COMPORTAMENTO DE PILARES DE BETÃO ARMADO REFORÇADOS COM LAMINADOS DE FIBRAS DE CARBONO

Documentos relacionados
Aplicação de Laminados de Fibras de Carbono no Reforço de Pilares de Betão Armado. Débora R. S. M. Ferreira 1,

Pilares de Betão Armado Reforçados com Laminados de Fibras de Carbono

Pilares de Betão Armado Reforçados com Laminados de Fibras de Carbonno

Análise Experimental de Pilares de Betão Armado Reforçados com Laminados de Carbono sob Acções Cíclicas

Análise Experimental de Pilares de Betão Armado Reforçados com Laminados de Carbono sob Acções Cíclicas

Nova Abordagem no Reforço de Estruturas com Materiais Compósitos

ANÁLISE EXPERIMENTAL DE TENSÕES EM LAMINADOS DE FIBRAS DE CARBONO

Reforço ao corte de vigas T de betão armado usando a técnica NSM com laminados de CFRP

Reforço ao corte de vigas T de betão armado usando a técnica NSM com laminados de CFRP

REABILITAÇÃO DE ESTRUTURAS DE BETÃO REFORÇADAS COM CFRP USANDO O MÉTODO DE ENROLAMENTO FILAMENTAR

Comportamento de vigas de betão armado reforçadas à flexão com laminados de CFRP inseridos

COMPORTAMENTO DA LIGAÇÃO DE LAMINADOS DE CFRP INSERIDOS NO BETÃO

EFEITO DO CONFINAMENTO LATERAL NO COMPORTAMENTO ESTRUTURAL

Reforço de vigas de betão armado com armaduras exteriores de FRP

2 - PROGRAMA EXPERIMENTAL E CARACTERIZAÇÃO DOS MATERIAIS

J. APPLETON Prof. Catedrático IST Lisboa

COMPORTAMENTO DA LIGAÇÃO CFRP-RESINA BETÃO SUJEITA A ACÇÕES CÍCLICAS

Vigas de betão armado reforçadas com laminados de CFRP inseridos no betão de recobrimento

José Luís Miranda Dias. Investigador Auxiliar do LNEC-DED/NTC. 1º Congresso Nacional de Argamassas de Construção 24/25 Nov. 2005

Aplicação da técnica da inserção de laminados de CFRP no reforço ao corte de vigas de betão de elevada resistência

ESTUDO COMPARATIVO DE TRÊS TÉCNICAS DE REFORÇO À FLEXÃO COM CFRP

APLICAÇÃO DA TÉCNICA DA INSERÇÃO DE LAMINADOS DE CFRP NO REFORÇO AO CORTE DE VIGAS DE BETÃO ARMADO

APLICAÇÃO DA TÉCNICA NSM COM LAMINADOS DE CFRP PRÉ- TENSIONADOS NO REFORÇO À FLEXÃO DE LAJES DE BETÃO ARMADO

Eficiência do reforço de CFRP em estruturas de concreto sob efeito térmico

SUBSTITUIÇÃO TOTAL DO AÇO, USANDO BAMBU COMO ARMADURA DE COMBATE A FLEXÃO EM VIGAS DE CONCRETO.

Análise do desempenho de uma nova técnica de reforço ao corte para elementos estruturais de betão armado

5 Apresentação e Análise dos Resultados

CONFINAMENTO PARCIAL E TOTAL DE PROVETES CILÍNDRICOS DE BETÃO COM CFRP

MATERIAIS COMPÓSITOS NO REFORÇO DE ESTRUTURAS

CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE TOROS DE MADEIRA LAMELADA COLADA

COMPORTAMENTO DE LAJES DE BETÃO ARMADO REFORÇADAS À FLEXÃO USANDO A TÉCNICA NSM COM LAMINADOS DE CFRP PRÉ-TENSIONADOS

COMPORTAMENTO DE LAJES DE BETÃO ARMADO REFORÇADAS À FLEXÃO USANDO A TÉCNICA NSM COM LAMINADOS DE CFRP PRÉ-TENSIONADOS

ELEMENTOS DE PILAR DE BETÃO ARMADO CONFINADOS COM SISTEMAS DE CFRP SUBMETIDOS A CARREGAMENTO CÍCLICO DE COMPRESSÃO

ESTUDO EXPERIMENTAL DO PUNÇOAMENTO EM LAJES FUNGIFORMES PRÉ-ESFORÇADAS

ESTUDO EXPERIMENTAL DE VIGAS MISTAS AÇO-BETÃO LEVE

ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO ATÉ À ROTURA DE VIGAS DE BETÃO ARMADO

