Estado de excepción. (Giorgio Agamben) Adriana Hidalgo Editora, 2004, 176 págs.

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Transcrição:

Resenhas de Livros

831 Estado de excepción (Giorgio Agamben) Adriana Hidalgo Editora, 2004, 176 págs. Autor da resenha Henrique Figueiredo Carneiro Psicanalista. Professor Titular e Coordenador do Mestrado em Psicologia da Universidade de Fortaleza. End.: R. Aloysio Soriano Aderaldo, 150, apt. 202. Fortaleza, CE. CEP: 60191-260. E-mail: henrique@unifor.br Falar sobre Giorgio Agamben tornou-se uma referência obrigatória para qualquer pesquisador cujo tema de investigação cruze o umbral do homem natural e entre na esfera do subjetivo instaurado pela lei. Sujeito, lei e política, são, por excelência, espaços de subjetivação, que trazem indispensáveis ferramentas para pesquisas realizadas no campo das Ciências Humanas, Sociais Aplicadas e áreas por onde o autor transita com bastante propriedade. É dessa conjunção, formada por três mourões indissociáveis e tremenda-

832 Henrique Figueiredo Carneiro mente variáveis, que o sofrimento psíquico encontra respaldo para o desenvolvimento de uma produção de mal-estar na atualidade. Agamben, que desde 1986 tem assento no Collège Internacional de Philosophie de Paris, já é bastante conhecido por suas obras, com destaque para O homem sem conteúdo (1970), Estâncias: a palavra e o fantasma na cultura ocidental (1977), A linguagem e a morte (1982), Homo sacer (1995), O que resta de Auschwitz (1998), por analisar as imbricações do emaranhado mapa que guia a estas questões subjetivas. Começamos com Homo sacer, lançada em 1995, por tratar-se de uma obra maior. Projetada para quatro tomos, teve sua aparição com O poder soberano e a vida nua (Vol I). Continuou em 1998 com O que resta de Auschwitz. O arquivo e a testemunha (Vol III). Estado de exceção (Vol II), lançada em 2003, configura o início do segundo tomo, que aguarda seu complemento, para que, juntamente com o quarto, feche o projeto feito inicialmente pelo autor. Em que ponto baseamos a construção desta resenha sobre o Estado de exceção? Exatamente na seção em que a obra mais nos interessa, em função da contribuição que jorra sobre as pesquisas que realizamos sobre a violência, a culpa e o ato, em nome de suas causas e efeitos subjetivos. As implicações subjetivas, que tanto falamos hoje em dia, determinadas pela ausência de referências que sustentem o sujeito em um laço social, são apresentadas na obra nada menos como um estado de exceção. Mas o que excede? Aquilo que para nós psicanalistas aparece como um gozo que, de tanto fazer excesso, acaba por tomar o sujeito por uma exceção para o estado subjetivo que cada um opera desde uma política dos laços sociais. Para Agamben reside em um ponto fundamental toda a questão do iustitium, termo romano que se utiliza para apresentar o seu Estado de exceção. Iustitium interrupção, suspensão do direito é tomado na obra, entre outros aspectos, como uma contingência à Festa, luto e anomia, que figura no livro no quinto capítulo. Nele, ficam deflagrados os espaços de morte, angústia e a falta de representação do trauma do sujeito, através de uma pesquisa arqueológica sobre os discursos instituídos em torno da

Estado de excepción 833 passagem do termo iustitium de uma posição de estado de exceção para uma acepção de luto, com o advento da morte do imperador romano. O imperador, o soberano, porta a anomia. E essa é uma descoberta de grande relevância. Entretanto, uma anomia que marca diferença. Uma referência de exceção, tal e como trabalhamos em psicanálise com as formas de sexuação, em que para funcionar um limite é necessário que exista um Todo, a quem o sujeito faz referência como exceção e daí deduz sua constituição. Tanto é assim que, quando vamos buscar na história a importância da morte do imperador-deus, na antiguidade romana, a morte dele havia de ser religada, pois o corte que imprimia o desamparo ao cidadão era de grande monta, no sentido dos efeitos causados sobre o desatamento subjetivo. Não há como não se instituir um luto público em função da passagem do imperador-deus para um estado em que transubstancia o corpo humano em corpo divino. Nesta perspectiva, Agamben destaca que o soberano é uma lei vivente. E assim se monta a referência à lei genuinamente no espaço da anomia, dado que nos faz pensar muito, sobre a desamarração que detectamos hoje na lei instituída, em função do que se reconfigura um estado de exceção nos moldes do soberano, sobretudo, porque há uma falha na representação do nome-do-pai ou de quem o sustente, nos discursos vigentes. Com a suspensão da lei, firmada por quem faz uma exceção, as relações seguem em direção ao excesso, tal como se configuram as grandes festas anômicas, como os carnavais. O que chama atenção é que a suspensão de limites durante festas populares ocorrem com a aprovação da lei. