Usuários fecham as varandas dos apartamentos da orla de Maceió: adequação aos novos usos ou inadequação ao clima?

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Transcrição:

SBQP 2009 Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído 18 a 20 de Novembro de 2009 São Carlos, SP Brasil Universidade de São Paulo Usuários fecham as varandas dos apartamentos da orla de Maceió: adequação aos novos usos ou inadequação ao clima? Residents close their Maceio seashore apartment verandahs: adaptation to a new lifestyle or non-adaptation to the climate? Alexandre Márcio TOLEDO Arquiteto e Urbanista, Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Alagoas e-mail: prof.amtoledo@fau.ufal.br CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/4522792417371327 Isabely Penina Cavalcanti da COSTA Estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas e-mail: belycc@gmail.com CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/4532710368747333 RESUMO O propósito do presente artigo é verificar os motivos do fechamento das varandas de apartamentos, tendência observada principalmente nas cidades litorâneas, bem como os novos usos destinados aos espaços e os materiais e tipologias utilizados no fechamento. A metodologia utilizada consistiu em levantamento fotográfico e aplicação de questionários e entrevistas com os usuários de nove apartamentos de edifícios em altura da cidade de Maceió/AL que realizaram o fechamento da varanda, com foco no padrão de uso das esquadrias e na percepção de ventilação natural, no período de verão. Constataram-se a excessiva ventilação e a incidência indesejável de chuvas como os principais motivos ambientais para o fechamento das varandas; que levavam à subutilização do espaço pelos usuários. Verificou-se que após o fechamento, os usuários passaram a utilizá-la com mais freqüência, mantendo o uso original ou modificando-o. A contribuição do trabalho dá-se no entendimento das razões, percepções e escolhas dos usuários das varandas, visando a concepção de novos espaços, que, cada vez mais, atendam às suas necessidades, gerando subsídios de projetos para arquitetos e projetistas. Palavras-chave: Varandas. Ventilação natural. Percepção dos usuários. ABSTRACT This paper aims to verify the reason why the apartments verandahs are being closed, a tendency mainly observed at beach cities, and as well the new uses for the rooms, stuffs and typologies in the closing. The methodology applied consisted in photographic surveys and questionnaire applications with residents from nine apartment buildings in the city of Maceio who made up the verandah closure, focusing the handling of door and windows and on the perception of the natural ventilation on summertime. It was claimed that the excessive ventilation and the unwished incidence of rain as the major environmental reasons to verandahs closure. It was verified that after the closure, the residents started to utilize it more frequently, keeping the original usage or modifying it. This paper contributes to understand the residents reasons, perceptions and choices about the verandahs, creating the conception of new spaces that more and more focus their needs, bringing up elements of projects to architects and project designers. Key words: verandah, natural ventilation, residents perceptions. 10.4237/sbqp.09.101 655

