UMA ABORDAGEM AO LAY-OUT DE CANTEIROS DE OBRAS SITUADOS NA REGIÃO NOROESTE/RS

Documentos relacionados
Lista de verificação para avaliação de canteiros de obras

SEGURANÇA NA CONSTRUÇÃO CIVIL -NR 18- prof.: Uanderson Rebula. Acidente em Siderurgia

Serviços Preliminares

NR 18. Segurança na Construção Civil

TÉCNICAS CONSTRUTIVAS I. Canteiro de Obras

Canteiro de Obras. Introdução Produção Apoio Administração Transporte Fases. Aula 4. Canteiro de Obras. PCC-3506 Planejamento e Custos de Construção

LAYOUT DE CANTEIRO DE OBRAS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

VT Inspeção [ X ]Geral

Canteiro de Obras - Conceito

VT Inspeção [ X ]Geral

PLANEJAMENTO DAS INSTALAÇÕES DE CANTEIROS DE OBRAS: ASPECTOS QUE INTERFEREM NA PRODUTIVIDADE.

GESTÃO DE SSMA EM CANTEIROS DE OBRAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL PREDIAL

ANEXO A PLANILHAS E PROCEDIMENTOS

Preenchido por :... Data :... Obra/Empresa:...

Como Organizar o seu Canteiro de Obras Templum Consultoria

PROGRAMA DE SAÚDE E SEGURANÇA - PSS

Faculdade Sudoeste Paulista Curso de Engenharia Civil Técnicas da Construção Civil

TECNICAS CONSTRUTIVAS I

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE CANTEIROS DE OBRAS: SISTEMA CONSTRUTIVO CONVENCIONAL VERSUS SISTEMA CONSTRUTIVO LIGHT STEEL FRAME (LSF)

Empreendimentos na construção civil e organização do canteiro de obras. Professora : Moema Patrícia Barros de Castro

Prof. Heni Mirna Cruz Santos

Análise da distribuição de suprimentos em um canteiro de obras

Gestão da produção: Sistemas isolados. Gestão da produção: Funções envolvidas. Conteúdo. Gestão Integrada. Gestão Integrada

ENG2332 CONSTRUÇÃO CIVIL I

VT Inspeção [ X ]Geral

Anexo Procedimento de Instalação de Alojamento

Em alguns canteiros encontramos locais adequados para guarda da comida preparada em empresas especializadas.

PROGRAMA DE SAÚDE E SEGURANÇA - PSS

Otimização no Processo Projeção de Argamassa: Engº Kepler Rocha Pascoal

VT Inspeção [ X ]Geral

Empresa X Empresa Y Empresa Z

OBTENÇÃO E ANÁLISE DE INDICADORES PARA CANTEIROS DE OBRAS NO MUNICÍPIO DE CABINDA CABINDA/ANGOLA

A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA PRODUTIVIDADE E DOS FATORES QUE A INFLUENCIAM NO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL 1

Prof. Heni Mirna Cruz Santos

RELATÓRIO DE INSPEÇÃO GERENCIAL DE IMPLANTAÇÃO DO PCMAT

ENGENHARIA DE SEGURANÇA

PROGRAMA SOJA PLUS Programa de Gestão Econômica, Social e Ambiental da Soja Brasileira

RACIONALIZAÇÃO DE CANTEIROS ATRAVÉS DA IMPLANTAÇÃO DE INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS

Organização dos canteiros de obras: Estudo de caso com foco na melhoria da qualidade e produtividade na construção civil

IMPLANTAÇÃO DO CANTEIRO DE OBRAS

CANTEIRO DE OBRAS ESPECIFICAÇÕES OBJETIVO... 2 CONSIDERAÇÕES GERAIS... 2 CONSIDERAÇÕES ESPECÍFICAS... 2

Destinação adequada de resíduos da construção civil

Normativas Gerais da NR-18

Checklist de Obras. Item a ser checado Sim Não os trabalhadores são orientados quanto ao uso de EPI?

