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Transcrição:

FIDALGO D. ANRIQUE LÍNGUA PORTUGUESA 9º Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente Argumento: no cais de embarque para a outra vida, o Diabo e o Anjo aguardam a chegada de passageiros que serão levados por um ou por outro, consoante a vida que levaram. Chegam sucessivamente onze personagens, representantes de diversas classes e grupos, que são julgadas, se defendem quase todas, e são quase todas condenadas à barca com exceção de um Parvo pobre de espírito e de Quatro Cavaleiros que morreram na luta contra os mouros. Pajem; Cadeira de espaldas; Rabo comprido (cauda do manto).. Os símbolos cénicos representam o seu poder social, a sua riqueza e vaidade.. O Pajem serve como prova judicial para a condenação. É um elemento que destaca a categoria social do Fidalgo e o condena porque demonstra o seu desprezo pelos mais pobres e desfavorecidos. (O Pajem não entra na barca, pois não é ele que está aqui em julgamento).. «Vejo-vos eu em feição pêra ir ao nosso cais»;. Tu viveste a teu prazer»;. «Segundo lá escolheste». * Utilizados pelo Anjo:. «Não se embarca tirania neste batel divinal»;. «Pêra vossa fantasia mui estreita é esta barca»;. «Não vindes vós de maneira pêra ir neste navio»;. «com fumosa senhoria, cuidando na tirania do pobre povo queixoso; e porque, de generoso, desprezastes os pequenos, achar-vos-ês tanto menos quanto mais fostes fumoso». É acusado de tirania, de ter explorado os mais pobres e de ter vivido segundo os seus prazeres, dividido entre duas mulheres. À nobreza exploradora e corrompida; à atitude calculista face à religião e à infidelidade e hipocrisia (mulheres e homens nobres).. «Que leixo na outra vida quem reze sempre por mim»;. «pois parti tão sem aviso»;. «Sou fidalgo de solar, é bem que me recolhais»;. «Pêra senhor de tal marca nom há aqui mais cortesia?» Defende-se com a sua posição social e dizendo que tem quem reze por ele! Entra, onde entra.. «Pêra lá vai a senhora». -. «Que giricocins, salvanor». Cómico de carácter:. «tornarei à outra vida/ver minha dama querida/ que se quer matar por mi»;.«dá-me licença, te peço, /que vá ver minha mulher». Metáfora:. «Oh! Que maré tão de prata»;. «Ó barca, como és ardente!». «vai para a ilha perdida» Ironia:. «Ó poderoso dom Amrique». «Embarqu a vossa doçura,/ que cá nos entederemos» Antítese:.«Segundo lá escolhestes,/ assi cá vos contentai» «Par Deus, aviado estou!»

ONZENEIRO Bolsão... Símbolo da avidez, da ganância, da ambição desmedida.. «onzeneiro meu parente»;. «Irás servir Satanás/ porque sempre te ajudou». \ * Utilizados pelo Anjo:. «Porque esse bolsão tomará todo o navio»;. «Não já no teu coração»;. «Ó onzena, como és fea e filha de maldição!» É acusado de cobiça e de ambição desmedida. Crítica à inutilidade do dinheiro e à exploração, através do empréstimo de dinheiro cobrando altos juros.. «Solamente pêra o barqueiro /nom me leixaram nem tanto»;. «Juro a Deus que vai vazio!»;. «Lá me fica de ródão/ minha fazenda e alhea». Defende-se dizendo que o bolsão vai vazio e sente-se constrangido por não ter dinheiro para pagar ao barqueiro. Entra, onde entra.«dar-vos-ei tanta pancada /com um remo, que renegues!». «dá-me tanta borregada/ como arrais lá no Barreiro» Cómico de carácter:. «Quero lá tornar ao mundo/ e trarei o meu dinheiro» Metáfora:. «onzeneiro meu parente». «me deu Saturno quebranto» Ironia;. «Ora mui muito me espanto/ nom vos livrar o dinheiro». «Pesar de São Pimentel, /nunca tanta pressa vi»

