UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO DANIELA SITYÁ CARÚS PADRÃO DE PARTO EM CADELAS YORK SHIRE TERRIER



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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO DANIELA SITYÁ CARÚS PADRÃO DE PARTO EM CADELAS YORK SHIRE TERRIER CURITIBA - PR 2009

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO DANIELA SITYÁ CARÚS PADRÃO DE PARTO EM CADELAS YORK SHIRE TERRIER Monografia apresentada a Universidade Federal Rural do Semi-Árido UFERSA, para a obtenção do título de Especialista em Clínica de pequenos animais. Orientadora: Profa. Fabíola Dalmolin PUCRS Campus Uruguaiana CURITIBA - PR 2009

DANIELA SITYÁ CARUS PADRÃO DE PARTO EM CADELAS YORK SHIRE TERRIER Monografia apresentada a Universidade Federal Rural do Semi-Árido UFERSA, para a obtenção do título de Especialista em Clínica e cirurgia de pequenos animais. APROVADA EM: / / BANCA EXAMINADORA Profº. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx (UFERSA) Presidente Profa. M. Sc. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx (UFERSA) Primeiro Membro Prof. Dr. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx (UERN) Segundo Membro

DEDICATÓRIA Dedico esta obra a em especial a uma velha amiga, Inês Mascia Carneiro Monteiro, e o Canil Xuxuca, que muito contribuiu para a realização deste trabalho, me dando acesso as suas fêmeas aqui estudadas.

AGRADECIMENTOS A minha orientadora pelas horas dedicadas, pela paciência, boa vontade em realizar este trabalho. Ao meu marido por cuidar dos nossos filhos para que eu pudesse realizar este curso de especialização, porque sem seu apoio seria impossível.

RESUMO Este trabalho visou avaliar o período de parto e periparto de 23 cães york shire terrier objetivando verificar os sinais clínicos demonstrados neste período. Todas as fêmeas foram acasaladas nos 11º, 13º e 15º dia após o início do cio, alimentavam-se de ração comercial, encontravam-se vacinadas e desverminadas, e tinham idades de um a nove anos. Foram avaliados tempo de gestação, a temperatura retal diária após completarem 56 dias a contar do primeiro dia de cobertura, consistência das fezes, início da confecção do ninho, tremores, ofegância, número de filhotes, distocias e eutocias, número de partos normais e cesarianas, viabilidade do número de filhotes nos dois tipos de parto, e os principais motivos que levaram a realização de cesarianas. Verificou-se que o período de gestação variou de 55 a 69 dias; que a temperatura retal dos animais diminuiu de 1 a 2 ºC nas 24 horas que antecederam o parto, exceto nos cães que pariram em dezembro, janeiro e fevereiro; mais de 50% dos animais apresentaram anorexia e aproximadamente 40% tiveram alteração das fezes (amolecimento), animais que anteriormente haviam tido parto distócico e cesariana tiveram partos eutócicos. Ademais, observou-se em grande parte das vezes, que a sobrevida dos filhotes depende do trabalho do médico veterinário e conhecimentos na hora de acompanhar um parto eutócico ou optar por uma cesariana. PALAVRAS-CHAVE: parto, cadelas, distocia, cesarianas, fetos.

LISTA DE QUADROS Quadro 1: Identificação dos animais, tempo de gestação e parâmetros fisiológicos e comportamentais observados no período pré-parto, em caninos fêmeas, york shire terrier... 25 Quadro 2: Tipo de parto, tratamentos e número de filhotes totais e viáveis em fêmeas, york shire terrier, que receberam acompanhamento veterinário durante o parto... 27

LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: Canino, fêmea, york shire terrier, 3 anos durante o trabalho de parto. Observar o filhote sendo estimulado pela mãe através de lambedura... 21 FIGURA 2: Canino, fêmea, york shire terrier, 3 anos. Notar placenta, ainda pinçada, antes de sua remoção através de tracionamento... 21 FIGURA 3: Placentas de um canino, fêmea, york shire terrier, 3 anos, após serem removidas pelo veterinário durante o trabalho de parto... 22

SUMÁRIO RESUMO... 7 LISTA DE QUADROS... 8 LISTA DE FIGURAS... 6 SUMÁRIO... 10 1 INTRODUÇÃO... 11 2 REVISÃO DE LITERATURA... 12 3 MATERIAL E MÉTODOS... 20 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO... 24 5. CONCLUSÕES... 28 REFERÊNCIAS... 29

1. INTRODUÇÃO Um canil de york shire terriers em Uruguaiana RS, buscou consultoria obstétrica porque nos últimos anos havia ocorrido prejuízo devido à baixa eficiência nos partos, e custos com cesareanas. Ao assumi-los deparamo-nos com o seguinte problema: 8 partos, 8 cesarianas e 11 filhotes vivos, o que estava levando o proprietário do mesmo a desistir do negócio. Foi então que resolvemos começar a estudar melhor os partos nesta raça. Ao pesquisar sobre o assunto parto em cadelas e, principalmente no tocante a raça york shire, foram encontradas poucas bibliografias, quando foi resolvido nos aprofundar no tema e realizar este trabalho, visando também disponibilizá-lo a outros colegas veterinários e criadores. Objetivou-se então, com este trabalho, estudar as particularidades do comportamento e as alterações clínicas de cadelas york shire terrier durante o período pré e pós-parto, investigar se o elevado número de cesáreas era realmente necessário, e se a raça possuía particularidades no parto quando comparada as demais raças, bem como o número de filhotes nascidos por partos eutócicos e distócicos, além dos nascidos por cesarianas.

