ASPECTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR NO ASSENTAMENTO MAÍSA

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Transcrição:

ASPECTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR NO ASSENTAMENTO MAÍSA 1 INTRODUÇÃO Na região do Semi-árido a produção agrícola familiar é resultante da combinação de várias culturas, como a criação de animais, hortas, apicultura, cajucultura, dentre outras atividades. Apesar disso, tais famílias produtoras enfrentam diversas dificuldades socioeconômicas e de aspectos técnicos relacionados à produção, como acontece no assentamento Maísa, localizado no município de Mossoró - RN. Além disso, a prática da agricultura familiar tem se mostrado como uma alternativa pertinente para as famílias que moram na região. Apesar dos incentivos nos últimos anos pelo governo federal através do Programa de Apoio a Agricultura Familiar, a categoria ainda enfrenta problemas de ordem técnica, má aplicação dos recursos e a própria falta de vocação para o meio rural de algumas famílias assentadas, o que tem prejudicado a organização da maioria dos assentamentos no Nordeste. 2 CARACTERIZAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR A agricultura familiar vem sendo abordada nos últimos anos como uma atividade relevante para o desenvolvimento do país, uma vez que gera emprego e renda para as famílias que sobrevivem de atividades produtivas deste contexto e representa uma parcela significante da produção agrícola do país. Para Buianain (2003) a agricultura familiar compreende um modelo de agricultura no qual as atividades de gestão e trabalho estão relacionadas à própria família, como principal responsável pelo processo produtivo. Assim, a agricultura familiar é responsável por 80% da produção de alimentos e matérias-primas que abastecem o Brasil. Para Abromavay (1998), a agricultura familiar deve ser interpretada como uma forma viável de desenvolvimento propiciando melhores condições de vida, desenvolvimento sustentável e luta contra a pobreza. Além disso, pode-se considerar que a agricultura familiar tem contribuído para uma produção agrícola sustentável, a partir da constatação de que é mais usual a adoção de práticas de cultivo que priorizam

uma diversificação de produtos, redução de insumos industriais e a preservação do meio ambiente na agricultura familiar do que nas grandes organizações produtoras. No Brasil, segundo um estudo realizado pela FAO/Incra (1994), os produtores rurais podem ser divididos em dois modelos gerais de atuação: o da agricultura patronal e da agricultura familiar. Sendo que estes possuem traços distintos quanto a: cultura adotada, tamanho da área produzida, direção e execução do processo produtivo e utilização do trabalho assalariado. Tabela 1 Diferenças entre os modelos de agricultura Patronal e Familiar AGRICULTURA PATRONAL AGRICULTURA FAMILIAR CULTURA Monocultura Policultura TAMANHO Acima de 100 hectares Até 50 hectares DIREÇÃO Empresarial Familiar TRABALHO Contratado/assalariado Membro da família (INCRA, 1994) Nesta ótica, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura FAO e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INCRA (1994) compreendem o potencial da agricultura familiar pela sua importância para a família, uma vez que, a administração da propriedade rural é realizada por ela, sendo a produção pertencente também a ela e o processo sucessório da propriedade rural ocorre em caso de falecimento ou aposentadoria dos gerentes da propriedade rural. Desta forma, esse modelo de produção prioriza o trabalho dos seus membros na propriedade e melhorias no processo produtivo, a partir da assistência técnica e linhas de créditos para fomentar a atividade. Assim, modelos teóricos de agricultura familiar foram formulados na tentativa de agrupar os agricultores. De acordo com o Incra (1994), existem três modalidades: a agricultura familiar consolidada, a agricultura familiar de transição e a agricultura familiar periférica. A agricultura familiar consolidada reúne menor número de estabelecimentos. Os produtores estão integrados ao mercado, têm acesso as inovações tecnológicas e às políticas públicas. A maioria dos estabelecimentos funciona em padrões empresariais.

