INFLUÊNCIA DOS NÍVEIS DE CÁLCIO E FERRO NA QUALIDADE DA FIBRA DO ALGODÃO NO ESTADO DE GOIÁS. I. ENSAIOS COM DOSES CRESCENTES DE Ca E Fe (*)

Documentos relacionados
INFLUÊNCIA DOS NÍVEIS DE CÁLCIO E FERRO NA QUALIDADE DA FIBRA DO ALGODÃO NO ESTADO DE GOIÁS. II

RESPOSTA ECONÔMICA DA CULTURA DO ALGODOEIRO A DOSES DE FERTILIZANTES *

EFEITO DA CALAGEM E ADUBAÇÃO COM MICRONUTRIENTES NA PRODUÇÃO DO ALGODOEIRO NO CERRADO DE GOIÁS (*)

ALGODÃO BRANCO E COLORIDO SUBMETIDO À ADUBAÇÃO SILICATADA: QUALIDADE DA FIBRA

ADUBAÇÃO NPK DO ALGODOEIRO ADENSADO DE SAFRINHA NO CERRADO DE GOIÁS *1 INTRODUÇÃO

EFICIÊNCIA COMPARATIVA DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA NA QUALIDADE DA FIBRA DO ALGODÃO CULTIVADO NO MUNICÍPIO DE SALGADO DE SÃO FÉLIX-PB

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 1663

CALAGEM E GESSAGEM DE SOLO CULTIVADO COM ALGODÃO NO CERRADO DE RORAIMA 1 INTRODUÇÃO

DESEMPENHO DE CULTIVARES E LINHAGENS DE ALGODOEIRO HERBÁCEO NO ESTADO DO CEARÁ *

ADUBAÇÃO NITROGENADA E QUALIDADE DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO E SEUS EFEITOS NA PRODUTIVIDADE E COMPONENTES DE PRODUÇÃO DO ALGODOEIRO HERBÁCEO *

ENSAIO REGIONAL DE LINHAGENS E CULTIVARES DE ALGODÃO HERBÁCEO DO NORDESTE

COMPONENTES DE PRODUÇÃO DO ALGODOEIRO EM FUNÇÃO DE CALAGEM E GESSAGEM NO CERRADO DE RORAIMA 1

A Cultura do Algodoeiro

ENSAIO DE ALGODÃO COLORIDO NO NORDESTE. Aldo Arnaldo de Medeiros¹; José Expedito Pereira Filho²; Marcelo Gurgel Medeiros³

EFEITO DE DOSES DE POTÁSSIO NA PRODUÇÃO E NOS TEORES FOLIARES DE K + DO ALGODOEIRO NO OESTE BAIANO, SAFRA 2004/2005 *

ÉPOCAS DE PLANTIO DO ALGODOEIRO HERBÁCEO DE CICLO PRECOCE NO MUNICÍPIO DE UBERABA, MG *

FIABILIDADE E TECNOLOGIA DA FIBRA DE CULTIVARES DE ALGODÃO HERBÁCEO

EFEITO DA INTERAÇÃO ENTRE CALAGEM E GESSAGEM EM ATRIBUTOS QUÍMICOS DE SOLO CULTIVADO COM ALGODÃO NO CERRADO DE GOIÁS *

ESPAÇAMENTOS REDUZIDOS NA CULTURA DO ALGODOEIRO: EFEITOS SOBRE ALGUMAS CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS *

EFEITO DO ESPAÇAMENTO E DENSIDADE DE PLANTAS SOBRE O COMPORTAMENTO DO ALGODOEIRO (*)

18 PRODUTIVIDADE DA SOJA EM FUNÇÃO DA

ÉPOCAS DE SEMEADURA DO ALGODOEIRO HERBÁCEO DE CICLO PRECOCE NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA *

ESTADO NUTRICONAL DA PLANTA DE ALGODÃO ATRAVÉS DA APLICAÇÃO DE DOSES CRESCENTES DE N EM DIFERENTES MODO DE APLICAÇÃO

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2010)

