POEMA 1 Canção do Exílio (GONÇALVES DIAS) Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossa várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar sozinho, à noite Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra; Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. 1. Explique a vantagem para a criação da atmosfera romântica pelo uso de: a) possessivos b) imagens da natureza c) Deus d) mais 2. Qual é a função de Deus neste poema? 3. Por que Sabiá se encontra com inicial maiúsculo? 4. Relacione exílio com a tensão entre cá e lá. 5. Relacione poeta e pássaro.
POEMA 2 - Leito de Folhas Verdes (GONÇALVES DIAS) Por que tardas, Jatir, que tanto a custo À voz do meu amor moves teus passos? Da noite a viração, movendo as folhas, Já nos cimos do bosque rumoreja. Eu sob a copa da mangueira altiva Nosso leito gentil cobri zelosa Com mimoso tapiz de folhas brandas, Onde o frouxo luar brinca entre flores. Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco, Já solta o bogari mais doce aroma! Como prece de amor, como estas preces, No silêncio da noite o bosque exala. Brilha a lua no céu, brilham estrelas, Correm perfumes no correr da brisa, A cujo influxo mágico respira-se Um quebranto de amor, melhor que a vida! A flor que desabrocha ao romper d alva Um só giro do sol, não mais, vegeta: Eu sou aquela flor que espero ainda Doce raio do sol que me dê vida. Sejam vales ou montes, lago ou terra, Onde quer que tu vás, ou dia ou noite, Vai seguindo após ti meu pensamento; Outro amor nunca tive: és meu, sou tua! Meus olhos outros olhos nunca viram, Não sentiram meus lábios outros lábios, Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas A arazoia na cinta me apertaram. Do tamarindo a flor jaz entreaberta, Já solta o bogari mais doce aroma; Também meu coração, com estas flores, Melhor perfume ao pé da noite exala! Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes À voz do meu amor, que em vão te chama! Tupã, lá rompe o sol! do leito inútil A brisa da manhã sacuda as folhas! 1. Por que o eu lírico se pergunta sobre Jatir estar tardando? 2. Onde se encontra o eu lírico? Descreva. 3. O que espera o eu lírico ao preparar o leito? 4. O que comprova que se trata de um poema indianista? 5. Qual é a importância do uso do índio para o nacionalismo romântico? 6. Por que sacudir as folhas? 7. Qual é a função do olfato neste poema?
POEMA 3 Meu Sonho (ÁLVARES DE AZEVEDO) Cavaleiro das armas escuras, Onde vais pelas trevas impuras Com a espada sangrenta na mão? Por que brilham teus olhos ardentes E gemidos nos lábios frementes Vertem fogo do teu coração? Cavaleiro, quem és? o remorso? Do corcel te debruças no dorso... E galopas do vale através... Oh! da estrada acordando as poeiras Não escutas gritar as caveiras E morder-te o fantasma nos pés? Onde vais pelas trevas impuras, Cavaleiro das armas escuras, Macilento, qual morto no tumba?... Tu escutas... Na longa montanha Um tropel teu galope acompanha? E um clamor de vingança retumba? Cavaleiro, quem és? que mistério, Quem te força da morte no império Pela noite assombrada a vagar? O fantasma Sou o sonho de tua esperança, Tua febre que nunca descansa, O delírio que te há de matar!... 1. Cite duas estratégias do poeta para criação de uma atmosfera onírica. 2. Comprove que o cavaleiro é um duplo do poeta por meio de 2 argumentos. 3. Apresente o grotesco e o sublime por meio das tensões claro x escuro e alto x baixo. 4. Apresente o tema da sexualidade romântica a partir de 3 imagens oníricas. 5. Explique o herói problemático romântico a partir da ideia de sonho.