AULA 5. Materiais de Construção II. 1 Características de armaduras para Betão Armado e Pré-esforçado

COMPORTAMENTO DA LIGAÇÃO DE LAMINADOS DE CFRP INSERIDOS NO BETÃO SOB ACÇÕES CÍCLICAS

Smart Cities: Como construir?

COMPÓSITOS CIMENTÍCIOS DE ALTO DESEMPENHO PARA APLICAÇÃO COMO SUBSTRATO DE TRANSIÇÃO EM VIGAS

COMPORTAMENTO DE VIGAS DE BETÃO ARMADO REFORÇADAS AO CORTE POR INSERÇÃO DE LAMINADOS DE CFRP

UNIVERSIDADE POLITÉCNICA

Universidade Universidade Universidade RESUMO. eficácia da capacidade reforçante dos CFRP utilizam-se, normalmente, cintas e sistemas

ESTRATEGIAS NO USO DO ENCAMISAMENTO LOCALIZADO COM CHAPAS DE AÇO QUE PREVELIGEM A DUCTILIDADE OU O AUMENTO DIFERENCIADO DA RESISTÊNCIA

Laminados de CFRP pré-tensionados para o reforço à flexão de vigas de betão armado

Análise Experimental de Elementos de Viga de Betão Armado Reforçado com Fibras de Aço sob Acções Cíclicas

CONGRESSO NACIONAL DA

3 Programa Experimental

3. Descrição dos Testes Experimentais

1º TESTE DE TECNOLOGIA MECÂNICA I Licenciatura em Engenharia e Gestão Industrial I. INTRODUÇÃO AOS PROCESSOS DE FABRICO

Reabilitação e Reforço de Estruturas

A Influência de Diferentes Parâmetros no Comportamento da Ligação entre Fundações Existentes de Betão Armado e Micro-estacas de Reforço

Influência do tipo de adesivo no comportamento à flexão de faixas de laje reforçadas com sistemas NSM-CFRP

Reabilitação de edifícios de alvenaria e adobe

José Santos * Marques Pinho ** DMTP - Departamento Materiais

Sistemas de Ancoragem para Laminados CFRP em elementos de Betão Armado

Reparação com argamassas de pilares de betão armado. M. Margarida Corrêa 1, João Vinagre 2. Regina H. Souza 3

Estruturas de Betão Armado II 12 Método das Escores e Tirantes

5 Resultados Experimentais

ANÁLISE EXPERIMENTAL DA INFLUÊNCIA DA GEOMETRIA DA SEÇÃO TRANSVERSAL NA CAPACIDADE PORTANTE DE VIGAS DE CONCRETO ARMADO

3 Programa Experimental

4 Ensaios Principais: Descrição e Apresentação dos Resultados

3 Programa Experimental

Avaliação da influência das propriedades de adesivos e da geometria de laminados de fibra de carbono no comportamento de ensaios de arranque

Ligação pilar-fundação em estruturas pré-fabricadas modelação numérica

ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO I 13 DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS RELATIVAS A PILARES E PAREDES

REFORÇO SÍSMICO DE EDIFÍCIOS DE ALVENARIA COM APLICAÇÃO DE REFORÇOS DE FIBRA DE VIDRO (GFRP)

Proposta de uma técnica de reforço ao corte com CFRP

REFORÇO DE ESTRUTURAS COM LAMINADOS DE CFRP PRÉ-ESFORÇADOS

MECÂNICA APLICADA II

Técnicas de recuperação e reforço de estruturas de concreto armado Escolha do tipo de reforço

Caracterização à fadiga do material da ponte metálica rodoviária de Fão Abílio M. P. de Jesus, António L. da Silva, João F. da Silva, Joaquim M.

