XI-075 - PROJETO DE MEDIÇÃO INDIVIDUALIZADA DE ÁGUA PARA OS APARTAMENTOS DOS PRÉDIOS PADRÃO POPULAR, DAS COMUNIDADES DE CAJAZEIRAS E FAZENDA GRANDE - SALVADOR. José Antonio França Marques (1) Engenheiro Civil (1973) e Sanitarista (1981) pela UFBa, Pós-Graduado em Gestão Empresarial - MBA - na FGV (2001), Mestrando em Desenvolvimento Urbano da UNIFACS - Salvador. Coordenador de Hidrometria da Embasa.; antes atuou como Assistente Técnico da Diretoria de Operações (1995-2000), Superintendente da Região Norte (1992), Assessor das Diretorias de Operações e de Engenharia (1991-1995), Coordenador de Controle de Perdas (1984-1988) e Gerente do Setor de Pitometria e Macromedição (1980-1984). Sérgio Ricardo dos Santos Silva Graduado em Engenharia Civil - UEFS, fez Curso Técnico em Edificações - CEFET-Ba, pós-graduando em Construção Civil FTC. Gerente do Escritório de Serviço de Cajazeiras da Unidade de Negócio de Pirajá Embasa. Anteriormente, desde fevereiro de 2005, quando foi contratado pela Embasa como Engenheiro de Projetos e Operações. Endereço (1) : Rua Dom Eugênio Sales, S/N, EMBASA - Parque da Bolandeira, Módulo 42 - Bairro da Boca do Rio, Salvador BA - CEP.:41706-760 Brasil - Tel.: +55 (71) 3373-7587 - Fax: +55 (71) 3373-7563 e- mail: jose.franca@embasa.ba.gov.br RESUMO O sistema de medição individual de água por apartamentos é um anseio de muitos moradores de prédios residenciais em Salvador, e em especial os residentes nas áreas periurbanas. Este método de medição em prédios permite que a Concessionária: Embasa Empresa baiana de Águas e Saneamento, faça a cobrança justa pelos serviços prestados nesta tipologia de edificação, alem de induzir ao usuário a adoção da racionalização do uso da água com a redução dos desperdícios. O objetivo do projeto apresentado é propor uma alternativa de solução puramente hidráulica, para a medição individual dos apartamentos populares construídos pela URBIS (Órgão governamental de gestão de projetos de habitação na Bahia), nas Comunidades de Cajazeiras e Fazenda Grande, proporcionando a viabilidade econômica para atender às exigências da Embasa, descartando a necessidade da utilização de uma cara tecnologia de leitura remota (telemedição). PALAVRAS-CHAVE: Individualização, Redução de Desperdícios, Cobrança Justa, Imagem da Concessionária, Benefício Social. INTRODUÇÃO Segundo Coelho (2004) a medição global do consumo de água em prédios de apartamentos contraria o próprio Código de Defesa do Consumidor, onde se pode citar um trecho da Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990, em seu inciso III, que diz: A Política Nacional de Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito a sua dignidade, saúde e segurança, à proteção de seus interesses econômicos, à melhoria da qualidade de vida, bem como a transferência e harmonia das relações de consumo. Para a EMBASA, a utilização da hidrometração individualizada em prédios de apartamentos poderá contribuir para a redução das perdas a jusante dos hidrômetros. Esta afirmação pode ser comparada com uma experiências já desenvolvidas nesta própria Empresa de Saneamento. Ao se empenhar pela racionalização do uso da água a jusante do medidor aliada a suas próprias ações a montante do hidrômetro, a EMBASA, tende a ganhar um bônus público a longo prazo, à medida que transmite a imagem de não esta apenas buscando uma maior eficiência operacional junto ao consumidor final, mas, também estar de fato fazendo sua parte para eliminar ou minimizar a escassez de oferta, e não apenas transferindo a outrem esta missão.. ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1
A Comunidade de Cajazeiras, subúrbio rodoviário de Salvador, desde de 2002, vem solicitando junto à Concessionária a adoção da individualização, tendo inclusive apresentado naquela época um projeto que foi aprovado parcialmente com restrições, pois ainda não havia normalização comercial para tal e faltava neste aspecto, uma definição clara sobre a sistemática de leitura dos hidrômetros individuais. A Embasa decidiu, a partir do 2006, acatar a individualização, assumindo a gestão comercial das ligações independentes de água nos apartamentos, porém condicionando que para a aceitação da sistemática proposta, a leitura dos hidrômetros individuais fosse realizada em área externa, não sendo permitido a leitura direta dos medidores nos halls, escada ou interior dos prédios. Este requisito condicionou praticamente a obrigatoriedade da instalação pelos