Higiene Nasal em Pediatria



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Transcrição:

Higiene Nasal em Pediatria John Manoukian Meu capítulo é muito básico. Farei alguns comentários sobre a fisiologia nasal, clearance mucociliar nasal, poluição de vias aéreas superiores em crianças, alguns conceitos de higiene nasal, e o que usamos para irrigação nasal, e especialmente os sprays nasais de água do mar. Apresentarei o estudo multicêntrico canadense em pediatria sobre os efeitos da irrigação nasal em rinossinusite. O nariz não atua apenas como uma passagem nasal. É onde se dão as trocas de calor. A função nasal é manter o ar por volta de 37 o C. Isto é conseguido por meio de termo-receptores que aumentam ou diminuem a resistência, de acordo com o ar inspirado. Assim, se o ar atmosférico estiver aquecido, os termo-receptores diminuem a resistência e a congestão nasal, ao passo que, se o ar atmosférico estiver frio, ocorre o oposto e a resistência e a congestão nasal aumentam. Outra função do nariz é fazer a umidificação do ar inspirado. O ar contém 100% de umidade relativa quando chega aos pulmões. Esta ação é desempenhada pela mucosa nasal dos cornetos nasais: o ar é direcionado para trás da válvula nasal e torna-se turbulento. Assim, o ar obtém máximo contato com a mucosa nasal aquecedora nos cornetos onde ocorre a umidificação. O nariz é também o melhor filtro de matéria particulada inalada. Primeiro, as partículas maiores são filtradas pelas vibrissas. Mas a parte mais importante é o manto de muco nasal, cuja função ciliar é aprisionar essas partículas. Este manto de muco é formado por grandes glicoproteínas (mucina), água e íons e imunoglobulina IgA, IgG, IgE e outras substâncias, como histamina, lisozima e complementos. A mucina é produzida pelas glândulas nasais submucosas e pelas células caliciformes. O muco é formado por duas camadas, uma camada inferior mais aquosa chamada sol, e uma camada superior, viscosa conhecida como gel que embebe as pontas dos cílios. São os cílios que fazem a camada viscosa se mover. Trata-se de um filtro excelente. Cerca de 100% das partículas inspiradas maiores que 4 mícron são removidas pelo nariz. Age como uma primeira linha de defesa contra infecções bacterianas e virais. A IgA previne a aderência dos agentes bacterianos e virais à mucosa e barra sua entrada. A higiene de vias aéreas depende do clearance mucociliar, que por sua vez depende dos movimentos do manto mucoso, que depende dos apêndices mucociliares. Os movimentos de relaxamento e os movimentos anteriores dos cílios fazem o muco mover-se para frente. Move-se para a mesma direção, para a nasofaringe, exceto na região anterior em frente ao corneto inferior, em que o transporte se dá em direção anterior.

