobin, Prieto, Bassiri, Gonçalves, Anvari, Reis, pelos maravilhosos momentos de convívio que me proporcionaram força em muitos momentos de fraqueza.

vi SUMÁRIO Resumo... vii Abstract... viii Lista de Figuras... ix Lista de Quadros... xi Lista de Tabelas... xi Lista de Abreviaturas e Siglas... xii Índice Geral... xv Introdução... 17 Capítulo I O Escopo do Estudo e suas Características Principais... 29 Capítulo II Fundamentação Conceitual... 55 Capítulo III Abordagem Metodológica... 117 Capítulo IV Levantamento do Perfil das Cidades de Médio Porte do Estado de São Paulo... 134 Capítulo V SiViU: Sistema de Informação sobre Violência Urbana... 153 Considerações Finais... 175 Referências Bibliográficas... 181 Apêndices... 191 Anexos... 234

vii Resumo Esta tese discute o uso das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) como um importante e necessário suporte no processo de tomada de decisão dos administradores públicos em cidades médias do estado de São Paulo. Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa realizada nas cidades médias da Região administrativa de Campinas. O principal objetivo desta pesquisa foi o levantamento da realidade das administrações municipais destas cidades, quanto ao uso de recursos da TIC. Neste trabalho apresenta-se também um software chamado SiViU (Sistema de Informação sobre Violência Urbana), desenvolvido como parte da contribuição desta tese. Este software pode ser usado como uma ferramenta de apoio aos gestores municipais de cidades médias, oferecendo informações sobre diversos aspectos da violência urbana, enriquecidas com recursos estatísticos e informações georreferenciadas Este sistema, incorpora algumas características dos Sistemas de Apoio à Decisão (SAD) e Sistemas de Informação Geográfica. A Região Administrativa de Campinas é a segunda região mais importante do estado de São Paulo, após a região metropolitana do capital, que tem apresentado altos níveis de violência na última década. Levando em consideração o significativo impacto da violência sobre a sociedade, é obrigação das autoridades publicas, bem como dos pesquisadores a oferecerem ferramentas técnicas e tecnológicas para reduzir os níveis da violência. O principal intuito do SiViU é oferecer aos gestores públicos municipais um conjunto de recursos da tecnologia da informação como ferramentas de suporte em seus processos de tomada de decisão em politicas públicas sociais e de segurança que possam reduzir, com maior eficiência, a ocorrência de diversos tipos de violência urbana. Palavras-Chaves: Mapeamento Criminal, Sistema de Informação sobre violência urbana, Segurança Pública, Políticas Públicas, Sistemas de Informação Geográfica.

viii Abstract This thesis discusses the use of new Information and Communication Technologies (ICT) as an important and necessary support in the decision making process by public administrators in the medium-sized cities of São Paulo state. It presents the results of research that was conducted in all the medium-sized cities of the Campinas Administrative Region. The main objective of this research was to investigate the use of ICT resources in their municipal institutions. This work also presents a software called Information System about Urban Violence (SiViU) an acronym that stands for Sistema de Informação sobre Violência Urbana) which was developed as a part of its contributions. This software can be used to give support to public administrators of medium-sized cities with information about several aspects of urban violence, enriched by statistical, graphical and geo-referenced resources. This system incorporates some features of both Decision Support Systems and Geographical Information Systems. The Campinas Administrative Region is the second most important region of São Paulo state, after the Metropolitan Region of São Paulo City, which has presented a high degree of violence in the past decade. Considering the significant impact that violence has on society, it has become the responsibility of all public authorities and academic researchers to propose technical and technological instruments to reduce the high incidence of violence. The main purpose of SiViU is to provide public administrators with a set of information technology tools to support their decision making process for development of social and security politics that can more effectively reduce the occurrence of several types of urban violence. Keywords: Crime mapping, urban violence information system, public security, public politics, geographical information systems.

ix Lista de Figuras Figura 1: Localização da Região Administrativa de Campinas do Estado de São Paulo.... 35 Figura 2: A composição da Região Administrativa de Campinas, com destaque para Regiões de Governo e suas cidades sedes... 36 Figura 3: A Região Administrativa de Campinas e a sua Malha Viária.... 39 Figura 4: Taxas anuais de Homicídios, por 100 mil habitantes, do Brasil, das regiões b rasileiras e dos estados do RJ e SP, referentes à década 1997/2007.... 43 Figura 5: Taxas de Homicídios Dolosos do Estado de São Paulo e das 10 cidades mais populosas da Região de Campinas, referentes à década 2000/2009.... 46 Figura 6: Taxas de Furtos do Estado de São Paulo e das 10 cidades mais populosas da Região de Campinas, referentes à década 2000/2009.... 46 Figura 7: Taxas de Roubos do Estado de São Paulo e das 10 cidades mais populosas da Região de Campinas, referentes à década 2000/2009.... 47 Figura 8: Taxas de Roubos do Estado de São Paulo e das 10 cidades mais populosas da Região de Campinas, referentes à década 2000/2009.... 48 Figura 9: Organograma da Secretaria de Estado de Segurança Pública, SP.... 52 Figura 10: Organogramas do DINTER 2 e DINTER 9 da Polícia Civil de São Paulo... 53 Figura 11: Organograma da Polícia Militar do Estado de São Paulo.... 54 Figura 12: Visão macro de um Sistema de Informação.... 62 Figura 13: A interação entre diversas categorias de Sistemas de Informação.... 65 Figura 14: Interdependência entre uma organização e um Sistema de Informação.... 67 Figura 15: Arquitetura de um SI, desenvolvido com tecnologia de BD.... 72 Figura 16: Os 3 níveis de modelagem de um Banco de Dados.... 73 Figura 17: Mapa usado para auxiliar a especificação do caso de exemplo.... 74 Figura 18: Digrama MER do Esquema Conceitual do caso de exemplo.... 75 Figura 19: Esquema Lógico do caso exemplo, feito no Modelo Relacional.... 77 Figura 20: Parte do Esquema Físico do caso exemplo, descrito em SQL... 79 Figura 21: A capacidade de integração da Tecnologia SIG.... 85 Figura 22: Representações Matricial e Vetorial de uma mesma imagem.... 86 Figura 23: Estrutura Geral de um SIG e a Interação entre seus Componentes.... 87 Figura 24: As duas Arquiteturas de SIG, quanto ao uso de um SGBD.... 88 Figura 25: A Estrutura do SINASPJC... 97 Figura 26: Visualização de Boletins de Ocorrência no Infocrim.... 103 Figura 27: Esquema de integração de bases de dados pelo sistema Ômega da SSP-SP.... 105 Figura 28: A Tela inicial do sistema Ômega.... 106 Figura 29: A interface padrão de consultas do sistema Ômega.... 108 Figura 30: Uma das telas de Consulta do Sistema Terracrime.... 112 Figura 31: Tela inicial do Portal do Sistema Wikicrimes.... 114 Figura 32: Parte da tela do Wikicrimes, destacando a região metropolitana de Fortaleza.... 115 Figura 33: Tabulação das respostas dos questionários no Esquema elaborado para esta finalidade.... 129 Figura 34: Participação das cidades com número de questionários respondidos.... 139 Figura 35: Conhecimento sobre agentes responsáveis por gerenciamento de dados e/ou elaboração de estatísticas de violência e criminalidade. 142 Figura 36: Conhecimento sobre sistema de coleta de dados e de elaboração de estatísticas. 143 Figura 37: O conceito dos gestores municipais sobre a visão dos governos e do seu próprio órgão sobre o uso da TI.... 145