1 INTRODUÇÃO A varanda está presente na arquitetura brasileira, desde a casa colonial até as moradias atuais, sejam elas unifamiliares ou multifamiliares. Albernaz e Lima (1998) definem varanda, ampliando o conceito principalmente às edificações atuais: é por extensão, um espaço aberto integrado à construção. Pode ser coberta ou descoberta, em pavimento térreo ou superior, constituir saliência ou reentrância na edificação. É freqüentemente utilizada como um prolongamento da área de estar. A varanda pode ser considerada como um ambiente de transição entre o exterior e o interior das habitações, revestindo-se de grande importância para amenizar os rigores dos climas tropicais. Porém, ao logo dos anos, a varanda passou por modificações para se adequar às novas necessidades dos usuários, sobretudo nos edifícios de apartamento. Motivado tanto pelas condições climáticas como pela influência do mercado imobiliário, este ambiente possui uma forte presença nos edifícios multifamiliares da cidade de Maceió/AL. Contudo, constata-se a ocorrência do fechamento das varandas, sobretudo nos apartamentos da orla marítima, tendência que se verifica também em outras cidades brasileiras. Braga (2002) relata que o fechamento de varandas por vidros é cada vez mais comum nos edifícios da cidade de Recife/PE. Além da modificação desse espaço, segundo a vontade individual ou do condomínio, existem também algumas construtoras do Estado que têm planejado entregar obras já com as varandas fechadas. A autora identifica os fenômenos ambientais, como ventanias e chuvas, aos quais elas estão expostas, como fatores que contribuem para o fechamento das varandas. Além disso, mostra preocupação com a segurança, praticidade e estética dos elementos utilizados na vedação, apontando os painéis de vidro temperado individuais, sem caixilhos, como a solução mais utilizada. Jorge (2004) faz uma análise subjetiva do fechamento das varandas nos edifícios da cidade de Vitória/ES. Segundo a autora, a varanda tem sofrido transformações por meio da apropriação e da manipulação do espaço, segundo as vontades individuais. Alguns motivos que contribuíram para o fechamento das varandas foram a poluição atmosférica, gerada pela presença de indústrias de grande porte e de elevado potencial poluidor na cidade, que aliada aos ventos disseminam as partículas, atingindo significativamente os moradores dos apartamentos. A autora também identifica como resultado de uma reação do mercado imobiliário às crises econômicas, com a construção de apartamentos cada vez menores. Referindo-se aos apartamentos, o que torna o ambiente flexível, segundo Galfertti (1997), é o grau de liberdade que torna possível a diversidade de modos de vida. Para Tramontano (1993), a flexibilidade dos espaços de morar deverá ocupar um lugar cada vez menos secundário na agenda de pesquisadores, promotores e arquitetos, na medida em que questões como a evolução dos modos de vida passar a ser considerada suficientemente importante na discussão sobre o desenho da habitação brasileira de nossa época. Quais os novos usos do espaço da varanda, após o fechamento? Quais os tipos de esquadrias e materiais que são utilizados no fechamento das varandas? Quais os padrões de uso das esquadrias? Qual a percepção da ventilação natural pelos usuários, após o fechamento das varandas? Estudos sobre novas necessidades da moradia, incluindo-se o uso da varanda, permitirão a concepção de espaços, que atendam, cada vez mais, aos anseios de quem os usufrui, gerando subsídios de projeto para arquitetos e projetistas. É o conhecimento das relações 656

entre ambiente construído e comportamento dos usuários que permite avaliar os padrões existentes, reformulá-los e propor novos projetos. (ORNSTEIN et al, 1995). O presente artigo é parte de pesquisa Avaliação do desempenho da ventilação natural pela ação do vento em edifícios de apartamentos de Maceió/AL, realizada pelo Grupo de Estudo em Projeto de Arquitetura (gepa/fau/ufal). A reflexão sobre as varandas teve início com o Trabalho Final de Graduação, desenvolvido no curso de Arquitetura e Urbanismo da UFAL (BULHÕES, 2008), o qual trata do fenômeno de fechamento das varandas dos edifícios habitacionais multifamiliares em altura, localizados na orla marítima da cidade de Maceió. 2 OBJETIVO O objetivo do trabalho é verificar os motivos do fechamento das varandas de apartamentos, tendência observada principalmente nas cidades litorâneas e, os novos usos destinados aos espaços, após o fechamento. 3 MÉTODOS 3.1 Seleção dos apartamentos Adotou-se uma amostra de nove apartamentos, todos situados na orla marítima da cidade de Maceió/AL, sendo quatro no bairro da Ponta Verde: Edifícios Ilhas de Cartier, Varandas da Ponta Verde, Barroca e Catamarã; quatro no bairro da Jatiúca: Edifício Mirage (dois apartamentos), Tiziano Vicelli e Belize; um na Pajuçara. Essa amostra foi arbitrária, porém significativa, pois apresenta exemplares com características distintas, permitindo apenas a abordagem qualitativa do fenômeno. 3.2 Levantamento dos usos e das esquadrias Realizou-se levantamento in loco dos novos usos e das esquadrias, mediante registro fotográfico e desenhos esquemáticos, visando à verificação das tipologias e dos materiais mais utilizados na vedação, bem como as vantagens e desvantagens dos sistemas adotados. 3.3 Aplicação de questionários Aplicaram-se questionários com os usuários, fazendo-se uso da metodologia de Avaliação Pós-ocupação (ORNSTEIN et al, 1995; ORNSTEIN, 2002; CASTRO et al, 2004), visando à identificação dos motivos para intervir no ambiente, a percepção quanto à ventilação natural e os padrões de uso das esquadrias da varanda. Aplicaram-se nove questionários, por meio de entrevistas presenciais, nos meses de janeiro e fevereiro de 2009, com os usuários dos apartamentos. O questionário utilizado se estrutura em quatro categorias: 1- Dados gerais sobre o entrevistado e sua família: informações sobre a relação usuário e residência, quantidade de moradores e tempo em que residem no apartamento. 2- Dados gerais sobre a varanda: análise das condições da varanda antes e após o fechamento, como também o que motivou a modificação, verificando seis itens: o tempo de uso para a realização do fechamento, o uso destinado à varanda antes e depois da 657