2. REVISÃO DE LITERATURA O parto é um dos eventos mais críticos na vida de uma fêmea, e erros de conduta podem resultar em morte fetal e ou materna, além de reduzir a fertilidade futura. Esse é um momento muito importante para o criador, em virtude dos investimentos financeiros, e também para o proprietário, pois gera uma grande ansiedade de cunho emocional (MOON et al., 1998). A ocorrência de parto distócicos em fêmeas caninas é comum na pratica médico veterinária, com índices que varias de 5 a 100% em determinadas raças (DARVELID; LINDER-FORSBERG, 1994). 2.1 O PARTO EUTÓCICO 2.1.1 Tamanho da ninhada O tamanho da ninhada canina varia podendo ser tão pequena quanto apenas um filhote nas raças miniaturas, bem como mais de 15 filhotes em raças gigantes. Cadelas jovens costumam ter ninhadas menores, tendo mais filhotes aos três a quatro anos de idade e voltando a ter ninhadas menores à medida que envelhecem. Uma ninhada pequena de apenas um ou dois filhotes predispõe a distocia por causa da estimulação uterina insuficiente e do grande tamanho do filhote, a síndrome do cãozinho único, que pode ser vista em cães de raças de todos os portes (LINDER-FORSBERG; ENEROTH, 2004). 2.1.2 Fisiologia do parto Faz-se necessário que o veterinário entenda a fisiologia e endocrinologia do parto normal (eutocia) para que possa diagnosticar e tratar o parto anormal (distocia). Embora sejam ainda desconhecidos os mecanismos exatos que

permitem o início do parto, e que este fenômeno prossiga normalmente numa cadela, estudos sobre o parto em caninos e extrapolações em outras espécies proporcionam informações sobre as alterações fisiológicas e endocrinológicas importantes para o parto normal. O feto é importante na iniciação do parto, sendo o eixo adrenal-pituitáriohipotalâmico fetal necessário para a ocorrência da eutocia em muitos animais. A tensão fetal normal nas proximidades do parto resulta num aumento da liberação do hormônio liberador da corticotropina pelo feto, o que estimula a liberação do hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) e, subseqüentemente, do cortisol. Embora outros agentes trópicos produzidos pela pituitária ou placenta possam estimular as adrenais fetais em algumas espécies, não foi identificado tal agente trópico em cadelas. Acredita-se que o aumento nos corticóides produzidos pela glândula adrenal fetal estimule a liberação das prostaglandinas uterinas, que podem estimular diretamente as contrações uterinas, ou podem ingressar na circulação materna, indo estimular a liberação de ocitocina pela glândula pituitária/hipófise. As concentrações médias de 13,14-diidro-15-cetoprostaglandinas F no plasma de cadelas aumentam por ocasião do parto. Porque os fatores fetais são importantes para a iniciação do parto, a duração da gestação freqüentemente fica aumentada numa cadela com um único feto. Analogamente, cãezinhos nascidos com defeitos cefálicos também podem ter períodos de gestação prolongados, possivelmente devido a alguma anormalidade do eixo adrenal-pituitário-hipotalâmico que interferiu com a produção de esteróides pelo feto (WYKES; OLSON, 1998). 2.1.3 Fatores maternos que contribuem para o parto Se aceita que o decréscimo na relação progesterona/estrogênio no miométrio seja importante para a iniciação do parto normal. Este decréscimo pode ocorrer como resultado do aumento das concentrações de estradiol e/ou queda das concentrações de progesterona. Visto que a progesterona inibe a contratilidade das células do miométrio, o parto não ocorre em muitas espécies até que ocorra o declínio da progesterona no soro ou na placenta. Com o declínio desta ou o aumento do estradiol no soro a ocitocina inicia e mantém as contrações uterinas. À