Figura 38: A opinião de gestores municipais sobre a estratégia do órgão em que trabalham em relação ao uso de TI no município.... 146 Figura 39: A subnotificação da violência (a) e o nível de confiabilidade das estatísticas (b).... 149 Figura 40: Uso de recursos de TI e apoio especializado no processo de tomada de decisão dos gestores municiapais...... 151 Figura 41: A estrutura de pacotes correspondente à Arquitetura em Camadas do SiViU.... 158 Figura 42: A Estrutura do SiViU.... 160 Figura 43: Esquema Conceitual do Banco de Dados do SiViU em diagramas do MER.... 162 Figura 44: Esquema Conceitual do Banco de Dados do SiViU, em Diagramas de Classes.. 162 Figura 45: Exemplo de consulta com mapeamento de ocorrências no SiViU.... 165 Figura 46: Exemplo de consulta gerando gráfico de histograma.... 165 Figura 47: Tela de 'login' do SiViU.... 167 Figura 48: Tela principal do SiViU.... 168 Figura 49: Esquema de coleta de dados do SiViU... 169 x

xi Lista de Quadros Quadro 1: Características de diversas categorias de Sistemas de Informação.... 65 Quadro 2: Exemplos de sistemas de informação em diferentes áreas de uma organização... 66 Lista de Tabelas Tabela 1: População das Regiões de Governo da Região Administrativa de Campinas.... 37 Tabela 2: Distribuição populacional da RA de Campinas em faixas etárias, com destaque para faixas que compõem a idade produtiva.... 38 Tabela 3: A Relação das cidades mais populosas do Estado de São Paulo, com destaque para as cidades consideradas de Médio Porte.... 123 Tabela 4: Composição da Região Administrativa de Campinas em várias faixas populacionais, com população absoluta e relativa de cada grupo.... 125 Tabela 5: Os 30 municípios mais populosos da Região Administrativa de Campinas, com destaque para os municípios escolhidos, considerados de médio porte.... 126 Tabela 6: Informações relevantes sobre as cidades pesquisadas.... 140

xii Abreviações e Siglas AFIS Automated Fingerprint Identification System (Sistema Automatizado de Identificação de Impressões Digitais) AISP Áreas de Interesse de Segurança Pública Alpha Sistema de Gerenciamento Digital de Documentos Civis e Criminais da SSP-SP API Application Programming Interface BO Boletim de Ocorrência Policial BPAmb Batalhão de Polícia Ambiental BPM/I Batalhão de Polícia Militar do Interior BPRv Batalhão de Polícia Rodoviária Militar BSD Berkeley Software Distribution CAP Coordenadoria de Análise e Planejamento da SSP-SP CAS Content Addressed Storage (Armazenamento Endereçável por Conteúdo) CCB Comando do Corpo de Bombeiros CEPERJ Fundação Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro CIRETRAN Circunscrição Regional de Trânsito CPI Comando de Policiamento do Interior CPP Cartão de Prioridade de Patrulhamento CPRv Comando de Policiamento Rodoviário DAO Data Access Object DATASUS - Departamento de Informática do SUS, órgão do Ministério da Saúde DBMS Data Base Management System DCI Divisão de Contra-Inteligência Policial DDL Data Definition Language DDM Delegacia de Defesa da Mulher DEIC Departamento de Investigações sobre Crime Organizado DEMAC Departamento de Estatística, Matemática Aplicada e Computação DENARC Divisão Estadual de Narcóticos DETRAN Departamento Estadual de Trânsito DHPP Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa DICOM Divisão de Comunicações (da DIPOL de São Paulo) DIG Delegacia de Investigações Gerais DINTER Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior DIP Divisão de Inteligência Policial DIPOL Departamento de Inteligência da Polícia Civil (de São Paulo) DISE Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes DML Data Manipulation Language DOIP Divisão de Operações de Inteligência Policial DP Delegacia de Polícia DPI Divisão de Processamento de Imagens do INPE DSS Decision Support Systems DTI Divisão de Tecnologia da Informação(da DIPOL de São Paulo) ENUDC Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crimes EPC Equipe de Perícias Criminalísticas EPML Equipe de Perícias Médico Legais ERM Entity-Relationship Model ESS Executive Support Systems