PILARES DE BETÃO ARMADO REFORÇADOS COM LAMINADOS DE FIBRAS DE CARBONO

Carga última de pilares de betão armado em situação de incêndio

REFORÇO DE ESTRUTURAS PARA A ACÇÃO SÍSMICA

ELEMENTOS DE CASCA EM ALVENARIA CERÂMICA REFORÇADOS COM LAMINADOS DE FIBRAS DE CARBONO

REFORÇO DE PAVIMENTOS DE EDIFÍCIOS INDUSTRIAIS COM LAMINADOS DE FIBRAS DE CARBONO

RELATÓRIO TÉCNICO. Nota técnica: 01/2009. Trabalho realizado para: Serviços do Ministério Público de Mogadouro

REFORÇO DE ESTRUTURAS COM POLÍMEROS REFORÇADOS COM FIBRAS (FRP)

ESTRUTURAS DE BETÃO 2. 9 de Julho de 2007 Época de Recurso Duração: 3h

REFORÇOS e VERIFICAÇÃO ESTRUTURAL: EQUAÇÕES de EQUILÍBRIO (cont.) DUCTILIDADE

V SEMINÁRIO E WORKSHOP EM ENGENHARIA OCEÂNICA Rio Grande, 07 a 09 de Novembro de 2012

Comportamento de vigas de betão armado com aço inoxidável

BETÃO AUTO-COMPACTÁVEL REFORÇADO COM FIBRAS DE AÇO PARA O REFORÇO À FLEXÂO DE ESTRURURAS LAMINARES

AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO DE PAREDES DE ALVENARIA COM BLOCOS DE BETÃO LEVE

Universidade Politécnica/ Apolitécnica

3 PROGRAMA EXPERIMENTAL

Título: Comportamento mecânico de materiais compósitos FRP a temperatura elevada. Orientador: João Ramôa Correia

REABILITAR 2010 MANUTENÇÃO E REPARAÇÃO DAS ESTRUTURAS AFECTADAS POR REACÇÕES EXPANSIVAS DO BETÃO

ESTUDO EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO CÍCLICO DE PILARES REFORÇADOS E CALIBRAÇÃO DO SISTEMA DE ENSAIO

Reforço de Rebocos com Fibras de Sisal

Avaliação da compatibilidade de fixação de elementos cerâmicos com o sistema ETICS

ÍNDICE 1.- DESCRIÇÃO... 2

VIGAS DE BETÃO ARMADO REFORÇADAS AO CORTE COM LAMINADOS DE CFRP - UMA TÉCNICA NOVA

REFORÇO DE ESTRUTURAS COM FRP. Reabilitação e Reforço de Estruturas Diploma de Formação Avançada em Engenharia de Estruturas

A UTILIZAÇÃO DE BETÕES LEVES EM VIGAS MISTAS AÇO-BETÃO

PATOLOGIA DO BETÃO ARMADO

Avaliação de incertezas no comportamento até à rotura de vigas de betão armado

Modelo não-linear para a Análise Estática e/ou Dinâmica de Pórticos de Betão Armado. Humberto Varum 1, Aníbal G. Costa 2

Transcrição:

COMPORTAMENTO DE PILARES DE BETÃO ARMADO REFORÇADOS COM LAMINADOS DE FIBRAS DE CARBONO Joaquim Barros Prof. Auxiliar DEC-UM Débora Ferreira Assistente 1º Triénio ESTIG-IPB Paulo Lourenço Prof. Associado DEC-UM SUMÁRIO Os resultados obtidos em ensaios cíclicos com elementos de pilar de betão armado pré- e pós-reforçados com laminados de fibras de carbono são apresentados e analisados no presente trabalho. Verificou-se que, desde que as operações de reforço sejam devidamente efectuadas e a qualidade dos materiais aplicados seja assegurada, os laminados permitem aumentar significativamente a capacidade de carga de pilares de betão armado danificados. 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho insere-se num programa de investigação de desenvolvimento e caracterização de técnicas de reforço de pilares utilizando laminados e tecidos de fibras de carbono. Num trabalho anterior [1] os sistemas de reforço que se pretendem estudar foram apresentados, os procedimentos e o equipamento utilizados nos ensaios foram descritos, os materiais aplicados nos elementos de pilar foram caracterizados e os resultados preliminares foram divulgados e comentados. No referido trabalho foi ainda proposta uma técnica para reforço de pilares com rotura por flexão, que foi seguida na campanha de ensaios do presente trabalho, pelo que este é basicamente constituído pelos resultados obtidos nas séries designadas por E3 e E5, nesse trabalho prévio. Cada uma destas séries é constituída por três conjuntos de dois pilares, armados com varões longitudinais de 10, 12 e 16 mm de diâmetro (ver Figura 1). O reforço é basicamente constituído por três laminados de fibras de carbono de 10 1 mm 2 de secção, embutidos no betão de recobrimento das faces do elemento de pilar ortogonais ao plano de actuação do carregamento cíclico aplicado (ver Figuras 1 e 2). A série E3 é constituída por elementos de pilar reforçados antes de serem ensaiados e a série E5 é constituída pelos