modificação, os motivos para o fechamento e a freqüência de utilização do cômodo durante os meses de verão. 3- Condições gerais de ventilação: identificação da percepção do usuário em relação à ventilação natural, abrangendo dois itens: a modificação na ventilação natural percebida pelo morador após o fechamento, as condições de ventilação entre os meses de verão. 4- Padrão de uso das esquadrias: a situação da janela, utilizada para o fechamento, e da porta da varanda (aberta semi-aberta, ou fechada), em três diferentes turnos: manhã, tarde e noite. 4 ANÁLISES DOS RESULTADOS 4.1 Levantamento dos novos usos dos espaços das varandas Identificaram-se três situações: (i) varandas fechadas e sem mudança de uso, quatro exemplares; (ii) varandas fechadas e com mudança de uso, três exemplares; (iii) varandas fechadas e incorporadas à sala de estar, dois exemplares. 4.1.1 Apartamentos com varandas fechadas e sem mudança de uso Edifício Ilhas de Cartier, apartamento 301: localizado no bairro de Ponta Verde, possui seis pavimentos, sendo dois apartamentos por pavimento tipo. Sete unidades tiveram suas varandas fechadas. A varanda apresenta formato em L e situa-se na lateral da fachada, com dimensões de aproximadamente 17m² e orientação L/N. Os usuários moram há sete anos e realizaram o fechamento com quatro anos de uso (Fig. 1 a 3). Edifício Ilhas de Cartier e varanda do apartamento 301. Fonte: Bulhões (2008) Fig. 1 Fachada do edifício Fig. 2 Planta baixa da varanda Fig. 3 Vista da varanda Edifício Mirage, apartamentos 101 e 201: localizado no bairro de Jatiúca, possui seis pavimentos, sendo dois apartamentos por pavimento tipo. Possui apenas uma varanda aberta. Apresenta varanda com formato retangular e localização central, com área de 16,8m² e orientação Leste. No apartamento 101, os usuários moram há dois anos e no 201, há sete anos, ambos fecharam a varanda há um ano (Fig. 4 a 8). Edifício Varandas da Ponta Verde, apartamento 401: localizado no bairro de Ponta Verde, possui seis pavimentos, dois apartamentos por pavimento tipo. Apresenta quatro varandas fechadas. A varanda apresenta formato em semi-arco e ocupa toda a fachada, medindo aproximadamente 15,3m² e orientação Leste. No apartamento estudado, os usuários residem há cinco anos e realizaram o fechamento com um ano de uso (Fig. 9 a 11). 658

Edifício Mirage e varandas dos apartamentos 101 e 201 Fonte: Bulhões (2008) Fig. 5 Planta baixa da varanda do apto. 101 Fig. 6 Vista da varanda do apto. 101 Fig. 7 Planta baixa da varanda do apto. 201 Fig. 4 Fachada do Edifício Fig. 8 Vista da varanda do apto. 201 Edifício Varandas da Ponta Verde e varanda do apartamento 401. Fonte: Bulhões (2008) Fig. 9 Fachada do Edifício Fig. 10 Planta baixa da varanda Fig. 11 Vista interna da varanda 4.1.2 Apartamentos com varandas fechadas e com mudança de uso Edifício Tiziano Vecelli, apartamento 201: localizado no bairro da Jatiúca, possui seis pavimentos, sendo dois apartamentos por pavimento tipo. Apresenta apenas uma varanda aberta. A varanda apresenta formato de semi-arco e localiza-se em toda a fachada, medindo aproximadamente 27,4m² e orientação Leste. No apartamento 201, a varanda passou a ser utilizada como um espaço para assistir televisão. Os moradores residem no apartamento há quatro anos e realizaram o fechamento com um ano de uso (Fig. 12 a 14). Edifício Tiziano Vecelli e varanda do apartamento 201. Fonte: Bulhões (2008) Fig. 12 Fachada do edifício Fig. 13 Planta baixa da varanda Fig. 14 Vista interna da varanda 659