FAPESP Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo FEE Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul FGV Fundação Getúlio Vargas FHC Ex-Presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso FJP Fundação João Pinheiro de Minas Gerais Fotocrim Sistema de Identificação Automatizado com Banco de Imagens Criminais da Polícia Militar do Estado de São Paulo GB Grupamento de Bombeiros GCM Guarda Civil Municipal GestaFUV Grupo de Estudo e Análise de Fenômenos Urbanos da Violência GIS Geographic Information System GM Guarda Municipal GCM Guarda Civil Municipal HTML HyperText Markup Language HTTP HyperText Transfer Protocol IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBM International Business Machines IC Instituto de Criminalística IDE Integrated Development Environment IGCE Instituto de Geociências e Ciências Exatas IIRGD Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt (SSP-SP) IMESP - Imprensa Oficial do Estado de São Paulo S.A IML Instituto Médico Legal Infocrim Sistema de Informações Criminais da SSP-SP INFOSEG Rede Informatizada de Informações de Segurança Pública da SENASP INI Instituto Nacional de Identificação INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social ITI Instituto Nacional de Tecnologia da Informação ligado à Casa Civil da Presidência Java Linguagem de programação Java JSF Java Server Faces JSP Java Server Pages JVM - Java Virtual Machine KWS Knowledge Work Systems LESTE Laboratório de Estatística Espacial da UFMG MER Modelo Entidade-Relacionamento MIS Management Information Systems MIT Massachusset Institute of Technology NPC Núcleo de Perícias Criminalísticas do Interior NPML/I Núcleo de Perícias Médico-Legais do Interior OAS Office Automation Systems Ômega Sistema Automatizado de Suporte às Investigações Policiais da SSP-SP ONG Organização Não Governamental ONU Organização das Nações Unidas OODBMS Object-Oriented Database Management System ORDBMS Object-Relational Database Management System PC Personal Computer Phoenix Sistema Automatizado de Reconhecimento de Criminosos da SSP-SP PostGIS Pacote de tratamento de dados geográficos para SGBD PostgreSQL PostgreSQL Um SGBD livre (de licença gratuita e código aberto) xiii

PPI Plano de Policiamento Inteligente PRO-AIM Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo PRODAM Companhia de Processamento de Dados do Município de São Paulo PRODESP Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo RA Região Administrativa RDO Registro Digital de Ocorrências RENACH Registro Nacional de Carteira de Habilitação RENAVAM Registro Nacional de Veículos Automotores RG Região de Governo RIC Registro de Identificação Civil SAD Sistema de Apoio a Decisão SAE Sistemas de Automação de Escritório SBD Sistema de Banco de Dados SCT Sistemas de Conhecimento de Trabalho SEADE Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados São Paulo SENASP Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça SEQUEL Structured English Query Language SGB Subgrupa mento de Bombeiros SGBD Sistema Gerenciador de Banco de Dados SGBDOO Sistema Gerenciador de Banco de Dados Orientados a Objetos SGBDOR Sistema Gerenciador de Banco de Dados Objeto-Relacionais SGBDR Sistema Gerenciador de Banco de Dados Relacional SI Sistema de Informação SIG Sistema de Informação Geográfica SIN Sistema de Identificação Nacional SINARM Serviço Nacional de Armas SINESPJC Sistema Nacional de Estatísticas de Segurança Pública e Justiça Criminal SiViU Sistema de Informação sobre Violência Urbana SPT Sistemas de Processamento de Transações SPTC Superintendência da Polícia Técnico-Científica SQL Structured Query Language SSE Sistemas de Suporte ao Executivo SSP Secretaria da Segurança Pública SSP-SP Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo SUS Sistema Único de Saúde SUSP Sistema Único de Segurança Pública TC Termos Circunstanciados TerraCrime Software Livre para Análise de Dados Espaciais de Ocorrências Criminais, desenvolvido na UFMG em conjunto com INPE e SENASP TIC Tecnologia da Informação e Comunicação TPS Transaction Processing System UFMG Universidade Federal de Minas Gerais UML Unified Modeling Language UNESP Universidade Estadual Paulista VO Visual Object WORM Write Once Read Many (um tipo de memória digital não volátil e não regravável) xiv

xv Índice Geral Introdução... 17 Objetivos... 20 Premissas e Justificativas do Trabalho... 21 GestaFUV... 26 1. O Escopo do Estudo e Suas Características Principais... 29 1.1. Urbanização e Criminalidade... 30 1.2. Região Administrativa de Campinas... 34 1.2.3. Índices de Criminalidade 1.3. Órgãos de Segurança Pública... 49 1.3.1. Órgãos Municipais 1.3.2. Órgãos Estaduais 1.4. Manutenção de Estatísticas... 56 2. Fundamentação Conceitual... 59 2.1. Sistemas de Informação... 59 2.2. Banco de Dados... 67 2.3. Sistemas de Apoio à Decisão (SAD)... 80 2.4. Sistemas de Informação Geográfica (SIG)... 83 2.5. Tecnologia e Gestão da Informação na Segurança Pública... 88 2.5.3. Alguns Sistemas de Informação Lançados pelo Governo Federal 2.5.4. Sistemas de Informação na Segurança Pública do Estado de São Paulo 2.5.5 Algumas Iniciativas da Sociedade Civil 3. Abordagem Metodológica... 117 3.1. Pesquisa Bibliográfica... 118 3.2. Levantamento do perfil das Cidades de Médio Porte do Estado de São Paulo... 120 3.2.1. Levantamento Preliminar 3.2.2. Pesquisa em Cidades de Médio Porte