JOANE, PARVO Não traz símbolos caracterizadores Símbolo da sua simplicidade Não há argumentos de acusação *Utilizados pelo Anjo: Não há argumentos de acusação Os parvos têm, no teatro vicentino, uma função cómica, lúdica e crítica, utilizando o Parvo para a crítica aos costumes da época Ridendo castigat mores * Utilizados pelo Anjo:. «porque em todos teus fazeres/ per malícia nom erraste,/ tua simpreza t abaste/ pera gozar dos prazeres» O Parvo é classificado pelo Anjo como uma pessoa simples e sem maldade. Entra, dirigese à Barca do Diabo e vai depois à Barca do Anjo. Fica no cais, à espera que «venha alguém/ merecedor de tal bem /que deva entrar aqui».. quando insulta o Diabo!. sobretudo pelas asneiras e pelo vocabulário relacionado com coprolalia Cómico de carácter:. a maneira de ser de Joane provoca o riso («de pulo ou de voo?») Repetição: «Aguardai, aguardai, houlá!». «Ao porto de Lúcifer».«Hou! Pesar de meu avô!».«antrecosto de carrapato «caganita de coelha»; «mija na agulha» «barca do cornudo» - Mais formal:. no diálogo com o Anjo

SAPATEIRO, JOANANTÃO Avental Formas. símbolos que representam a sua profissão, com a qual roubava o povo.. «E tu morreste excomungado/nom o quiseste dizer». «calaste dous mil enganos.. «Tu roubaste bem trint anos/ o povo com teu mister». «Ouvir missa, então roubar/ é caminho per aqui». «E os dinheiros mal levados,/ que foi da satisfação?» *Utilizados pelo Anjo:. «a carrega t embraça». «Essa barca que lá está/ leva quem rouba de praça/oh almas embraçadas!». «Se tu viveras dereito,/ elas foram cá escusadas» É condenado porque morreu excomungado, é mentiroso e roubou o povo durante trinta anos com a sua profissão, daí a sua prática religiosa não lhe valer de nada. Crítica a uma prática religiosa negativa. Os preceitos religiosos (ouvir missa, rezar, confessar-se, comungar ) só ajudam aqueles que levam uma vida verdadeira e honesta.. «Os que morreram confessados,/ onde têm sua passagem?». «confessado e comungado». «Quantas missas eu ouvi,/ nom me hão elas de prestar. «E as ofertas, que darão?/ E as horas de finados?. «Isto uxiquer irá». «quatro forminhas cagadas/ que podem bem ir i chentadas/num cantinho desse leito» O Sapateiro defendese dizendo que se confessou, comungou, deu dinheiro à igreja e não acha mal levar dinheiro! Entra, onde entra.«e da puta da barcagem».«nem à puta da badana» Cómico de carácter: «Mandaram-me assi». vir Metáfora:. «almas embaraçadas». «lago dos danados» Ironia:. «Santo sapateiro honrado!» Hipérbole: «calaste dous mil enganos» Jogo de linguagem. «que vá cozer o Inferno» Antítese:. «...comungado? E tu morreste escomungado». «é esta boa traquitana

FRADE, FREI BABRIEL Moça Espada Casco Broquel Hábito. Símbolos da sua dedicação às coisas do mundo Moça: quebra do voto de castidade; Broquel, a espada, o capacete: frade dedicado ao jogo, às coisas do mundo.. «Pêra aquele fogo ardente que nom temestes vivendo». «padre mundanal». «padre marido». «padre Frei Capacete É condenado porque se dedicava às coisas do mundo (esgrima, dança) e não praticava o celibato (traz uma moça pela mão que «Por minha la tenho eu»). É significativo o facto de o Anjo nem sequer lhe dirigir a palavra, o que revela todo o seu desprezo por esta figura. Crítica ao clero devasso; à falta de vocação; à desconformidade entre os atos e os ideais, evidenciando um comportamento hipócrita.. «Som cortesão». «E eles fazem outro tanto!». «E est hábito no me vale?». «Um padre tanto dado à virtude?». «Nom ficou isso n avença.». «com tanto salmo rezado?». «Sabê que fui da pessoa! Esta espada é roloa e este broquel Rolão».«Padre que tal aprendia no Inferno há-de haver pingos?». «minha reverença» O Frade pensa que o hábito que enverga o livrará das penas infernais, bem como os salmos rezados. - Entra, onde entra.«furtaste o trinchão, frade?» Cómico de carácter e de. quando entra em cena a cantar e a dançar (ainda por cima, com uma moça pela mão!) e quando dá uma lição de esgrima Comparação:. «Tão bem guardado como a palha n albarda» Ironia:. «Fezeste bem, que é fermosa!» «Devoto padre», «Dê lição d esgrima, que é cousa boa!» «Que cousa tão preciosa!» Antítese:. «gentil padre mundanal», «devoto padre marido» -Informal:. «palha n albarda», «Ah! nom praza a São Domingos».«Deo gratias» «um fendente», «levada», «talho largo», «revés», «colher os pés» e «segunda guarda»