Segurança: Todos os colaboradores devem utilizar Equipamentos de Proteção individual (E.P.I.), em condições de uso, tais quais:

Perdas, Produção Mais Limpa e Racionalização

Racionalização de alvenaria: avaliação quantitativa

DE PALMAS-TO: estudo de caso no residencial Village 61. Huriel Cesar França Azevedo¹, Fernando Antonio da Silva Fernandes², Lidiane Batista Morais³

LOGÍSTICA NO CANTEIRO E O IMPACTO NA PRODUTIVIDADE

Canteiro de Obras. Murilo Meiron de Pádua

GESTÃO DE OBRAS DE EDIFICAÇÃO, TECNOLOGIA E DESEMPENHO DA CONSTRUÇÃO CIVIL

ANÁLISE DA ORGANIZAÇÃO DE CANTEIROS DE OBRAS NA CIDADE DE CUIABÁ NO PERÍODO

MEMORIAL DESCRITIVO DA 2ª ETAPA DA CONSTRUÇÃO DO BLOCO DE DIREITO

LISTA DE VERIFICAÇÃO PARA DIAGNÓSTICO DA ADEQUAÇÃO DE CANTEIROS DE OBRA À NR-18

ROTEIROS DOS TRABALHOS

REGISTRO FOTOGRÁFICO 11 a 15/08/2014 Segurança, Saúde e Condições de Trabalho Obra Principal

TEC 159 TECNOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES I

PATRULHA DA LIMPEZA Inspeção Semanal de Segurança

Pilar: Empresa (Gestão - Condições físicas) AVALIAÇÃO SIM NÃO NA(*) OBS

ESCOLA DE ENGENHARIA - DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ENG EDIFICAÇÕES I TRABALHO PRÁTICO /1 PROF. RUY ALBERTO CREMONINI

PROPOSTA DE UMA METODOLOGIA PARA O PROJETO DO CANTEIRO DE OBRAS

Área de vivência - Vestiário. Os vestiários devem ter bancos em número suficiente para atender aos funcionários, com largura mínima de 30cm.

Visita a Canteiro de Obras Shopping PlazaVale - SJC

O USO DE ANDAIMES NA CONSTRUÇÃO CIVIL NR

VT Inspeção [ X ]Geral

Norma Regulamentadora NR 18 e Manual da Fundacentro.

1.1 Indústria da Construção Civil É UMA INDÚSTRIA? 1.1 Indústria da Construção Civil. 1.1 Indústria da Construção Civil

IMPLANTAÇÃO DO CANTEIRO DE OBRAS

_mais de empreendimentos entregues

NORMA REGULAMENTADORA N.º

CANTEIRO DE OBRAS: elementos de projeto

Lista de Verificação

PGRCC PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

VT Inspeção [ X ]Geral

NR 18 PROPOSTA DE ALTERAÇÃO PLANO DE TRABALHO

08/11/2011 ADMINISTRAÇÃO DE MATERIAIS PRODUTOS OU SERVIÇOS FLUXO DE MATERIAIS

MEMORIAL DESCRITIVO 1. OBRA/LOCAL/IDENTIFICAÇÃO

Planejamento de canteiro de obras

Grupo de Materiais de Construção Departamento de Construção Civil Universidade Federal do Paraná CANTEIRO DE OBRAS. Departamento de construção civil

trabalho e do sindicato profissional, laudo técnico relativo a ausência de riscos químicos, biológicos e físicos (especificamente para radiações) com

» Abrangência do SINAPI

SOLUÇÕES EM ACESSO SEJA QUAL FOR O SEU DESAFIO EM ACESSO, A MILLS TEM A SOLUÇÃO.

Uma Abordagem Introdutória ADMINISTRAÇÃO DE MATERIAIS

ARRANJO FÍSICO / LAYOUT

FATEC - SP Faculdade de Tecnologia de São Paulo. ACESSOS DE EDIFÍCIOS E CIRCULAÇÕES VERTICAIS - escadas. Prof. Manuel Vitor Curso - Edifícios

Produção e caracterização de resíduos da construção civil

LICITAÇÃO CONVITE Nº 004/2017 ANEXO III MEMORIAL DESCRITIVO

SECRETARIA DE ESTADO DOS NEGÓCIOS DA SEGURANÇA PÚBLICA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Corpo de Bombeiros INSTRUÇÃO TÉCNICA Nº 29/2011

Curso Técnico Segurança do Trabalho. Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho MÄdulo 5 VisÇo Geral

AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA NO TRABALHO NOS CANTEIROS DE OBRAS NA VISÃO DOS PRINCIPAIS COLABORADORES DE SUA GESTÃO

RESIDENCIAL RECANTO DO SOL MEMORIAL DESCRITIVO DE ACABAMENTO

MEMORIAL DESCRITIVO DE CONSTRUÇÃO

VT Inspeção [X] Geral [ ] Parcial

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Rio de Janeiro - Campus Pinheiral Planilha Orçamentária - Projeto Padrão

PROTEÇÃO DE PILAR

COMPOSIÇÕES REPRESENTATIVAS DO SERVIÇO DE EMBOÇO/MASSA ÚNICA INTERNA

EXCELENTE CONFORTO COM ISOLAMENTO TERMO ACÚSTICO //O QUE FAZEMOS

Area de vivencia na construcao civil. Juarez Sabino da Silva Junior Técnico de Seguranca do Trabalho

ANEXO I TABELA 1 ÁREAS MÍNIMAS EM EDIFICAÇÕES RESIDENCIAIS

Transcrição:

UMA ABORDAGEM AO LAY-OUT DE CANTEIROS DE OBRAS SITUADOS NA REGIÃO NOROESTE/RS LUCIANA LONDERO BRANDLI JÚLIO CESAR SOARES UNIJUÍ- UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE/RS e-mail: brandli@detec.unijui.tche.br, julioces@main.unijui.tche.br Abstract This work relats and analyses the results of the survey in four building construction sites in Northwest region of Rio Grande do Sul, in the cities of Ijuí and Santa Rosa. The objective this paper is characterize factors related to the layout of the sites, logistics materials management in the sites and welfare of the workers. It was used a check list to get the informations necessaries to work. The study evidenced some problems about material s handling, layout planning and mainly about the low importance of using safety norms, perhaps conected with the not efficient fiscalization praticted by responsable Keywords: productivity, lay-out, site, logistic, safety norms 1. Introdução É inegável a preocupação crescente por parte de empresas vinculadas à Indústria da Construção Civil, sub-setor edificações, no sentido de buscar otimizações em suas ações gerenciais nas suas mais variadas formas. Percebe-se a intensificação desta tendência na medida em que uma série de alterações, sobretudo de ordem mercadológica, vêm provocando as organizações neste sentido. Referindo-se mais especificamente ao setor produtivo, Santos e Farias Filho destacam que as empresas têm procurado investir na melhoria de seus processos de produção, face as crescentes pressões do mercado, tendo estas pressões parâmetros como a falta de um sistema contínuo e seguro de financiamento para o sub-setor, aumento das exigências feitas pelos clientes, descrédito com as empresas, frente a acontecimentos pejorativos (falência de empresas e respectivo descumprimento de contratos, baixa qualidade das construções e queda de alguns prédios), além da possibilidade de acréscimo da concorrência devido a entrada de empresas estrangeiras no sub-setor, entre outras. Neste cenário, onde a gestão dos processos produtivos passa a desfrutar maior relevância no âmbito organizacional, ressalta-se a importância específica da gestão logística dos recursos. De acordo com Ching (1999) a necessária integração logística pode ser estruturada em três grandes blocos que se relacionam entre si: logística de suprimento, logística de produção e logística de distribuição. Embora este trabalho limita sua abordagem à logística de produção, sobretudo a aspectos relacionados ao layout de canteiros, é importante destacar as logísticas de suprimento, de produção e de distribuição devem ser geridas conjuntamente, de forma integrada. Reconhecendo a importância da logística, Silva e Cardoso (1998) colocam: A busca pelo conhecimento dos conceitos e das ferramentas operacionais utilizadas pela logística é de grande valor hoje para diversos setores empresariais que buscam uma eficiência produtiva e uma maior competitividade, proporcionando redução de custos e melhoria nos níveis de serviço. No setor da construção civil, o acirramento da competitividade tem aflorado um novo comportamento por parte das construtoras, havendo uma maior valorização dos aspectos produtivos da construção. Ganharam destaque por exemplo, a racionalização construtiva, os sistemas de gestão da qualidade, o estudo da produtividade da mão-de-obra e das perdas de