xvi 3.2.3. Tabulação dos Resultados e Elaboração de Gráficos 3.3. Desenvolvimento do Sistema... 130 3.4. Tecnologias Usadas no Desenvolvimento do Software... 131 3.4.3. SGBD PostgreSQL 3.4.4. PostGIS 4. Levantamento do Perfil das Cidades de Médio Porte do Estado de São Paulo... 134 4.1. Resultados e Discussão... 135 5. SiViU: Sistema de Informação sobre Violência Urbana... 153 5.1. Migração do Protótipo... 155 5.2. A Arquitetura do Sistema... 157 5.3. Estrutura Funcional do SiViU... 159 5.3.1. Banco de Dados 5.3.2. Módulo de Configuração 5.3.3. Módulo de Manipulação de Dados 5.3.4. Módulo de Consultas 5.3.5. Interface de Usuário 5.4. Integração de Dados... 168 5.5. As Potencialidades do SiViU... 170 5.6. As Perspectivas da Evolução do SiViU... 171 Considerações Finais... 173 Referências Bibliográficas... 181 Apêndices... 191 Anexos... 234

17 Introdução Nas últimas décadas, a sociedade e o Estado têm passado por frequentes e profundas transformações, que vem alterando significativamente suas relações social, organizacional e governamental. Sem sombra de dúvida, o estrondoso avanço técnico-científico, em especial, na esfera da tecnologia da informação e comunicação tem revolucionado, mais do que qualquer outro fator, todos os aspectos da sociedade moderna, impulsionando o seu desenvolvimento acelerado. A modernização dessa sociedade, rumo à nova ordem mundial, elevou sobremaneira o nível de complexidade das relações sociais, provocando uma grande necessidade por novos e eficientes mecanismos para cuidar e gerenciar seus afazeres. Entre todas as frentes desse avanço tecnológico focamos, neste trabalho, o constante desenvolvimento das potencialidades de uso de dados empíricos na geração de novas informações e conhecimentos, o que recebeu, inicialmente, a titulação de processamento de dados. O processamento de dados, nos moldes atuais, teve o seu início intimamente ligado à máquina de tabulação, inventada por Herman Hollerith, em 1889, que conseguiu reduzir o tempo de processamento do censo americano de 1890, de 7 para 2 anos (TARAWNEH, 2001). Com este invento

18 e a sua visão abrangente sobre as potencialidades desse processo, o Hollerith deu origem ao futuro gigante do mercado, a IBM, a qual tem um papel decisivo no desenvolvimento de tecnologias que marcaram a transformação da sociedade global. A partir dos anos 50, o advento dos computadores dinamizou amplamente o tratamento das informações e revolucionou o mundo dos negócios e do seu gerenciamento. Até então, o foco do processamento de dados estava numa automatização singela dos procedimentos já existentes, aproveitando a imensa velocidade de processamento dos computadores. Entretanto, com o advento da tecnologia de banco de dados, a partir dos anos 60, a informação, em si, ganhou a atenção das organizações e se transformou num bem valioso, merecendo e exigindo um tratamento diferencial e superior. Isto motivou o desenvolvimento exponencial dos sistemas de informação (SI) e sistemas de apoio à decisão (SAD), aliado ao próprio progresso de sistemas de banco de dados (SBD). Neste cenário, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) passam a configurar como a mola propulsora do desenvolvimento, proporcionando potencialidades, nunca antes vislumbradas, capazes de responder às necessidades constantes da nova sociedade em formação (FOUNTAIN, 2001). A capacidade de produção de conhecimento, utilizando a informação, agora disponível em escala ampliada, se torna mais importante do que nunca. Entretanto, o desenvolvimento, o aprendizado e o acesso a essas tecnologias ocorrem de maneira desigual em diversos setores da sociedade (LASTRES, 1999). Facilmente pode se observar que o setor militar e o setor econômico privado, seja por ordem cronológica ou por grandeza de acesso, precedem os demais segmentos da sociedade. Dentro do setor econômico, as instituições financeiras são as que mais investiram nessas tecnologias e, consequentemente, as que mais se beneficiaram delas. No setor público, o processo da incorporação e utilização das tecnologias da informação e comunicação, avança a passos mais lentos, reprimido pela lentidão da reforma administrativa, a qual por sua vez, não consegue se desvincular rapidamente dos arcaicos e ineficientes paradigmas da velha ordem.

19 Todavia, nem o setor público conseguiu resistir ao soberbo poderio da nova tendência e começou a investir na utilização e incorporação dessas tecnologias, inicialmente na área de fiscalização e arrecadação de tributos, o que é facilmente compreensível, quando se trata de uma sociedade capitalista em franca expansão. Mais tarde, com o avanço acelerado do uso de sistemas de banco de dados, sistemas de informação e sistemas de apoio à decisão nas organizações privadas e o consequente aumento indiscutível da qualidade da administração e do lucro das empresas, o setor público resolveu lançar mão desses recursos em todas as áreas de gestão. Surgiu, então, o termo governo eletrônico ou e-gov (ROVER, 2009; RIBEIRO, 2009; FERREIRA, 2003) e com isso, sistemas e mecanismos que ao mesmo tempo facilitam a execução das responsabilidades do governo e contribuem para a sua maior democratização (RAMOS e ROVER, 2007). Entretanto, aqui no Brasil, é somente a partir dos meados da década de 1980, que começa surgir o uso mais frequente de sistemas computacionais em alguns setores da administração pública. E, como não poderia ser diferente, na área de segurança pública, isto só começa quase uma década depois. Em particular, no caso dos órgãos policiais, este avanço é ainda mais lento. No Estado de São Paulo, considerado o estado mais desenvolvido do país, é somente a partir de setembro de 2001, que a Secretaria da Segurança Pública, por força da lei, é obrigada a usar sistemas computacionais para registro e gerenciamento de dados criminais, e lança oficialmente o Sistema de Informações Criminais (Infocrim), destinado a controle e produção de estatísticas de criminalidade, a ser implantado em todas as cidades paulistas, algo que ainda não se concretizou completamente (SSP-SP, 2004). Além disso, quase a totalidade dos sistemas de informação desenvolvidos e/ou utilizados em diversos setores da segurança pública paulista, é intimamente relacionada aos procedimentos operacionais dos órgãos policiais. Desta forma, eles visam, primordialmente, facilitar e potencializar a realização de atividades policiais. Tais sistemas não foram projetados para serem usados como uma ferramenta de apoio no processo de tomada de decisão de gestores públicos municipais, ainda que possam ser aplicados, indiretamente, para esta finalidade.