POEMA 4 Soneto (ÁLVARES DE AZEVEDO) Pálida à luz da lâmpada sombria, Sobre o leito de flores reclinada, Como a lua por noite embalsamada, Entre as nuvens do amor ela dormia! Era a virgem do mar, na escuma fria Pela maré das águas embalada! Era um anjo entre nuvens d alvorada Que em sonhos se banhava e se esquecia! Era mais bela! o seio palpitando... Negros olhos as pálpebras abrindo... Formas nuas no leito resvalando... Não te rias de mim, meu anjo lindo! Por ti as noites eu velei chorando, Por ti nos sonhos morrerei sorrindo! 1. Considerando a primeira estrofe: a) Quem é ela? Confirme baseado nas imagens que se envolvem com ela. b) Que reação o poeta sugere em relação à cena quando ele termina com a pontuação colocada? 2. A que elementos da natureza o poeta vai recorrer para compô-la? Que elemento é comum à primeira estrofe? 3. As duas primeiras estrofes simulam ambientes semelhantes. Identifique-os. 4. Na terceira estrofe, o cenário muda e os verbos também. Interprete essa postura poética. 5. Não se pode dizer que na terceira estrofe a mulher seja etérea e impalpável. Por quê?
POEMA 5 A Lagartixa (ÁLVARES DE AZEVEDO) A lagartixa ao sol ardente vive E fazendo verão o corpo espicha: O clarão de teus olhos me dá vida, Tu és o sol e eu sou a lagartixa. Amo-te como vinho e como o sono, Tu és meu corpo e amoroso leito... Mas teu néctar de amor jamais se esgota, Travesseiro não há como teu peito. Posso agora viver: para coroas Não preciso no prado colher flores; Engrinaldo melhor a minha fronte Nas rosas mais gentis de teus amores. Vale todo um harém a minha bela, Em fazer-me ditoso ela capricha; Vivo ao sol de seus olhos namorados, Como ao sol de verão a lagartixa. 1. Com relação às imagens que medem poeta e musa, explique: a) as dimensões b) a escolha de sol e lagartixa 2. Explique a atmosfera romântica pelas imagens de: a) vinho b) sono c) leito d) rosas 3. Relacione 1 a e última estrofes pela semelhança e diferença. 4. O que o clarão dos olhos oferece ao poeta? 5. Explique as metáforas: a) Tu és meu corpo e amoroso leito... b) Mas teu néctar de amor jamais se esgota, c) Travesseiro não há como teu peito. d) Vale todo um harém a minha bela,
POEMA 5 Adeus, Meus Sonhos! (ÁLVARES DE AZEVEDO) Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro! Não levo da existência uma saudade! E tanta vida que meu peito enchia Morreu na minha triste mocidade! Misérrimo! votei meu pobres dias À sina douda de um amor sem fruto, e minh alma na treva agora dorme Como um olhar que a morte envolve em luto. Que me resta, meu Deus? morra comigo A estrela de meus cândidos amores, Já que não levo no meu peito morto Um punhado sequer de murchas flores! Exercícios sobre Adeus, Meus Sonhos! 1. Qual a atitude do poeta em relação à vida? 2. Cite um trecho em que aparece claramente o fato de o poeta considerar-se morto, embora ainda esteja vivo. 3. O que significa amor sem fruto? 4. Qual a relação do amor sem fruto com os versos da última estrofe?
