DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DATAÇÃO POR RADIOCARBONO-AMS DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO JUSTINO, CANINDÉ DE SÃO FRANCISCO, SERGIPE

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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS E ANÁLISE DE BACIAS DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DATAÇÃO POR RADIOCARBONO-AMS DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO JUSTINO, CANINDÉ DE SÃO FRANCISCO, SERGIPE ALQUIZIA DORCAS DANTAS DE SANTANA São Cristóvão-SE Agosto 2013

DATAÇÃO POR RADIOCARBONO-AMS DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO JUSTINO, CANINDÉ DE SÃO FRANCISCO, SERGIPE ALQUIZIA DORCAS DANTAS DE SANTANA Dissertação submetida à Comissão Examinadora do Programa de Pós- Graduação em Geociências e Análise de Bacias da Universidade Federal de Sergipe, como requisito para obtenção do título de Mestre em Geociências Orientadora: Dra. Maria de Lourdes da Silva Rosa Coorientador: Dr. Albérico Nogueira de Queiroz São Cristóvão-SE Agosto 2013

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE S232d Santana, Alquizia Dorcas Dantas de Datação por radiocarbono-ams do Sítio Arqueológico Justino, Canindé de São Francisco, Sergipe / Alquizia Dorcas Dantas de Santana; orientadora Maria de Lourdes da Silva Rosa. São Cristóvão, 2013. 80f. Dissertação (Mestrado em Geociências) - Universidade Federal de Sergipe, 2013. 1. Datação arqueológica. 2. Datação por radiocarbono. 3. Sítio Arqueológico Justino. I. Rosa, Maria de Lourdes da Silva, orient. II. Título. CDU 902.65

Aos meus Pais Antônio Valença (in memorian) e Maria Lúcia, vocês foram os primeiros professores na Universidade da Vida. iii

AGRADECIMENTOS A cada passo que damos em busca de um conhecimento é uma experiência enriquecedora e de plena superação. É com muita satisfação que hoje olho para o passado e vejo que não completei esta jornada sozinha. Preliminarmente, agradeço a Deus pelo dom da vida. À Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (FAPITEC) e ao PRONEX-GEOLOGIA [CNPq] por ter acreditado nesse projeto e concedido bolsa de mestrado e auxílio à pesquisa, sem dúvida esse apoio financeiro foi primordial para o desenvolvimento desse trabalho. Ao Museu de Arqueologia de Xingó (MAX) pelo fornecimento das amostras e material fotográficos. À minha orientadora Dra. Maria de Lourdes da Silva Rosa a quem devo gratidão por ter sido a primeira pessoa que acreditou neste trabalho. Agradeço pela coragem de enfrentar novos desafios, mesmo sabendo as dificuldades que iríamos ter pelas diferenças acadêmicas. Obrigada pelas correções e compreensão. Ao meu Coorientador Dr. Albérico Nogueira de Queiroz e à professora Olívia Alexandre, pelas orientações. Ao coordenador do PGAB Herbet Conceição pela assistência prestada nos momentos necessários. Aos professores do PGAB, pela contribuição na minha formação ao longo do mestrado, professor Antônio Pacheco e às professoras Aracy Senra, Edilma de Jesus e Ana Claudia Andrade, obrigada pelas sugestões e críticas que foram essenciais para que eu pudesse nortear minhas ideias. À professora Márcia Barbosa pelas sugestões ao logo da dissertação. À minha amiga de curso ou simplesmente minha orientadora nos aspectos geológicos ao longo das disciplinas Talita Fernanda Gentil. Durante o decorrer do curso, sempre tentou entender minhas dificuldades. Como o próprio nome já diz sua Gentileza foi essencial, pois não mediu esforços para me ensinar. Companheira tanto profissionalmente como pessoalmente, agradeço pela amizade e dedicação durante esses dois anos de convivência, a quem sempre serei grata e sentirei saudades. iv

Ao meu colega de turma Felippe Melo pelo companheirismo e a troca de informações. A todos meus colegas do PGAB que sempre entenderam a minha diferença de formação acadêmica e nas disciplinas de maior dificuldade sempre estiveram solidários a ensinar. Aos alunos do curso de arqueologia que ajudaram na exumação do material, em especial a Jaciara Andrade e Elaine Alves por me acompanharem e colaborarem nas idas ao Laboratório do Museu de Arqueologia de Xingó, auxiliando na separação das amostras. À Naedja Pontes, Filipa Maria Cabrita, Flávia Leal e Daniela Dantas pela amizade e momentos de descontração. À Fabiana Vieira pelo presente lindo meu afilhado Luiz Henrique. Meu maior agradecimento é dirigido a meus pais Antônio Valença (in memorian) e Maria Lúcia, por terem sido o contínuo apoio durante esses anos ensinando-me, principalmente, a importância da construção e coerência de meus próprios valores. Aos meus irmãos Aizaque Daniel e Abraão e minhas irmãs Aura Danielle, Aléa Dayane e Aldízia Joana por compartilharem os momentos difíceis e felizes de toda minha vida. Sou o resultado da confiança e da força de cada um de vocês. A todos que contribuíram à realização deste trabalho o meu MUITÍSSIMO OBRIGADA! v

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento. Clarice Lispecto vi

ABSTRACT This study aimed to obtain the chronologies of the occupation of Justin Cemeteries Archeological Site, located in Canindé San Francisco, State of Sergipe. The ages were obtained by dating isotope 14 C using the technique of Accelerator Mass Spectrometry (AMS), Beta Analytic Laboratory (USA). Were initially selected for analysis samples of human teeth and bones, respectively, but these materials showed no collagen volume allowing the dating. Thus, selected samples of charcoal four layers of stratigraphic site, which fires occurred in old structures. The results show four distinct cycles of human occupation in the region Xingó, namely 2510 ± 30 BP, 4390 ± 30 BP, 7530 ± 30 and 12220 ± 50 AP AP. These new radiocarbon dating conducted for Site Justin Caninde show that culture is much older than hitherto had knowledge, kicking the arrival of these populations to the Quaternary period and Pleistocene epoch. Keywords: Archaeological Site Justino, 14 C, AMS viii