20 Neste contexto, apresenta-se este trabalho como uma iniciativa para munir as administrações públicas municipais com sistemas de apoio à decisão, voltados para o planejamento, execução e acompanhamento de políticas públicas em nível local. Em especial, pretende-se oferecer ferramentas que possam contribuir para a melhoria, tanto dos procedimentos de coleta e gerenciamento de dados relativos à violência, em cidades de médio porte do Estado de São Paulo, como também, do processo de tomada de decisão em políticas públicas por parte de gestores municipais. Este trabalho está inserido nas propostas do Grupo de Estudo e Análise de Fenômenos Urbanos da Violência (GestaFUV), do Departamento de Estatística, Matemática Aplicada e Computação do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP de Rio Claro, do qual o autor faz parte. A seguir são apresentados os objetivos, as motivações e as justificativas do desenvolvimento deste trabalho. Objetivos Objetivo Geral O objetivo geral deste trabalho foi construir um sistema de informação de apoio à decisão em políticas públicas de controle e redução de níveis da violência, a ser utilizado por gestores públicos em administrações municipais de cidades médias do Estado de São Paulo. Objetivos Específicos 1. Realizar uma pesquisa em cidades médias da Região Administrativa de Campinas a fim de realizar um levantamento nas administrações públicas destas cidades quanto ao uso de sistemas de informação, em especial aqueles com dados sobre a violência, como ferramentas de apoio à decisão em gestão pública. 2. Desenvolver e implementar, a partir da ampliação do protótipo desenvolvido pelo GestaFUV, um sistema de informação, em plataforma

21 Java e SGBD PostrgreSQL, tendo módulos de consulta com interfaces amigáveis, usando mapas e gráficos, voltados para usuários finais. 3. Incorporar ao sistema recursos de manipulação de dados geográficos, integrando o PostGIS e evoluir o sistema para ser acessível pela Internet, facilitando o acesso de diversos usuários dos órgãos da administração pública. 4. Tomando como exemplo, os dados coletados pela GestaFUV sobre mortes violentas na cidade de Rio Claro, alimentar a base de dados do sistema a fim de possibilitar o mapeamento da violência neste município, utilizando-se de mapas da cidade. Premissas e Justificativas do Trabalho No Brasil há uma imposição legal para realizar estatísticas criminais, conforme preceitua o artigo 809 do Código de Processo Penal, objetivando alimentar o banco de dados do Ministério da Justiça. Esta imposição ocorre também no Estado de São Paulo, através da Lei 9.155/95, que obriga a SSP a divulgar regularmente algumas estatísticas criminais no Diário Oficial do Estado. Entretanto, é sabido que esses dados ainda apresentam algumas inconsistências, além do fato da subnotificação das ocorrências, em função da descrença da população em relação ao poder público, levando-se em consideração que nem todo ato violento recebe do Estado brasileiro uma proteção jurisdicional. Outra importante fonte de inconsistência dos dados criminais reside no fato do emprego de metodologias distintas em diferentes órgãos de coleta e armazenamento destes dados. Por exemplo, no caso de mortes violentas, o Ministério da Saúde, através do DATASUS (Departamento de Informática do SUS), responsável pelas estatísticas de mortalidade, utiliza uma metodologia que resulta na coleta de dados no certificado de óbito e no local de residência da vítima, metodologia adotada também pela Organização Mundial da Saúde da ONU. Enquanto que, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP/SP), bem como quase todas as demais, utiliza-se de dados dos boletins de ocorrência policial e o local do crime, sendo

22 também considerados apenas os números de ocorrências registradas e não a quantidade de mortes violentas inseridas nas ocorrências. No Estado de São Paulo, as estatísticas de mortalidade da Secretaria da Saúde ficam sob a responsabilidade da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE). Na cidade de São Paulo há um programa específico para cuidar das estatísticas da mortalidade, chamado PRO-AIM (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade). Infelizmente, as informações do PRO-AIM, SEADE e SSP-SP são conflitantes. A título de ilustração, no primeiro semestre de 2000, o PRO-AIM informou o aumento de 5,5% dos homicídios, enquanto, a SSP-SP admitiu aumento de apenas 0,18% (GOVONE et al., 2006). Outra constatação do GestaFUV foi o fato dos organismos públicos dessa área não terem uma cultura de geoprocessamento e estatística, nem disporem de ferramentas tecnológicas que promovam esta cultura. Esta realidade prejudica sobremaneira a eficácia da atuação dos gestores públicos, uma vez que a sua compreensão sobre a situação fica comprometida, pela falta de análise adequada das ocorrências. Como já foi mencionado, seguindo uma tendência internacional e, sobretudo natural, as tecnologias da informação estão sendo empregadas, cada vez mais, em todas as esferas de administrações públicas mundiais. Contudo, a grande maioria de esforços do setor público no Brasil, ainda se concentra na área de automatização de rotinas administrativas e na disponibilização de serviços públicos à população (REZENDE, 2005), sobretudo no setor de arrecadação de tributos. A construção de sistemas de apoio à decisão (SAD) tem recebido atenção e investimentos diminutos e mesmo assim em poucas áreas estratégicas. Como comenta Miranda (2004), o desenvolvimento de políticas públicas na formulação da Sociedade da Informação (POLIZELLI e OZAKA, 2007) no Brasil anda a passos vagarosos e desordenados. Em especial, no que diz respeito aos sistemas de informação que possam sustentar melhorias no processo decisório de gestores públicos em ações sociais, em prol da melhoria de qualidade de vida da coletividade, esta constatação se torna ainda mais verdadeira. Particularmente nas cidades de médio ou de pequeno porte, isto pode ser facilmente averiguado. Nestas cidades, geralmente, a existência de SAD, em administrações municipais, ainda é algo bastante raro, senão inexistente.