POEMA 6 É ela! É ela! É ela! É ela! (ÁLVARES DE AZEVEDO) É ela! é ela! murmurei tremendo, Oh! de certo... (pensei) é doce página E o eco ao longe murmurou é ela! Onde a alma derramou gentis amores; Eu a vi minha fada aérea e pura São versos dela... que amanhã de certo A minha lavadeira na janela! Ela me enviará cheios de flores... Dessas águas-furtadas onde eu moro Eu a vejo estendendo no telhado Os vestidos de chita, as saias brancas; Eu a vejo e suspiro enamorado! Esta noite eu ousei mais atrevido Nas telhas que estalavam nos meus passos Ir espiar seu venturoso sono, Vê-la mais bela de Morfeu nos braços! Como dormia! que profundo sono!... Tinha na mão o ferro do engomado... Como roncava maviosa e pura!... Quase caí na rua desmaiado! Afastei a janela, entrei medroso: Palpitava-lhe o seio adormecido... Fui beijá-la... roubei do seio dela Um bilhete que estava ali metido... Tremi de febre! Venturosa folha! Quem pousasse contigo neste seio! Como Otelo beijando a sua esposa, eu beijei-a a tremer de devaneio... É ela! é ela! repeti tremendo; Mas cantou nesse instante uma coruja... Abri cioso a página secreta... Oh! meu Deus! era um rol de roupa suja! Mas se Werther morreu por ver Carlota Dando pão com manteiga às criancinhas, Se achou-a assim mais bela, eu mais te adoro Sonhando-te a lavar as camisinhas! É ela! é ela! meu amor, minh alma, A Laura, a Beatriz que o céu revela... É ela! é ela! murmurei tremendo, E o eco ao longe suspirou é ela! 1. Explique o poeta romântico baseado na tensão realidade objetiva e realidade subjetiva. 2. O texto apresenta diversas referências a personagens literários. Pesquise-os e relacione-os à postura deste poeta romântico. 3. Como adormecimento da musa pode provocar o romantismo do poeta? 4. No prefácio à segunda parte da Lira dos Vinte Anos, Álvares de Azevedo escreveu: É que a unidade deste livro funda-se numa binomia. Duas almas que moram nas cavernas de um cérebro pouco ou mais ou menos de poeta escreveram este livro, verdadeira medalha de suas faces. Baseando-se nos textos lidos, explique qual é a binomia a que o poeta se refere. 5. Explique: a) a função do eco b) a função de limpeza (tensão limpo x sujo) c) a função da coruja (tensão claro x escuro) d) os locais de moradia (tensão baixo x alto) e) o título com a palavra eco repetida quatro vezes.
POEMA 7 O navio negreiro (CASTRO ALVES FRAGMENTO) Era um sonho dantesco... o tombadilho Que das luzernas avermelha o brilho. Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar... Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras moças, mas nuas e espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs! E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais... Se o velho arqueja, se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais... Presa nos elos de uma só cadeia, A multidão faminta cambaleia, E chora e dança ali! Um de raiva delira, outro enlouquece, Outro, que martírios embrutece, Cantando, geme e ri! No entanto o capitão manda a manobra, E após fitando o céu que se desdobra, Tão puro sobre o mar, Diz do fumo entre os densos nevoeiros: "Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Fazei-os mais dançar!..." E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais... Qual um sonho dantesco as sombras voam!... Gritos, ais, maldições, preces ressoam! E ri-se Satanás!... 1. Qual é a função do sonho para este poema e de sua caracterização como grotesco? 2. Apresente as imagens de música e dança. Como essas artes se relacionam com a proposta romântica deste poema? 3. Que temas aparecem brevemente com a representação da escravidão? 4. Por que Deus não aparece? 5. Explique as imagens: a) ri-se a orquestra irônica b) da ronda fantástica a serpente faz doudas espirais c) as sombras voam d) fazei-os mais dançar
POEMA 8 Adormecida (CASTRO ALVES) Uma noite eu me lembro... Ela dormia Numa rede encostada molemente... Quase aberto o roupão... solto o cabelo E o pé descalço do tapete rente. 'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste Exalavam as silvas da campina... E ao longe, num pedaço do horizonte Via se a noite plácida e divina. De um jasmineiro os galhos encurvados, Indiscretos entravam pela sala, E de leve oscilando ao tom das auras Iam na face trêmulos beijá la. Era um quadro celeste!... A cada afago Mesmo em sonhos a moça estremecia... Quando ela serenava... a flor beijava a... Quando ela ia beijar lhe... a flor fugia... Dir se ia que naquele doce instante Brincavam duas cândidas crianças... A brisa, que agitava as folhas verdes, Fazia lhe ondear as negras tranças! E o ramo ora chegava ora afastava se... Mas quando a via despeitada a meio, P'ra não zangá la... sacudia alegre Uma chuva de pétalas no seio... Eu, fitando esta cena, repetia Naquela noite lânguida e sentida: "ó flor! tu és a virgem das campinas! "Virgem! tu és a flor da minha vida!..." 1. Como se apresenta a sexualidade neste poema? Trabalhe as 3 imagens abaixo: a) roupão, cabelo e pé b) a janela c) o sonho, o adormecimento 2. Com que ela sonhava? 3. Produza o esquema do paralelismo da última estrofe. 4. Explique a tensão aproximação e afastamento. 5. Qual é a vantagem para o poeta romântico produzir a imagem de uma mulher adormecida?