V MANUAL DE OTORRINOLARINGOLOGIA PEDIÁTRICA DA IAPO 159 Os cílios podem transportar partículas rádio-marcadas a uma velocidade de 6mm por minuto (média de 1-20 mm/minuto). Assim, em 10 a 20 minutos o nariz se livra das partículas inaladas. Se falhar, a primeira coisa que acontece é um acúmulo das secreções no assoalho da cavidade nasal. E a persistência dos microorganismos causa inflamações. Este processo se torna crônico e danifica as paredes aéreas e regula para cima a produção de muco, aumentando as secreções e causando rinossinusite crônica. Portanto, quais são os fatores que afetam a ação ciliar? Como sabemos, as infecções bacterianas e virais, os resfriados comuns, diminuem o número de células ciliadas por duas semanas, tornando-as não funcionais. Não devemos fazer biópsia de cílios no primeiro mês após a infecção, pois o resultado pode ser falso-positivo. Além disso, a rinossinusite crônica aumenta a viscosidade do muco e afeta a função ciliar. Outro fator específico é a discinesia ciliar primária (DCP), assim como a síndrome dos cílios imóveis (síndrome de Kartagener) em que os braços ciliares estão ausentes e impedem seu movimento ou causam alterações de movimento. Os pacientes com fibrose cística têm muco espesso e formação de pólipos que não ajudam o clearance ciliar. Temos um problema grave no Canadá causado por excesso de ressecamento pois nossas casas são aquecidas durante todo o inverno. Além disso, temos grandes mudanças de temperatura. Os cílios preferem o batimento em solução levemente alcalina. Os cílios batem em ph acima de 6,4 e funcionam em líquido ligeiramente alcalino de ph > 8,5 por longos períodos. Há grande impacto da poluição sobre as infecções do trato respiratório superior em crianças. O dióxido de enxofre, presente na poluição que se encontra em Los Angeles, Cidade do México e tenho certeza também em São Paulo, causa congestão nasal, o que aumenta o número de mastócitos e os linfócitos em lavagens nasais. O importante é lembrar que o anti-histamínico clorofeniramina diminui este problema. As exposições ao ozônio também causam congestão nasal e liberação de histamina, neutrófilos, eosinófilos e células mononucleares. O formaldeído foi um problema no Canadá em função do isolamento contra o frio usado nas casas. Em altas concentrações, causa irritação das vias aéreas superiores, mas não tem efeitos conhecidos a longo-prazo. Quanto à queima de madeira ou dióxido de carbono, não há dados sobre seus efeitos em crianças. Porém, o fumo passivo causa aumento do risco de infecções de ouvido ou infecções virais. Há um excelente estudo feito no México pelo Dr. Meza Morales no qual o autor randomizou três grupos de crianças de três diferentes cidades. O primeiro grupo era da Cidade do México, com altos índices de poluição, o segundo de Tula, Hidalgo, com índices moderados de poluição, e o terceiro da área rural de Contepec, Michoacan. As crianças foram distribuídas de forma randomizada. Os autores analisaram os sintomas nasais e perceberam que obstrução nasal, coceira e ressecamento eram maiores na Cidade do México comparado com a área rural. Mesmo os cornetos hipertróficos bilaterais eram maiores na Cidade do México

160 V MANUAL DE OTORRINOLARINGOLOGIA PEDIÁTRICA DA IAPO do que na área rural. Após a coleta de biópsias nasais, observaram que na Cidade do México havia aumento significativo de metaplasia esquamosa e alterações pseudoepiteliomatosas. O estudo indicou que a exposição de crianças saudáveis a diferentes concentrações de poluição atmosférica tem efeito determinante e altera a morfologia do epitélio respiratório, conforme resultados obtidos nas biópsias nasais. O que sabemos sobre a higiene nasal depois de dito tudo isto? Conhecemos esta prática da Índia, a Yoga, onde há milhares de anos, preconiza a limpeza nasal através do Net pot (uma espécie de chaleirinha ). Através da gravidade, com ajuda deste dispositivo caseiro, a solução salina entre na nasofaringe e sai do outro lado. Trata-se de algo muito difícil para ser feito em crianças. Quando usamos a higiene nasal? Em qualquer alteração que envolva o nariz. Previne e trata a rinossinusite aguda e crônica causando alívio da congestão e do espessamento do muco. Previne a alergia levando os agentes irritantes para fora do nariz. Limpa a fumaça de cigarro para fora do nariz. A mucosa ressecada é re-hidratada. Podemos usar a higiene nasal antes de qualquer medicação nasal em spray, pois permite aumento da eficácia do fármaco que será administrado a posteriori, por exemplo, antes de sprays nasais de corticóide. É muito efetivo em DCP e fibrose cística e importante nas situações de pós-operatório de cirurgias nasais ou sinusais, permitindo a promoção de melhor cicatrização e evitando as infecções secundárias. Portanto, pode-se usá-la em todas as patologias nasais ou nasossinusais. Porém, não há consenso sobre o que usar. Há vários tipos diferentes de irrigação nasal. Há