Edifício Barroca, apartamento 501: localizado no bairro de Ponta Verde, possui doze pavimentos, sendo dois apartamentos por pavimento tipo, com apenas um deles voltado para a orla. Apresenta nove varandas fechadas. A varanda apresenta o formato de um polígono de oito lados e se localiza na lateral da fachada, medindo aproximadamente 12m²,com orientação Sul. No apartamento 501, a varanda passou a ser utilizada como sala de televisão. Os moradores residem no apartamento há vinte e dois anos e realizaram o fechamento com dois anos de uso (Fig. 15 a 17). Edifício Barroca e apartamento 501. Fonte: Bulhões (2008) Fig. 15 Fachada do edifício Fig. 16 Planta baixa da varanda Fig. 17 Vista interna da varanda 4.1.3 Apartamentos com varandas fechadas e incorporadas à sala de estar Edifício Lennie Nichols, apartamento 11: localizado no bairro da Pajuçara, possui doze pavimentos, sendo um apartamento por pavimento tipo. Na reforma do edifício, fecharam-se todas as varandas. A varanda apresentava formato retangular e localização de canto, medindo aproximadamente 10m² e orientação Sudeste. Os moradores residem no apartamento há dez anos e realizaram o fechamento com oito anos de uso (Fig. 18 a 20). Edifício Lennie Nichols e apartamento 11. Fonte: Bulhões (2008) Fig. 18 Fachada do edifício Fig. 19 Planta baixa da varanda Fig. 20 Vista interna da varanda Edifício Belize, apartamento 601: localizado no bairro da Jatiúca, possui sete pavimentos, sendo dois apartamentos por pavimento tipo e apresenta seis varandas fechadas, com formato em L e ocupando toda a lateral da fachada, medindo aproximadamente 26m² e orientação L/N. A moradora entrevistada reside no apartamento há vinte anos e realizou o fechamento com dois anos de uso (Fig. 21 a 23). Edifício Catamarã, apartamento 701: localizado no bairro da Ponta Verde, possui oito pavimentos, sendo quatro apartamentos por pavimento tipo, todos voltados para a fachada da orla e apresenta dezoito varandas fechadas, com formato trapezoidal, medindo aproximadamente 7m² orientação Leste. Os moradores entrevistados residem no apartamento há vinte anos e realizaram o fechamento recentemente (Fig. 24 a 26) 660

Edifício Belize e apartamento 601. Fonte: Bulhões (2008) Fig. 21 Fachada do edifício Fig. 22 Planta baixa da varanda Fig. 23 Vista interna da varanda Edifício Catamarã e varanda do apartamento 701. Fonte: Bulhões (2008) Fig. 24 Fachada do edifício Fig. 25 Planta baixa da varanda Fig. 26 Vista interna da varanda 4.2 Levantamento das esquadrias Identificaram-se três tipologias de esquadrias utilizadas para o fechamento das varandas: (i) placas de vidro, com sistema de correr e sem caixilhos; (ii) janela de vidro, com sistema de correr; (iii) caixilhos de alumínio e sistema cortina de vidro. 4.2.1 Placas de vidro, com sistema de correr e sem caixilhos As placas de vidro deslizam sobre dois trilhos, este sistema não permite uma abertura total. Verificou-se a ocorrência em dois apartamentos: no edifício Ilhas de Cartier, cuja janela mede aproximadamente 11,8m e possui doze folhas. Esta varanda tem uma peculiaridade: possui uma abertura entre o piso e o peitoril, isso possibilita que a ventilação adentre, mesmo com as esquadrias fechadas (Fig. 27). No edifício Mirage, cuja janela mede aproximadamente 10,2m e possui dez folhas, constituídas por placas de vidro que deslizam sobre três trilhos (Fig. 28). Fig. 27 Esquadria da varanda do apto. 301, edf. Ilhas de Cartier. Fonte: Bulhões (2008) Fig. 28 Esquadria da varanda dos aptos. 101 e 201, edf. Mirage. Fonte: Bulhões (2008) 661