materiais. Neste novo contexto, a racionalização logística apresenta-se também como um elemento importante para a melhoria da competitividade das empresas construtoras. Estes autores entendem que a logística aplicada à construção civil é um processo multidisciplinar que visa garantir o abastecimento, a armazenagem, o processamento e a disponibilização de recursos materiais nas frentes de trabalho, bem como o dimensionamento das equipes de produção e a gestão dos fluxos físicos de produção. Sendo assim, não pode ser ignorada a concepção de um arranjo físico ou lay-out de canteiro voltado a garantir um desempenho logístico eficiente. Neste sentido, Santos e Farias Filho defendem práticas como estruturação de uma logística eficiente de canteiro, onde procura-se otimizar os fluxos físicos e as informações, além de uma logística de rua onde se procura otimizar a gestão dos materiais e dos componentes. Os autores ainda citam o trabalho de Cardoso (1996), o qual atenta para algumas atividades como o controle dos fluxos físicos ligados à execução, à gestão das interfaces entre os agentes e à gestão da praça de trabalho como meios de obter uma logística eficiente de canteiro. Destacam ainda que a logística de canteiro deve ser preparada antes do começo da obra e que devem ser levados em consideração locais para descarga, zonas de estocagem, zonas para pré-fabricação se for o caso, entre outros, além de facilitar o fluxo dos materiais e dos trabalhadores. Schalk et al. (198) apud Oliveira e Leão (1997) destacam fatores como as instalações e os equipamentos, a disposição da área de trabalho e o ambiente físico geral, os quais influenciam no trabalho e consequentemente na produtividade. Oliveira e Carneiro Leão ainda afirmam que uma série de disfunções vinculadas a transporte, planejamento e acidentes no trabalho podem ser eliminadas no momento da elaboração do projeto do arranjo físico. Neste sentido Fritsche et al (1996) alertam que as diferentes fases da obra exigem canteiros diferenciados se adaptando a estratégia de ataque a obra. Ferreira e Franco (1998) ao tratar de uma proposta de metodologia para projeto do canteiro de obras corroboram esta idéia colocando que a definição das fases deverá ser feita em função dos principais marcos existentes, que impliquem em alterações substantivas na alocação de espaço no canteiro, devido ao início de novos serviços, alteração nos processos de produção, chegada ou utilização de novos materiais e equipamentos, implantação de novas instalações, ou à necessidade de liberação de espaços para novas frentes de serviço, entre outras. Diante do exposto, a preocupação com aspectos de natureza logística, bem como de arranjo físico se fazem absolutamente necessários e pertinentes na busca de processos produtivos eficientes. Santos e Farias Filho (1998) confirmam esta visão ao defender o investimento num novo modelo de gestão baseado em aspectos organizacionais modernos e numa logística eficiente onde se procure otimizar os fluxos físicos e as informações. Entretanto, algumas pesquisas têm apontado situações críticas em se tratando de logística e de arranjo físico. Ao pesquisar doze obras das cidades de Recife e João Pessoa, Oliveira e Leão (1997) concluíram que há muitas disfunções relacionadas a planejamento das instalações de canteiros de obras e percebe-se com clareza sua interferência na produtividade dos serviços de construção do edifício. Silva e Cardoso (1998) realizaram um diagnóstico em dez obras da Grande São Paulo, onde constataram que a falta de elaboração de um arranjo físico, prevendo áreas de estoque, processamento e circulação nas diversas fases de execução da obra, é ainda o principal problema encontrado para a racionalização dos fluxos físicos do canteiro. Estes autores sugerem a realização de um planejamento dessas áreas de maneira compatível com um plano geral de suprimentos para a obra, já que se observa que as empresas que coordenam estas atividades a partir do planejamento conseguem reduzir bastante o estoque de materiais em obra. No que se refere à segurança no trabalho, Librelotto et al. (1998) consideram que a segurança no trabalho tem sido uma das áreas das quais as empresas têm investido com mais intensidade, embora tenha-se muito a evoluir. Esta tendência se deve, segundo os autores, sobretudo às novas exigências da NR 18. Esta norma trata das condições e meio ambiente do trabalho na indústria da construção, estabelecendo diretrizes de ordem administrativa, de planejamento de organização, que objetivam a implementação de medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no ambiente de trabalho desta indústria, em todas as etapas de execução da obra. Abordando aspectos de inovação em canteiros de obras, os autores acima citados realizaram pesquisa em sete canteiros de obras na cidade de Florianópolis-SC, onde constataram que o item com maior número de inovações é o que se refere a segurança no trabalho.