Protocolo. Boro. Cultivo de soja sobre doses de boro em solo de textura média

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 1687

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 1451

RESPOSTA DE CULTIVARES DE ALGODOEIRO À ADUBAÇÃO POTÁSSICA NO CERRADO DE GOIÁS (*)

EFEITO DE TRÊS NÍVEIS DE ADUBAÇÃO NPK EM QUATRO VARIEDADES DE MANDIOCA ( 1 )

ADUBAÇÃO POTÁSSICA DA SOJA EM SISTEMA DE PLANTIO DIRETO NO SUDOESTE DE GOIÁS

Fundação de Apoio e Pesquisa e Desenvolvimento Integrado Rio Verde

EFEITO DO CALCÁRIO E GESSO NA ACIDEZ E LIXIVIAÇÃO DE CÁTIONS DO SOLO SOB CAFEEIROS NA BAHIA 1

RESPOSTA A DOSES CRESCENTES DE POTÁSSIO PARA OS CULTIVARES DE ALGODOEIRO IAC 24 E DELTAOPAL NA REGIÃO DE SELVÍRIA-MS

QUALIDADE DA FIBRA EM FUNÇÃO DE DIFERENTES FORMAS DE PLANTIO DA SEMENTE DE ALGODÃO LINTADA, DESLINTADA E DESLINTADA E TRATADA *

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FERTILIZANTE ORGANOMINERAL VALORIZA. VALORIZA/Fundação Procafé

EFICIÊNCIA AGRONÔMICA DE UM POLIFOSFATO SULFORADO (PTC) NO ALGODOEIRO EM SOLO DE GOIÂNIA-GO *

COMPORTAMENTO DE CULTIVARES DE ALGODÃO NO CERRADO DA BAHIA, SAFRA 2009/10. 1 INTRODUÇÃO

LINHAGENS FINAIS DE ALGODÃO NO VALE DO IUIU, SUDOESTE DA BAHIA, SAFRA 2009/10. 1 INTRODUÇÃO

RESPOSTA DO ALGODOEIRO A DOSES E MODOS DE APLICAÇÃO DE FÓSFORO EM SISTEMAS DE PLANTIO DIRETO E CONVENCIONAL NO CERRADO (*)

ADUBAÇÃO DO ALGODOEIRO COM NPK EM SISTEMA PLANTIO DIRETO NO CERRADO (1)

EFICIÊNCIA COMPARATIVA DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA NO CRESCIMENTO E NA PRODUÇÃO DO ALGODOEIRO CULTIVADO NO MUNICÍPIO DE SALGADO DE SÃO FÉLIX - PB

15 AVALIAÇÃO DOS PRODUTOS SEED E CROP+ EM

BIOMASSA MICROBIANA E DISPONIBILIDADE DE NITROGÊNIO EM FUNÇÃO DA ADUBAÇÃO NITROGENADA DO ALGODOEIRO, APÓS PASTAGEM DE BRAQUIÁRIA NO CERRADO *,**

ADUBAÇÃO DA MAMONEIRA DA CULTIVAR BRS ENERGIA.

PRODUÇÃO DO ALGODOEIRO HERBÁCEO ADUBADO COM ESCÓRIA SIDERÚRGICA

ADUBAÇÃO DO ALGODOEIRO NO CERRADO: RESULTADOS DE PESQUISA EM GOIÁS E BAHIA 1

VIABILIDADE DO ADENSAMENTO DE PLANTIO NAS VARIEDADES DE ALGODÃO CULTIVADAS NO SUDOESTE DA BAHIA, SAFRA 2004/2005 *

13 AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO VIA

QUALIDADE DA FIBRA DE CULTIVARES DE ALGODOEIRO HERBÁCEO EM DIFERENTES NÍVEIS DE ADUBAÇÃO NITROGENADA NO AGRESTE DO ESTADO DE ALAGOAS