medida que o feto entra no canal do parto e provoca sua distensão mecânica, impulsos nervosos avançam até o hipotálamo e provoca liberação de mais ocitocina na circulação sistêmica. A distensão mecânica do canal do parto também estimula a parte sensitiva do arco reflexo espinhal, resultando em contrações eferentes dos músculos abdominais. A relaxina, hormônio polipeptídio e homólogo da insulina, têm importante papel na remodelagem do trato reprodutivo, para o parto (WYKES; OLSON, 1998). A relaxina causa amolecimento dos tecidos pélvicos e relaxamento do trato genital, o que facilita a passagem do(s) feto(s). Na cadela prenhe este hormônio é produzido pelos ovários e pela placenta e aumenta gradualmente nos dois últimos terços da prenhês. A prolactina, hormônio responsável pela lactação, começa a aumentar de três a quatro semanas após a ovulação e apresenta um nível máximo com o declínio abrupto na progesterona sérica pouco antes do parto (LINDER-FORSBERG; ENEROTH, 2004). 2.1.4 Diagnóstico do momento do parto Na cadela, a duração da gestação - intervalo compreendido entre a primeira cobertura fértil e o parto - pode variar entre 56 a 72 dias, com média de 64 dias. Essa variabilidade decorre de fatores como o prolongamento da viabilidade espermática no útero, o retardamento da maturação e o prolongamento da meia vida do oócito, intercorrências estas que só ocorrem na espécie canina (CONCANNON, 2000). O diagnóstico do dia do parto pode ser realizado, com relativa precisão, por meio da dosagem sérica de hormônio luteinizante (LH), que apresenta um pico pré-ovulatório a partir do qual o parto ocorrerá cerca de 65+1 dias. Outra forma de prever o dia do parto é a realização de esfregaços vaginais: as alterações citológicas compatíveis com o padrão com o padrão do diestro apontam que o parto ocorrerá entre 56 e 57 dias do início daquela fase (PROBST, 2005). Quando a cadela já se encontra no final da gestação e a data prevista é desconhecida, a dosagem de progesterona pode ser utilizada, pois os níveis desse hormônio decrescem a 2ng/ml (6 a 7 nmol/l) a 24 horas do pré parto. Essa dosagem pode ser realizada com kits de ELIZA utilizados para monitorar a

ovulação (CONCANNON, 2000). Outro método utilizado é o de aferir a temperatura corporal, que decresce 24 horas antes do parto, podendo atingir 37,2ºC. Esse método é de fácil realização, e até mesmo o proprietário pode realizá-lo duas vezes ao dia uma semana antes da suposta data (VAN DER WEYDEN, 1994; PROBST, 2005). O exame ultra-sonográfico para a estimativa do tempo gestacional pode ser realizado em qualquer período da gestação, mas é impreciso, pois pode sub ou sobre-estimar o momento do parto (GÜL et al., 2000). 2.1.5 Características do parto eutócico O parto é definido como o processo fisiológico pelo qual o útero gestante expulsa fetos, saudáveis ou não, a termo sem qualquer assistência (SANCHES; FERRI, 2002). Ele é dividido em três estágios, com os dois últimos se repetindo a cada filhote que nasce. No primeiro estágio a duração é de 6 a 12 horas, podendo levar até 36 horas, em especial no animal primíparo nervoso. O relaxamento vaginal e a dilatação cervical ocorrem durante este estágio, bem como as contrações uterinas intermitentes, sem sinais de contrações abdominais ou estiramento do abdome. A cadela pode parecer desconfortável e o comportamento inquieto pode tornar-se mais intenso. É possível observar respiração ofegante, rasgar e arrumar a cama, tremores e vômitos ocasionais. Algumas cadelas não exibem evidência comportamental de trabalho de parto no primeiro estágio. Durante a prenhez, a orientação dos fetos dentro do útero é caudal em 50% deles e cranial nos outros 50%, mas isso muda durante o primeiro estágio do trabalho de parto a medida que o feto gira ao longo do seu eixo longitudinal, estendendo a cabeça, o pescoço e os membros, o que resulta em 60% dos filhotes caninos nascendo em apresentação anterior e 40% de apresentação posterior. As membranas fetais cheias de líquido são empurradas para frente do feto pelos esforços propulsivos uterinos e dilatam a cérvix. No segundo estágio, com duração de 3 a 12 horas e, em casos raros, de 24 horas. No inicio deste estágio do trabalho de parto, a temperatura aumenta de