diferentes irrigações com cloreto de sódio em diferentes concentrações. Desde soluções naturais de água do mar a soluções feitas artificialmente. Soluções fisiológicas isotônicas a 0,9% ou soluções um pouco mais hipertônicas a 3%. Podemos agregar aditivos, como bicarbonato para torná-la mais alcalina, para remover a sensação desagradável do sal. Podemos até fazê-la nós mesmos: misture meia colher de chá de sal nãoiodado em 225ml de água morna. Adicione uma pitada de bicarbonato para fazêla mais alcalina. Você pode ainda adicionar aminoglicosídeos como tratamento coadjuvante na fibrose cística ou vasoconstritores para ajudar na descongestão da mucosa. No entanto, muitos estudos sugerem o uso de soluções isotônicas a 0,9%. Há poucos estudos mostrando bons resultados com solução hipertônica leve a 3%. A importância da solução salina hipertônica é que ela tem grande efeito mucolítico. Causa aumento do transudato líquido da mucosa nasal. Portanto, se aplica a pacientes com fibrose cística. Entretanto, a solução salina hipertônica faz com que haja liberação de histamina em casos de rinite alérgica. Libera a substância P, que algumas vezes causa dor. E a solução hipersalina, que tem maior concentração (5%), pode causar paralisia dos cílios. Assim, vemos que também há desvantagens. Há um estudo feito por Gravello e publicado em 2004 em que os autores estudaram os cílios de crianças com alergia sazonal a um único antígeno. Os pacientes foram randomizados para ausência de irrigação ou irrigação de solução hipersalina leve,

V MANUAL DE OTORRINOLARINGOLOGIA PEDIÁTRICA DA IAPO 161 três vezes ao dia por toda a estação polínica prevalente. Os autores analisaram o escore diário de rinite e os pacientes podiam usar anti-histamínicos orais. O estudo mostrou que o escore diário médio de rinite e o consumo de antihistamínicos orais foram reduzidos com o tempo e foram estatisticamente significativos. Significa que aqueles que usaram o spray saíram-se melhor. Como podemos fazer a irrigação nasal? Bem, podemos fazer uma concha com as mãos e aspirarmos a solução, mas este não é um método científico; podemos usar uma seringa; conta-gotas para crianças; frascos com aerossol; frascos com spray. Também podemos fazer a administração da solução salina nasal com o sistema do Net pot. Ou qualquer nebulizador disponível comercialmente. Há diferentes formas de fazer a administração. Realizamos um estudo com o spray nasal de água do mar Sterimar, produzido na França, na baía de St. Malô, Bretanha, a 15 milhas da costa, com um mínimo de profundidade de 5 metros. A solução é colhida, filtrada, esterilizada, diluída a 1/3, transformando-a em isotônica. Há um bico específico que se adapta a bebês e adultos e contém um micro spray bem fino, sendo que o jato sai em forma de um leque. O estudo mais importante foi feito por Traissac (1999) com uma solução específica de água do mar. Ele encontrou na solução teor de elementos traços e minerais que ajudavam a restabelecer as funções das membranas mucosas acometidas do nariz. Há prata e zinco agindo como anti-séptico, cobre agindo como antiinflamatório e manganês que age como anti-alérgico. Um outro estudo mostrou que reduz a produção de interleucina IL-8 pelas células epiteliais respiratórias humanas ativadas in vitro. Como foi o nosso estudo? Queríamos ver se o efeito da água do mar era diferente das soluções produzidas artificialmente. Estudamos crianças de sete instituições pediátricas no Canadá, de Halifax a Vancouver, e cada instituição tinha que obter um formulário de aprovação do Comitê de Pesquisa da Instituição. Depois, foi assinado o termo de consentimento informado dos pais. As crianças foram randomizadas em estudo duplo cego - pesquisadores e pacientes não sabiam o que estavam tomando - e usamos controle com placebo em 350 pacientes. Selecionamos pacientes que estavam no grupo pediátrico (idades entre 0-18 anos), com diagnóstico de rinossinusite - ou seja, inflamação da mucosa do nariz e das cavidades paranasais, independente de etiologia ou duração. O critério de exclusão foi crianças que estavam sendo tratadas com descongestionante nasal ou tópico, ou com patologias médicas subjacentes graves, como fibrose cística ou DCP. O estudo foi dividido em três braços. O primeiro braço foi o controle número um: solução salina isotônica artificial administrada com uma garrafinha de apertar. No segundo controle, usamos a mesma solução salina administrada por uma garrafinha spray micro-fina patenteada da Sterimar, para excluir se o sistema de administração causava o efeito ou a melhora. O terceiro braço utilizou solução isotônica natural de água do mar administrada por um spray micro-fino especial patenteado. Três questionários previamente validados foram preenchidos pelos pacientes / pais no primeiro dia do estudo. Os participantes levaram outro formulário para casa para registro diário das notas. Retornaram após um mês e foram avaliados.