ALCOVITEIRA, BRIZIDA VAZ seiscentos virgos postiços, com dous coxins d encobrir três arcas de feitiços, três almários de mentir,, alguns furtos alheos, jóias de vestir, guarda-roupa d encobrir, casa movediça um estrato de cortiça, cinco cofres de enleos moças que vendia Os símbolos representam a sua atividade ligada à prostituição e o seu carácter manhoso, enganador. Representam ainda os roubos que fazia... se viveste santa vida, vós a sêntires agora o Diabo acusa-a dizendo indiretamente à alcoviteira que ela não foi uma santa em terra, e que agora sofrerá as consequências pelo que fez durante a sua vida. É condenada devido à vida que levava: criava meninas para os cónegos da Sé e para a prostituição (e «todas acharam dono»), mentindo e vivendo da exploração das raparigas (prostituição A intenção de Gil Vicente nesta cena é criticar as alcoviteiras pela sua profissão e por ganharem dinheiro à custa da exploração de meninas, mas a crítica é alargada ao clero pela quebra dos votos de castidade e a outros membros da sociedade pela imoralidade.. Eu sô ua martela tal, açoutes tenho levados e tormentos suportados. E eu sou apostolada, angelada e martelada e fiz cousas mui divinas A Alcoviteira pensa que merece entrar na Barca do Anjo, pois diz que passou por muitas coisas más durante a sua vida. Entra, onde entra Cuidais que trago piolhos.«cómico de carácter e de Barqueiro mano, meus olhos, ( ) /anjo de Deos, minha rosa?/ meu amor, ( ) minhas boninas Linguagem para enganar o Anjo Comparação:. «Santa Úrsula nom converteo tantas cachopas como eu Ironia: «Que saboroso arrecear» Metáfora:. «meu amor, minhas boninas, olho de perlinhas finas» Enumeração: Três almários de mentir, e cinco cofres de enleos, e alguns furtos alheos, assim em jóias de vestir, guarda-roupa d encobrir A mor carrega que é:/essas moças que vendia:/daquesta mercadoria/trago eu muita, bofé!

JUDEU *Utilizados por Joane, o Parvo: Bode. Furtaste a chiba, ó cabrão?. E ele mijou nos finados / n`ergueja de SãoGião! / E comia a carne da panela / no dia de Nosso Senhor! O Judeu é acusado de ter roubado e desrespeitado os preceitos religiosos profanar sepulturas cristãs e comer carne em dia de jejum.. Porque nom irá o judeu onde vai Brísida Vaz? O Judeu queria ir na mesma barca da Alcoviteira - Entra, dirigese à Barca do Diabo, mas fica à toa pedra miúda, lodo, chanto, fogo, lenha,/ caganeira que te venha ; co a beca nos focinhos! ; Dize, filho da cornuda ; Levai o cabrão na trela Enumeração: Azar, pedra miúda, lodo, chanto, fogo, lenha. «E comia a carne da panela/no dia de Nosso Senhor! Furtaste a chiba, cabrão? Os símbolos representam a sua religião, o seu fanatismo. A intenção de Gil Vicente nesta cena é criticar o fanatismo religioso e o amor ao dinheiro. Critica também o desrespeito pelos valores cristãos..«cómico de carácter e veio o judeu, com um bode às costas Eis aqui quatro testões/ e mais se vos pagará./ Por vida do Semifará/que me passeis o cabrão!

CORREGEDOR E PROCURADOR Vara (Corregedor) Processos ( feitos ) Livros (Procurador) Os símbolos representam a sua atividade ligada à justiça.. E as peitas dos Judeus/que vossa mulher levava? Corregedor: - aceitou subornos, até dos judeus que eram mal vistos naquele tempo, confessou-se, mas mentiu. *Acusação do Parvo ao Corregedor e ao Procurador: - roubaram coelhos - praticavam a religião de uma forma superficial. a justiça divinal/ vos manda vir carregados/ porque vades embarcados/neste batel infernal *Acusação da Brísida Vaz ao Corregedor: - acusa-o de ele não a deixar em paz, de a mandar castigar por ela ser alcoviteira A intenção de Gil Vicente nesta cena é denunciar a corrupção na justiça, pois deixavam-se comprar e subornar. Gil Vicente pretende opor a justiça humana à justiça divina que repõe a verdade sendo intransigente e imparcial. O Juiz torna-se réu no tribunal divino. Corregedor:. Semper ego justitia/fecit e bem per nível. Eu mui bem me confessei. um juiz não pode ser condenado; era a mulher que aceitava os subornos. Procurador diz que não se confessou, pois pensava que não ia morrer e achava que isso não era necessário. Entra, (os dois).«cómico de carácter e de. O corregedor pretende, neste julgamento, um oficial de justiça.«cómico de uso do latim macarrónico O Corregedor usa muito o latim porque: -É uma língua muito usada em direito. O Diabo responde-lhe em latim macarrónico para ridicularizar a linguagem utilizada na justiça; para mostrar que essa linguagem não servia para nada. -Poderiam saber falar bem latim mas não sabiam aplicar as leis. Ironia: «Como vindes preciosos sendo filhos da ciência» Irês ao lago dos cães gentil carrega trazes! Antítese Diabo para o Corregedor «Santo descorregedor» - Formal:.«Nom entendo esta barcagem, Nem hoc non potest esse.» Quia speramus in Deo. - Bejo-vo-las mãos,, juiz!/ Que diz esse arrais? Que diz?