elementos não reforçados que tinham sido ensaiados na série E2 [1], e que após o seu reforço com os referidos laminados, voltaram a ser ensaiados. Todos os elementos de pilar foram submetidos ao carregamento cíclico descrito em [1]. 50mm 50mm A 50mm 200mm Ø l laminadosa' de fibras de carbono A ranhuras de 5x15 mm2 A' 50mm 20mm 20mm Ø t @12xØ l faces solicitadas AA : plano de actuação do carregamento ciclíco φ l =10, 12 16 mm ; φ t @ 12 φl Figura 1 - Secção transversal dos elementos de pilar. 100mm betão de recobrimento substituído por argamassa epóxida sapata Figura 2 - Reforço dos elementos de pilar. perfuração de 100mm de profundidade na sapata para fixação dos laminados de fibras de carbono Aos elementos de pilar da série E3 atribuiu-se a mnemónica PnmPR em que n designa o diâmetro, em mm, da armadura longitudinal (10, 12 ou 16) e m pode ser a ou b (dado existirem dois elementos por cada percentagem de armadura longitudinal). O símbolo PR significa tratar-se de um elemento pré-reforçado. De forma similar, aos elementos de pilar da série E5 atribuiu-se a mnemónica PnmCR em que n e m têm o significado definido anteriormente e CR designa tratar-se de um pilar ensaiado sem reforço e que, após a aplicação do reforço, voltou a ser ensaiado. Aos elementos de pilar da série E2 atribuiu-se a designação de PnmSR em que SR designa sem reforço. 2. REFORÇO DOS ELEMENTOS DE PILAR 2.1 Procedimentos de reforço e materiais utilizados Na Figura 2 representa-se esquematicamente a técnica de reforço adoptada nas séries de elementos de pilar ensaiados no âmbito do presente trabalho, julgada apropriada para pilares com rotura por flexão. Na zona da rótula plástica, com comprimento próximo dos 100 mm, o betão de recobrimento foi removido. Em seguida foram efectuadas ranhuras de 5 mm de largura por 15 mm de profundidade em toda a altura do pilar, para alojamento das tiras de laminado de fibras de carbono (Figura 3). Na sapata, no alinhamento das ranhuras, foram efectuadas perfurações com aproximadamente 100 mm de comprimento para fixação dos laminados à sapata (Figura 4). Antes de se aplicar os laminados, as ranhuras e os furos foram limpos utilizando-se escovas de aço e ar comprimido (Figura 5). As ranhuras foram preenchidas com um composto constituído por duas partes de resina epóxida e uma de endurecedor [2], sendo de seguida inseridas as tiras de laminado (Figura 6). Por fim, a zona da rótula plástica e as perfurações na sapata foram preenchidas com uma argamassa epóxida