normal a ligeiramente acima do normal. O primeiro feto encaixa-se na entrada pélvica, e contrações uterinas expulsivas intensas subseqüentes são acompanhadas por estiramento abdominal. Ao entrar no canal de parto, a membrana alantocoriônica pode romper-se, caso em que se observa um corrimento de algum líquido transparente. É de suma importância que o veterinário seja capaz de determinar se a cadela esta no segundo estágio do trabalho de parto ou ainda no primeiro. Criadores inexperientes tendem a ficar nervosos durante o primeiro estágio da cadela, não entendendo bem a função deste estágio preparatório do parto durante o qual ocorre o retorno do tônus uterino, o amolecimento do canal de parto e a abertura da cérvix. Há três sinais que indicam que a cadela entrou no segundo estágio do trabalho de parto: a eliminação de líquidos fetais, o estiramento abdominal visível, e, o retorno da temperatura retal aos níveis normais. Se houver um ou mais desses sinais, a cadela está no segundo estágio do trabalho de parto. O terceiro estágio, corresponde ao parto propriamente dito, a expulsão da placenta e ao encurtamento dos cornos uterinos, que em geral se seguem 15 minutos da liberação de cada feto. No entanto, podem ter nascidos dois ou três fetos antes que ocorra a passagem das respectivas placentas. Normalmente, a cadela irá romper a membrana, lamber bastante o neonato e cortar o cordão umbilical com os dentes. Às vezes a cadela precisará de alguma assistência para abrir as membranas fetais, de modo a permitir que o neonato respire, e algumas vezes é preciso que alguém retire os líquidos fetais das vias respiratórias dele. Os lóquios (corrimento esverdeado pós-parto de líquidos fetais e restos placentários) serão vistos até três semanas ou mais depois do parto, sendo mais abundantes na primeira semana. A involução uterina e o sangramento vaginal geralmente se completam em 12 a 15 semanas. O umbigo pode ser pinçado com um par de pinças hemostáticas e cortado com tesoura de ponta romba para minimizar a hemorragia proveniente dos vasos fetais, deixando-se cerca de um centímetro de umbigo. No caso da hemorragia continuar, deve-se fazer a ligadura do mesmo. A cadela deve ser examinada sempre que: todas as placentas não tiverem sido expelidas em 4-6 horas, os lóquios estiverem pútridos ou com odor desagradável, houver hemorragia genital contínua grave, a temperatura retal estiver acima de 39,5 C, a condição geral da cadela estiver alterada ou se a

condição geral dos filhotes não for normal (LINDER-FORSBERG; ENEROTH, 2004). 2.1.6 Intervalo entre os nascimentos A expulsão do primeiro feto em geral é mais demorada. O intervalo entre o nascimento dos demais filhotes em um parto normal sem complicações é de 15 a 120 minutos. Em quase 80% dos casos, os fetos nascem alternadamente de cada um dos dois cornos uterinos. Ao parir uma ninhada grande a cadela pode parar de estirar-se e descansar por mais de 2 horas entre o nascimento de dois filhotes consecutivos. O estiramento do segundo estágio então voltará, seguido novamente pelo terceiro estágio, até que todos os filhotes tenham nascido (LINDER- FORSBERG; ENEROTH, 2004). 2.1.7 Término do parto Geralmente o parto se completa seis horas após o início do segundo estágio do trabalho de parto, mas pode durar até 12 horas. Nunca se deve deixar que demore mais de 24 horas, até que todos os filhotes tenham nascido (LINDER- FORSBERG; ENEROTH, 2004). 2.2 O PARTO DISTÓCICO A distocia é definida como parto difícil ou incapacidade do útero de expelir o feto (NELSON e COUTO, 2001). Classicamente, tem origem materna ou fetal, e compreende a falência dos três componentes do processo do parto: forças expulsivas, canal pélvico e feto (MOON et al., 1998). Os fatores maternos mais freqüentemente resultantes em distocia: diminuição do diâmetro do canal pélvico (em decorrência de imaturidade, fraturas, predisposição racial), anormalidades da vulva (constrição vulvar), e mau funcionamento uterino (inércia uterina, ruptura uterina, mau posicionamento uterino através de hérnia, ou torção uterina). A fibrose da cérvix pode impedir a adequada dilatação cervical, contribuindo para a distocia (WYKES; OLSON, 1998). A inércia uterina pode ser classificada como primária e secundária; a

inércia uterina primária completa é caracterizada por uma gestação que foi além do seu tempo normal de duração e não apresentou sinais do início do segundo estágio do trabalho de parto; já na inércia primária parcial há abertura do canal do parto, contrações uterinas, mas não ocorre o nascimento de todos os filhotes. A inércia secundária é causada pela exaustão do miométrio em virtude da obstrução do canal do parto (GAUDET; KITCHELL, 1985). A ocorrência de inércia primária está relacionada à superfetação, estimulação insuficiente (ninhadas pequenas), doenças sistêmicas (hipoglicemia, hipocalcemia, sepse), obesidade, alterações relacionadas com a idade e fatores hereditários. O número de fetos parece ter influência na ocorrência primária completa, pois 40% dos animais acometidos tinham ninhadas de um ou dois filhotes (DARVELID; LINDER-FORSBERG, 1994). Influências psicogênicas podem ter importante papel: o estresse decorrente do parto ou do ambiente pode prolongar o segundo estágio do parto por um tempo considerável (GAUDET; KITCHELL, 1985). Os fatores fetais que mais comumente conduzem a distocia são: feto excessivamente grande, más apresentações/ más orientações ou monstruosidades, como hidrocefalia, ou edema. A morte do feto pode resultar em distocia devido ao mau posicionamento ou a estimulação inadequada para o parto começar. Um feto sadio é ativo durante a expulsão, estendendo a cabeça e os membros, torcendo-se e virando-se para se encaixar. Na maioria das raças, o maior volume do feto fica em sua cavidade abdominal, enquanto suas partes ósseas, a cabeça e os quadris são comparativamente pequenos. Os membros são curtos e flexíveis e raramente causam obstrução grave ao parto no caso de fetos de tamanho normal (LINDER- FORSBERG; ENEROTH, 2004). Se a fêmea estiver saudável e não houver evidência de obstrução ao parto pode ser tentado o tratamento clínico para promover a saída dos fetos, através da aplicação de ocitocina (NELSON e COUTO, 2001). Ela é utilizada com maior freqüência em animais de pequeno porte, nos quais a manipulação obstétrica é limitada. É recomendada nos seguintes casos: hipotonia e inércia uterina primária e secundária, além de retenção placentária e para involução uterina (HEDLUND, 1997). O medicamento pode ser utilizado pelas vias intravenosa, intramuscular ou subcutânea sendo efetiva por qualquer uma destas vias. A ocitocina somente