RESUMO Este trabalho teve como objetivo obter as cronologias das ocupação dos Cemitérios do Sítio Arqueológico Justino, localizado no município de Canindé de São Francisco, Estado de Sergipe. As idades foram obtidas por datação isótopos de 14 C pela técnica de Espectrometria de Massa por Acelerador (AMS), laboratório Beta Analytic (USA). Incialmente foram selecionados para a análises amostras de dentes e ossos humanos, respectivamente, porém estes materiais não apresentaram volume de colágeno que permitisse a datação. Desta forma, selecionou-se amostras de carvão vegetal em quatro camadas estratigráficas do sítio, que ocorriam em estruturas de fogueiras antigas. Os resultados obtidos evidenciam quatro ciclos distintos da ocupação humana na região de Xingó, a saber: 2.510 ± 30 AP, 4.390 ± 30 AP, 7.530 ± 30 AP e 12.220 ± 50 AP. Estas novas datações radiocarbônicas realizadas para o Sítio Justino mostram que a cultura Canindé é bem mais antiga do que até então se tinha conhecimento, retrocedendo a chegada dessas populações para o período Quaternário época Pleistoceno. Palavras-chave: Sítio Arqueológico Justino, 14 C, AMS vii

ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1- Localização e via de acesso à área de pesquisa------------------------------- 5 Figura 2- Figura 3- Os Cemitérios definidos por Vergne (2004) e a classificação em fases com as ocupações por Fagundes (2007)----------------------------------------- 10 Diagrama do processo de produção, distribuição e decaimento do radiocarbono----------------------------------------------------------------------------- 16 Figura 4- Amostra de carvão vegetal do Cemitério D da camada 48------------------ 26 Figura 5- Figura 6- Figura 7- Figura 8- Figura 9- Figura 10- Figura 11- Figura 12- Figura 13- Figura 14- Figura 15- Esqueleto no casulo (A), croqui da posição do esqueleto (B), e amostras de dentes humanos canino/molar da sepultura 25 (C/D)-------- 29 Esqueleto no casulo (A), croqui da posição do esqueleto (B), e amostras de dentes humanos molar/incisivo da sepultura 140 (C/D)----- 30 Croqui da posição do esqueleto (A), e amostras de dentes humanos molar/incisivo da sepultura 114 (B/C)--------------------------------------------- 31 Esqueleto no casulo (A), croqui da posição do esqueleto (B), e amostras de dentes humanos molar/molar da sepultura 107 (C/D)------- 32 Esqueleto no casulo (A), croqui da posição do esqueleto (B), e amostras de dentes humanos incisivo/molar da sepultura 162 (C/D)----- 33 Amostras de dentes humanos que foram examinadas a presença de colágeno: molar da sepultura 25 do cemitério Justino A (A), incisivo da sepultura 140 do cemitério Justino B (B), molar da sepultura 107-2 do Justino C (C), molar da sepultura 162 do Justino D (D)---------------------- 34 Amostras ósseas humanas do Justino A avaliadas a presença de colágeno: ossos do crânio da sepultura 24-------------------------------------- 35 Amostras ósseas humanas do Justino A avaliadas a presença de colágeno: ossos do crânio da sepultura 36-------------------------------------- 36 Amostras ósseas humanas do Justino B avaliadas a presença de colágeno: ossos do crânio da sepultura 69-------------------------------------- 37 Amostras ósseas humanas do Justino C avaliadas a presença de colágeno: mandíbula da sepultura 83--------------------------------------------- 38 Amostras ósseas humanas do Justino C avaliadas a presença de colágeno: ossos do crânio da sepultura 149------------------------------------- 39 ix

Figura 16- Amostras ósseas humanas do Justino D avaliadas a presença de colágeno: ossos do crânio da sepultura 161------------------------------------- 40 Figura 17- A amostra de carvão vegetal do cemitério Justino A datada (A/B/C/D)-- 41 Figura 18- A amostra de carvão vegetal do cemitério Justino B datada (A/B/C/D)-- 42 Figura 19- A amostra de carvão vegetal do cemitério Justino C datada (A/B/C/D)-- 42 Figura 20- A amostra de carvão vegetal do cemitério Justino D datada (A/B/C/D)-- 43 Figura 21- Etapas da análise das amostras no laboratório Beta Analytic-------------- 43 Figura 22- Análise do ph dos sedimentos------------------------------------------------------ 46 Figura 23- Figura 24- Figura 25- Figura 26- Curva de calibração da amostra (Beta-347586) mostrando a cronologia com sua incerteza estatística, a curva de calibração obtida pelo conjunto de dados empíricos e o respectivo intervalo de calibração obtida para o intervalo 2σ------------------------------------------------------------- 52 Curva de calibração da amostra (Beta-347589) mostrando a cronologia com sua incerteza estatística, a curva de calibração obtida pelo conjunto de dados empíricos e o respectivo intervalo de calibração obtida para o intervalo 2σ------------------------------------------------------------- 53 Curva de calibração da amostra (Beta-347593) mostrando a cronologia com sua incerteza estatística, a curva de calibração obtida pelo conjunto de dados empíricos e o respectivo intervalo de calibração obtida para o intervalo 2σ------------------------------------------------------------- 54 Curva de calibração da amostra (Beta- 347596) mostrando a cronologia com sua incerteza estatística, a curva de calibração obtida pelo conjunto de dados empíricos e o respectivo intervalo de calibração obtida para o intervalo 2σ---------------------------------------------- 55 x

ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1- Datações anteriores obtidas para o Sítio Justino--------------------------- 9 Tabela 2- Correlação entre as fases classificadas por Fagundes (2007) e os cemitérios e datações radiocarbônicas obtidas por Vergne (2004) --- 12 Tabela 3- Amostras de dentes humanos enviadas na tentativa de realizar datação AMS ------------------------------------------------------------------------ 27 Tabela 4- Amostras de ossos humanos e de carvões vegetais enviadas na tentativa de realizar datação AMS --------------------------------------------- 27 Tabela 5- Valores da análise do ph dos sedimentos----------------------------------- 47 Tabela 6- Comparação das datações radiocarbônicas obtidas por Vergne (2004) com as alcançadas nesta pesquisa ---------------------------------- 57 xi

ÍNDICE DE FOTOS Foto 1- Vista geral da escavação do Sítio Justino (A) e evidenciação de sepultamento (Cemitério C) (B)--------------------------------------------------- 7 Foto 2- Vista geral do Sítio Justino--------------------------------------------------------- 7 xii