constituída por uma parte (em peso) de um composto epóxido e três partes (em peso) de areia fina previamente lavada e seca (Figura 7). O composto epóxido era constituído por duas partes de resina epóxida e uma parte de endurecedor. Figura 3 - Abertura das ranhuras. Figura 4 Abertura dos buracos de fixação dos laminados à sapata. Figura 5 Limpeza dos buracos de fixação dos laminados à sapata. Figura 6 - Fixação dos laminados a um elemento de pilar. Figura 7 - Aplicação da argamassa epóxida nos buracos de fixação dos laminados à sapata. A resistência à tracção em flexão e a resistência à compressão da argamassa epóxida foi avaliada efectuando ensaios de flexão e de compressão em prismas de 160 40 40 mm 3, às 48h horas e aos 28 dias, tendo-se seguido as recomendações da norma NPEN 196-1 de 1990 [3]. Os resultados obtidos nas argamassas epóxidas estão apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 Resistência à compressão e à tracção em flexão em provetes de argamassa epóxida. Resistência à compressão Resistência à tracção em flexão Às 48 horas Aos 28 dias Às 48 horas Aos 28 dias Média (MPa) 43.75 51.71 33.93 35.4 Desvio padrão (MPa) 2.14 0.47 0.57 1.7 Coef. Variação (%) 4.9 0.9 1.7 4.7 As propriedades de aderência da argamassa epóxida ao betão foi ainda avaliada colando-se as duas partes de provetes de 850 100 100 mm 3, com entalhe a meio vão de 25 mm de altura e 5 mm de espessura, ensaiados previamente para caracterizar o comportamento à tracção em flexão do betão dos pilares ensaiados. Após colados, os provetes voltaram a ser ensaios, tendo-se obtido os resultados apresentados na Tabela 2. A idade da argamassa epóxida à data dos ensaios era de 12 dias. Da análise dos resultados obtidos constata-se um aumento da resistência à tracção em flexão após a colagem dos provetes com a argamassa epóxida. Este aumento está associado à maior resistência à tracção da argamassa epóxida, levando a superfície de fractura a ter maior desenvolvimento e a ocorrer pelo betão, próximo da interface entre o betão e a argamassa epóxida (Figura 8). Tabela 2 Resistência à tracção em flexão nos provetes colados com a argamassa epóxida. Provete Resistência à tracção em flexão (MPa) Aos 28 dias À data dos ensaios dos pilares Prismas colados P10aSR 2.19 2.96 (92 dias) 4.87 (121dias) P12bSR 2.34 3.25 (92 dias) 4.43 (114 dias) P12bPR 2.81 3.80 (84 dias) 4.30 (93 dias) Pilar* 3.61 NQ 5.16 (86 dias) * pilar não ensaiado; NQ não quantificado. Nos pilares P10bCR, P12bCR e P16bCR da série E5, o estribo mais próximo da sapata tinha um recobrimento menor que o necessário à colocação dos laminados, consequência de deficiente posicionamento da armadura deste pilares durante a fase da sua betonagem, pelo que foi necessário cortar este estribo de forma a possibilitar o devido posicionamento dos laminados. O reforço proporcionado pelos estribos foi garantido pela aplicação de duas faixas de tecido de fibras de carbono 240, com 25 mm de largura e empalme de 150 mm (Figura 9). A área da secção do tecido foi determinada igualando a força que um ramo de estribo garante no início da cedência do seu aço, à força suportada pelo tecido na sua rotura. Figura 8 Provetes colados com argamassa epóxida Figura 9 Aplicação de faixa de tecido de fibras de carbono na substituição de estribos cortados.