condôminos, de dispositivos de telemedição nos hidrômetros individuais, para transmitir os dados de leitura para um local.de recebimento de fácil acesso, evitando a entrada do preposto da Concessionária na edificação. Além do mais, o dispositivo para um eventual corte da ligação individual, também teria que ser acionado remotamente, ou seja: por telecomando. Surgiu então um grande impasse para implantação da individualização nos prédios de padrão popular situados no subúrbio de Salvador, em virtude da inviabilidade econômica da adaptação inicialmente exigida pela Concessionária, devido aos altos custos de implantação do Sistema de Telemedição e Telecomando. Diante da dificuldade a Comunidade apelou para uma colaboração da Concessionária no sentido de encontrar solução que aliasse o cumprimento das suas exigências, com a capacidade de investimento dos moradores, culminando então com uma solução apontada neste Trabalho, em princípio a nível de orientação ou sugestão, evoluindo para a de um Projeto Completo, sem custos de elaboração para os condôminos.. SOLUÇÕES ESPONTÂNEAS Alguns prédios antigos, situados em Cajazeiras e Fazenda Grande, subúrbio rodoviário de Salvador, no anseio de minimizar os conflitos gerados pela medição global da água, implantaram a ligação independente de água por apartamento, como uma solução doméstica e autônoma. Nestes casos a medição do prédio permaneceria única. A solução adotada por alguns condomínios, consiste na modificação das instalações hidráulicas do prédio, de forma que a ligação de água para cada apartamento fique independente. O objetivo dessa modificação do sistema predial, é possibilitar ao sindico poder suprimir o fornecimento de água daquele apartamento que está inadimplente. Como já abordado, nesse padrão de condomínio o valor da conta de água / esgoto eqüivale praticamente à taxa condominial e o fato de uma pequena parcela dos condôminos se negarem a pagar a sua parte, compromete o poder do condomínio em arcar com esta despesa. Contudo, o sindico corta o fornecimento de água daqueles condôminos que não pagam a taxa condominial. Desta forma é possível inibir a inadimplência, pois quem não paga poderá ser punido. Esse é um procedimento acordado em Ata de Assembléia do Condomínio, onde se formaliza a permissão ao síndico para suprimir o abastecimento de água dos inadimplentes e assim somente a ele é dado o acesso ao reservatório superior, onde ficam os registros correspondentes das ligações de cada apartamento. Entretanto esta alternativa não tem aparato jurídico conforme o Código Civil. O sindico, não tem o poder de impedir o abastecimento de água de um apartamento, prerrogativa conferida à Concessionária que é a fornecedora do produto, no caso em questão - a água tratada. Além disto, a EMBASA tem que obedecer às exigências do Código de Defesa do Consumidor para atuar com o corte da água. Observa-se também que as reformas nas instalações hidráulicas nestas edificações são executadas sem critérios técnicos, comprometendo a qualidade e durabilidade da obra. Na área interna dos apartamentos a execução é feita com improviso, sem preocupação estética, comprovando a inexistência de uma orientação técnica ou de um projeto executivo para a condução dos serviços de adaptação. Não se teria como reprovar a iniciativa dos moradores desses prédios pelo comprometimento da qualidade dos serviços executados, mas percebe-se que isto é fruto de uma necessidade a qual precisa de orientação técnica, infelizmente não acessível às populações de baixa renda, pois suas condições econômicas não permitem a contratação de uma empresa especializada de engenharia. ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2
CAJAZEIRA 7 BOC A DA CAJAZEIRA 10 MATA FAZENDA CAJAZEIRA 6 CAJAZEIRA 5 GRANDE 1 FAZENDA CAJAZEIRA 8 GRANDE 2 FAZENDA FAZENDA GRANDE 3 GRANDE 4 LO T. JD. MAN GABEIRA (C AJAZEIRA 8) 24º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Portanto, para a implantação da Medição Individualizada de Água, foi desenvolvido pelos autores deste projeto com o apoio da EMBASA, um projeto hidráulico, cujo propósito seria orientar os condôminos das comunidades de baixa renda para individualizarem as ligações dos seus prédios, de acordo com as Normas da ABNT e com os critérios exigidos pela própria Concessionária. INDIVIDUALIZAÇAO DA MEDIÇÃO DE ÁGUA EM PREDIOS DO SUBURBIO RODOVIÁRIO DE SALVADOR O objetivo do presente trabalho, foi o desenvolvimento de um projeto técnico, com