AVALIAÇÃO DE CULTIVARES E LINHAGENS DE ALGODOEIRO NO SUDOESTE DA BAHIA, REGIÃO DO VALE DO YUYU

ACIDEZ DO SOLO E PRODUÇÃO DE SOJA EM FUNÇÃO DA CALAGEM SUPERFICIAL E ADUBAÇÃO NITROGENADA EM PLANTIO DIRETO

ADUBAÇÃO NITROGENADA DO ALGODOEIRO HERBÁCEO IRRIGADO NO CARIRI CEARENSE

PARCELAMENTO DA COBERTURA COM NITROGÊNIO PARA cv. DELTAOPAL E IAC 24 NA REGIÃO DE SELVÍRIA-MS

LINHAGENS DE ALGODOEIRO DE FIBRAS ESPECIAIS NO CERRADO DA BAHIA, SAFRA 2008/09. 1

INFLUÊNCIA DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA E MATERIAL HÚMICO SOBRE A PRODUÇÃO DE ALFACE AMERICANA

ESTADO NUTRICIONAL DE CAFEZAIS DA REGIÃO NORTE FLUMINENSE EM FUNÇÃO DO ANO DE AMOSTRAGEM. II. MICRONUTRIENTES

17 EFEITO DA APLICAÇÃO DE MICRONUTRIENTES NA

ARRANJO DE PLANTAS PARA LINHAGENS E CULTIVAR DE ALGODOEIRO NO ESTADO DE GOIÁS

CALIBRAÇÃO DOS TEORES DE POTÁSSIO NO SOLO E NA FOLHA DO ALGODOEIRO NO CERRADO DE GOIÁS (*)

ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO E PRODUTIVIDADE DE MANDIOCA EM FUNÇÃO DA CALAGEM, ADUBAÇÃO ORGÂNICA E POTÁSSICA 1

CRESCIMENTO DE CLONES DE

ENSAIO DE VALOR DE CULTIVO E USO (VCU 2004) DO PROGRAMA DE MELHORAMENTO DA EMBRAPA NO CERRADO

ENSAIOS REGIONAIS DO CERRADO CONDUZIDOS NO CERRADO DA BAHIA NA SAFRA 2004/05 1

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 1636

Ensaio de Valor de Cultivo e Uso (VCU 2005) do programa de melhoramento da Embrapa no Cerrado

AVALIAÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS SEMEADAS NA PRIMAVERA E SUAS INFLUÊNCIAS SOBRE O ALGODOEIRO 1

COMPORTAMENTO DE CULTIVARES COMERCIAIS NO CERRADO DO MATO GROSSO SAFRA 2001/2002 *

EFEITO DA ADUBAÇÃO MINERAL COM NPK + MICRONUTRIENTES SOBRE O CRESCIMENTO E A PRODUÇÃO DO ALGODOEIRO NO MUNICÍPIO DE SALGADO DE SÃO FÉLIX - PB

16 EFEITO DA APLICAÇÃO DO FERTILIZANTE FARTURE

IRRIGAÇÃO BRANCA NA FORMAÇÃO DO CAFEEIRO

DESEMPENHO DE CULTIVARES E LINHAGENS DE ALGODOEIRO HERBÁCEO NO CERRADO DO SUL MARANHENSE

TEOR DE ÓLEO E RENDIMENTO DE MAMONA BRS NORDESTINA EM SISTEMA DE OTIMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO

CULTIVARES DE ALGODOEIRO HERBÁCEO RECOMENDADAS PARA OS CERRADOS DO MEIO- NORTE DO BRASIL

CAUSAS DA PRODUÇÃO DE FIBRAS CURTAS NAS FAZENDAS

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 1656

CORREÇÃO DA ACIDEZ SUPERFICIAL E SUBSUPERFICIAL DO SOLO PARA O CULTIVO DO ALGODOEIRO NO CERRADO DE RORAIMA 1

DESENVOLVIMENTO RADICULAR DA SOJA EM CAMADAS SUBSUPERFICIAIS DO SOLO SOB APLICAÇÃO DE HIDRÓXIDO DE CÁLCIO. Apresentação: Pôster