O ENFORCADO Baraço ao pescoço O único símbolo cénico é o baraço (ou corda), que simboliza o seu pecado. *embora não o acuse diretamente garante-lhe que o lugar dele é no inferno:. Entra cá, governarás/ atá as portas do Inferno Os costumes censurados são o engano dos mais fracos por pessoas com responsabilidade (Garcia Gil, Mestre da Balança da Moeda de Lisboa). Ao escolher esta personagem Gil Vicente foi denunciar as falsas doutrinas que invertem os valores da conduta social. O Enforcado é culpado ou vítima? Consideramos esta personagem vítima porque ele foi induzido por Garcia Moniz, que sabia que em princípio não havia salvação possível para o Enforcado, e este vai ser fortemente criticado.. Eu fui bem aventurado/em morrer dependurado Se Garcia Moniz diz /que os que morrem como eu fiz/são livres de satanás Está convencido que irá para o céu, visto que já se purificou dos seus pecados no Limoeiro (prisão). E Garcia Moniz disselhe que se se matasse iria direto para o Paraíso! Entra e do Diabo..«Cómico de carácter e de O Moniz há-de mentir?/ Disse-me que com São Miguel/ jentaria pão e mel/tanto que fosse enforcado./ora já passei meu fado/já feito é o burel Comparação: «que fui bem aventurado/ em morrer dependurado como tordo na buiz» E disse-me que a Deos prouvera/ que fora ele o enforcado; / e que fosse deos louvado/ que em bo hora eu nacera

QUATRO CAVALEIIROS Cruz de Cristo que simboliza a fé católica dos cavaleiros, as espadas e os escudos, que simbolizam a apologia da Reconquista e da Expansão da Fé Cristã Gil Vicente pretende transmitir que quem faz o bem na Terra e espalhou a fé cristã é recompensado no Céu e quem acredita em Deus, quando morrer terá uma vida calma e tranquila, sem se preocupar e não terá de se arrepender de nenhum pecado e ficará com a consciência tranquila. A moralidade desta reflexão está condensada nos seguintes versos: Vigiai vos, pescadores, / que depois da sepultura /neste rio está a ventura/ de prazeres ou Dolores. Gil Vicente com estes versos, pretendia transmitir que depois da '' vida terrestre '', cada pessoa era recompensada ou '' amaldiçoada '' conforme a sua vida na terra. Morreram ao ser viço da igreja e, por isso, o Anjo já os esperava. Entram Quatro Cavaleiros da Ordem de Cristo que morreram a combater os mouros no Norte de África e que, por esse motivo, ocupam triunfalmente o seu lugar na barca da Glória. Cais - Barca da Glória Anáfora:. «À barca, à barca segura, /barca bem guarnecida, / à barca, à barca da vida! Metáfora:. «à barca, à barca da vida!» «deste temeroso cais» Os símbolos representam a sua atividade ligada à justiça. GIL VICENTE CRITICA A ÉPOCA QUINENTISTA: AS CLASSES SOCIAIS, O ESTATUTO SOCIAL, A RELIGIÃO, A JUSTIÇA, O JUDAISMO, A VIDA TERRENA, AS PROFISSÕES, OS COSTUMES, A EXPLORAÇÃO, A TIRANIA, A GANÂNCIA, A VAIDADE, A IMORALIDADE, O QUE TORNA ESTA OBRA INTEMPORAL, POIS SÃO VÍCIOS E DEFEITOS QUE FAZEM PARTE DA SOCIEDADE ATUAL. Albertina Afonso - Formal: «- Vós, satanás, presumis? Atentai com quem falais