deverá ser utilizada se a cérvix estiver aberta, pois as contrações podem levar a ruptura do órgão (OLIVEIRA, 1996). Por qualquer via a dose deve ser baixa, podendo ser repetida a cada 30 minutos em três ou quatro tratamentos. Se o trabalho de parto não progrediu após estas injeções, ou se as condições da fêmea deterioraram, será necessária a prática de operação cesariana, visto que a indução da separação prematura da placenta provavelmente resultará na morte fetal (SODEBERG, 1996). Assim, a cesariana na cadela geralmente é um processo emergencial, pois a distocia prolongada coloca em risco as vidas da mãe e ou do neonato. Ela é indicada quando a distocia resulta de uma inércia uterina primária, quando uma inércia uterina secundária ocorrer em uma distocia protraída de uma duração de mais de 24 horas, quando de uma distocia obstrutiva (feto de tamanho anormal ou canal estreito), e, quando a remoção do feto obstruído não for provável de alterar o resultado definitivo da distocia (PROBST, 2005). Após o neonato ter sido manipulado pelo assistente, deve-se pinçar temporariamente o seu cordão umbilical, remover as membranas fetais (se isso ainda não tiver sido feito) e se verificar a sua viabilidade. Caso se possa palpar os batimentos cardíacos, deve-se limpar a nasofaringe de muco e fluídos por meio de uma sucção suave ou hastes de algodão. Se um aparelho de sucção não estiver disponível pode-se utilizar uma seringa com êmbolo para sucção. Um balanço descendente, controlado e suave do neonato pode ajudar a limpar os fluidos das vias aéreas superiores por meio da força centrífuga. Seca-se então vigorosamente o neonato, pois a massagem cutânea promove o impulso respiratório. O neonato deve estar respirando e vocalizando neste estágio. Os outros sinais encorajadores são as membranas mucosas coradas e pulso forte. Após, estes devem ser estimulados e secos, deve-se mantê-los em ambiente aquecido para evitar hipotermia (PROBST, 2005). 3. MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados 23 caninos da raça york shire terrier, de idades variando entre um e nove anos, que foram acompanhados no período de dezembro de 2006 a outubro de 2008.

Todas as fêmeas foram acasaladas no 11º, 13º e 15º dia após o início do cio (início do sangramento), alimentavam-se de ração comercial, e, foram vacinadas e vermifugadas antes do acasalamento. Foram avaliados: o tempo de gestação, temperatura diária ao completarem 56 dias de gestação a partir do primeiro dia de cobertura, consistência das fezes, início da primeira fase do parto (confecção do ninho, tremores, ofegância), número de filhotes, distocias e eutocias, número de partos normais e cesarianas, viabilidade do número de filhotes nos dois tipos de parto, e os motivos de cesáreas. As fêmeas começavam a ser monitoradas após 56 dias de gestação a partir da primeira cobertura; a temperatura era aferida diariamente duas vezes ao dia; quando esta diminuía em aproximadamente 1 grau passavam também a ser observadas a consistência das fezes e ingestão de alimento. Foram passadas aos proprietários as informações necessárias para que identificassem o início do trabalho de parto. Assim, ao observarem o primeiro estágio do mesmo (confecção do ninho, tremores e ofegância) estes avisavam a veterinária que ia até o local onde se encontrava o paciente e fazia um exame clínico certificando-se do início do parto; num segundo momento, o veterinário deveria ser chamado assim que se ocorressem as contrações, liberação de secreção pela vagina ou quando as fêmeas lambessem muito a mesma. A partir daí, o veterinário passava a acompanhar o parto propriamente dito. O parto era realizado no local escolhido pelos animais, que ali se acomodavam, geralmente junto as suas camas, cobertas, etc. Ao iniciarem as contrações as parturientes eram deixadas a vontade sem manipulações; após a expulsão da bolsa com o filhote, o mesmo era retirado da bolsa pelo veterinário, que na seqüência enxugava as vias aéreas do recém nascido com fraldas de algodão; quando este respirava melhor, era pinçado o cordão umbilical aproximadamente um centímetro do abdome do filhote, para posteriormente ser cortado com tesoura de Mayo. Era amarrando o cordão umbilical com fio seda enquanto o proprietário segurava a mãe para que esta não realizasse placentofagia; depois, o filhote era entregue a mãe para que fosse estimulado através das lambeduras e colocado para mamar (Figura 1), aí então era retirada a placenta, que ainda estava pinçada, através de tracionamento sendo depois descartadas no lixo