EFEITO DE DOSES DE FERTILIZANTES NA CULTURA DO ALGODOEIRO SOB SISTEMA PLANTIO DIRETO EM MATO GROSSO DO SUL (*)

Palavras-chave: Diferença varietal, nutrição mineral, qualidade da fibra. INTRODUÇÃO

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 1631

PRODUTIVIDADES DE MILHO EM SUCESSIVOS ANOS E DIFERENTES SISTEMAS DE PREPARO DE SOLO (1).

EFEITO DOS NÍVEIS DE SATURAÇÃO POR BASES NOS COMPONENTES DE ACIDEZ DE QUATRO LATOSSOLOS SOB CAFEEIROS NA BAHIA 1

ADUBAÇÃO POTÁSSICA DO ALGODOEIRO CULTIVADO EM SISTEMA DE PLANTIO DIRETO NOS CERRADOS

AVALIAÇÃO DE NOVAS LINHAGENS ORIUNDAS DE CAMPOS DE SEMENTES GENÉTICAS DE ALGODÃO EM BARBALHA- CE RESUMO

João Felipe AMARAL, Laércio Boratto de PAULA.

431 - AVALIAÇÃO DE VARIEDADES DE MILHO EM DIFERENTES DENSIDADES DE PLANTIO EM SISTEMA ORGÂNICO DE PRODUÇÃO

ANÁLISE DO TECIDO VEGETAL DO PINHÃO MANSO, SUBMETIDOS A FONTES E DOSES DE FERTILIZANTES

Manejo da adubação nitrogenada na cultura do milho

Soluções Nutricionais Integradas via Solo

Qualidade: Caminho para a competitividade

ÉPOCAS DE PLANTIO DO ALGODOEIRO HERBÁCEO DE CICLO PRECOCE PARA A REGIÃO DO PONTAL DO TRIÂNGULO MINEIRO

EFFECT OF PLANTS ARRANGEMENTS AND GROWTH REGULATOR MEPIQUAT CHLORIDE IN THE YIELD AND RESISTANCE FIBER IN THE SERTÃO REGION OF ALAGOAS STATE

DESEMPENHO DE VARIEDADES COMERCIAIS DE ALGODÃO SUMETIDAS A DIFERENTE NIVEIS DE ADUBAÇÃO NO OESTE DA BAHIA, SAFRA 2004/2005

COMPORTAMENTO DE CULTIVARES E LINHAGENS DE ALGODOEIRO HERBÁCEO NO CERRADO DO SUDOESTE PIAUIENSE

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 913

ESTIMATIVA DA HETEROSE EM ALGODOEIRO HERBÁCEO IRRIGADO NO NORDESTE

Densidade populacional de Pratylenchus brachyurus na produtividade da soja em função de calagem, gessagem e adubação potássica

Doses de potássio na produção de sementes de alface.

Calibração dos Teores de Boro no Solo e nas Folhas da Cultura do Algodão cultivado em solo com condições de acidez variável.

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 18

Transcrição:

INFLUÊNCIA DOS NÍVEIS DE CÁLCIO E FERRO NA QUALIDADE DA FIBRA DO ALGODÃO NO ESTADO DE GOIÁS. I. ENSAIOS COM DOSES CRESCENTES DE Ca E Fe (*) Rosa Maria Mendes Freire (Embrapa Algodão), Gilvan Barbosa Ferreira (Embrapa Algodão / gilvanbf@cnpa.embrapa.br), João Cecílio Farias de Santana, José da Cunha Medeiros (Embrapa Algodão), Isaías Alves (Embrapa Algodão), Jânio Barbosa Moreira (Embrapa Algodão). RESUMO - Avaliaram-se os efeitos da calagem e da adubação com Fe na cultura algodoeira sobre as características tecnológicas da fibra no experimento de campo, cv. BRS Aroeira, visando determinar se esses fatores alteram teores de Ca e Fe. Determinaram-se as características tecnológicas, no HVI do Laboratório de Fibras e Fios da Embrapa Algodão, após o que as fibras foram liberadas para as análises de Ca e Fe. Concluiu-se que o Fe afina a fibra, reduz a resistência e o alongamento, ocasiona menor maturidade e pode prejudicar o uso da fibra em rotores de alta velocidade devido à menor resistência e maior % de fibras curtas, além de torná-la mais creme. As dosagens crescentes de FeSO 4 reduzem substancialmente o teor de Ca na fibra e as de calcário melhoram consistentemente a qualidade da fibra, reduzindo o índice de fibras curtas, a finura, o grau de amarelecimento e aumentando o grau de reflectância e fiabilidade. As melhores dosagens de calcário se situaram entre 3,6 e 3,8 t/ha. Palavras chave: fertilidade, solos, características tecnológicas. CALCIUM AND IRON LEVELS INFLUENCE ON COTTON FIBER QUALITY AT GOIÁS STATE I. TESTS WITH CALCIUM AND IRON CRESCENT DOSES ABSTRACT - The objective of this work was evaluate the Ca and Fe fertilization effects on BRS Aroeira cotton plant fiber technological characteristics at field test, aiming to study if the factors change Ca and Fe contents. Were analyzed the fiber technological characteristics at HVI of Fiber and Spin Laboratory of Embrapa Cotton and, subsequently, were analyzed Ca and Fe in fibers. It was verified that Fe gets fiber more fine, reduces resistance and lengthening, causes smaller maturity and can damage the use of fiber in types of high velocity due to smaller resistance and bigger fiber short percentage, beside allow them more cream-colored. Crescent doses of F e SO 4 reduce Ca content in the fiber and calcium carbonate improve fiber quality, reducing index short fibers, fineness, level of yellowish and increase reflectance and spinning level. The best doses of calcium carbonate ranged between 3.6 and 3.8 ton/hectare. Key words: fertility, soils, technological characteristics INTRODUÇÃO O estado de Goiás é o terceiro maior produtor de algodão do Brasil, atrás apenas de MT e BA (LSPA, 2005). Apesar da excelente qualidade intrínseca da fibra obtida em HVI, seus teores de Fe e Ca têm despertado a atenção de algumas indústrias. O ferro e o cálcio são os nutrientes minerais mais freqüentemente associados a problemas técnicos na fibra. Teores elevados de ferro causam irregularidade no processo de tingimento, reduzindo a absorção de pigmentos em algumas áreas da fibra. O excesso de cálcio deixa o tecido mais rugoso e, conseqüentemente, menos agradável ao tato. Essas características são indesejáveis para usos mais nobres da fibra do algodão. Marcus-Wyner e