alternativa de solução puramente hidráulica, para a medição individual dos apartamentos construídos nas Comunidades de Cajazeiras e Fazenda Grande, proporcionando a viabilidade econômica para atender às exigências da Concessionária, descartando a necessidade da utilização de uma custosa tecnologia de leitura remota (telemedição) e acionamento de válvula à distância (telecomando). A proposta apresentada neste trabalho técnico é direcionada aos conjuntos habitacionais da URBIS em Cajazeiras e Fazenda Grande, subúrbio rodoviário de Salvador. As edificações possuem 4 pavimentos, sendo 4 apartamentos por andar, totalizando 16 economias. Conforme mostrado na figura 2.1, estes Conjuntos habitacionais são atendidos pela EMBASA, nas zonas: ZA 62 e ZA 63 área de abrangência da UMJ - Unidade de Negócio de Pirajá. CAMAÇARI BR - 324 UMJ CAJAZEIRAS e FAZENDA GRANDE UML ZA 63 UMB UMF Figura 1 Localização: Cajazeiras/F. Grande O perfil sócio econômico destas comunidades é de baixa renda e foi o aspecto motivador para a elaboração deste projeto. METODOLOGIA UTILIZADA Com o propósito de oferecer uma alternativa atendendo às exigências da Concessionária e anseios das Comunidades descritas, caracterizadas em maioria como de população de baixa renda, foi elaborado um projeto hidráulico padrão para implantação da medição individualizada de água nos prédios, também padronizados, construídos nos conjuntos habitacionais de Cajazeiras / Fazenda Grande, que descarta a necessidade da aquisição de tecnologia sofisticada para leitura remota e telecomando do registro de corte. A solução puramente hidráulica, com controle centralizado da medição, permite a instalação de todos os hidrômetros individuais no hall de entrada do prédio, em área externa, em frente dos medidores de energia elétrica. A concepção do projeto considerou sua elaboração compreendendo a parte gráfica: planta baixa, isométricos e detalhamentos; e a parte documental: especificação técnica, memória de cálculo do dimensionamento hidráulico e planilha orçamentária dos serviços de adaptação das instalações prediais. A solução visou orientar a implantação da medição individualizada de água, adaptando-se à praticamente todos os prédios típicos, situados em Cajazeiras e Fazenda Grande, pois essas edificações são bastantes semelhantes e as modificações podem ser facilmente adequadas. ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3
Foi escolhido um modelo piloto - o Bloco 22, situado no Conjunto Fazenda Grande IV, Setor 2, que serviria como referência para a Comunidade. A escolha foi definida pela Associação dos Mutuários e Síndicos de Cajazeiras. Figura 2 Conjunto Cajazeiras Bloco 22 A concepção foi puramente hidráulica, seguindo Norma da ABNT - NBR 5626 / 98; ponto crítico do dimensionamento seria a pressão mínima no ponto do chuveiro do último pavimento que conforme a NBR 5626, deve ser de 1,0 m.c.a.( um metro de coluna d`água), para o diâmetro igual a 20 mm. Para isso, foi necessário o uso de uma reservação suplementar de água em cima do reservatório superior existente no prédio, com um volume de 2.000 litros, para abastecer exclusivamente o ultimo pavimento, através de uma coluna independente que sai desta reservação. O reservatório superior original do prédio ficaria encarregado de abastecer os demais pavimentos; projeto não abrange a solução estrutural para a sobrecarga conseqüente da colocação de reservatório(s) suplementar (es), fazendo apenas advertência e menção nas peças gráficas e especificações A avaliação estrutural e solução seria feita, antecipadamente por um engenheiro especialista em estrutura predial. Entretanto, como precaução em relação as condições estruturais dos prédios foi estabelecida a proibição da execução de reservatório suplementar em material pesado, como por exemplo, alvenaria ou concreto armado, sendo sugerido, por exemplo a Fibra de Vidro, PVC Polietileno, ou Aço Inox de parede fina. Também, o nível do reservatório superior existente seria reduzido em 15 cm. Para isso rebaixar-se-ia o extravasor. Esta medida compensaria o incremento de carga ocasionada pela colocação do reservatório suplementar no apoio estrutural do reservatório existente. As instalações hidráulicas internas de cada apartamento teriam único ponto de alimentação, não existindo qualquer tipo de interligação entre as instalações hidráulicas das unidades habitacionais prédio. Os hidrômetros individuais seriam instalados em locais de fácil acesso, em área externa, no hall de entrada do prédio em caixas coletoras como mostra esquematicamente a Figura 3. Figura 3 Esquema de instalação dos medidores ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4
