CORRESPONDENTES CAMBIAIS: UMA ANÁLISE DA REDE DE CORRESPONDENTES NO PAÍS FELIPE HERDEM LIMA 1/2 RESUMO Este trabalho possui como objetivo analisar a rede de correspondentes cambiais no País, levando em consideração a regulação dos mesmos, bem como, a concentração de correspondentes cambiais por regiões do País. PALAVRAS- CHAVE Correspondentes cambiais Concentração Banco Central. INTRODUÇÃO Sobre os fundamentos de uma sensível melhora dos fundamentos da economia brasileira e uma significativa redução da vulnerabilidade externa do País 3, o Banco Central do Brasil tem adotado uma política de modernização do mercado de câmbio brasileiro. Tal política de modernização pode ser representada através do aperfeiçoamento de disposições cambiais, como por exemplo, a Resolução nº 3.265, de 2005, que implantou a filosofia de ampla liberdade cambial, quando permitiu a compra e venda no mercado de câmbio, sem a necessidade de autorizações específicas, desde que, observados os princípios da legalidade e da fundamentação econômica. Seguindo este movimento de aperfeiçoamento e simplificação das regras e dos procedimentos cambiais, pode-se destacar a Resolução nº 3.568, de 2008 (que revogou a 1 FELIPE HERDEM LIMA, advogado, formado pela Fundação Getulio Vargas (FGV-Direito Rio), Master of Laws (L.L.M) em Direito Empresarial pela Fundação Getulio Vargas (FGV-Direito Rio), Diretor Executivo da Titur Corretora de Câmbio e sócio da HLF Consultoria. 2 A elaboração deste artigo teve a colaboração de MARCELO COUTINHO GUIMARÃES, administrador e gerente de compliance da Titur Corretora de Câmbio. 3 Medidas de simplificação na área de câmbio. Disponível http://www.bcb.gov.br/rex/legce/port/ftp/medidas_simplificacao_area_de_cambio.pdf
Resolução nº 3.265, de 2005), trazendo consigo importantes mudanças no mercado de câmbio, além de praticamente condensar todos os procedimentos aplicáveis ao mercado de câmbio em um só normativo. Sobre o prisma regulatório, o tema aqui tratado será analisado com base nestas novas premissas incorporadas na Resolução nº 3.568, de 2008, abordando inclusive as principais mudanças trazidas pela nova resolução no tocante aos correspondentes cambias. Por sua vez, a análise da concentração de correspondentes cambiais por regiões do País e seus respectivos estados possui como premissa verificar até que ponto o objetivo do Banco Central do Brasil em suprir toda a demanda por operações de câmbio do País foi atingido. 4 Por fim, cabe destacar que o presente artigo se limita a tratar de correspondentes cambiais, ou seja, correspondentes habilitados somente a realizar operações de câmbio, nos termos do artigo 9º da Resolução nº 3.954, de 2011 5. PRINCIPAIS ALTERAÇÕES NA REGULAMENTAÇÃO DOS CORRESPONDENTES CAMBIAIS Com o intuito de dar capilaridade 6 no atendimento de operações de câmbio manual e de transferências internacionais, o Banco Central do Brasil por intermédio da Resolução n 4 Em virtude dos grandes eventos desportivos, como por exemplo, a Copa do Mundo realizada em 2014 e os jogos Olímpicos de 2016, o Banco Central do Brasil traçou como objetivo a ampliação da rede correspondentes cambiais no País, de modo, a possibilitar um maior leque de atendimento de operações de câmbio para o atendimento da demanda. 5 Art. 9º O atendimento prestado pelo correspondente em operações de câmbio deve ser contratualmente restrito às seguintes operações: I - compra e venda de moeda estrangeira em espécie, cheque ou cheque de viagem, bem como carga de moeda estrangeira em cartão pré-pago; (Redação dada, a partir de 2/1/2012, pela Resolução nº 4.035, de 30/11/2011) II - execução ativa ou passiva de ordem de pagamento relativa a transferência unilateral do ou para o exterior; e II - recepção e encaminhamento de propostas de operações de câmbio. 