Rains (1982) encontraram teores de cálcio e ferro na fibra do algodão, de 1000 e 20 mg/kg, respectivamente. Nos últimos três anos, algumas indústrias têxteis brasileiras que adquirem algodão produzido nas condições de cerrado, em especial de Goiás, têm reclamado da qualidade intrínseca da fibra, sobretudo da finura. Vários fatores podem estar envolvidos na redução da qualidade da fibra, alguns dos quais ligados à nutrição mineral, em especial do cálcio, do ferro e do boro devido ao seu excesso no solo, ocasionando desequilíbrio em relação aos demais nutrientes, promovendo competição e antagonismo iônico. Os produtores também perdem, pois as indústrias colocam deságios nos preços pagos pela fibra, cujo prejuízo está em toda a cadeia produtiva, razão por que se objetivou, com este trabalho, avaliar os efeitos da calagem e da adubação com Fe na cultura algodoeira sobre os componentes de produção e propriedades tecnológicas da fibra produzida em Goiás, visando determinar se esses fatores estão alterando os teores de Ca e Fe na fibra. MATERIAL E MÉTODOS O experimento Efeito de calagem e adubação com micronutrientes na produção do algodoeiro em plantio direto, no cerrado de Goiás, foi desenvolvido em Quirinópolis, GO, com a cv. BRS Aroeira, usando-se delineamento de blocos ao acaso, com parcelas subdivididas em faixa e 4 repetições. Os tratamentos constaram de cinco doses de calcário (0; 0,5; 1; 2 e 4 vezes a recomendada) e três doses de Fe (0; 0,5; 1 e 2 vezes a indicada) de acordo com a análise do solo. Foram coletadas amostras de capulho (amostras padrão) e determinadas as características tecnológicas de fibra, no HVI do Laboratório de Fibras e Fios da Embrapa Algodão, após o que as fibras liberadas para as análises químicas de Ca e Fe, feitas pela digestão nítrica-perclórica e dosagem por Absorção Atômica, realizadas na Universidade Federal da Paraíba, em Areia. Após as análises laboratoriais, os dados foram tabulados em planilha Excel e submetidos às análises de variância e regressão, segundo Gómez e Gómez (1984). RESULTADOS E DISCUSSÃO As doses de Ferro e Calcário utilizadas afetaram a qualidade tecnológica das fibras do algodoeiro (Fig. 1) e as doses de Fe (FeSO 4 ) aumentaram o comprimento da fibra, o índice de fibras curtas, o grau de amarelecimento (+b) e a fiabilidade (CSP) das fibras do algodoeiro. O grau de amarelecimento (+b) foi afetado positivamente apenas nas doses de calcário de 1,5 e 6,0 t/ha, não apresentando efeito positivo nas demais doses testadas. Houve inconstância nos resultados de fiabilidade, que foi influenciada positivamente pelas doses de Ferro na dose zero de calcário e negativamente na maior dose de calcário testada. A resistência, o alongamento, o índice Micronaire e a maturidade da fibra foram afetados negativamente pelo aumento das doses de Fe-FeSO 4. Os dados indicam que o Fe promove o afinamento da fibra, reduz sua resistência e flexibilidade e ocasiona menor maturidade, prejudicando o uso da fibra em rotores de alta velocidade devido a menor resistência e maior percentagem de fibras curtas, diminuindo o conforto dos tecidos por causa da menor elasticidade da fibra, tornando-a, também, de coloração mais creme, o que pode alterar a qualidade dos processos de tingimento. Apesar dos efeitos negativos apontados, os valores das características tecnológicas estão dentro dos considerados adequados pela indústria e mostram que a Aroeira possui alta qualidade de fibra, mesmo em altos níveis de Ca e Fe. A presença de altos teores de Fe na fibra pode prejudicar sua qualidade nos processos de tingimento, sendo comuns valores entre 40 a 70 mg/kg. Os teores