Por outro lado, entrevistados por Almeida, Nunes e Miranda (1996), operários da construção civil de João Pessoa-PB, afirmaram que as empresas demonstram um certo descaso quanto à segurança. Santos (1997) corrobora esta realidade em empresas de João Pessoa, ao concluir que em aspectos levantados junto a duas delas, muito pode ser feito para melhorar as condições de trabalho dos operários da construção de edifícios, incluindo questões de natureza de segurança. Nesta mesma perspectiva, Araújo e Meira (1996) realizaram diagnóstico sobre a aplicação da NR-18 em canteiros de obras de onze empresas que trabalham com edificações verticais, o qual identificou que todas as empresas sabem da existência da NR-18. Entretanto, ao realizar o diagnóstico e analisar os dados, os autores concluíram que a NR-18 não é cumprida de forma satisfatória pelas empresas de construção verticais pesquisadas. Entre outros fatores, atesta-se o fenômeno à pequena fiscalização por parte do órgãos governamentais competentes. Este trabalho pretende apresentar e analisar os dados de um diagnóstico realizado em quatro canteiros de obras situados nas cidades de Ijuí e Santa Rosa na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.. Metodologia O levantamento dos indicadores baseou-se na utilização de um check list, na tentativa de identificar o perfil dos canteiros de obras com relação às instalações provisórias, movimentação e armazenamento de materiais e segurança do trabalho. Para caracterização de cada um destes aspectos foram elencados vários itens, como mostra a tabela 1. número total de itens analisados Tipologia das instalações Tapumes Acessos Guarita Instalações provisórias Escritório do mestre/engenheiro Almoxarifado Local para refeições Vestiários Instalações sanitárias Vias de circulação Entulho Guincho Movimentação e Armazenamento de cimento armazenamento de materiais Armazenamento de agregados Armazenamento de tijolos/blocos Armazenamento de aço Armazenamento de tubos de PVC Produção de argamassa/concreto Escadas Escadas de mão Poço do elevador Proteção perímetro dos pavimentos Sinalização de segurança Segurança no trabalho Plataforma de proteção Aberturas no piso EPI s Instalações elétricas Andaimes suspensos Proteção contra incêndio Guincho Grua Tabela 1: Caracterização do check list Fonte: Adaptado Santos et al. (1996) 6 3 7 6 10 8 5 5 5 7 3 8 1 1 10 3