SUMÁRIO INTRODUÇÃO--------------------------------------------------------------------------------- 1 CAPÍTULO I- SÍTIO JUSTINO----------------------------------------------------------- 4 I.1- Localização e Acesso----------------------------------------------------------------- 4 I.2- Descrição do Sítio---------------------------------------------------------------------- 4 CAPÍTULO II- DATAÇÃO RADIOCARBÔNICA------------------------------------ 14 II.1- Datação Absoluta---------------------------------------------------------------------- 14 II.2- Princípios da Datação por Carbono 14 ( 14 C)----------------------------------- 15 II.3- Limitações do Método do Radiocarbono---------------------------------------- 19 II.4- Espectrometria de Massa por Aceleradores AMS-------------------------- 21 CAPÍTULO III- MATERIAIS E MÉTODOS-------------------------------------------- 23 III.1- Introdução------------------------------------------------------------------------------- 23 III.2- Levantamento do Referencial------------------------------------------------------ 23 III.3- Seleção e Preparação de Amostras--------------------------------------------- 24 III.4- Descrição das Amostras------------------------------------------------------------ 28 III.4.1- Amostras de Dentes Humano----------------------------------------------- 28 III.4.2- Amostras Ósseas Humanas------------------------------------------------- 35 III.4.3- Amostras de Carvões Vegetais -------------------------------------------- 41 III.5- Metodologia do Beta Analytic------------------------------------------------------ 43 III.5.1- Pré-tratamento------------------------------------------------------------------- 44 III.5.2- Preparação da Análise--------------------------------------------------------- 45 III.5.3- Análise----------------------------------------------------------------------------- 45 III.5.4- Resultados ----------------------------------------------------------------------- 45 III.6- Análise do ph dos Sedimentos---------------------------------------------------- 46 xiii

CAPÍTULO IV- RESULTADOS E DISCUSSÕES------------------------------------ 48 IV.1- Amostras de Dentes e Ósseas Humanas--------------------------------------- 48 IV.2- Amostras de Cravões Vegetais---------------------------------------------------- 51 CAPÍTULO V- CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES--------------------------- 59 REFERÊNCIAS------------------------------------------------------------------------------- 61 xiv

INTRODUÇÃO Ao longo da história humana, o homem buscou lugares para viver, manipular e gerenciar, observando determinadas características ambientais, como: relevo, clima, hidrografia e vegetação, para satisfazer suas necessidades de subsistência (PROUS, 1992). Esta relação homem/ambiente não foi diferente no Baixo São Francisco, no município de Canindé de São Francisco/Sergipe. Partindo do pressuposto de que o homem busca estratégias de subsistência e está relacionado com a paisagem em que se insere, pode-se considerar que a arqueologia não é estanque, ela depende da relação de outras ciências para ampliar seu campo de estudo. Nas últimas décadas, a Arqueologia tem dado um grande impulso em estudos multidisciplinares, ao relacionar-se a outros ramos do conhecimento. Na arqueologia, estabelecer o tempo e a sequência de eventos é fundamental. Todas as perguntas sobre o passado requer um conhecimento preciso da cronologia, a fim de respondê-las de forma satisfatória. A relação entre as ciências exatas e arqueologia em termos de cronologias é, portanto, mutuamente benéfica, e absolutamente essencial para responder as indagações sobre o passado. Desta forma, a pesquisa teve a finalidade de aplicar informações de diferentes ciências com o propósito de ampliar as interpretações culturais do sítio pré-histórico Justino. O objetivo deste trabalho foi obter as cronologias de ocupação dos Cemitérios do Sítio Arqueológico Justino, utilizando isótopos de 14 C como ferramenta de análise por meio da técnica de Espectrometria de Massa por Acelerador (AMS), bem como interpretar os dados obtidos, buscando enriquecer o conhecimento arqueológico do período em questão. Deste modo, este trabalho, contribui com a inserção de novos dados cronológicos das quatro ocupações do Sítio Justino localizado na área de Xingó, no município de Canindé de São Francisco, Estado de Sergipe. A importância de tal estudo dá-se numa perspectiva que busca ampliar o conhecimento acerca das permanências de vida das comunidades humanas préhistóricas em relação ao terraço de origem fluvial com idade quaternária, o qual foi encontrado o cemitério Justino. 1

O Sítio Justino foi escolhido como objeto de estudo com intuito de reavaliar a cronologia do sítio através de amostras mais diretas. Por se tratar do maior cemitério pré-histórico da região Nordeste do Brasil, no qual foi encontrado uma grande quantidade de sepultamento, e por que não se obter uma datação direta para esse sítio? O objetivo da pesquisa era obter uma cronologia direta através de partes dos indivíduos. No primeiro momento da pesquisa foram escolhidas amostras de dentes humanos por serem os elementos do esqueleto humano que melhor possui resistência a produtos químicos e a destruição física. A utilização de estudos mais diretos possibilitaria a obtenção de resultados mais concretos acerca da cronologia desses povos que habitaram a região do Baixo São Francisco. Uma vez que a datação direta de parte dos esqueletos representaria a idade real de uma espécie que teria passado pelo local, e não apenas a de uma amostra contemporânea associada. Com a impossibilidade de realizar datação nas amostras de dentes através do material colágeno, tentou mais uma vez uma datação direta através de amostras ósseas humanas e da mesma forma não se obteve êxito. Por fim realizaram-se datações por associação, nas amostras de carvões vegetais. Para tanto, a justificativa deste trabalho foi traçar um perfil das cronologias obtidas através da técnica AMS. Esta possibilita a contagem direta dos átomos de uma amostra, aplicando um Espectrômetro de Massa por Acelerador. A contagem não é das partículas, mas sim dos átomos existes de cada um dos isótopos de carbono. A técnica convencional utiliza a contagem de decaimento, isto é, a medição da concentração isotópica é feita através da contagem dos eventos de decaimento num espectrômetro de cintilação, comparando depois o resultado da contagem do 14 C com o de um padrão testado analiticamente em condições experimentais, ou seja, utiliza a atividade da amostra para calcular sua idade. Ambas empregam o método do radiocarbono, o qual se baseia na desintegração do 14 C presente em uma amostra de origem orgânica para obter a cronologia. 2

Assim como, neste trabalho se confirma o porquê de muitas datações de sítios arqueológicos serem por meio de amostras indiretas, ou seja, que não representam a idade real de um espécime humana para determinar uma ocupação. Fato que se admite pela impossibilidade de fazer datações diretas de partes dos indivíduos através do colágeno, mesmo tratando-se de amostras em sua integridade física, caso dos dentes, mas que se mostrou em relação ao material a ser datado o colágeno como más preservadas, fato que será relatado no decorre do trabalho as possíveis causas da não conservação do colágeno em dentes e ossos de origem arqueológica. Este trabalho permite ainda obter um quadro de datações das quatro ocupações em um único laboratório Beta Analytic, cujas amostras sofreram os mesmos procedimentos laboratoriais. A dificuldade enfrentada na pesquisa foi identificar amostras de dentes e ósseas em bom estado de conservação cujo material a ser datado estivesse presente e com menor risco de contaminação por elementos químicos. O problema apontado neste trabalho mostra o porquê de muitos sítios arqueológicos obterem datações indiretas. As cronologias já obtidas nos trabalhos anteriores mostram a importância da região de Xingó para geração de um conhecimento sobre a história das populações pretéritas e sobre o comportamento das sociedades ao longo do tempo na região. O texto está dividido em cinco capítulos principais: o primeiro apresenta as características relevantes sobre o Sítio Justino, o segundo traz uma breve revisão a respeito da datação radiocarbônica, o terceiro relata os materiais e métodos utilizados na pesquisa, o quarto fornece os resultados alcançados e discussões das análises e por último as conclusões obtidas e as recomendações. 3