dosados de Fe na fibra sofrem fortes alterações quando a fibra está suja com resíduo de solo; a concentração neste elemento é geralmente > 100.000 mg/kg. As doses crescentes de Fe usadas alteraram seus teores na fibra, com valor máximo estimado em 3,7 kg/ha de Fe-FeSO 4. Esta dose permite o alcance de um teor máximo estimado de Fe na fibra de 12,9 mg/kg. Os dados originais médios apontam 13,5 mg/kg de Fe na fibra na dose de 2 kg/ha de Fe-FeSO 4, cuja diferença se dá pela simetria do modelo usado; entretanto, permite admitir-se que o valor máximo verdadeiro deva ser encontrado entre as doses de 2 e 3,7 kg/ha de Fe-FeSO 4 aplicadas ao solo no sulco de plantio. A resposta quadrática observada mostra que a planta absorve e transloca, para a fibra, maiores quantidades de Fe, até a dose de 3,7 kg/ha, a partir da qual, há tendência de queda. Quando os graus de liberdade do efeito de doses de Fe são decompostos dentro de cada nível de calcário, o efeito quadrático é significativo acima de 13% apenas em algumas doses de calcário e a intensidade do aumento dos teores de Fe Comprimento (mm) 32,4 y = 0,0516x + 31,802 32,2 R 2 = 0,71 o 32,0 31,8 31,6 3,4 3,2 3,0 y = -0,0247x 2 + 0,1901x + 2,8098 2,8 R 2 = 0,70* 2,6 Dose de Ferro (kg/ ha) Resistência (g/tex) 36,00 35,50 y = 0,0503x 2-0,5751x + 35,625 35,00 R 2 = 0,98 o 34,50 34,00 33,50 7,00 y = -0,0408x + 6,8309 6,80 R 2 = 0,51 o 6,60 6,40 Doses de Ferro (kg/ ha) Micronaire 4,60 y = 0,0155x 2-0,1396x + 4,5615 4,50 R 2 = 0,90** 4,40 4,30 4,20 90,00 89,75 y = 0,0334x 2-0,272x + 89,781 R 2 = 0,93** 89,50 89,25 89,00 0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 Dose de Ferro (kg/ ha) Ferro d / Calcário Ferro d / Calcário 10,5 y = -0,0226x 2 + 0,3721x + 8,6937 2320 y = -1,8706x 2 + 5,8611x + 2295,1 +b 10,0 9,5 9,0 8,5 R 2 = 0,9935** y = -0,0166x 2 + 0,2433x + 8,9873 R 2 = 0,4722 o Ca=1,5 Fiabilidade (CSP) 2280 2240 2200 y = 9,7091x + 2189,8 R 2 = 0,7421* R 2 = 0,805* Ca=0 8,0 2160

Fer r o d / Cal cár i o 14,0 4,0 3,2 2,4 1,6 0,8 0,0 y = 0,1041x 2-1,1389x + 3,4925 R 2 = 0,776** y = 0,0773x 2-0,8782x + 3,0746 R 2 = 0,679** y = 0,0415x 2-0,5806x + 2,7206 R 2 = 0,498* y = 0,0435x 2-0,5426x + 2,2698 R 2 = 0,810** y = 0,0332x 2-0,4291x + 1,9884 R 2 = 0,741** Dose de Fer r o (kg/ ha) Ca=0 Ca=0,75 Ca=1,5 Ca=3,0 12,0 10,0 y = -0,1183x 2 + 0,872x + 11,294 R 2 = 0,55** 8,0 Figura 1. Características tecnológicas de fibra em função de doses de Ferro e dentro de doses de calcário no solo. Quirinópolis, GO, 2004. 0, ** e * Significativo a 10%, 5% e 1% de probabilidade na fibra, como conseqüência da adição de FeSO 4 é mais intensa apenas na ausência e nas menores doses de calcário, indicando que o calcário é um excelente corretivo de teores excessivos de Fe no solo para o algodoeiro, neutralizando-o de forma semelhante ao que ocorre com o Mn e Al tóxicos no solo. Várias características de fibra foram afetadas pela calagem (Fig. 1). As doses de calcário utilizadas permitiram redução linear do índice de fibras curtas, redução da finura medida pelo índice micronaire e da maturidade entre as doses de 1,5 e 3,0 t/ha com posterior aumento das duas últimas variáveis, até a dose máxima de calcário usada; além de aumentar o grau de reflectância (Rd) da fibra, com máximo em 3,8 t/ha e a fiabilidade, com máximo em 3,6 t/ha, reduziu o grau de amarelecimento (+b) e os teores de Ca e Fe na fibra; assim, dos fatores em estudo o calcário foi o único que melhorou a qualidade da fibra do algodoeiro, mesmo que esta melhoria tenha ocorrido em fibras com qualidade dentro do padrão exigido pela indústria. Consegue-se a melhor fiabilidade com a dose de 3,7 t/ha de calcário na presença de 2 kg/ha de Fe-FeSO 4, sendo de 1,7 t/ha na presença de 8 kg/ha de Fe-FeSO 4 e de 4,7 t/ha na ausência do Fe-FeSO 4 devido ao ajuste da planta na harmonização das características tecnológicas de fibras influenciadas pelas doses de Fe-FeSO 4 e pela calagem. A fiabilidade melhorou significativamente com o aumento das doses de calcário, porém esta melhora foi maior na presença de uma dose de 2 kg/ha de Fe-FeSO 4. O grau de amarelecimento foi reduzido pela calagem, mas o efeito foi anulado nas maiores doses de Fe-FeSO 4, que elevaram significativamente o grau de amarelecimento nas doses de calcário de 1,5 e 6,0 t/ha, alcançando o máximo de amarelecimento com as doses estimadas de 7,3 e 8,2 kg/ha de Fe-FeSO 4, respectivamente; enquanto o Fe-FeSO 4 torna a fibra mais creme, o calcário a embranquece e lhe dá melhores qualidades. A melhoria do ambiente radicular permite um equilíbrio nutricional melhor da planta, com reflexo positivo na qualidade e na produtividade de fibra. Os teores médios de Ca na fibra sempre foram superiores a 800 mg/kg, considerados altos. Os teores de Ca na fibra são sempre altos nas condições naturais de Cerrado e não podem alcançar os valores requeridos, alterando as doses de calcário praticadas nos solos cultivados. Curiosamente, o aumento das doses de Fe-FeSO 4 reduziu os teores de Ca na fibra do algodoeiro (de 2.400 mg/kg para 800 mg/kg de Ca entre as doses 0 e 8 kg/ha de Fe- FeSO 4 na média de todas as doses de calcário) o que pode oferecer uma alternativa tecnológica de uso do Fe- FeSO 4 no sulco de plantio, na dose de 2 kg/ha de Fe-FeSO 4, para reduzir os teores de Ca na fibra.