1º (Revogado pela Resolução nº 4.114, de 26/7/2012) 2º O contrato que inclua o atendimento nas operações de câmbio relacionadas nos incisos I e II do caput deve prever as seguintes condições: I - limitação ao valor de US$3.000,00 (três mil dólares dos Estados Unidos), ou seu equivalente em outras moedas, por operação; II - obrigatoriedade de entrega ao cliente de comprovante para cada operação de câmbio realizada, contendo a identificação das partes, a indicação da moeda estrangeira, da taxa de câmbio e dos valores em moeda estrangeira e em moeda nacional; e III - observância das disposições do Regulamento do Mercado de Câmbio e Capitais Estrangeiros (RMCCI). 6 Termo utilizado pelo Banco Central do Brasil. 2
3.568/08 permitiu que as instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional (SFN) autorizadas a operar no mercado de câmbio, pudessem contratar, além de outras instituições integrantes do SFN, pessoas jurídicas para operações de câmbio limitadas a US$ 3.000,00 (três mil dólares americanos), ou o seu equivalente em outras moedas na forma de convênio com: i) pessoas jurídicas em geral para negociar a realização de transferências unilaterais; ii) pessoas jurídicas cadastradas no Ministério do Turismo como prestadores de serviços turísticos remunerados, para realização de operações de compra e de venda de moeda estrangeira em espécie, cheques ou cheques de viagem; e iii) instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, não autorizadas a operar em câmbio, para realização de transferências. Questão importante que merece destaque é que a Resolução n 3.568/08 revogou a Resolução n 3.625 de 2005 do Banco Central do Brasil, além de outras normativas, e trouxe uma importante mudança no cenário do mercado de câmbio. Antes de 30 de junho de 2008, só era possível a estipulação de convênios com instituições não autorizadas a operar no mercado de câmbio mediante a prévia anuência do Banco Central do Brasil. Esta anuência prévia (desde que dentro das condições estipuladas na circular em questão) não se faz mais necessária, muito em função do objetivo do Banco Central em capilarizar o atendimento de operações de câmbio para todas as regiões do Brasil. A Resolução n 3.954 de 24 de fevereiro de 2011 por sua vez consolidou as normas que dispõem sobre a contratação de correspondentes no País. De acordo com o disposto na resolução, pode-se destacar o disposto no artigo 2 que assim dispõe: 3
Art. 2º O correspondente atua por conta e sob as diretrizes da instituição contratante, que assume inteira responsabilidade pelo atendimento prestado aos clientes e usuários por meio do contratado, à qual cabe garantir a integridade, a confiabilidade, a segurança e o sigilo das transações realizadas por meio do contratado, bem como o cumprimento da legislação e da regulamentação relativa a essas transações. Por fim, a Resolução n 4.114 de 26 de julho de 2012 eliminou a restrição quanto ao tipo de empresa que pode ser contratada como correspondente no País. CONCENTRAÇÃO DE CORRESPONDENTES POR ESTADOS DO PAÍS Pretende-se neste tópico analisar a concentração de correspondentes cambiais por estados do País. O estudo levou em consideração o número de correspondentes cambiais por estados de determinada região, bem como, o grau de concentração destes estados na região do qual pertencem. 4
Região Sul A Região Sul se mostrou a região do País mais equilibrada. Ela é composta por três estados: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O grau de concentração de cada um deles ficou com uma média de 30% da região, conforme observado no gráfico abaixo: DADOS GEOGRÁFICOS - CONCENTRAÇÃO DE CORRESPONDENTES CAMBIAIS POR ESTADO 7 ESTADO NÚMERO DE CORRESPONDENTES CAMBIAIS PERCENTUAL DE CONCENTRAÇÃO PARANÁ 133 35,95% SANTA CATARINA 111 30,00% RIO GRANDE DO SUL 126 34,05% TOTAL 370 100,00% Representando estes números em um gráfico, chega-se ao seguinte resultado: 7 De acordo com a lista de correspondentes habilitados para operar no mercado de câmbio, divulgado no site do Banco Central do Brasil até a data de 02/02/20015. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/?iamccca. 5
