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Transcrição:

i N º 3 3 / 1 6 F O R M A E S U B S T Â N C I A N A F A C T U R A Ç Ã O E M I V A : O C A S O B A R L I S N O S S E R V I Ç O S J U R Í D I C O S SUMÁRIO Após a discussão em torno da obrigatoriedade de emissão de factura ao consumidor final e da implementação dos sistemas de facturação electrónica, uma recente decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE), vem lançar outro tópico de reflexão em torno da relevância da factura. TAX & BUSINESS Tal decisão, publicada no passado dia 15 de Setembro de 2016, teve origem num pedido de reenvio prejudicial efectuado pelo tribunal arbitral tributário português, constituído na sequência de um pedido de pronúncia arbitral apresentado pela sociedade Barlis 06 - Investimentos Imobiliários e Turísticos, S.A. ao Centro de Arbitragem Administrativa (CAAD). A presente Informação destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso concreto. O conteúdo desta Informação não pode ser reproduzido, no seu todo ou em parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais sobre este assunto contacte. *** Esta Informação é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º 7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes, por favor envie um email com Remover para o endereço email newsletter@rffadvogados.com. Conforme decorre dos factos colocados à consideração do Tribunal, a Administração tributária não considerou como validamente emitidas quatro facturas decorrentes da prestação de serviços jurídicos por uma sociedade de advogados à Barlis, assim recusando um pedido de reembolso do IVA, apresentado pela sociedade e resultante do exercício do direito à dedução do imposto. 01 Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014 Legal 500 Band 1 Tax Portuguese Law Firm 2013 International Tax Review "Best European Newcomer" (shortlisted) 2013 Chambers & Partners Band 1 RFF Leading Individual 2013 Who s Who Legal RFF Corporate Tax Adviser of the Year 2013 IBFD Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique

Em causa está o facto de, na perspectiva da Administração tributária, as facturas emitidas pela sociedade de advogados não preencherem os requisitos previstos na lei, por não resultar dos seus descritivos, de forma clara, o tipo de serviço prestado, nem o período temporal ao qual se reportam. a exploração de hotéis com restaurantes. No decurso da sua actividade, e durante o período compreendido entre os anos de 2008 e 2011, a referida sociedade recorreu aos serviços de uma Sociedade de Advogados. Sendo que, na sequência dessa mesma prestação de serviços, foram emitidas quatro facturas. A questão suscitada pela Administração tributária prende-se com a relação que se estabelece entre prestador de serviços e o adquirente, mas, em especial, sobre a influência que o primeiro tem na constituição do direito de dedução do segundo. Atenta a problemática em apreço, a decisão do TJUE vem esclarecer qual a relação que deve ser estabelecida entre os requisitos formais das facturas, a prova do cumprimento dos requisitos substanciais e, bem assim, o exercício do direito de dedução do imposto suportado. * * Número do processo: C-516/14 Nome: Barlis 06 - Investimentos Imobiliários e Turísticos, S.A. Data: Acórdão de 15 de Setembro de 2016 Assunto: IVA - Direito à Dedução relacionado com as menções que devem obrigatoriamente constar da factura OS FACTOS A Barlis, é uma sociedade com sede em Lisboa, a qual tem como actividade comercial Com base nas facturas emitidas, a Barlis procedeu à dedução do IVA suportado na aquisição dos serviços jurídicos mencionados. Aquando do pedido de reembolso do imposto em apreço, a Administração tributária desencadeou procedimentos inspectivos relativos aos anos de 2008, 2009, 2010 e 2011. No âmbito dos referidos procedimentos, a Administração tributária entendeu que as facturas, das quais constava o IVA cuja dedutibilidade se requeria, tinham descritivos insuficientes, não podendo, consequentemente, a Barlis proceder à dedução do montante de imposto constante das mesmas. Dos descritivos das facturas constavam expressões como: serviços jurídicos prestados desde determinada data até ao presente e serviços jurídicos prestados até ao presente. No âmbito dos procedimentos inspectivos, foram efectuadas correcções, correspondentes ao valor global do IVA liquidado nas quatro facturas emitidas pela Sociedade de Advogados à Barlis. No exercício 02

do direito de audição prévia, a Barlis apresentou documentos que constituíam anexos das facturas em causa e dos quais constava uma descrição dos serviços jurídicos prestados nos períodos tributários de 2008 a 2011. Contudo, a Administração tributária manteve as correcções efectuadas, argumentando, para o efeito, que os documentos apresentados como anexos das facturas não podem ser considerados para efeitos de permitir o direito de dedução, pois não são aptos a serem qualificados como documentos equivalentes a facturas. No entendimento veiculado pela Administração tributária, apenas são documentos equivalentes aqueles que cumprem os mesmos requisitos formais a que estão vinculadas as facturas. A decisão da Administração tributária desencadeou, assim, um litígio quanto à admissibilidade do direito à dedução do IVA pela Barlis, com base nas facturas emitidas, o qual se iniciou em 31 de Maio de 2013, com a apresentação de uma Reclamação Graciosa. Esta reclamação foi indeferida em 25 de Setembro de 2013 com os mesmos fundamentos que estiveram na origem da desconsideração da dedução do IVA, ou seja, o não cumprimento pelas facturas dos requisitos formais previstos na Directiva 2006/112, e, nesse seguimento, o não cumprimento das disposições internas que procederam à transposição daquela norma. Perante o Indeferimento da reclamação graciosa, a Barlis, requereu a constituição de um tribunal arbitral singular, em 30 de Dezembro de 2013. O referido tribunal, chamado a pronunciar-se sobre o assunto, entende que a interpretação a dar à disposição nacional relativa aos requisitos formais das facturas deverá, necessariamente, ser conforme com o disposto na Directiva que rege este imposto. A QUESTÃO Em face do exposto, o Tribunal Arbitral perguntou ao TJUE se é correcto interpretar a referida Directiva, no sentido de considerar como insuficiente o descritivo de uma factura que apenas contenha a menção a serviços jurídicos prestados desde determinada data até ao presente ou a serviços jurídicos prestados até ao presente, num contexto em que a Administração tributária pode, ao abrigo do princípio da colaboração, obter os elementos complementares que entenda por necessários para confirmar a existência e características das operações constantes das facturas. A APRECIAÇÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA A título preliminar, o Tribunal relembra que recai no âmbito da sua esfera de competência a análise das disposições do direito da União que se revelem necessárias à decisão dos litígios que lhe são dirigidos, ainda que as 03

mesmas não sejam expressamente indicadas pelo órgão de reenvio. Após o esclarecimento sobre as normas de direito da União cuja análise se releva importante para a formulação da resposta, o Tribunal refere, também, que a questão colocada comporta, na sua óptica, duas partes, as quais deverão ser vistas em separado. Numa primeira parte, está em causa perceber se os descritivos constantes das facturas em ora em apreço se encontram conformes com o previsto na Directiva que rege os princípios aplicáveis ao IVA. Na segunda parte da questão, o órgão de reenvio pretende esclarecer se o já citado diploma legal pode ser interpretado no sentido de permitir à Administração tributária negar o direito à dedução do imposto com base no facto de as facturas não cumprirem os requisitos previstos na Directiva aplicável, ainda que tenha ao seu dispor elementos que permitam comprovar os requisitos substantivos que permitem a dedução. como propósito auxiliar a Administração tributária na verificação da efectiva ocorrência do facto tributário, bem como na determinação das disposições fiscais aplicáveis do ponto de vista temporal. Quanto à segunda parte da questão colocada, o Tribunal reitera o entendimento de que o direito à dedução é um direito que faz parte do mecanismo inerente ao funcionamento do IVA, não podendo ser, em princípio, limitado. Assim, entende o Tribunal que o direito à dedução não deve ser recusado, nas situações em que os requisitos, materiais, que presidem à sua operabilidade estejam preenchidos, ainda que os sujeitos passivos tenham negligenciado os requisitos formais, i.e., os elementos obrigatórios previstos na Directiva que rege o funcionamento do IVA. Tanto quanto resulta da decisão veiculada, permitese que a Administração tributária se socorra de outros elementos que comprovem a materialidade das operações que permitem o exercício do direito à dedução. DECISÃO Da análise da primeira parte da questão colocada, afirma que apenas os requisitos previstos na Directiva 2006/112 configuram requisitos que devem constar, obrigatoriamente, nas facturas emitidas. Nesse sentido, entende o Tribunal que as facturas devem sempre conter a natureza e a extensão dos serviços, bem como as datas na qual foram efectuados. Referindo que os requisitos têm O Tribunal conclui, assim, que a interpretação das normas de direito da União analisadas deve ser efectuada no sentido de considerar que os requisitos previstos na Directiva que rege o funcionamento do IVA apenas estão preenchidos quando as facturas especifiquem a natureza e extensão dos serviços, bem como a data de prestação dos mesmos. Acrescentando, no entanto, que, caso a Administração 04

conclua pelo não preenchimento dos mesmos, tal facto não pode ser, só por si, fundamento da recusa do direito à dedução se a Administração tiver ao seu dispor elementos que permitam comprovar o preenchimento dos requisitos substanciais das operações a que as facturas se reportam. AS IMPLICAÇÕES NO DIREITO PORTUGUÊS A presente decisão do Tribunal de Justiça oferece uma interpretação que se opõe ao formalismo do Código do IVA relativamente aos requisitos da emissão de facturas, privilegiando, de algum modo, os requisitos substanciais em detrimento dos formais. Se, outrora, a recusa da dedução de IVA se poderia fundar exclusivamente na ausência dos pressupostos formais constantes do Código IVA, poder-se-á, agora, perspectivar que a recusa do exercício do direito à dedução não poderá ter como único fundamento o não preenchimento dos pressupostos contidos nesta última norma legal. Lisboa, 4 de Outubro de 2016. Rogério M. Fernandes Ferreira Marta Machado de Almeida Jorge Lopes de Sousa José Pinto Santos Soraia João Silva 05