CAPÍTULO I - SÍTIO JUSTINO I.I- Localização e Acesso O Sítio Justino está localizado no município de Canindé de São Francisco, no extremo noroeste do Estado de Sergipe, na zona fisiográfica conhecida como Sertão do São Francisco, estando limitado a norte com o Estado de Alagoas, a oeste e sul com o Estado da Bahia. O acesso a partir da capital Aracaju é feito através das rodovias BR-235, BR-101 e SE-206, num percurso aproximado de 213 km via N. S. das Dores ou através das rodovias BR- 235/SE-106/SE-206 via Itabaiana (Fig.1). O Sítio Justino foi encontrado em 1990, na fazenda conhecida como Cabeça do Nego na margem direita do Rio São Francisco, na confluência do Riacho Curituba com o Rio São Francisco, que por sua vez é inserido no Cânion do Rio São Francisco. Hoje este sítio encontra-se submerso e posicionado nas coordenadas UTM 8.938.881 S /627.561W (VERGNE, 2004). I.2- Descrição do Sítio Trata-se de um sítio a céu aberto situado em um terraço fluvial ocupado, principalmente como cemitério, mas também como habitação, fato atestado pela presença de estruturas de fogueiras, restos alimentares, conchas, manchas escuras, objetos líticos e fragmentos cerâmicos. A arqueóloga Cleonice Vergne, responsável pela escavação, trabalhou com a hipótese de que cada período de ocupação estava intercalado pela presença de enterramentos que poderiam ter sido produzidos por distintos grupos ou, ao contrário, revelar uma continuidade na área (VERGNE, 2002). Este Sítio foi localizado durante a construção da hidroelétrica de Xingó pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco-Chesf, cujo lago inundaria não apenas os sítios já detectados, como outros que certamente existiriam na região. Desta forma, o salvamento tornou-se obrigatório. 4

Figura 1- Localização e via de acesso à área de pesquisa. 5 Adaptado da Secretária de Recursos Hídrico de Sergipe (Base Cartográfica)

O Sítio foi uma das maiores riquezas evidenciadas pelos arqueólogos que trabalharam na área, considerado o maior cemitério pré-histórico do nordeste do Brasil, o terraço em que estava inserido o Justino abrangia uma altura de cerca de 6,80 m. Sua área total era de aproximadamente 1.500 m 2, com altitude média de 37 metros em relação ao nível do mar, onde foram escavados cerca de 1265 m 2 (VERGNE, 2004). Escavado durante quatro anos, de 1991 a 1994, este sítio ganhou notoriedade por apresentar uma grande quantidade de sepultamentos humanos (Fotos. 1 e 2). Foi e continua sendo o objeto de estudo de diversos trabalhos acadêmicos com objetivos diferentes. Dentre os diversos trabalhos realizados pode-se destacar as análises paleoambientais, sobretudo de Ab Saber (1997, 2002) e Dominguez & Brichta (1997); acerca da ritualidade por Vergne (1997, 2002, 2004, 2005a, 2005b); da bioantropologia por Carvalho (2006, 2007); da análise da cultura material cerâmica por Luna (2001); da zooarqueologia por Queiroz & Chaix (1999) do estudo do material lítico por Fagundes (2007), Jerônimo & Cisneiros (1997), Mello et al. (2007), Silva et al. (2001); os estudos arqueométricos realizados nos vestígios cerâmicos por Dantas (2005) e Santos & Munita (2007). O cemitério indígena do Justino é o assentamento com maior intervenção arqueológica da região de Xingó, já que o terraço em que estava localizado foi completamente escavado em relação ao espaço e profundidade, atingindo o embasamento rochoso. Tal procedimento efetivou-se, sobretudo, após evidência de uma série de esqueletos humanos completos geralmente associados a um rico enxoval funerário (VERGNE, 2004). No salvamento do Sítio Justino recuperou-se cerca de 55.000 peças arqueológicas, dentre os vestígios destacam-se 167 sepulturas de 177 indivíduos, ou seja, em algumas sepulturas tinham mais de um indivíduo (CARVALHO, 2006). Conforme Dominguez & Brichta (1997), a formação geológica do terraço estava associada à descida de sedimentos dos altiplanos da região semi-árida de Sergipe, através do afluente intermitente denominado riacho Curituba, formando deposições sedimentares de características deltaicas, como ocorrência de camadas aluvionares que apresentavam espessuras variáveis, constituída por areia fina ou grossa, seixos, siltes e argilas. 6

Foto 1- Vista geral da escavação do Sítio Justino (A) e evidenciação de sepultamento (Cemitério C) (B) A B Fotos- Acervo do Museu de Arqueologia de Xingó - MAX. Foto 2- Vista geral do Sítio Justino. Foto- Acervo do Museu de Arqueologia de Xingó - MAX. 7