23 Neste sentido, todo e qualquer iniciativa no emprego de tecnologias da informação e comunicação, em setores da administração pública, dos pequenos e médios municípios brasileiros, é de extrema importância na construção de uma Sociedade da Informação mais justa e democrática. Nesta era da informação, não se pode mais tomar decisões em políticas públicas sociais sem estar apoiado e assessorado por boas e adequadas análises de fatos e ocorrências correlacionadas. Através das análises preliminares realizadas pelos integrantes do GestaFUV (GOVONE et al., 2001; CARNEIRO et al., 2002; CARNEIRO et al., 2003a e 2003b; GOVONE et al., 2003) pode-se notar que de todos os setores da administração pública, o setor de segurança pública é o que tem recebido menor atenção e investimento em TIC. A prova disso é o nível de aparelhagem e recursos tecnológicos das delegacias de polícia civil, mesmo se tratando do estado de São Paulo, o estado economicamente mais desenvolvido da nação. Além disso, existe ainda uma falta de padronização e integração entre os mecanismos de coleta e armazenamento de dados em diversos organismos públicos, que além de provocar sérios problemas operacionais para os gestores públicos, dificulta uma interpretação realista dos fenômenos da violência e criminalidade, fato já conhecido e relatado também por outros autores (NJAINE et al., 1997). Na realidade, além da falta de integração existe, de certa forma, uma política avessa, que em nome da proteção aos dados, alimenta este estado das coisas. Menezes e Gomes (2008) chamam este fenômeno de Síndrome do Secretismo" e sobre esta carência de integração das fontes de informação no setor público, principalmente em segurança pública, afirmam: Há bancos de dados institucionais da Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar, Exército, Marinha, Aeronáutica, ABIN, Detran, bancos de dados policiais das delegacias especializadas em lavagem de dinheiro, imigração ilegal, assalto a banco e, ainda, os não-policiais como os da Receita Federal, Dataprev/INSS, CNIS, mas os setores responsáveis pelo gerenciamento dos dados respectivos não interagem, gerando uma enorme quantidade de dados perdidos e pouco trabalhados. Outro fator preocupante é a perda do conhecimento quando o detentor do banco de dados não providencia uma interface amigável de comunicação com outros cadastros e quando um policial interessado

24 monta sua própria base de dados, com dedicação própria exclusiva e amor ao que faz, na ausência da iniciativa governamental, sem que o Estado se preocupe com a sua continuidade. (MENEZES e GOMES, 2008, p. 4) A inconsistência dos dados estatísticos, resultante da falta de integração de sistemas coletores, foi sentida há pouco na Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, onde criou um desconforto e tumulto político muito grande. No início de 2007, os indicadores de roubo a bancos foram divulgados muito abaixo da realidade, provocando um mal estar público geral e mudanças nos comandos de vários setores da Polícia do Estado, além da tentativa de instauração da CPI das Estatísticas (MAGALHÃES, 2007; PENTEADO, 2007; SSP-SP, 2007; AMADEU, 2008). Após as descobertas de números divergentes e da consequente determinação do Secretário de Segurança para reavaliação das estatísticas criminais, o então Delegado Geral da Polícia Civil do Estado publicou uma Portaria em maio de 2007 em que dispõe sobre como deve ser realizada a coleta dos indicadores criminais. A Portaria estipula que qualquer divergência detectada entre os dados da Resolução SSP-160 1 e o Infocrim 2 será motivo de revisão dos boletins de ocorrência, antes da consolidação final dos dados em âmbito institucional. Obviamente, esta solução não passa de uma medida paliativa e deve ser considerada como temporária. Um dos principais motivos destas discrepâncias é a existência de um emaranhado de metodologias e mecanismos de coleta e tratamento de dados estatísticos, em diversos organismos públicos. Para amenizar este problema é necessário criar metodologias e mecanismos integrados que sejam adotados por todos os órgãos envolvidos. Outro hábito dos governantes, a fim de não mostrar a realidade das estatísticas da violência e consequentemente não expor o governo, é fornecer estatísticas parciais ou mascarar estas estatísticas, em detrimento da qualidade de possíveis análises das mesmas. Muitos outros autores corroboram com esta tese, entre eles o Paulo de Mesquita Neto (2009) quando afirma: 1 2 S