4.2.2 Janela de vidro, com sistema de correr e com caixilhos de alumínio O sistema de correr não permite uma abertura total. Verificou-se a adoção desse sistema em 4 dos apartamentos estudados: no edifício Lennie Nichols, cuja esquadria mede aproximadamente 9,54m e possui oito folhas (Fig. 32), no edifício Barroca, cuja esquadria mede aproximadamente 6,7m e possui dez folhas (Fig. 33), no edifício Catamarã, cuja esquadria mede aproximadamente 3,9m e possui quatro folhas (Fig. 34) e no edifício Belize, cuja esquadria mede aproximadamente 14,45m e possui dez folhas (Fig. 35). Fig. 32 Esquadria da varanda do apto. 11, edf. Lennie Nichols Fig. 33 Esquadria da varanda do apto. 501, edf. Barroca Fig. 34 Esquadria da varanda do apto. 701, edf. Catamarã Fig. 35 Esquadria da varanda do apto. 601, edf. Belize 4.2.3 Sistema cortina de vidro O sistema cortina de vidro consiste em superfícies de vidros que deslizam sobre trilho e se posicionam lateralmente, permitindo a abertura total da varanda. Permite também diversas outras posições intermediárias. Identificou-se esse sistema em dois apartamentos: no edifício Tiziano Vecelli, cuja esquadria mede aproximadamente 8,6m com vinte e três folhas e no Edifício Varandas da Ponta Verde, cuja esquadria mede aproximadamente 6,9 m com quatorze folhas (Fig. 29) (Fig. 30 e 31). Fig. 30 e 31 Esquadria da varanda do apto. 201, edf. Tiziano Vecelli Fig. 29 Esquadria da varanda do apto. 401, edf. Varandas da Ponta Verde 4.3 Dados gerais sobre a varanda O fechamento da varanda, segundo a percepção dos usuários, possibilitou melhor aproveitamento, pois deixou de ser considerado, pela maioria, como uma área sem uso e se 662

converteu em um ambiente de lazer como também de contemplação da paisagem, ou seja, um lugar de maior permanência (Gráfico 1). Os principais motivos para o fechamento das varandas identificados foram os aspectos ambientais, como a ventilação e a incidência de chuvas indesejáveis. Esses fatores foram considerados os que mais contribuíram para a pouca utilização da varanda pelos usuários, os quais não se sentiam confortáveis no ambiente. Outro fator importante foi o próprio desejo do usuário de dar um novo uso à varanda como, por exemplo, convertendo-a em sala de estar (Gráfico 2). Constatou-s que a varanda fechada é um ambiente bastante utilizado nos meses de verão (Gráfico 3). 10 8 6 4 2 0 Antes do fechamento Depois do fechamento Área de contemplação a paisagem Área para lazer (reunir familiares e amigos) Sala de estar Contato com exterior Proteção contra incidência direta de sol e chuva no ambiente interno Área sem uso Outro uso Gráfico 1 - Comparação entre os usos destinados à varanda antes e depois do fechamento Gráfico 2 - Motivos que contribuíram para o fechamento Gráfico 3 - Freqüência de utilização da varanda durante o verão 4.4 Condições de ventilação A ventilação natural, aspecto que motivou o fechamento, foi controlada, e não se constatou prejuízo depois da vedação, segundo a percepção dos moradores (Gráfico 4). Os usuários constataram que o apartamento fica bastante ventilado no verão, pois a ventilação natural é mais bem controlada pelo sistema de vedação (Gráfico 5). 663