Quanto à agricultura familiar de transição, ela é composta por produtores integrados parcialmente às inovações tecnológicas, ao mercado e sem acesso à maioria das políticas públicas e programas governamentais. Por último define-se a agricultura familiar periférica. Esta funciona com um amplo potencial de viabilização econômica, sendo constituída por aproximadamente 50% dos estabelecimentos rurais que formam a agricultura familiar brasileira. Frente a esta realidade observa-se que a maioria dos estabelecimentos são precários em termos de infra-estrutura e dependentes de programas de redistribuição de terras, crédito, agroindustrialização, comercialização, assistência técnica, capacitação de pessoal, dentre outros. Desta forma, a agricultura familiar periférica, das modalidades acima apresentadas, é a que melhor reflete a realidade dos estabelecimentos da região Semiárida nordestina. O desenvolvimento da agricultura familiar no Brasil remonta a década de 1990 quando são criadas as primeiras políticas públicas voltadas para o fortalecimento da categoria. Diante das dificuldades enfrentadas pelos agricultores familiares, o poder público tem oferecido incentivos a partir do Pronaf para desenvolver a agricultura familiar no país, tomando-a como uma alternativa de desenvolvimento para as famílias que residem no contexto rural brasileiro. A partir da geração de emprego e incentivo de práticas agroecológicas, há uma expectativa de que os agentes da agricultura familiar continuem conquistando seu espaço no mercado interno, pois, atualmente essa atividade é responsável por grande parte desse abastecimento. Isso contrapõe-se ao fato de que a agricultura convencional, sustentada na utilização de máquinas e produtos químicos com custos elevados, destina prioritariamente sua produção para a exportação. Todavia, é importante destacar que tanto a agricultura familiar quanto a convencional contribui para a geração de emprego e renda, aumento do PIB, dentre outros fatores. Por outro lado, a agricultura convencional poderá provocar ao meio ambiente e a população sérios problemas de saúde e contaminação dos recursos naturais. O Projeto Dom Elder Camara (2010) constata que a produção da agricultura familiar no Rio Grande do Norte vem sendo comercializada através de parcerias com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e algumas prefeituras que utilizam

esta produção para a merenda escolar. Outra forma de escoamento dessa produção tem sido a comercialização nas feiras agroecológicas realizadas nas cidades do Oeste Potiguar. Estas feiras, geralmente são promovidas por grupos de agricultores apoiados por outras entidades ou agentes sociais. Diante disso, as parcerias entre diversos órgãos como universidades, organizações não governamentais, cooperativas, dentre outros, são fundamentais para o desenvolvimento desta forma de produção. Assim, o meio rural, sempre marcado por deficiências, pode ser considerado uma proposta pertinente para a promoção da qualidade de vida de produtores e consumidores e ofertas de empregos (WANDERLEY, 1999). Neste contexto, tais aspectos da agricultura familiar demandam uma valorização dos conhecimentos dos trabalhadores em relação aos aspectos da natureza que interferem na sua produção, bem como as questões socioeconômicas, primando pelas famílias que sobrevivem no meio rural, buscando superar as dificuldades de assistência técnica, acesso ao crédito e comercialização da produção. Diante do exposto, a agricultura familiar requer uma valorização dos conhecimentos dos agricultores relacionados ao trabalho no campo; bem como a consideração dos aspectos socioeconômicos do contexto de suas atividades, como a interação com outros agentes, o incentivo por meio de políticas públicas, e demais peculiaridades da produção nesse formato. É provável que todo este contexto seja fruto de tentativas da agricultura familiar em adaptar-se a realidade. 3 - ASSENTAMENTO MAÍSA E A AGRICULTURA FAMILIAR A realidade vivenciada pelos assentamentos brasileiros, devido à falta de assistência técnica, recursos financeiros e pessoas que foram assentadas sem nenhuma identificação com a terra, tem comprometido a produtividade destas comunidades. Tal fato pode ser observado nas agrovilas da Maísa: Apama, Pomar, Poço 10, Paulo Freire, Real, Montana e Angicos, visto que a falta de relação da maioria dos assentados com terra, tem contribuído para a permanência dos lotes inativos. Percebeuse que muitos não têm interesse em cultivar a terra, visto que trabalham em empresas agrícolas na região que destinam sua produção para exportação.