(Figuras 2 e 3). FIGURA 1: Canino, fêmea, york shire terrier, 3 anos durante o trabalho de parto. Observar o filhote sendo estimulado pela mãe através de lambedura. Fonte: autora. FIGURA 2: Canino, fêmea, york shire terrier, 3 anos. Notar placenta, ainda pinçada, antes de sua remoção através de tracionamento. Fonte: autora.

FIGURA 3: Placentas de um canino, fêmea, york shire terrier, 3 anos, após serem removidas pelo veterinário durante o trabalho de parto. Fonte: autora. No caso dos filhotes que ficaram trancados no canal de parto necessitando intervenção, a veterinária puxava cuidadosamente manipulando o mesmo para que este pudesse nascer; algumas vezes foi necessário lubrificar o filhote com gel apropriado 1 para depois serem puxados. Após o nascimento do o primeiro filhote, era aguardado o nascimento dos demais. Nas fêmeas que tinham contrações fracas, infreqüentes ou incontínuas era administrada ocitocina 2 pela via subcutânea na dose de 1UI/kg, sem ultrapassar 20 UI por cão; caso não houvesse resposta em 40 minutos, eram repetidas duas vezes a dose com intervalos de 40 minutos; não ocorrendo os nascimentos, o animal era levado para clínica veterinária para realização de cesariana. Todas as cesarianas foram realizadas pela veterinária que acompanhava o parto. Após serem levados à clínica, os animais eram tranqüilizados com tiletamina e zolazepam 3 na dose de 1 mg/kg pela via intramuscular, instituía-se fluidoterapia com ringer lactato e realizava-se tricotomia no abdômen. A seguir eram encaminhados para a sala cirúrgica, sendo colocados em uma calha de metal, em decúbito dorsal e a anti-sepsia era realizada com álcool-iodo-álcool. Como 1 K-Y Gel. Johnson & Johnson do Brasil Indústria e comércio de produtos para Saúde Ltda. São Paulo-SP. 2 Ocitocina Univet. Jofabel Indústria Farmacêutica. Varginha-MG 3 Zoletil 50. Representante no Brasil, Virbac do Brasil. França.

antibioticoprofilaxia utilizou-se cefalotina sódica 30 mg/kl por via endovenosa, que se continuava no pós operatório por sete dias a cada 12 horas por via subcutânea; a manutenção anestésica era realizada com o mesmo anestésico pela via endovenosa, e, a intervenção cirúrgica pela técnica conservativa com incisão no corpo do útero, sendo as sutura do mesmo realizada com categute; a sutura da parede abdominal foi realizada com náilon, a redução do subcutâneo com categute e, a dermorrafia com náilon. Os animais recebiam como terapia antiinflamatória no pós-operatório imediato cetoprofeno por via subcutânea, na dose de 1,1 mg/kg a cada 24 horas por três dias, e analgesia com cloridrato de tramadol na dose de 2 mg/kg a cada 12 horas durante dois dias. Os filhotes, após serem removidos do útero eram passados ao assistente que os retirava da bolsa, enxugava as vias aéreas e o corpo, sendo que o sistema cardio-respiratório era estimulado através de massagem manual; após eram aquecidos com cobertores e bolsas de água quente. A fêmea, ao fim da cirurgia, era conduzida para a sala de recuperação onde recebia os filhotes para mamar; estes ficavam sob supervisão da veterinária até que a mãe estivesse recuperada da anestesia e pudesse tomar conta dos mesmos, sendo em seguida entregues aos proprietários. A médica veterinária, durante os sete dias de pós-operatório deslocava-se até casa dos proprietários dos pacientes para administrar as medicações e fazer os curativos da incisão cirúrgica, sendo as suturas removidas sete dias após cirurgia.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO A monitoração dos animais foi realizada diariamente a partir do 56º dias de gestação, intervalo entre a primeira cobertura fértil e o parto, conforme indica Concannon (2000); este autor afirma que, na cadela, a duração da gestação pode variar de 56 a 72 dias, com média de 64. Nesta pesquisa, entretanto, verificou-se que o período de gestação variou de 55 a 69 dias, de acordo com os dados constantes no Quadro 1, ou seja, um cão pariu um dia antes de completar os 56 dias. Quadro 1: Identificação dos animais, tempo de gestação e parâmetros fisiológicos e Identificação do cão comportamentais observados no período pré-parto, em caninos fêmeas, york shire terrier, Uruguaiana, 2009. Idade (anos) Tempo gestação (dias) Temperatura* Fezes alteradas* Anorexia* 01 9 62 38,5 º C - Sim 02 2 60 37,1 º C Sim Sim 03 5 64 36,7 º C Sim Sim 04 1 61 37,1 º C - - 05 4 60 37,3 º C - - 06 4 61 38,8º C - - 07 1 69 37,3 º C - - 08 4 57 37,2 º C - Sim 9 2 61 36,9 º C - Sim 10 3 60 38,6 ºC Sim Sim 11 4 60 39,0 º C Sim Sim 12 3 61 38,5º C - Sim 13 4 64 37,2 º C - Sim 14 7 58 36,9 º C Sim Sim 15 4 69 37,4 º C - Sim 16 4 56 37,8 º C - - 17 2 62 37,4 º C Sim Sim 18 3 63 36,9 º C Sim Sim 19 4 55 ** Sim Sim 20 8 63 37,0 º C Sim Sim 21 2 56 37,7 º C - - 22 2 64 37,5 º C - Sim 23 4 62 37,8 º C - Sim * Observados nas 24 horas que precederam o parto ** Entrou em trabalho de parto antes de completar 56 dias de cobertura