CONCLUSÕES 1. O Fe afina a fibra, reduz a resistência e o alongamento, ocasiona menor maturidade e pode prejudicar o uso da fibra em rotores de alta velocidade devido à menor resistência e maior % de fibras curtas, além de torná-la mais creme. Seus teores intrínsecos sem contaminação com o solo não têm potencial para provocar alteração nos processos de tingimento, em virtude dos baixos teores alcançados. Se algum teor em excesso for encontrado, a causa deve ser poeira de solo na fibra; 2. As dosagens crescentes de FeSO 4 reduzem substancialmente o teor de Ca na fibra. A dosagem de 2 kg/ha de Fe-FeSO 4 no sulco de plantio, permite que se alcance o alvo de 800 a 1.200 mg/kg de Ca nas fibras. Este dado precisa ser confirmado em futuras pesquisas para só então se tornar prática tecnológica recomendada; 3. A ação negativa do Fe-FeSO 4 sobre a qualidade da fibra não a desclassifica para o comércio. A variação negativa induzida ocorre dentro dos limites aceitáveis pela indústria. A ação positiva do calcário também obedece a esses limites; 4. As dosagens crescentes de calcário melhoram consistentemente a qualidade da fibra reduzindo o índice de fibras curtas, a finura, o grau de amarelecimento e aumentando o grau de reflectância e a fiabilidade. As melhores dosagens de calcário se situaram entre 3,6 e 3,8 t/ha, especialmente na presença de 2 kg/ha de Fe-FeSO 4. A calagem do solo ácido e pobre utilizado neste ensaio, promoveu redução nos teores de Ca e Fe na fibra, melhorando a sua qualidade intrínseca, porém não foi suficiente para reduzir os teores de Ca na fibra para o limite inferior ao usado nas indústrias. (*) Pesquisa financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa FUNAPE UFG. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GOMEZ, K. A.; GOMEZ, A. A. Statistical procedures for agricultural research. 2.ed. New York: John Wiley, 1984. 680 p. LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA 2005. Rio de Janeiro: IBGE/CPAGRO, 2005. MARCUS-WYNER, L., RAINS, D. W. Nutritional disorders of cotton plants. Comum. Soil Science Plant Anal., v.13, n. 9, p. 685-736, 1982.