Região Sudeste A Região Sudeste se mostrou a região mais desproporcional em relação do grau de concentração. O Estado de São Paulo apresentou uma concentração de 68,53%, representados por novecentos e trinta correspondentes cambiais, ao passo que o Estado do Espírito Santo (último em número de correspondentes) apresentou apenas trinta e cinco correspondentes cambias, representando um percentual de 2,58% de concentração na Região Sudeste. O Estado do Rio de Janeiro vem logo após o Estado de São Paulo com um número de duzentos e nove correspondentes cambiais representando um percentual de concentração de 15,40%, seguido de 13,49% de Minas Gerais e 2,58% do Espírito Santo. DADOS GEOGRÁFICOS - CONCENTRAÇÃO DE CORRESPONDENTES CAMBIAIS POR ESTADO 8 ESTADO NÚMERO DE CORRESPONDENTES CAMBIAIS PERCENTUAL DE CONCENTRAÇÃO SÃO PAULO 930 68,53% RIO DE JANEIRO 209 15,40% MINAS GERAIS 183 13,49% ESPIRITO SANTO 35 2,58% TOTAL 1.357 100,00% 8 De acordo com a lista de correspondentes habilitados para operar no mercado de câmbio, divulgado no site do Banco Central do Brasil até a data de 02/02/20015. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/?iamccca. 6
A Região Sudeste em gráfico fica assim representada: Região Centro Oeste A Região Centro Oeste apresentou uma alta concentração de correspondentes cambiais no Estado de Goiás, representando 51,3% de toda a região. Atrás do Estado de Goiás está o Distrito Federal com 22,08%, Mato Grosso do Sul com 9,74% e Mato Grosso com 16,88%. DADOS GEOGRÁFICOS - CONCENTRAÇÃO DE CORRESPONDENTES CAMBIAIS POR ESTADO 9 ESTADO NÚMERO DE CORRESPONDENTES CAMBIAIS PERCENTUAL DE CONCENTRAÇÃO GÓIAS 79 51,30% DISTRITO FEDERAL 34 22,08% MATO GROSSO DO SUL 15 9,74% MATO GROSSO 26 16,88% TOTAL 154 100,00% 9 De acordo com a lista de correspondentes habilitados para operar no mercado de câmbio, divulgado no site do Banco Central do Brasil até a data de 02/02/20015. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/?iamccca. 7
Em termos gráficos, a Região Centro Oeste fica assim representada: Região Nordeste A Região Nordeste apresentou um certo equilíbrio de correspondentes entre os estados. Liderando em número de correspondentes ficou o Estado da Bahia com um número de setenta e seis correspondentes cambiais, representando um percentual de 36,71%, logo após está o Estado de Pernambuco com um percentual de concentração de 18,84%. DADOS GEOGRÁFICOS - CONCENTRAÇÃO DE CORRESPONDENTES CAMBIAIS POR ESTADO 10 ESTADO NÚMERO DE CORRESPONDENTES CAMBIAIS PERCENTUAL DE CONCENTRAÇÃO ALAGOAS 11 5,31% BAHIA 76 36,71% CEARÁ 25 12,08% 10 De acordo com a lista de correspondentes habilitados para operar no mercado de câmbio, divulgado no site do Banco Central do Brasil até a data de 02/02/20015. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/?iamccca. 8
MARANHÃO 8 3,86% PARAÍBA 8 3,86% PERNAMBUCO 39 18,84% PIAUÍ 6 2,90% RIO GRANDE DO NORTE 23 11,11% SERGIPE 11 5,31% TOTAL 207 100,00% Em termos gráficos: Região Norte A Região Norte se mostrou como a região com o menor número de correspondentes cambiais. Liderando na região está o Estado do Amazonas com um percentual de concentração de 39,13%, seguido pelo Estado do Pará com 26,09%. 9
DADOS GEOGRÁFICOS - CONCENTRAÇÃO DE CORRESPONDENTES CAMBIAIS POR ESTADO 11 ESTADO NÚMERO DE CORRESPONDENTES CAMBIAIS PERCENTUAL DE CONCENTRAÇÃO ACRE 3 4,35% AMAPÁ 5 7,25% AMAZONAS 27 39,13% PARÁ 18 26,09% RONDÔNIA 12 17,39% RORAIMA 2 2,90% TOCANTINS 2 2,90% TOTAL 69 100,00% Em termos gráficos: 11 De acordo com a lista de correspondentes habilitados para operar no mercado de câmbio, divulgado no site do Banco Central do Brasil até a data de 02/02/20015. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/?iamccca. 10