O sítio ocupava um terraço elevado, que foi área de deposição durante o período Quaternário recente, sobre a planície Pré-Cambriana à margem de um grande rio perene. A este fenômeno de deposição deve-se citar o papel das cheias do São Francisco o que contribuíram também na formação desse terraço. Entretanto, cabe ressaltar que o Sítio Justino deve ter ocupado uma área muito maior, pois as continuas enchentes do rio destruíam parte do cemitério já em tempos pretéritos. Fato que se constatou durante o período de escavação, quando o Sítio sofreu várias inundações (VERGNE, 2004). Foram evidenciadas sessenta e quatro decapagens o que transformou o Justino em um sítio de estratificação complexa. Dentro das 64 decapagens, Vergne (2004) distinguiu quatro cemitérios tendo como base os sepultamentos evidenciados e a distribuição dos remanescentes culturais, classificados como cemitérios A, B, C e D. Pôde-se estabelecer que inicialmente a região foi ocupada por grupos de caçadores-coletores. Sem sombra de dúvida está primeira ocupação não denominava a tecnologia de cerâmica. Mais tarde o local foi ocupado por agricultores incipientes que se estabeleceram ao longo do terraço fluvial. As datações radiocarbônicas realizadas por Vergne (2004) foram todas obtidas através de amostras de carvão vegetal em três laboratórios diferentes: na França no laboratório do Centro de Datação por Radiocarbono da Universidade Claude Bernard Lyon; no laboratório Beta Analytic, nos Estados Unidos; e no laboratório de datações da Universidade Federal da Bahia. Outras datações foram feitas para o sítio através da técnica de termoluminescência (TL) em amostras de cerâmica. Santos (2002) optou pelas amostras de cerâmicas, que no momento da coleta de campo, estivessem próximas de esqueleto ou fogueira. Ainda segundo o autor as análises por TL mostraram datações em um intervalo aceitável diante das datações efetuadas por 14 C nas ocupações estudadas (Tab. 1). As datações obtidas a partir de carvões de fogueiras foram utilizadas para demarcar as quatro ocupações, porém, em relação aos enterramentos, funcionam como datações relativas. Para o Sítio não há datações dos enterramentos que representem a idade real de uma espécie que teria passado pelo local. 8

Tabela 1- Datações anteriores obtidas para o Sítio Justino. Sítio Profundidade * Vergne (2004) ** Santos (2002). Através dos vários estudos realizados por Vergne (2002, 2004, 2005a, 2007) sobre a ritualidade do sítio e dos estudos paleoambientais realizados por Dominguez & Brichta (1997), todos aliados à observação e análise dos demais remanescentes culturais deste assentamento (distribuição espaço - temporal dos vestígios cerâmicos; estruturas de combustão; restos faunísticos; manchas no solo entre outros, densidade e diversidade destes remanescentes; organização tecnológica; associações e concentrações; uso do espaço e outros), Fagundes (2007) em seu estudo do diagnóstico da organização tecnológica lítica e análise sedimentológica estabeleceu cinco fases (Fig. 2), distinguindo as ocupações e as reocupações para cada sítio, a saber: Material datado Just. D 410 cm Carvão Just. C 310 cm Carvão Just. C 210 cm Carvão Just. B 140 cm Carvão Just. B 110 cm Carvão Just. A 90 cm Carvão Just. A 70 cm Carvão Just. A 40 cm Carvão Método Cronologia (Laboratório) 14 C 8950 ± 70 AP (Beta 86745)* 14 C 5570 ± 70 AP (Beta 86744)* 14 C 4790 ± 80 AP (Beta 86741)* 14 C 3270 ± 135 AP (Lyon 5752)* 14 C 2650 ± 160 AP (Bahia 1805)* 14 C 2530 ± 170 AP (Bahia 1804)* 14 C 1780 ± 60 AP (Lyon 5751)* 14 C 1280 ± 45 AP (Lyon 5750)* Just. B 110 cm Cerâmica TL doce adicional 2190 ± 270 AP (LPCM)** Just. B 110 cm Cerâmica TL fototransferência 1910 ± 110 AP (LPCM)** Just. A 90 cm Cerâmica TL pré-doce 1970 ± 300 AP (LPCM)** Just. A 90 cm Cerâmica TL doce adicional 1630 ± 150 AP (LPCM)** Fase 01- para esta ocupação não existem datações absolutas obtidas por Vergne (2004). Essa fase refere-se aos grupos de caçadores coletores que ocuparam o terraço entre as decapagens 64 e 43 (um intervalo de 2,10 m), ocorrendo duas ocupações distintas, a primeira entre as decapagens 59 a 51 (um intervalo de 0,80 m) e outra entre a 50 e 43 (um intervalo de 0,70 m). Neste período, o terraço foi pouco povoado, uma vez que a baixa frequência e densidade de remanescentes culturais, indústrias líticas (artefatos, instrumentos ou resíduos do processo de lascamento, manutenção e reparo dos mesmos); manchas no solo, restos alimentares etc. As ocupações devem ter ocorrido de forma irregular ao longo do tempo, com baixa permanência do grupo ou grupos no terraço. 9

Figura 2- Os Cemitérios definidos por Vergne (2004) e a classificação em fases com as ocupações por Fagundes (2007). *Ocupações. Cemitério A Cemitério C Cemitério B Fase 04 01* Fase 05!"!" 10 Cemitério D Fase 03 03* Fase 02 01* Fase 01!"!"

Fase 02- também está relacionada às ocupações de caçadores-coletores situada nas decapagens 42 até a 35 (um intervalo de 0,70 m), com datação 14 C em torno de 8.950 ± 70 AP (Vergne, 2004). E em comparação à fase 01 esta fase revela um período de fixação mais longo. Não há mudanças sensíveis na organização tecnológica. As fases 01 e 02 são tratadas como Cemitério D (Tab.2). Fase 03- equivalente ao Cemitério C situado nas decapagens 34 a 13 (um intervalo de 2,10m), com datações 14 C entre 5.570 ± 70 AP e 4.790 ± 80 AP (Vergne, 2004). O autor dividiu esta fase em três ocupações distintas: a primeira entre as decapagens 34 e 29 (um intervalo de 0,50 m), a segunda entre a 28 e 22 (um intervalo de 0,60 m) e a terceira entre a 21 e 16 (um intervalo de 0,50 m). Nessa fase são claras as evidencias de ocupação e reocupação do sítio, que passa por processos contínuos de abandono somados às curtas permanências dos grupos na área, fator verificável pela baixa densidade e diversidade de remanescentes culturais, evidenciando o uso do local enquanto acampamento temporário (entre as decapagens 34 e 24, um intervalo de 1,00 m aproximadamente). A partir da decapagem 21 (entre 2,15 e 2,20 m de profundidade) há indícios de uma maior permanência no terraço, com incidência da explosão dos vestígios cerâmicos na decapagem 19 (entre 1,90 e 2,00 m de profundidade) em diante. A cerâmica surge no registro arqueológico a partir da decapagem 32 (01 fragmento de bojo evidenciado a 3,29m de profundidade), entretanto só se torna representativa entre as decapagens 21 e 19 (um intervalo entre 2,20 m e 2,00 m de profundidade), com significativo aumento de elementos a partir da decapagem 17 (137 fragmentos evidenciados em torno de 1,80 m de profundidade). Fase 04- representa o Cemitério B situado entre as decapagens 14 e 09 (um intervalo de 0,50 m), trata-se do período áureo de ocupação do Justino onde se observa maior quantidade e diversidade de remanescentes culturais. Todo o arranjo das estruturas, distribuição espacial, concentrações e associações demonstram quo grupo tenha mudado sua morfologia social. Na organização tecnológica lítica não há mudanças extremas, exceto que o quartzo passa a ser mais utilizado para a confecção de instrumentos expeditos (ou de ocasião). O período possui datação 14 C entre 3.270 ± 135 AP e 2.530 ± 60 AP (Vergne, 2004). 11