25 A divulgação das estatísticas de mortes em ações policiais, entretanto, é sempre uma ducha de água fria na pretensão do governo de melhorar a imagem da polícia. Na tentativa de minimizar o problema do elevadíssimo número de mortes em ações policiais no Estado, a secretaria, no governo Serra, parece continuar prática adotada no governo Alckmin de divulgar, por meio da imprensa, estatísticas parciais e explicações fundadas em interesses da secretaria e das polícias, e não na análise dos fatos. (MESQUITA NETO, 2009, p. 1). Este cenário, por si só, é uma justificativa bastante satisfatória para o desenvolvimento de um sistema de informação sobre violência, que venha a integrar e consolidar os dados de diversas fontes e consequentemente oferecer melhores subsídios no processo de tomada de decisão de administradores públicos municipais. A realização deste trabalho justifica-se, também, pelo fato de que em muitas cidades médias do estado de são Paulo, como é visto na seção 1.2.3 deste documento, o fenômeno social de violência tem apresentado níveis elevados. Isto também pode ser averiguado, na análise comparativa do Crime de Homicídio em diversas cidades do estado de São Paulo, apresentada no documento Diagnóstico da Violência e da Criminalidade no Município de Rio Claro, SP (CARNEIRO et al., 2009). Além disso, estima-se que haja uma considerável má-caracterização de dados relativos às mortes violentas, devido à grande incompatibilidade de metodologias e conflito de informações e de nomenclaturas dos diversos órgãos públicos envolvidos. O desenvolvimento de um sistema computacional integrado, de coleta e armazenamento de dados, prevê uma solução adequada para minimizar estas distorções. O módulo integrado de coleta de dados do sistema proposto permitirá sistematicamente uma atualização automática da base de dados, a partir das alterações realizadas em qualquer uma das fontes externas, existentes em diversos órgãos públicos. Este mecanismo minimiza as inconsistências e discrepâncias verificadas nos dados de diversos setores da segurança pública, como é o caso do município de Rio Claro (GOVONE, et al., 2001; CARNEIRO, et al., 2002; CARNEIRO, et al., 2003a e 2003b; GOVONE, et al., 2003).

26 GestaFUV Considerando a gravidade e o alto índice da violência urbana experimentada pela sociedade brasileira e cada vez mais presente, também, em cidades de pequeno e médio porte, um grupo de docentes do Departamento de Estatística, Matemática Aplicada e Computação (DEMAC), do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Rio Claro, estreitaram relacionamentos com policiais civis rio-clarenses, docentes da Academia de Polícia Civil do Estado de São Paulo, no sentido de estudar esse fenômeno social e apresentar contribuições cientificas para amenizar essa grave problemática. Com este intuito, tendo por referencial a cidade de Rio Claro, os primeiros integrantes do grupo desenvolveram trabalhos que constatou um conflito de metodologias empregadas por diversos organismos públicos, responsáveis pela coleta de dados referente às mortes violentas, resultando em comprometimento de análises estatísticas desses dados e, consequentemente, distorções na elaboração de políticas públicas a partir dessas informações (GOVONE, et al., 2001; CARNEIRO, et al., 2002; CARNEIRO, et al., 2003a; CARNEIRO et al., 2003b). Em função de uma interação positiva, o conhecimento adquirido pelo grupo, nesta temática, gradativamente se ampliou, resultando na criação, em 2003, do Grupo de Estudo e Análise de Fenômenos Urbanos da Violência (GestaFUV), congregando profissionais oriundos de diversas instituições como: UNESP, Prefeitura Municipal de Rio Claro e Polícias Civil e Militar do Estado de São Paulo. Atualmente a maioria de seus integrantes é composta de docentes universitários e outros profissionais com vocação científica, tendo formação em diversas áreas do saber, como: estatística, computação, matemática, geografia, ciências jurídicas, administração pública, dentre outras (GOVONE, et al., 2007). Uma das primeiras iniciativas do GestaFUV foi a criação do protótipo de um sistema de banco de dados para coleta e armazenamento de dados sobre mortes violentas na cidade de Rio Claro. O autor teve participação direta e relevante neste projeto, que contou com apoio da Fapesp 3, modelando e definindo a base de dados do protótipo. O principal objetivo deste protótipo foi demonstrar como a integração de 3 FAPESP (Processo 2003/06431-1).

27 dados de diversas fontes dos órgãos públicos de Rio Claro contribuiria para a minimização das discrepâncias detectadas nas estatísticas elaboradas a partir dessas fontes de dados (GOVONE et al., 2001 e CARNEIRO et al., 2002). No início da formação do grupo, os integrantes do GestaFUV, a pedido da Prefeitura Municipal de Rio Claro, elaboraram um diagnóstico preliminar da violência local (GOVONE et al., 2003), objetivando viabilizar um projeto de políticas públicas junto a Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça. Além do diagnóstico o grupo assessorou na elaboração do projeto classificado como Modernização das Guardas Municipais, sendo o mesmo aprovado pelo Ministério da Justiça e posteriormente implantado. O diagnóstico da violência rio-clarense contribuiu para a celebração do convênio com a União, através da SENASP (Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça), objetivando modernizar e qualificar a Guarda Municipal (GM) de Rio Claro, na oportuna filosofia de polícia comunitária. O convênio propiciou a aquisição de viaturas e equipamentos para a GM, bem como a capacitação da corporação através de um curso dividido em dois módulos: módulo 1, de formação para guardas, e módulo 2, de aplicação de oficinas, junto às populações dos bairros mais violentos. Os membros do GestaFUV coordenaram e ministraram, no período de outubro de 2004 a abril de 2005, um dos módulos do Curso de Capacitação da Guarda Municipal (GM) de Rio Claro, num total de 456 horas, beneficiando cerca de 40 guardas municipais. A filosofia do curso foi no sentido de se formar uma polícia comunitária capacitada para gestão de conflitos interpessoais e sociais. A GM foi qualificada para monitoramento e controle da violência através de métodos científicos e instrumentos tecnológicos, além de receber uma formação multidisciplinar com ênfase na importância da cidadania e dos direitos humanos. Em Julho de 2004, o GestaFUV se fez presente, através de um de seus integrantes, na reunião de trabalho na cidade de Viña del Mar, no Chile, a convite do Município de Rio Claro e da URB-AL (Commission Europeenne/Europe Aid Oficina de Cooperación/Dirección América Latina), objetivando colaborar no desenvolvimento do projeto referência: EuropeAid/113113/C/G/Multi, intitulado: e- A GORA, La ACADEMIA DE LA e-democracia, cujo objetivo é desenvolver e estabelecer ferramentas que utilizam tecnologias de informação e comunicação