As empresas que compõem esta amostra são empresas típicas de pequeno porte, administradas pelo proprietário que também assume a função de engenheiro das obras. Existe um conhecimento informal sobre as novas tendências de gestão da produção tão amplamente discutidas no âmbito moderno da construção civil, entretanto, não é estratégia de nenhuma das empresas aplicar em seus canteiros os princípios de racionalização da produção, bem como as condições NR18. Ainda, nenhuma delas entrou em programas de qualidade e é ainda muito distante a certificação. Isto posto, ressalta-se a importância desta pesquisa, de descrever como estão os canteiros destas empresas que ainda existem em grande número nesta região e em todo o Brasil. A tabela abaixo caracteriza sucintamente as obras da amostra. Obra A Prédio da engenharia civil e prédio da biblioteca do Ijuí campus universitário Obra B Prédio residencial de 8 pavimentos Ijuí Obra C Residência de pavimentos com aproximadamente 188 m Ijuí Obra D Conjunto de 6 blocos residenciais de pavimentos cada Santa Rosa totalizando 10.500 m Tabela : Caracterização das obras Fonte: os autores 3. Diagnóstico dos canteiros O diagnóstico apresentado na seqüência trata de aspectos relacionados às instalações provisórias, segurança na obra e sistema de movimentação e armazenagem de materiais. Instalações provisórias Nenhum dos canteiros utilizava instalações móveis, sendo que dois deles possuíam barracos modulados em estado ruim de conservação. Todas os canteiros, de alguma forma, aproveitavam construções existentes para instalações da obra, sejam construções da obra nova, ou já existentes no local. Com relação aos tapumes, apenas duas possuíam com alguma espécie de pintura decorativa e de material resistente. As outras não possuíam nenhum tipo de tapume. Apenas um dos canteiros possuía acesso exclusivo para pedestres e nenhum deles apresentou caminho calçado e coberto. Não existia guarita para vigia em nenhum dos canteiros, aparecendo o uso de vigia em dois deles. Só dois canteiros possuíam sala para mestre e engenheiro, as obras A e B. O almoxarifado só apareceu nas obras A e B, sendo que nas demais não existia este local definido, ficando os materiais dispersos na obra. O local definido para refeições aparece apenas nas obras A e B, mesmo assim, não se observa o atendimento das especificações da NR-18, com relação a lavatório nas proximidades, depósito para detritos, assentos em número suficiente e mesas separadas de forma que os trabalhadores se agrupem segundo sua vontade. Observa-se o fechamento dos refeitórios permitindo o isolamento dos mesmos e o piso de material lavável. O item vestiário aparece em três das obras, sendo que dois localizam-se em peças de alvenaria com piso cimentado, um tem banco e cabines para as roupas dos operários e nenhum possui armários individuais com fechadura como especifica a NR-18. Os vestiários não apresentaram divisão conforme as equipes de produção, dois apresentaram piso de concreto ou similar, apenas um tinha bancos e cabides que não eram pregos, nenhum tinha armários individuais e dois localizavam-se em peças de alvenaria já concluídas no pavimento térreo. Em duas obras os banheiros localizavam-se ao lado do vestiário e em nenhuma obra havia banheiros volantes nos andares. Por outro lado, em todos os banheiros encontrou-se recipiente para depósito de papéis usados e em dois banheiros encontrou-se piso de material antiderrapante ou estrado de madeira no local do chuveiro. Em dois locais encontrou-se suporte para sabonete e cabide para toalha correspondente a cada chuveiro e não encontrou-se banheiro exclusivo para o pessoal da administração. Com relação ao deslocamento até o banheiro, em duas obras percorre-se mais de 150 metros do posto de trabalho ao banheiro.