Todos os animais avaliados apresentaram a fase I do parto com tremores, ofegância e confecção do ninho no período das 24 horas que antecederam o mesmo. Mais de 50% dos animais apresentaram anorexia e aproximadamente 40% tiveram alteração das fezes (amolecimento) no mesmo período. Essas informações vão ao encontro as citadas por Wykes e Olson (1998), de que estes sinais podem iniciar nas proximidades do parto, em geral nas 12 24 horas que o precedem. A queda da temperatura 24 horas antes do parto é um sinal fidedigno do início do mesmo. Segundo Linder-fosberg e Eneroth (2004), esta queda da temperatura é causada pela diminuição abrupta na concentração de progesterona, e, em cadelas de raças miniaturas, esta queda pode chegar a 35º C. Assim, a temperatura retal passou a ser aferida quando a fêmea completava 56 dias de gestação, duas vezes ao dia, conforme indicam Van Der Weyden (1994) e Probst (2005); segundo estes, o método é de fácil realização e até o proprietário pode realizá-lo duas vezes ao dia uma semana antes da suposta data do parto. Foi verificado que todos os animais que pariram ao longo do ano, exceto nos meses de dezembro a março, apresentaram diminuição da temperatura retal em aproximadamente 1º C no período das 24 horas antes do parto (Quadro 1). Acredita-se que a queda na temperatura retal não tenha sido observada nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro devido às altas temperaturas da região da realização do trabalho. Ao ser observado o início dos sinais do primeiro estágio do trabalho de parto, descritos por Linder-fosberg e Eneroth (1994), como tremores e ofegância, a veterinária era chamada a domicílio para realizar o parto, evitando assim estresse por parte do animal pela troca do ambiente, como citam Gaudet e Kitchell (1985). Este autor salienta que as influências psicogênicas e estresse decorrente do parto ou do ambiente podem prolongar o segundo estágio do trabalho de parto por um tempo considerável. Ainda afirmam Wykes e Olson (1998) que, este estágio pode ser inibido se a cadela for perturbada ou ficar angustiada. Verificou-se que os animais, embora ofegantes e com tremores, demonstravam-se calmos no local escolhido por eles mesmos para o parto, e que a presença do veterinário não interferiu no processo. Segundo Wallace e Davidson (1997), o parto deve ocorrer em locais

tranqüilos, com mínima interferência humana, supervisão adequada e intervenção apenas quando se fizer necessário. Neste trabalho a ajuda veterinária só era realizada nos casos dos filhotes ficarem presos no canal do parto, quando eram realizadas manobras obstétricas com lubrificação da vagina e do filhote com gel adequado, como também indicam Wykes e Olson (1998). Todos os filhotes mal posicionados que se insinuavam no canal do parto com apenas alguma parte do corpo como patas ou cabeça, foram retirados sendo que apenas um deles veio a óbito. Notou-se que em grande parte das vezes a sobrevida dos filhotes depende do trabalho do veterinário, pois muitas mães, inexperientes ou sem um instinto maternal, deixavam de retirar os fetos da bolsa, estimulá-los, etc., o que provoca dentre outros problemas, a aspiração de líquidos amnióticos e morte por asfixia. Logo, todos os filhotes nascidos por parto eutócico recebiam o pronto atendimento sugerido por Wykes e Olson (1998) e Wallace e Davidson (1997), procedimento que incluiu a retirada das membranas que envolviam as vias respiratórias, corte do cordão umbilical, estimulação da respiração através de massagens, e, a retirada da placenta. Após estes cuidados, os filhotes eram entregues a mãe para serem lambidos, sendo novamente estimulados nas funções cardiovasculares e respiratórias. Nos casos de distocias, onde ocorreram as primeiras contrações e não houve o nascimento do primeiro filhote, era feito toque vaginal para verificação da posição do feto e dilatação da cérvix. Certificando-se de que havia condições do mesmo nascer, era aplicada ocitocina para estimular as contrações, concordando com a indicação de Wykes e Olson (1998), Linder-fosberg e Eneroth (1994) e Gaudet e Kitchell (1985). Observou-se que algumas fêmeas, que embora já houvessem sido submetidas a cesariana tiveram partos eutócicos. Quando não houve resposta a aplicação de ocitocina na primeira hora ou se ocorria a expulsão de um filhote a cada 2 ou 3 horas, os animais eram encaminhados para a prática da cesariana, segundo as indicações de Wykes e Olson (1998). Nos fetos nascidos através deste método, foram tomados os cuidados citados por Probst (2005): limpeza das vias aéreas e secagem do corpo, massagem manual para estimulação cardiorespiratória e aquecimento com cobertores e bolsas