28 (TIC) para modernizar e aperfeiçoar os processos de participação dos cidadãos junto às administrações públicas, fortalecendo a democracia na Europa e na América Latina. Em Agosto de 2008, o GestaFUV organizou e realizou o Workshop intitulado "Uso de Tecnologias Científicas como Ferramenta de Apoio à Investigação Policial, voltada a Questões Socioambientais". Este evento, realizado no Centro de Estudos Ambientais (CEA) da UNESP, em Rio Claro, teve como objetivo fomentar a discussão entre policiais e acadêmicos sobre as questões da segurança pública e estimular futuras parcerias institucionais. Na ocasião foram apresentadas e discutidas diversas tecnologias disponíveis no auxílio à Polícia em investigação criminal. Além disso, este fórum também serviu para promover a interação entre os diversos pesquisadores participantes e a Polícia Judiciária Paulista, através da Academia de Polícia do Estado de São Paulo. Em 2009, atendendo à solicitação da Prefeitura Municipal de Rio Claro, através de sua Secretaria Municipal de Segurança e Defesa Civil, membros do GestaFUV, apresentaram outro estudo do diagnóstico da violência e da criminalidade do município de Rio Claro (CARNEIRO et al., 2009), fruto de pesquisas que já vinham sendo desenvolvidas. Os próximos capítulos deste documento são apresentados com a seguinte estrutura: no Capítulo 1 se descreve as características da área de estudo, que abrange a cidade de Rio Claro, os órgãos de segurança pública existentes nesta cidade, bem como seus procedimentos para manutenção de estatísticas; no Capítulo 2 faz-se um levantamento conceitual das tecnologias correlacionadas com este trabalho e o uso destas tecnologias no setor de segurança pública; no Capítulo 3 é apresentada a metodologia adotada no presente trabalho; no Capítulo 4 se discute a pesquisa realizada para levantamento do perfil das cidades médias do Estado de São Paulo quanto ao enfoque deste trabalho; no Capítulo 5 é apresentado o SiViU (Sistema de Informação sobre Violência Urbana), como uma parte da contribuição deste trabalho e, finalmente, nas Considerações Finais, são focadas as conclusões alcançadas e as recomendações para trabalhos futuros, que podem enriquecer e aprimorar a presente contribuição.

29 1. O Escopo do Estudo e Suas Características Principais O desenvolvimento deste trabalho se baseou em uma das iniciativas do GestaFUV, que procurou demonstrar a necessidade da integração de dados sobre violência, coletados por diversos organismos públicos, além de necessidade de inovações nas metodologias de coleta e armazenamento desses dados por parte de órgãos públicos responsáveis. Entretanto, o escopo deste trabalho, transcende à questão da integração de dados e suas metodologias de coleta, em setores de segurança pública, e abrange questões mais amplas, tais como, o mapeamento criminal e o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) em administrações públicas municipais, como instrumentos necessários para um planejamento urbano adequado. Apesar dos objetivos deste trabalho não incluírem uma análise da relação entre a criminalidade e a dinâmica espacial do crescimento urbano, torna-se interessante e positivo realizar aqui um exercício de reflexão sobre o tema. Pois, uma melhor compreensão deste tema permite vislumbrar a importância do papel das tecnologias da informação como eficientes instrumentos no processo de

30 planejamento e monitoramento urbanos, a cargo dos agentes públicos municipais, principalmente no caso de ferramentas que oferecem mecanismos mais adequados de se fazer um mapeamento criminal, como é o caso deste trabalho. 1.1. Urbanização e Criminalidade O processo de desenvolvimento e expansão das cidades, fruto das relações sociais, bem como as desigualdades oriundas dessas relações, têm sido fortemente influenciados pela lógica capitalista de produção. Neste contexto, a urbanização como um todo não se resume apenas à dinâmica demográfica de concentração do homem ou à dinâmica econômica de concentração da riqueza, nem às formas concretas que expressam ou determinam essas dinâmicas. Ela é essencialmente resultado do conteúdo social e cultural da sociedade (SPÓSITO, 2001). Entretanto, a ocupação de espaços urbanos em grandes cidades e capitais brasileiros, no último século, foi motivada principalmente, pelo processo de industrialização, onde a urbanização se fez como explosão da cidade, extensão da mancha urbana abrigando a classe trabalhadora em imensas periferias sem infraestrutura, como afirma a geógrafa Ana Fani Carlos (2009, p. 304). Segundo Santos (2005), a partir de meados do século XX a industrialização é vista não apenas como um decurso de criação de atividades industriais, mas também como um processo social complexo, com formação de um mercado nacional, expandindo o consumo, impulsionando as relações e ativando a urbanização de grandes e médias cidades. A industrialização brasileira, entretanto, gerou uma urbanização profundamente desigual, criando uma separação entre o centro e a periferia, onde os espaços rurais são modificados para abrigar a massa de trabalhadores, normalmente em condições muito desfavoráveis. Sobre a natureza deste processo, Carlos afirma: [...] do ponto de vista da morfologia, o processo de urbanização se realiza, efetivamente, com a expansão da mancha urbana pela integração de áreas rurais. Tal lógica espacial tem seu sentido no modo pelo qual o Brasil se insere no contexto mundial, e refiro-me aqui ao período inicial da industrialização. Com isso quero dizer que