Instalações provisórias Percentagem de itens avaliados 100% 80% 60% 0% 0% 0% Não existe/não aplica Existe/Aplica Obra A Obra B Obra C Obra D Gráfico 1 Caracterização dos canteiros com relação aos itens avaliados em instalações provisórias Fonte: os autores Movimentação e armazenagem de materiais No que se refere as vias circulações, observou-se que o contrapiso para circulação de pessoas e materiais existia somente nas obras B e C, sendo que em nenhuma das quatro o caminho entre a betoneira e o guincho era coberto. O transito de carrinhos e gericas ocorria perto dos estoques em que tais equipamentos faziam-se necessários em todas as obras. Nas obras C e D havia carrinhos previamente definidos para os principais fluxos de materiais. Quanto ao entulho, não se utilizava, em nenhuma caixas para desperdícios nos andares assim como não havia um depósito central de entulho. O entulho não era transportado através de calhas ou tubos coletores, e sim por carrinhos de mão. Os canteiros em geral possuíam sobras de madeira espalhada e caliça, podendo-se dizer que as obras não eram conservadas limpas. Em duas das obras o entulho de argamassa sobrada era reaproveitada. Das quatro obras estudadas, três delas possuíam guincho. Não apareceu em nenhuma a utilização de tubofone, e o guincho não estava localizado em parede cega. No entanto, as áreas próximas do guincho encontravam-se desobstruídas, permitindo livre acesso dos equipamentos de transporte. Na análise do armazenamento do cimento, observou-se uma adequação os quesitos necessários, quais sejam, existência de estrado sob o estoque, pilhas de no máximo 10 sacos e depositados em lugar protegido de umidade, fechado e coberto. Contudo, em nenhum canteiro se utilizava a prática de estocagem do tipo PEPS (primeiro a entrar, primeiro a sair), por uma falta de desconhecimento das pessoas responsáveis. No caso dos agregados, haviam baias para areia, brita e argamassa com contenção nos três lados nas obras B, C e D, sendo o fundo cimentado apenas na B. Todas descarregavam a areia no local já definido da armazenagem, evitando assim o remanejamento do material. Observando-se o estoque de tijolos notou-se que em nenhum dos casos os tijolos estavam depositados em lugares limpos e nivelados tendo assim, contato direto com o solo. Os tijolos eram separados por tipo e as pilhas tinham até 1,80m de altura. A estocagem do aço apareceu em duas obras, sendo nas duas protegido do contato com o solo e separado por bitola. Em todos os canteiros os tubos de PVC eram armazenados em camadas, separados de acordo com a bitola, sendo estocados em locais cobertos. Com relação a produção da argamassa e do concreto, observou-se que a betoneira estava próxima do guincho e descarregava diretamente nos carrinhos ou masseiras para o transporte até o local do uso. Em nenhuma das obras haviam indicações de traços e ou programação da produção de fácil visualização pelos operários.

Movimentação e armazenagem de materiais Percentagem de itens avaliados 100% 80% 60% 0% 0% 0% Não existe/não aplica Existe/Aplica Obra A Obra B Obra C Obra D Gráfico Caracterização dos canteiros com relação aos itens avaliados em movimentação e armazenagem de materiais - Fonte: os autores Segurança na obra Analisando a questão segurança nos canteiros deste estudo, observou-se um não atendimento aos itens levantados de forma generalizada. Com relação as especificações da NR-18 a respeito das escadas e escadas de mão, nenhuma das obras apresentou condições mínimas satisfatórias. No que diz respeito ao poço do elevador, que existia em duas obras, ambas possuíam fechamento provisório com guarda corpo constituído com material fixado a estrutura, e apenas uma apresentou assoalhamento de madeira ou malha de ferros dentro dos poços. Em se tratando de proteção contra queda no perímetro dos pavimentos e sinalização de segurança o diagnóstico mostrou uma total ausência de iniciativas voltadas a alertas, advertências e identificação dos locais do canteiro. Em nenhuma das obras existia plataforma de proteção ou bandeja salva vidas. Apenas uma das obras apresentou abertura do piso com fechamento provisório resistente, as demais não possuíam tal fechamento. No que se refere uso de EPI s, apenas em duas obras eram fornecidos capacetes para visitantes e em três delas, todos os operários usavam botinas e capacetes. Apenas em duas, os trabalhadores usavam uniformes cedido pela empresa. Com relação as instalações elétricas, em duas situações inexistiam partes vivas expostas de circuitos e equipamentos. Em três canteiros os fios condutores estavam isolados do transito das pessoas e dois canteiros as máquinas e equipamentos estavam ligados por conjunto de plugue e tomadas. Todas as obras apresentaram redes de alta tensão devidamente protegidas. Não aparece nenhum tipo de proteção contra incêndio nas obras estudadas. Observando os guinchos, apenas dois dos três possuíam condições favoráveis a segurança. Nenhuma das obras utilizava de grua.