de água quente, já que se constatou que as fêmeas desta raça apresentam pequena habilidade materna, o que predispõe o óbito dos filhotes. A realização da placentofagia não era permitida, concordando com Linderfosberg e Eneroth (1994). Segundo estes autores esta prática deve ser evitada, já que predispõe a ocorrência de diarréias e vômitos com o risco de causar pneumonia por aspiração. Verificou-se como causa de morte dos filhotes nas primeiras 24 horas a não ingestão de leite, pequeno tamanho de alguns filhotes em relação a outros, e, rejeição por parte da mãe; acredita-se também que ocorreram óbitos devido a ingestão de líquido amniótico. Dentre as cesarianas realizadas, conforme o Quadro 2, verificaram-se as seguintes causas que levaram a realização das mesmas: - Cão 1 e 3: apresentaram inércia uterina primária completa - Cão 12: orientação errônea do feto no canal do parto. - Cão 13: fêmea coberta por descuido, por um cão maior. - Cão 14: grande tamanho do filhote (feto único). - Cão 23: inércia uterina primária parcial, após parir dois filhotes por parto eutócico Quadro 2: Tipo de parto, tratamentos e número de filhotes totais e viáveis em fêmeas, york Identificação do cão shire terrier que receberam acompanhamento veterinário durante o parto, Uruguaiana, 2009. Eutocia/distocia Tipo de parto Nº filhotes Nº filhotes vivos Nº filhotes viáveis 01 Distocia Cesariana 2 2 2 02 Eutocia Normal 4 3 3 03 Distocia Cesariana 3 3 3 04 Eutocia Normal 3 3 3 05 Eutocia Normal 1 0 0 06 Eutocia Normal 4 4 4 07 Eutocia Normal 4 3 3 08 Eutocia Normal 5 4 4 09 Distocia Normal 3 3 3 10 Eutocia Normal 4 4 4 11 Eutocia Normal 1 1 1 12 Distocia Normal/cesariana 4 3 3 13 Distocia Normal/cesariana 5 3 3 14 Distocia Cesariana 1 1 1

15 Eutocia Normal 1 1 1 16 Eutocia Normal 3 3 3 17 Eutocia Normal 3 3 3 18 Eutocia Normal 3 3 3 19 Eutocia Normal 3 3 3 20 Eutocia Normal 1 1 1 21 Eutocia Normal 4 4 3 22 Eutocia Normal 2 2 2 23 Distocia Normal/cesariana 4 2 2 TOTAL 68 59 58 A técnica cirúrgica, juntamente com a antibioticoprofilaxia, foram consideradas satisfatórias, já que não ocorreram complicações pós-operatórias em nenhum dos casos. Dos 23 partos, seis foram cesareanas, com 19 cães nascidos e cinco destes mortos. Os outros 17 partos foram normais, com 49 cãezinhos nascidos e apenas quatro óbitos. Antes de o canil ser assumido todos partos eram cesarianas, com percentual de 1.37 filhotes vivos por fêmea. Hoje, as cesáreas representam 26% dos partos e o número de filhotes vivos subiu para 3.16. 5. CONCLUSÕES Em função dos veterinários possuírem poucos dados acerca da gestação do paciente e início do trabalho de parto, geralmente optam, desnecessariamente, pela cesariana; acredita-se que isso ocorra pois, o parto eutócico exige, em média, 8 horas de acompanhamento veterinário contra uma hora da intervenção cirúrgica, o que além de torná-lo mais prático, torna-o mais rentável para o médico veterinário. O parto normal é sem duvida melhor para as cadelas e para o aleitamento dos filhotes, já que dispensa os cuidados de um pós operatório; entretanto a presença do veterinário é importante para aumentar a sobrevida de filhotes, principalmente nos York Shire Terrier, já que as fêmeas desta raça apresentam pequena habilidade materna, o que predispõe o óbito dos filhotes. Os partos assistidos por um profissional com prática em obstetrícia canina tem grande valia para proprietários de canis, já que estes visam reduzir os riscos de morte, tanto para a mães quanto para os filhotes, além de reduzir custos.

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