Tabela 2- Correlação entre as fases classificadas por Fagundes (2007) e os cemitérios e datações radiocarbônicas obtidas por Vergne (2004). Cem D FASE NUMERO DE OCUPAÇÃO DECAPAGEM PROFUNDIDADE DATAÇÃO Fase 01 01 59-51 Intervalo de 0,80m entre 6,00 e 5,20m Sem datação 02 50-43 Intervalo de 0,70m entre 5,20 e 4,40m Sem datação Fase 02 01 42-35 Intervalo de 0,70m entre 4,40 e 3,60m 8950±70AP(decapagem 40) Cem C Fase 03 01 34-29 Intervalo de 0,50m entre 3,60m e 3,00m 5570±70AP(decapagem 30) 02 28-22 Intervalo de 0,60m entre 3,00 e 2,30m Sem datação 03 21-16 Intervalo de 0,50m entre 2,30 e 1,70m 4790±80AP(decapagem 20) 12 Cem B Fase 04 01 15-09 Intervalo de 0,60m entre 1,70 e 1,00m 3270±135AP(decapagem 13) 2650±150AP(decapagem 10) 2530±60AP(decapagem 08) Cem A Fase 05 01 08-04 Intervalo de 0,40m entre 1,00 e 0,50m 1780±60AP(decapagem 06) 02 03-01 Intervalo de 0,20m entre 0,50 e 0,20m 1280±45AP(decapagem 03)

Fase 05- equivalente ao Cemitério A encontra-se entre as decapagens 08 e 01 (um intervalo de 0,70 m), com datação 14 C entre 1.780 ± 60 AP e 1.280 ± 45 AP. (Vergne, 2004). É o período que apresentou maior diferença na organização tecnológica quando comparados aos demais, com a presença de artefatos líticos mais expeditos e vestígios cerâmicos pouco requintados no tocante à decoração plástica. Em síntese, uma das características mais interessantes deste sítio diz respeito à diversidade e quantidade de cultura material, tanto associada aos sepultamentos (enquanto bens funerários ), quanto associada às estruturas com contextos domésticos (FAGUNDES, 2007). A cerâmica, por exemplo, conta com 14.743 fragmentos distribuídos a partir da decapagem 32 (3,39 m de profundidade), datada de 5.570 ± 70 AP (datação para a decapagem 30. Cabe destacar que, entretanto, Fagundes (2007) menciona que a tecnologia cerâmica deve ter ocorrido a partir das decapagens 21/20, em torno de 4.790 ± 80 AP). Em relação ao material lítico, este ocorreu em todas as decapagens, sendo que o polimento da pedra já é evidenciado na decapagem 40 de 8.950 anos AP. Referentes às estruturas de combustão foram evidenciadas trinta fogueiras, todas com carvão e outros remanescentes associados (cerâmica, lítico, restos faunísticos etc.), sendo que algumas relacionadas aos sepultamentos. Destas estruturas, um total de oito forneceu as datações absolutas realizadas no trabalho de Vergne (2004). Além das fogueiras estruturadas, foram evidenciadas 355 manchas escuras, muitas das quais com pequenos fragmentos de carvão associados (além de restos faunísticos e cultura material), indicando que eram antigas estruturas de combustão, e outras que por prováveis ações naturais, permaneceram exclusivamente as marchas no solo. Ainda foram localizadas e demarcadas 11 manchas de tonalidade clara, 22 manchas vermelhas e 10 cinza (FAGUNDES, 2007). 13

CAPÍTULO II - DATAÇÃO RADIOCARBÔNICA II.1- Datação Absoluta Na atualidade, um dos maiores enigmas encontrado pelos arqueólogos é entender o processo de ocupação de populações pré-históricas. Na arqueologia o enquadramento temporal dos fatos estudados é essencial tal como sucede na própria história e em todas as ciências de caráter histórico, como é o caso da geologia e da paleontologia. A arqueologia utiliza métodos de datação relativa e absoluta para determinar a cronologia de um objeto ou evento. Durante muito tempo as datações se baseavam apenas em observações. Desta forma, não era possível estabelecer datações precisas, uma vez que os métodos conhecidos se fundamentavam em interpretações relativas (FERNÁNDEZ MARTÍNEZ, 2000). A necessidade de métodos mais exatos de datação foi sempre patente, pois se tornava necessário encontrar marcos temporais mais bem definidos para poder desenvolver a datação relativa que se desenvolvia por comparações (GARRET & GRISHAM, 1995). Os métodos de datação absoluta permitem uma melhor definição cronológica dos achados e comparações universais. Dentre os métodos de datação absoluta utilizados em pesquisas arqueológicas destacam-se métodos de datação baseados em quantidade de isótopos radioativos e seus derivados (Ar/Ar, K/Ar, Séries do U, 14 C); e em métodos baseados em danos de radiação cumulativos causados no material geológico (Traços de Fissão, TL/OSR, ESR). Nos estudos do Quaternário recente, o método de datação radioisotópico do 14 C é o mais utilizado. Este método é válido em qualquer lugar do mundo e serve para datar madeira, ossos, conchas, sedimentos entre outros. É ideal para datar os eventos ligados à história do homem desde o paleolítico até a época histórica, tendo-se revelado um instrumento primordial para arqueologia (SCHEEL-YBERT, 1999). 14