3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Os elementos de pilar das séries E3 e E5 foram ensaiados segundo o carregamento cíclico descrito em outro trabalho [1]. Durante os ensaios foram registados a força horizontal (F h ) aplicada na cabeça do elemento de pilar e os correspondentes deslocamentos e extensões, medidos nos transdutores (LVDTs) e nos extensómetros (ext.) representados na Figura 10. A força vertical (F v ) aplicada ao pilar foi também registada, tendo-se constatado que foi possível aplicar uma carga aproximadamente constante de 150 kn, responsável pela introdução de uma tensão de compressão no betão de 3.75 MPa. ed Lado do actuador Ve Fh laminados de fibras de carbono Vd Fv=150kN LVDT1 + - 25mm 3552 LVDT2 + - 25mm 175mm 3468 LVDT3 + - 25mm 200mm ext.3 ext.2 ext.1 sapata LVDT7 + 12.5mm 20mm 150mm 150mm 3558 LVDT4 + - 12.5mm 2987 LVDT5 + - 12.5mm LVDT6 + 2990-2.5mm 20mm 200mm 150mm 100mm ext.5 ext.6 ext.4 sapata extensómetros 3 extensómetros sapata bloco de fundação Figura 10 - Transdutores de deslocamentos e extensómetros aplicados. A resistência à tracção em flexão e a resistência à compressão do betão dos elementos de pilar foram obtidos por intermédio de ensaios de flexão sob três pontos de carga [4] e prismas de 850 100 100 mm 3 com 800 mm de vão, e em cilindros de 150 mm de diâmetro e 300 mm de altura, respectivamente. Os resultados aos 28 dias e à data dos ensaios dos elementos de pilar estão incluídos na Tabela 3. A idade do betão à data dos ensaios dos elementos de pilar está apresentada nas Tabelas 4 e 5. Tabela 3 Resistência à tracção em flexão e à compressão do betão dos elementos de pilar. Compressão Tracção Aos 28 dias À data de ensaio dos pilares E2 (PnmSR) E3 (PnmPR) E5 (PnmCR) E3 (PnmPR) Média (MPa) 15.20 17.74 19.40 21.43 Desvio Padrão (MPa) 2.84 3.24 2.78 2.31 Coeficiente de variação (%) 19 18 14 11 Média (MPa) 2.58 2.74 2.92 3.65 Desvio Padrão (MPa) 0.55 0.45 0.37 0.30 Coeficiente de variação (%) 21 16 13 8

A força máxima de compressão e de tracção nos ensaios efectuados encontram-se nas Tabelas 4 e 5. Nestas tabelas a idade dos elementos de pilar encontram-se entre parêntesis. A força de compressão é a lida na célula de carga quando o actuador avança no sentido ed (ver Figura 10), ficando a célula de carga comprimida e a face do elemento de pilar virada para o actuador fica traccionada. O conceito de força de tracção depreende-se por analogia com a anterior definição. Tabela 4 Forças máximas (kn) registadas nos ensaios da série E3. Série E3 P10aPR (111 dias) P10bPR (113 dias) P12aPR (110 dias) P12bPR (115 dias) P16aPR (136 dias) P16bPR (113 dias) Tracção 37.14 40.63 44.13 39.81 43.45 43.29 Compressão -38.54-37.96-43.66-36.64-39.88-40.38 Tabela 5 Forças máximas (kn) registadas nos ensaios das séries E2 e E5. Pilar diâmetro P10a φ10 P10b φ10 P12a φ12 P12b φ12 P16a φ16 P16b φ16 E2 (kn) 16.67 (86d*) 21.78 (85d) 26.35 (85d) 29.31 (85d) 30.52 (82d) 35.23 (79d) Tracção E5 (kn) 37.96 (146d) 41.38 (130d) 34.11 (150d) 45.54 (154d) 23.13 (155d) 29.97 (13d) Variação (%) 127.7 89.99 29.45 55.37-24.41-14.93 E2 (kn) -19.76 (86d) -24.07 (85d) -30.52 (85d) -32.27 (85d) -27.29 (82d) -35.09 (79d) Compressão E5 (kn) -34.11 (146d) -43.1 (130d) -37.03 (150d) -41.58 (154d) -28.25 (152d) -31.53 (79d) Variação (%) 72.62 79.06 21.33 28.85 3.52-10.15 * d=dias Na série E5, excepto nos pilares armados com varões φ16, nos restantes registou-se um aumento significativo na força máxima de tracção e de compressão. Este aumento é maior nos pilares reforçados com menor percentagem de armadura convencional. O decréscimo da capacidade de carga ocorrido nos pilares P16aCR e P16bCR é analisado na secção 4. Se se tomar como base de referência os valores registados nos pilares da série E2 [1] (pilares não reforçados), verifica-se um aumento significativo da capacidade de carga nos pilares da série E3. O aumento é também mais significativo nos pilares com menor percentagem de armadura convencional. Se não se considerarem os pilares P16aCR e P16bCR verifica-se que o aumento proporcionado pelo reforço dos laminados é aproximadamente igual para o caso dos pilares pré-reforçados (série E3) e pós-reforçados (série E5). A título de exemplo apresenta-se nas Figuras 11 e 12 a relação entre a força horizontal e o deslocamento de controlo do ensaio (LVDT1 ver Figura 10) para os pilares armados com φ10 e φ12, com e sem reforço dos laminados. 20 15 40 30 P10aSR 10 P10aCR 20 5 10 0-25 -20-15 -10-5 0 5 10 15 20 25-5 -10 0-25 -20-15 -10-5 0 5 10 15 20 25-10 -20-15 -20 (a) Figura 11 Relação entre a força horizontal e o deslocamento de controlo nos elementos de pilar P10aSR (a) e P10aCR (b). -30-40 (b)