POEMA 9 - Quando Eu Morrer (CASTRO ALVES) Quando eu morrer... não lancem meu cadáver No fosso de um sombrio cemitério... Odeio o mausoléu que espera o morto Como o viajante desse hotel funéreo. Corre nas veias negras desse mármore Não sei que sangue vil de messalina, A cova, num bocejo indiferente, Abre ao primeiro a boca libertina. Ei la a nau do sepulcro o cemitério... Que povo estranho no porão profundo! Emigrantes sombrios que se embarcam Para as plagas sem fim do outro mundo. Tem os fogos errantes por santelmo. Tem por velame os panos do sudário... Por maestro o vulto esguio do cipreste, Por gaivotas o mocho funerário... Ali ninguém se firma a um braço amigo Do inverno pelas lúgubres noitadas... No tombadilho indiferentes chacam se E nas trevas esbarram se as ossadas... Como deve custar ao pobre morto Ver as placas da vida além perdidas, Sem ver o branco fumo de seus lares Levantar se por entre as avenidas!... Oh! perguntai aos frios esqueletos Por que não têm o coração no peito... E um deles vos dirá "Deixei o há pouco De minha amante no lascivo leito." Outro: "Dei o a meu pai". Outro: "Esqueci o Nas inocentes mãos de meu filhinho"...... Meus amigos! Notai... bem como um pássaro O coração do morto volta ao ninho!... 1. Apresente o conceito de morte para o poeta baseado nas seguintes imagens: a) morrer b) sepulcro 2. O travessão é uma marca da 4a estrofe. Explique seu uso, designando a função romântica do seu uso. 3. Por que os mortos não têm curacao? 4. Como se pensa a sexualidade neste poema? 5. O que deve ser feito com o poeta após sua morte?
POEMA 10 O "Adeus" de Teresa (CASTRO ALVES) A vez primeira que eu fitei Teresa, Como as plantas que arrasta a correnteza, A valsa nos levou nos giros seus... E amamos juntos... E depois na sala "Adeus" eu disse lhe a tremer co'a fala... E ela, corando, murmurou me: "adeus." Uma noite... entreabriu se um reposteiro... E da alcova saía um cavaleiro Inda beijando uma mulher sem véus... Era eu... Era a pálida Teresa! "Adeus" lhe disse conservando a presa... E ela entre beijos murmurou me: "adeus!" Passaram tempos... sec'los de delírio Prazeres divinais... gozos do Empíreo...... Mas um dia volvi aos lares meus. Partindo eu disse "Voltarei!... descansa!... Ela, chorando mais que uma criança, Ela em soluços murmurou me: "adeus!" Quando voltei... era o palácio em festa!... E a voz d'ela e de um homem lá na orquestra Preenchiam de amor o azul dos céus. Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa! Foi a última vez que eu vi Teresa!... E ela arquejando murmurou me: "adeus!" 1. Quem é Teresa? 2. Liste as reações de Teresa e explique sua progressão no poema? 3. Qual é a função dos adeuses neste poema? 4. Sugira uma intepretação para as seguintes inversões: a) A vez primeira que eu fitei Teresa, b) Como as plantas que arrasta a correnteza, c) A valsa nos levou nos giros seus... d)... Mas um dia volvi aos lares meus. 5. Somente na última estrofe a palavra Ela inicial com maiúscula impropriamente. Por quê?