II.2- Princípios da Datação por Carbono 14 ( 14 C) Utilizou-se como base para obter as informações sobre os princípios da datação por carbono 14, os trabalhos de: Bicho (2011); Macario (2003); Taylor (2001); Fernández Martínez (2000); Bradley (1985) apud Scheel - Ybert (1999); Soares (1996) e Renfrew & Bahn (1993). A datação por radiocarbono foi desenvolvida no início dos anos 1950 por J. W. Libby. Surgindo como consequência de métodos experimentais pioneiros iniciados 15 anos antes por F.N. Kurie na Universidade de Yale (EUA) ao descobrir a formação do 14 C a partir 14 N 7. O método fundamenta nas propriedades físico-químicas do carbono, um dos elementos químicos constituintes de todos os organismos. Apresenta-se na natureza em forma de três isótopos, 12 C, 13 C e 14 C, sendo os dois primeiros isótopos estaveis e o último radioativo, também conhecido como radiocarbono. A formação natural de radiocarbono é um efeito secundário da radiação cósmica atuando na alta atmosfera. O radiocarbono é formado pela ação de baixa energia térmica no nitrogênio. Quando formado o 14 C rapidamente sofre um processo de oxidação, originando o 14 CO 2 radioativo, o qual se dispersa pela atmosfera terrestre por via dos ventos estratosféricos, chegando finalmente a toda superfície do globo. Cerca de 85% do 14 CO 2 é absorvido pelos oceanos, enquanto que 1% é incorporado na bioesfera terrestre, principalmente através do processo de fotossíntese. Os animais e plantas que dependem diretamente ou indiretamente de plantas fotossintéticas estão em equilíbrio com a atmosfera no que concerne à quantidade de 14 C. Isto é, devido ao processo metabólico todos os organismos vivos têm a mesma quantidade relativa de 14 C em relação à 12 C que existe na atmosfera (Fig. 3). O 14 C sendo radioativo e instavel está em constante desintegração. Devido ao seu processo de formação contínuo, existe um equilíbrio entre a sua taxa de formação e a sua taxa de desintegração, também conhecida como declínio ou decaimento. 15

Figura 3- Diagrama do processo de produção, distribuição e decaimento do radiocarbono. 14 C 14 C 14 C 14 N 14 N 14 N 16

O processo de substituição que acontece na atmosfera ocorre também nos organismos vivos. Deste modo, quando um determinado ser vivo morre, cessa a absorção de 14 C e começa o decaimento. A datação por 14 C é baseada no fato de que o 14 C é radioativo e se desintegra produzindo nitrogênio-14. Os seres vivos recebem o 14 C por meio do alimento e água, mantendo um nível constante de 14 C no corpo. Quando morrem, o 14 C que se desintegra não é mais substituído, assim o nível de 14 C diminui. Portanto, quanto maior o período depois da morte, menos 14 C permanece no corpo. A diminuição de radiocarbono faz-se através do decaimento beta (β), com um determinado ritmo, a chamada meia-vida. A meia vida do 14 C é de 5.730 anos. Isto significa que um organismo que morreu há 5.730 anos tem atualmente a metade do seu conteúdo original em 14 C. Ele terá 50% deste conteúdo daqui a 5.730 anos, e assim por diante. Desta forma, a idade radiocarbônica de uma amostra antiga pode ser obtida comparando-se a radioatividade especifica 14 C/ 12 C desta amostra com a radioatividade especifica de um padrão de referência. Devido às atividades antrópicas não se ter mantido constante nos últimos séculos, principalmente devido à queima de combustíveis a partir da Revolução Industrial e à atividade nuclear do último século, em consequência destas e outras atividades humanas tornou-se necessário determinar o padrão referente ao presente com base no ácido oxálico. O padrão utilizado é de 1950 e o resultado é apresentado em anos Antes do Presente (AP) ou Before Present (BP), ou seja, antes do ano de 1950. Assim, a concentração do 14 C em uma amostra pode ser medida com precisão e comparada com a quantidade de 12 C não radioativo. A datação radioativa baseia-se na diferença da concentração isotópica de uma amostra ao longo do tempo, ou seja, na variação da razão entre isótopos radioativos e estáveis de um elemento. A concentração inicial C 0 refere-se ao momento em que o sistema fica isolado e cessam as trocas de matéria com o meio ambiente. A concentração após um tempo t depende apenas do decaimento radioativo (Equação 1) onde a constante de decaimento λ é característica de cada radioisótopo e se relaciona com a sua vida média! e meia vida t 1/2 (Equação 2). Conhecida a concentração isotópica atual, a idade da amostra pode ser então determinada (Equação 3). 17

!! =!!!!!" Equação 1!=!! =!!!!!!!=!1! Equação 2!(!)!! Equação 3 Desta forma, a datação radioativa pode ser determinada medindo a concentração isotópica de uma amostra ou sua atividade. A atividade especifica A de uma amostra é o número de decaimento por unidade de tempo por unidade de massa (Equação 4) onde A 0 é a atividade inicial. Assim sendo, a idade da amostra pode ser determinada a partir de sua atividade (Equação 5).!! =!"!" =!!!!!" Equação 4!=!1!!(!)!! Equação 5 Para medir diretamente a concentração isotópica em uma amostra de carbono é necessário separar os átomos de 12 C, 13 C e 14 C e contá-los. Diferindo apenas por suas massas, os isótopos podem ser separados utilizando-se a técnica de Espectrometria de Massa. Ao definir os princípios da datação pelo radiocarbono Libby estimou a vida media em 5568 anos. Contudo, seu valor tem sido medido com o melhoramento dos sistemas de medição resultando em um paradoxo. Cálculos mostraram que a meiavida é na verdade de 5730 anos. Para evitar confusões, os laboratórios continuaram usando a vida-média de Libby. A correção pode ser impetrada multiplicando-se o resultado fornecido pelo laboratório por 1,03. 18

II.3- Limitações do Método do Radiocarbono De acordo com Santos (2002), é preciso levar em conta alguns problemas quando empregamos este método de datação, como por exemplo: neste método é necessário admitir que a concentração de 14 C é constante no tempo e no espaço e que o teor de 14 C é o mesmo para qualquer ser vivo. Porém, de acordo com os estudos baseados na dendrocronologia, não é possível admitir a constância da concentração de 14 C na atmosfera e nos seres vivos; não há precisão da percentagem de 14 C que foi absorvida, outrora, pelo organismo é a mesma que hoje para as espécies conhecidas nos dias atuais; a amostra pode ter sido contaminada com raízes ou ácido húmico. Desta forma, quando se fala do conteúdo de 14 C em uma amostra e o expressam em anos, relata-se que é uma idade radiocarbônica, que pode estar mais ou menos próxima da idade real, dependendo da situação, do peso de cada uma das variáveis. Na década de 90 foram desenvolvidas curvas de calibração aceitas universalmente que se estenderam até cerca de 25.000 AP no calendário do radiocarbono, correspondendo a uma idade no calendário solar de cerca de 28.000 Cal AP (Calibrados - Antes do Presente). O trabalho começou com a publicação dos trabalhos de Bard et al. (1993a e 1993b) e de Edwards et al. (1993), os quais recorreram à datação de corais através de métodos de séries de urânio. Atualmente, a calibração prolonga-se até o limite máximo prático do método do radiocarbono, isto é, até cerca dos 50 mil anos. A nova curva de calibração foi aceita mundialmente no 20º Congresso Internacional de Radiocarbono, que decorreu em 2009 no Havaí e tem a designação de IntCal 09 (REIMER, et al.; 2009). De acordo com Farias (2002), estudos baseados na dendrocronologia permitem, hoje, que sejam estabelecidas as curvas de variação do 14 C no passado e que seja realizada uma calibração das datações radiocarbônicas para a obtenção de datações de calendário até 11 mil anos AP. 19