Segurança na obra 100% 90% 80% 70% 60% Percentagem 50% de itens 0% avaliados 30% 0% 10% 0% Não existe/não aplica Existe/Aplica Obra A Obra B Obra C Obra D Gráfico 3 Caracterização dos canteiros com relação aos itens avaliados em segurança no trabalho Fonte: os autores Observando o gráfico 3, nota-se um posicionamento das empresas bastante inconsistente com relação a segurança de seus operários e às exigências da NR-18. De todos os 50 itens levantados, a obra A apresentou satisfatória apenas 18% e a obra C 16%. As obras B e D apresentaram respectivamente 36% e 38% dos itens atendidos.. Conclusão A contribuição deste trabalho é atribuída ao diagnóstico de canteiros numa região ainda não explorada cujas características identificam ainda em grande escada o perfil da construção civil brasileira em regiões onde as novas tendências de gestão e a introdução de inovações tecnológicas são ainda insipientes. A avaliação das instalações provisórias revela a necessidade da introdução de conceitos como 5S e o atendimento às especificações da NR18. O diagnóstico sobre a movimentação e armazenamento de materiais mostra que a estocagem de alguns dos materiais observados está sendo feita de maneira correta, mas também traduz o desconhecimento de conceitos modernos de gestão, a exemplo da estocagem tipo PEPS. Quanto a movimentação, observa-se falta de planejamento do lay-out de tal forma a diminuir distâncias e racionalizar deslocamentos. No que se refere a segurança dos canteiros pesquisados e ao atendimento às especificações da NR-18, nota-se uma falta sistêmica no atendimento a estes quesitos, o que retrata os canteiros da região que por não serem alvo de fiscalizações acabam subestimando o atendimento a esta norma. De posse do diagnóstico destas quatro obras, fica clara a necessidade de se trabalhar projeto e planejamento de canteiro de obras nesta região, assim como as deficiências e potencialidades destas obras. 5. Referências Bibliográficas ALMEIDA, C. V. B. de; NUNES, B. de O.; MIRANDA, N. da C. Saúde e segurança: avaliação de uma experiência educativa na construção civil. Anais do 16 ENEGEP- Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Piracicaba/SP, 1996. ARAÚJO, N. M. C. de; MEIRA, G. R. Utilização da NR-18 em canteiros de obras de edificações verticais da grande João Pessoa. Anais do 16 ENEGEP- Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Piracicaba/SP, 1996. CHING, H. Y. Gestão de estoques na cadeia de logística integrada- Supply chain. 1 Ed. São Paulo, Atlas, 1999. FERREIRA, E. de A. M.; FRANCO, L. S. Proposta de uma metodologia para o projeto do canteiro de obras. Anais do Congresso Latino-Americano de Tecnologia e Gestão na Produção de Edifícios. São Paulo- Brasil, 03 a 06 de novembro de 1998, p. 53-60.

FRITSCHE, C. et al.. Lay-out de canteiro de obras da construção civil. Anais do 16 ENEGEP- Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Piracicaba/SP, 1996. LIBRELOTTO, L. et al. Racionalização de canteiros através da implantação de inovações tecnológicas. Anais do 18 ENEGEP- Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Niterói/RJ, 1998. MEIRA, A. R. et al. Racionalização de canteiros através da implantação de inovações tecnológicas. Anais do 18 ENEGEP- Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Niterói/RJ, 1998. OLIVEIRA, M.; LANTELME E.; FORMOSO C. T. Sistemas de Indicadores. Série SEBRAE, a edição, 1995. OLIVEIRA, M. E. R. de; LEÃO, S. M. C. Planejamento das instalações de canteiros de obras: aspectos que interferem na produtividade. Anais do 17 ENEGEP- Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Gramado/RS, 1997. SANTOS, A. dos S. Qualidade pessoal dos operários da construção de edifícios em João Pessoa: estudo exploratório. Anais do 17 ENEGEP- Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Gramado/RS, 1997. SANTOS, C. A. B.; FARIAS FILHO, J. R. de Construção civil: um sistema de gestão baseado na logística e na produção enxuta. Anais do 18 ENEGEP- Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Niterói/RJ, 1998. SILVA, F. B. da; CARDOSO, F. F. Diagnóstico da logística na construção de edifícios. Anais do Congresso Latino-Americano de Tecnologia e Gestão na Produção de Edifícios. São Paulo- Brasil, 03 a 06 de novembro de 1998, p. 53-60.