P12bSR 35 25 15 5-20 -15-10 -5-5 0 5 10 15 20-15 -25-35 (a) P12bCR 48 40 32 24 16 8 0-24 -18-12 -6-8 0 6 12 18 24 Figura 12 Relação entre a força horizontal e o deslocamento de controlo nos elementos de pilar P12bSR (a) e P12bCR (b). -16-24 -32-40 -48 (b) A relação entre os valores máximos das forças alcançadas nos ciclos de carga e os respectivos deslocamentos registados no transdutor de controlo nos elementos de pilar P10aSR e P10aCR está representada na Figura 13 e nos elementos de pilar P12bSR e P12bCR está ilustrada na Figura 14. Nos pilares φ10 o aumento proporcionado pelo reforço manifesta-se antes da cedência da armadura, enquanto nos pilares φ12 o aumento só é significativo após a cedência das armaduras. Legenda: P10aSR P10aCR 35 25 Legenda: P12bSR P12bCR 45 35 15 25 15 5 5-25 -15-5 -5 5 15 25-25 -15-5 -5 5 15 25-15 -25-35 Figura 13 Relação entre a força máxima e o deslocamento nos carregamentos cíclicos do elemento de pilar P10a. -15-25 -35-45 Figura 14 Relação entre a força máxima e o deslocamento nos carregamentos cíclicos do elemento de pilar P12b. Em praticamente todos os ensaios, alguns dos laminados alcançaram a sua tensão de rotura (próximo dos 1500 MPa), conforme se pode constatar analisando, na Figura 15, a título de exemplo, a relação entre a força horizontal máxima registada nos carregamentos cíclicos e a respectiva extensão, obtida no extensómetro colocado na base do pilar P10aCR (ext.5 ver Figura 10). Nos restantes elementos de pilar foram registadas relações similares nos extensómetros dispostos próximos da secção de rotura. Verifica-se que, em tracção, os laminados alcançam uma extensão próxima dos 1%, que corresponde a uma tensão entre 1500 a 1600 MPa, da ordem da tensão de rotura obtida nos ensaios de tracção uniaxial [1]. As extensões de compressão são da ordem da metade das extensões em tracção, facto este motivado pela contribuição do betão comprimido envolvente. A existência de uma interface dúctil entre o laminado e o betão envolvente, constituída pelo composto epóxido, pode ter promovido o desenvolvimento de micro-encurvaduras nos laminados, contribuindo também para esta diferença tão significativa nas extensões dos laminados em tracção e em compressão.

Em vez das roturas frágeis e violentas que ocorrem nos laminados e tecidos colados nas faces de peças de betão [5], nos laminados inseridos nas ranhuras dos elementos de pilar ensaiados, a sua rotura processou-se no interior das ranhuras, pelo que a descolagem violenta dos laminados foi impedida. A cedência dos laminados foi acompanhada por sinais sonoros de rotura das fibras e por quebra de capacidade de carga do elemento de pilar. A título de exemplo, na Figura 17, representa-se o padrão de fendilhação registado nas faces dos pilares P10aSR e P10aCR. A figura 16 ilustra a designação das faces. 40 P10aCR 30 20 compressão 10 tracção 0-5000 -2500 0 2500 5000 7500 10000-10 Extensão ext.5 (µm/m) -20-30 -40 Face A Face B Face D Face C Figura 15 - Relação entre a força máxima e a extensão no extensómetro ext.5 (ver Figura 11) nos carregamentos cíclicos, no elemento de pilar P10aCR. Figura 16 Designação das faces do pilar. Face A Face B Face C Face D Face A Face B Face C Face D (a) (b) Figura 17 Padrão de fendilhação registado no pilar P10aSR (a) e P10aCR (b). Traço mais grosso significa fenda com maior abertura. Zona tracejada representa betão muito danificado. Constata-se que no pilar não reforçado a secção de rotura ocorre na base do pilar, enquanto no pilar reforçado desenvolve-se maior número de fendas e a rotura localiza-se aproximadamente