162 V MANUAL DE OTORRINOLARINGOLOGIA PEDIÁTRICA DA IAPO Levaram outro formulário para casa para registro semanal e deram notas durante o segundo e terceiro meses. Voltaram após três meses para o último exame. O escore diário de rinite, com escala de 1 a 5, baseava-se em congestão nasal, espirros, rinorréia e coceira. Se já tivessem usado sprays, eles eram comparados. Da mesma forma, o médico avaliou e preencheu a avaliação três vezes: na consulta inicial, um mês e três meses depois. O médico avaliou a etiologia e a duração da rinossinusite, as características da secreção nasal, sua quantidade, crostas, obstrução nasal, septo e grau de edema do corneto inferior. Após 65 pacientes, abrimos o protocolo para saber se estava funcionando. Percebemos que havia uma clara melhora entre os grupos três e um. Eram pacientes que usavam mais o spray e seus escores diários eram melhores. Havia eventos adversos mínimos de irritação nasal transitória em todos os grupos; não houve eventos adversos graves. Entretanto, ainda é cedo para conclusões definitivas sobre todos os dados. Concluindo, a higiene nasal é uma técnica simples que deve ser empregada com maior freqüência, pois o nariz é considerado a porta de entrada da maioria das doenças respiratórias. Apesar de os dados ainda serem preliminares, tudo indica que o spray nasal de água natural do mar tem melhor resultado clínico que os sprays comuns de solução salina, provavelmente em função de traços minerais e elementos marinhos. Leituras recomendadas 1. Koltai PJ. Effects of air pollution on the upper respiratory tract of children. Otolaryngol Head Neck Surg 1994;111: p 9-11. 2. Meza Morales A, Arreguin OL, Navarrete F, Huerta Lopez JG, Medina G. Morphological features of the nasal mucosa in healthy children exposed to different concentrations of atmospheric pollution. Rev Alerg Mex 1998;45: p 22-26. 3. Tomooka LT, Murphy C, Davidson TM. Clinical study and literature review of nasal irrigation. Laryngoscope 2000; 110: p 1189-1193. 4. Talbot AR, Herr TM, Parsons DS. Mucociliary clearance and buffered hypertonic saline solution. Laryngoscope 1997;107: p 500-503. 5. Garavello W, Romagnoli M, Sordo L, Gaini RM, Di Berardino C, Angrisano A. Hypersaline nasal irrigation in children with symptomatic seasonal allergic rhinitis: a randomized study. Pediatr Allergy Immunol 2004;14: p 140-143. 6. Traissac L, Ohayon-Courtes C, Dufour P, Bordenave L. Nasal washing with Physiomer 10 years later: 1988-1998. Rev Laryngol Otol Rhino (Bord) 1999;120: p 133-135. 7. Tabary O, Muselet C, Yvin JC, Halley-Vanhove B, Puchelle E, Jacquot J. Physiomer reduces the chemokine interleukin-8 production by activated human respiratory epithelial cells. Eur Respir J 2001;18: p 661-666.