Outros problemas que são questionados na datação de amostras arqueológicas é a contaminação, pois para datação pelo isótopo 14 C, se faz necessário supor que as amostras não foram contaminadas por este isótopo após sua deposição, caso esta ocorra, a fim de minimizar este problema utiliza-se um prétratamento químico, para que a atividade original do 14 C no material datado possa ser estimada e o resultado ser considerado fidedigno (BIRD et al., 2004). No pré-tratamento deve-se ter o cuidado de conduzir as amostras em seus devidos processos de eliminação de contaminantes utilizando o método aplicado para cada tipo de material, além do cuidado que se deve ter ao inserir a amostra na AMS, pois no equipamento estas podem sofrer também a contaminação, principalmente quando introduzidas no processo de grafitização procedimento pelo qual as amostras são convertidas em forma de grafite sólido (MACARIO, 2003). Mais um enigma que está entre as principais causas de erro são: a coleta das amostras que deve ser feita com algum cuidado para eliminar a possibilidade de contaminação, a qual se pode dar em dois momentos diferentes: antes e durante a coleta da amostra. No primeiro caso, há que contar com problemas resultantes dos processos de formação geológica e do sítio, tais como a presença de água que permita a dissolução de minerais ou a formação de concreções minerais que possa alterar a composição isotópica da amostra, quer por aumento, quer por subtração dos vários isótopos (BICHO, 2011). Durante a coleta, a contaminação da amostra pode dar-se através de inclusão de fragmentos mais recentes que estejam junto ao local onde a mesma foi obtida. Pode ocasionar ainda a adição de carbono recente proveniente de óleo da epiderme do coletor ou de tintas e papel das etiquetas (BICHO, 2011). O contado do pesquisador também pode inserir objetos como restos de cigarro, cabelo, unhas entre outros (RENFREW & BAHN, 1993). Segundo Bicho (2011), o problema principal com as datações radiocarbônicas advém do conhecimento, ou falta deste, do contexto de deposição da amostra. Por isso, deve ser prestado um cuidado especial ao contexto geológico e à sua relação com a localização da amostra no momento da sua coleta. 20

II.4- Espectrometria de Massa por Aceleradores AMS Existem duas técnicas básicas que permitem aos cientistas datar amostras arqueológicas utilizando o método radiocarbono: Uma técnica convencional de datação por radiocarbono baseada na medição da proporção de partículas beta irradiadas numa amostra. E outra, através do uso de um Acelerador de Espectrometria de Massa que faz a contagem do número de atomos de 14 C presente em uma amostra (LINICK et al. 1989). Neste estudo será apresentada a técnica de Espectrometria de Massa por Acelerador - AMS. A técnica AMS (Accelerator Mass Spectrometry) foi desenvolvida no final da década de 70, constituindo em uma terceira revolução na datação pelo radiocarbono, a primeira foi à descoberta do método e a segunda foi à calibração dos resultados (TAYLOR, 1997 apud BICHO, 2011). Na datação convencional a técnica utilizada é a da contagem de decaimento, isto é, a medição da concentração isotópica é feita através da contagem dos eventos de decaimento num espectrômetro de cintilação, comparando depois o resultado da contagem do 14 C com o de um padrão testado analiticamente em condições experimentais. Este processo faz-se com a contagem de partículas β, ou seja, elétrons carregados negativamente e emitidos pelo núcleo do átomo de 14 C quando se dá à desintegração. Na nova técnica, a AMS, ocorre em um modo diferente, a contagem não é a das partículas, mas sim dos átomos existentes de cada um dos isótopos de carbono. É possível efetuar esta contagem, uma vez que cada um dos isótopos tem uma massa diferente. Os átomos de carbono são ionizados, isto é, transformado em íons, o que lhes permite serem acelerados em vácuo, onde são influenciados por um campo eletromagnético. Com este processo, e devido às características diferentes na massa de cada isótopo, estes são separados através do grau de deflexão quando da sua passagem pelo campo magnético (BICHO, 2011). Depois deste momento é necessário fazer-se a contagem dos átomos de cada um dos isótopos para se conhecer a sua concentração relativa. 21

A AMS mostra vantagens em relação ao processo convencional: a contagem direta dos isótopos presente na amostra; redução no tamanho da amostra; a química de descontaminação é mais rigorosa, diminuição no tempo de contagem; aumento do limite temporal do método (FERNÁNDEZ MARTÍNEZ, 2000). O tamanho reduzido da amostra torna possível a datação de preciosas peças arqueológicas, uma vez que em alguns casos não é necessário à destruição total de uma amostra. 22

CAPÍTULO III - MATERIAIS E MÉTODOS III.1- Introdução Esta pesquisa consistiu no levantamento do referencial teórico, atividades práticas de preparação de amostras para datação, realização de análises, interpretação dos dados obtidos e confecção da dissertação. O material estudado foram amostras bioarqueológicas das sepulturas depositadas em casulo de gesso dos remanescentes humanos do sítio arqueológico Justino que se encontravam no acervo do Museu de Arqueologia de Xingó (MAX) e no Laboratório de Arqueologia do Campus de Laranjeiras e de amostras de carvão vegetal que se encontravam no Museu de Arqueologia de Xingó-MAX. Para tanto, o trabalho foi dividido em três etapas distintas, estabelecidas do seguinte modo: levantamento de dados referenciais, seleção e preparação de amostras, e a interpretação e contextualização dos resultados. III.2- Levantamento do Referencial O levantamento dos dados referenciais consistiu na realização de pesquisa dos documentos, relatórios, fichas, bibliografias publicadas, fotos e croquis do sítio em questão, localizados no acervo do MAX. Os documentos nortearam a pesquisa na identificação dos procedimentos utilizados durante as escavações, na identificação espacial das amostras e na contextualização do Sítio. Dentre os principais autores que conduziram a análise podem-se destacar Vergne (2004-2006), Carvalho (2006) e Fagundes (2007). O primeiro autor com trabalhos voltados, no diagnóstico da ritualidade funerária do sítio, o segundo autor obteve informações sobre os indivíduos através de análise bioantropológica, já o terceiro autor apresentou as análises sedimentológicas e líticas. 23