a 150 mm acima da base do pilar, pelo que o braço do momento aplicado pela força horizontal decresce, motivando o acréscimo da capacidade de carga registado. Este padrão de fendilhação foi característico dos pilares reforçados em que se registou um aumento da sua capacidade de carga. 4. PROBLEMAS QUE PODEM SURGIR COM A PRESENTE TÉCNICA DE REFORÇO Na Tabela 5 verificou-se que nos pilares P16aCR e P16bCR se registou um decréscimo da capacidade de carga com a aplicação dos laminados de fibras de carbono. Durante o processo de reforço do pilar P16aCR fendas com considerável abertura não foram seladas. Além disto, a argamassa epóxida apresentou dificuldades de endurecimento (provavelmente motivadas por a temperatura do adesivo poder ter excedido a temperatura crítica [5]), tendo mesmo surgido uma fenda nesta argamassa (ver Figura 18a). Por estes motivos, durante o ensaio do pilar P16aCR a fractura localizou-se na fenda de maior abertura (ver Figura 18b), conduzindo a um acréscimo de tensão nos laminados, nessa secção, e à rotura precoce destes. No pilar P16bCR a argamassa epóxida também apresentou problemas de endurecimento, pelo que durante o ensaio a argamassa de enchimento dos furos de fixação dos laminados à sapata foi perdendo aderência ao betão (ver Figura 19), resultando num reforço ineficaz. Estes factos revelam a necessidade de selagem das fendas existentes e do controlo rigoroso da qualidade dos materiais utilizados no reforço. (a) (a) (b) Figura 18 Deficiências no reforço do pilar P16aCR. (b) Figura 19 Deficiências no reforço do pilar P16bCR.

5. CONCLUSÕES Se as fendas forem devidamente seladas com um composto epóxido, se as operações de reforço forem devidamente executadas e se houver um controlo de qualidade dos materiais de reforço, a capacidade de carga de pilares com rotura por flexão pode aumentar significativamente, mesmo em pilares com elevados danos, aplicando-se a técnica de reforço que se propõe no presente trabalho. Este aumento é similar quer os pilares tenham sofrido danos por compressão e fendilhação quer estejam intactos. O aumento é mais significativo nos pilares com menor percentagem de armadura longitudinal convencional. 6. AGRADECIMENTOS Os autores do presente trabalho agradecem a colaboração prestada pelas empresas: Biu Internacional (Engº Erik Ulrix); Nordesfer (Engº Mendes Marques), Ferseque (Engºs Hélio Igrejas e Hugo Mota), Casais (Engºs Emanuel Martins e António Carlos), Secil (Engª Raquel Figueira), Solusel (Engº Fernandes), VSL e UBI (Prof. João Paulo e Engº Jorge Andrade). 7. REFERÊNCIAS [1] Barros, J.A.O. Ferreira, D.R.S.M., Lourenço, P.B. Pilares de betão armado reforçados com laminados de fibras de carbono, REPAR 2000, Encontro Nacional sobre Conservação e Reabilitação de Estruturas, LNEC, pp. 547-556, 14-17 Junho, 2000. [2] Bibliografia técnica disponibilizada pela Empresa Biu Internacional, Alverca. [3] NPEN 196-1, Métodos de ensaio de cimentos determinação das resistências mecânicas, 1990. [4] Barros, J.A.O., Cruz, J.S. Fracture energy of steel fibre reinforced concrete Journal of Mechanics of Composite Materials and Structures (aceite para publicação 2000). [5] Juvandes, L.F.P., Reforço e reabilitação de estruturas de betão usando materiais compósitos de CFRP, Tese de Doutoramento, FEUP, 1999.