Concentração de correspondentes por região do País Após a análise do grau de concentração dos estados em sua respectiva região, é possível chegar a conclusão sobre a concentração de correspondentes por região do País. Neste sentido, com 1.357 correspondentes está a Região Sudeste, representando 62,91% de correspondentes cambias do País. Em seguida temos a Região Sul com 370 correspondentes (17,15%), Região Nordeste com 207 correspondentes (9,60%), Região Centro-Oeste com 154 correspondentes (7,14%) e Região Norte com 69 correspondentes (3,20%). DADOS GEOGRÁFICOS - CONCENTRAÇÃO DE CORRESPONDENTES CAMBIAIS POR REGIÃO 12 REGIÃO NÚMERO DE CORRESPONDENTES CAMBIAIS PERCENTUAL DE CONCENTRAÇÃO SUDESTE 1.357 62,91% SUL 370 17,15% CENTRO-OESTE 154 7,14% NORTE 69 3,20% NORDESTE 207 9,60% TOTAL 2.157 100,00% Em termos gráficos: 12 De acordo com a lista de correspondentes habilitados para operar no mercado de câmbio, divulgado no site do Banco Central do Brasil até a data de 02/02/20015. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/?iamccca. 11
DISTRIBUIÇÃO DE CORRESPONDENTES CAMBIAIS POR SEGMENTO DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS Feita a análise da concentração de correspondentes, cabe agora analisar a distribuição de correspondentes cambiais por segmento de instituição financeira. Neste sentido, merece destaque o papel das sociedades corretoras de câmbio que são responsáveis por 1.053 correspondentes cambiais, representando um percentual de concentração de 48,82% de correspondentes do País. Em segundo lugar, estão as sociedades corretoras de câmbio e distribuidoras de valores mobiliários com um percentual de concentração de 36,81% e por último, estão os bancos com 14,37%. DISTRIBUIÇÃO DE CORRESPONDENTES CAMBIAIS POR SEGMENTO DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS 13 SEGMENTO NÚMERO DE CORRESPONDENTES CAMBIAIS PERCENTUAL DE CONCENTRAÇÃO CORRETORAS DE CÂMBIO 1.053 48,82% 13 De acordo com a lista de correspondentes habilitados para operar no mercado de câmbio, divulgado no site do Banco Central do Brasil até a data de 02/02/20015. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/?iamccca. 12
CCTVM / DTVM 794 36,81% BANCO 310 14,37% TOTAL 2.157 100,00% Em termos gráficos: CONCLUSÃO Um dos objetivos deste estudo foi verificar até que ponto a meta do Banco Central do Brasil em suprir toda a demanda por operações de câmbio do País foi atingida. Para tal, foram analisados dados fornecidos pelo Banco Central do Brasil, de modo a verificar o grau de concentração dos estados em sua região, além do grau de concentração de cada região do País. Diante destas premissas, pode-se chegar as seguintes conclusões: i) Existem regiões do País que carecem de uma rede de correspondentes cambiais para o atendimento de operações em câmbio, como é o caso da Região Norte e 13
da Região Centro Oeste, que possuem um grau de concentração no País de apenas 3% e 7 %, respectivamente; ii) A Região Sudeste responde hoje por mais da metade da concentração de correspondentes do País, com um grau de concentração de 62,91%, seguida pela Região Sul (17,15%), Região Nordeste (9,60%), Região Centro-Oeste (7,14%) e Região Norte (3,20%); iii) O Estado de São Paulo é o estado com o maior número de correspondentes cambiais do país com um total de 930 correspondentes cambiais, representando um grau de concentração de 68,53% da Região Sudeste; iv) O Estado do Tocantins é o estado com o menor número de correspondentes cambiais do País, com apenas 2 correspondentes cambiais, representando um grau de concentração de 2,90% da Região Norte. v) As sociedades corretoras de câmbio são responsáveis por quase metade dos correspondentes cambiais do País, com um grau de concentração de 48,82%, seguida das sociedades corretoras e de títulos e valores mobiliários (36,81%) e por bancos (14,37%); 14