Gráfico 4 - Influência do fechamento na ventilação Gráfico 5 - Condições de ventilação no verão 4.5 Padrão de uso das esquadrias Quanto ao padrão de uso das esquadrias, a janela da varanda fica em sua maioria parcialmente aberta em todos os períodos do dia. Somente à noite, alguns usuários realizam o fechamento total (Gráfico 6). Já a porta interna da varanda permanece, em sua maioria, parcialmente aberta durante o período do dia; contudo, no período da noite, o uso é bastante diferenciado entre os usuários (Gráfico 7). Gráfico 6 - Padrões de uso da janela Gráfico 7 - Padrões de uso da porta da varanda 5 CONCLUSÕES Nesse artigo identificaram-se as tipologias de esquadrias utilizadas no fechamento das varandas dos edifícios na orla de Maceió/AL, verificando-se os padrões de uso das mesmas e a percepção da ventilação natural pelos usuários, no período de verão. Utilizou-se uma mostra de nove apartamentos de oito edifícios e aplicou-se questionários com nove usuários. Os principais motivos alegados pelos usuários para o fechamento da varanda foram a excessiva ventilação e incidência de chuvas. A varanda passou a ser mais utilizada pelos usuários após o seu fechamento, com mudança de usos, tanto nos casos de manutenção da varanda como nos casos de sua incorporação à sala. Verificaram-se três situações quanto aos usos após o fechamento: varandas sem mudança ou com mudança de uso e varandas incorporadas à sala de estar. 664

Identificaram-se três tipologias de esquadrias: as placas de vidro sem caixilhos e janelas com caixilhos em alumínio, ambas com sistema de correr e que não permitem a abertura total do vão; e as cortinas de vidro, a qual permite a abertura total do vão e diversidade de opções de abertura das placas. O fechamento da varanda não prejudicou a ventilação natural, pelo contrário permitiu seu melhor controle. O padrão de uso das esquadrias é mais homogêneo para o período do dia, tanto a janela da varanda quanto a porta interna, ficam parcialmente abertas em todos os períodos do dia. Já no período da noite, o uso é bastante diferenciado. Constatou-se que o fechamento da varanda é uma tendência que concretiza a busca por solucionar os incômodos ambientais, controlando a ventilação excessiva, proporcionando maior utilização do espaço; apesar de aparentemente isolar a varanda do ambiente externo. Os resultados da presente pesquisa servem para alertar os projetistas e construtores sobre a necessidade de considerar essas novas necessidades dos usuários. A pesquisa ainda prevê o levantamento da percepção de inverno, a se realizar nos meses de julho e agosto. 6 REFERÊNCIAS ALBERNAZ, Maria Paula e LIMA, Cecília Modesto. Dicionário ilustrado de arquitetura. São Paulo: Pro Editores, 1998. BRAGA, Ana. Vidros protegem varandas com estilo. In: Diário de Pernambuco, 04/out 2002. Recife, Pernambuco. BULHÕES, Michelle Carolline Soares. Por que estão fechando as varandas? Trabalho Final de Graduação (curso de Arquitetura e Urbanismo), Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2008. CASTRO, Jorge; LACERDA, Leonardo; PENNA, Ana Claudia. APO - Avaliação pósocupação: saúde nas edificações da Fiocruz. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2004 GALFERTTI, G. G. Model apartments: experimental domestic cells. Barcelona: Gustavo Gili, 1997. JORGE, Liziane de Oliveira. Varandas capixabas. Ultrapassando o Limite do contexto legal. Brasil- Espírito Santo, ES. 2004, ano 5, vol. 4. p. 199. ORNSTEIN, Sheila; BRUNA, Gilda; ROMERO, Marcelo. Ambiente construído e comportamento Avaliação pós-ocupação e a qualidade ambiental. São Paulo: Nobel, 1995 ORNSTEIN, Sheila Walbe. Avaliação pós-ocupação do ambiente construído. São Paulo: Nobel, 2002. TRAMONTANO, Marcelo. Espaços domésticos flexíveis: notas sobre a produção da primeira geração de modernistas brasileiros. Texto técnico. São Paulo: FAU/USP, 1993. 7 AGRADECIMENTOS À UFAL, pela concessão da bolsa de iniciação científica. 665