Porém em algumas agrovilas este problema se agrava, a Apama é um exemplo, onde a maioria continua trabalhando nas empresas, cultivando apenas finais de semana durante o inverno. No entanto, muitos alegaram, além da falta de recursos financeiros, como os do Pronaf, a escassez de água é um fator limitante para a produção. Porém, a agrovila Poço 10 tem uma realidade que difere das demais onde foi possível perceber pessoas que trabalham na terra sendo seu principal meio de sobrevivência. Ainda verificou-se, na mesma agrovila, a existência de grupos de mulheres que se organizaram com o objetivo de fortalecer suas atividades. Nesta agrovila existem três grupos de mulheres que se organizaram para alavancar recursos advindos do programa de crédito Apoio Mulher, fomentado pelo INCRA, pretendendo trabalhar com ovinocultura, criação de galinhas e o plantio de acerola que já encontra-se em execução, contando com a participação de 18 mulheres. No momento estas agricultoras estão buscando junto aos bancos recursos do programa Pronaf Mulher para aquisição de um liquidificador industrial para extrair a polpa das acerolas. Segundo Dona Graça, uma das agricultoras componentes do grupo: Existe um desperdício da fruta, além do baixo preço do mercado, assim a polpa iria agregar valor a produção da acerola. Contudo a não liberação destes recursos não impossibilitou o desenvolvimento da produção da acerola, principalmente pelas mulheres das quais muitas assumem toda responsabilidade dessa produção, visto que os respectivos maridos trabalham em outras atividades externas ao assentamento e participam das atividades apenas nos finais de semana. No geral, nas demais agrovilas observou-se um pequeno número de pessoas que trabalham na terra, tendo casos onde o assentado não conhece seu próprio lote, ou já negociou e outra pessoa está ocupando seu lote, pagando uma pequena quantia pelo aluguel. Além disso, o assentamento sofre com diversos problemas relacionados à falta de fiscalização do INCRA, recursos, assistência técnica, estrutura organizacional, conflitos, problemas de associativismo, dentre outros. Conclui-se que há uma pequena produção no assentamento por parte das famílias agricultoras, sendo que esta produção, em sua maioria, é para a subsistência apenas no período do inverno.

4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS A agricultura familiar vem sendo bastante destacada por diversos autores da área como uma proposta pertinente para os assentamentos do Semi-árido baseada na administração dos membros da família. Apesar das dificuldades enfrentadas pelos agricultores familiares quanto à assistência técnica, recursos financeiros, questões climáticas, dentre outras. Mesmo assim, é possível perceber o crescimento da produção na agricultura familiar, oportunizando a geração de emprego e renda e dinamizando a economia de pequenas comunidades. Assim, a relação construída por estas famílias é fundamental para garantir um desenvolvimento sustentável, levando em consideração os aspectos socioeconômicos e naturais da região do Semi-árido. As políticas públicas direcionadas para a agricultura familiar, principalmente nos últimos anos tem revelado um crescimento considerável do setor. Ressalta-se que estas políticas tem procurado atender outros sujeitos que fazem parte da agricultura, como a mulher e o jovem. Para tanto, é necessário o aprofundamento destas políticas, no sentido de garantir maior efetividade na sua execução para que as famílias possam ser de fato beneficiadas. Referências ABRAMOVAY, Ricardo. Agricultura familiar e serviço público: novos desafios para a extensão rural. Cadernos de Ciência & Tecnologia Vol. 15, nº 1:132-152, jan/abr. 1998. BUAINAIN, Antônio Márcio; ROMEIRO, Ademar R.; GUANZIROU, Carlos. Agricultura familiar e o novo mundo rural. In: Sociologias, Porto Alegre, ano 5, n. 10, jul/dez de 2003. p.312-347. FAO/INCRA. Diretrizes de Política Agrária e Desenvolvimento Sustentável. Brasília, Versão resumida do Relatório Final do Projeto UTF/BRA/036, março, 1994. PROJETO Dom Helder Câmara. As Agricultoras Gênero no Projeto Dom Helder Câmara. Revista do Projeto Dom Helder Câmara Assessoria de Gênero e Geração. Recife: 2003. WANDERLEY, Maria de Nazareth Baudel. Raízes Históricas do Campesinato Brasileiro. In: TEDESCO, João Carlos (org.). Agricultura Familiar Realidades e Perspectivas. 2 a. ed. Passo Fundo: EDIUPF, 1999.