Na Figura 4 a seguir pode-se observar a solução encontrada de maneira esquemática, sendo essa idéia aplicável a quaisquer prédios semelhantes de quatro pavimentos. Figura 4 Solução esquemática da Individualização RESULTADOS OBTIDOS / ESPERADOS O projeto foi apresentado à Comunidade de Cajazeiras/Fazenda Grande, em abril de 2006, durante palestra mensal aberta, que a Concessionária realiza com síndicos de vários Condomínios. As obras para modificação do edifício eleito como modelo piloto (Bloco 22), só foram concluídas em agosto de 2006, sendo possível obter-se a apuração dos consumos pela Concessionária, a partir de outubro Preliminarmente, entretanto os números apontam para uma ordem de 30 % (trinta por cento) de redução de consumo, considerando uma série de registros de 6 meses e sua comparação com o registro em período semelhante, porém com um ano de defasagem. De forma semelhante comparou-se, porém por 2 meses, o consumo antes e depois da individualização no segundo prédio modificado (Bloco 07), obtendo-se uma redução de 26 % (vinte e seis por cento). ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5
Considerando, no entanto, um edifício de renda média/baixa, cujos condôminos se anteciparam aos de Cajazeiras/Fazenda Grande, para modificar suas instalações, adequando-as à individualização, é possível obter-se, como se pode ver na Figura 5, seguir, resultados ainda mais expressivos ( 37,5 % ). Figura 5 Quadro com resultados financeiros obtidos no Bloco 1 - Conj Comerciários CONCLUSÕES / RECOMENDAÇÕES A individualização das ligações, pode ser vista como uma negociação Ganha x Ganha, entre a empresa concessionária e os clientes, que são preponderantemente condomínios de Conjuntos Habitacionais populares, pois a nova sistemática se mostra como um fator positivo de redução de desperdícios e inadimplência, redução de fraudes e justiça na cobrança dos consumos de água. A solução hidráulica proposta facilita a obtenção da tecnologia pelos Condomínios proporcionando a viabilidade econômica para atender às exigências da Concessionária, descartando a necessidade da utilização de um dispendioso sistema de remoto de telemedição e telecomando, com retorno rápido do investimento (13 meses) e é aplicável em larga escala na Cidade de Salvador, como também em outras cidades, pois os prédios construídos pelas cooperativas do Poder Público, para as populações de baixa renda, normalmente apresentam tipologia semelhante (4 pavimentos - 8 a 16 apartamentos). A seguir são apresentadas algumas recomendações para a implantação dos projetos: A elaboração sob contrato dos Condomínios, de novos projetos ou a adaptação deste, deve ser efetuada por profissionais de engenharia devidamente habilitados para tal. Do mesmo modo, com relação às obras. As Concessionárias devem desenvolver manuais (Cartilhas) para os Condomínios, deixando claros os parâmetros e exigências necessárias para individualização, incluindo orientação sobre aquisição, testes ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6
preliminares e demais condições, não só para o recebimento dos hidrômetros, como as demais instalações técnicas que virão a intervir na área de atuação da empresa; Os micromedidores se adquiridos e instalados pelos Condomínios, devem obedecer a especificação fornecida pela Concessionária, serem novos e possuírem sêlo do Inmetro; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ANDRE, P.T.A; PELIN, E.R.; Elementos de analise econômica relativo ao consumo predial. Brasília, 1998. PNCDA - Programa Nacional de Combate ao Desperdício de água. (DTA Documento Técnico de Apoio nº B-1). 2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5626: Instalações Prediais de água fria. Rio de Janeiro, 1998. 3. COÊLHO, A.C.; MAYNARD, J.C.B.; Medição individualizada de água em apartamentos. Recife, Pernambuco, Ed. Comunicarte, 1999. 172p. 4. COÊLHO, A.C.; Medição de água individualizada Manual do Condomínio. Recife, Ed. do Autor, 2004. 174p. 5. SOUZA FILHO, A.F., CAVALCANTI, D.J.H, BARBOSA, M.G., PEDROSA, V.A; A hidrometração individualizada como disciplinador de consumo: ABES. 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária Ambiental, Campo Grande, MS. I - 237, V. dez 2005. ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7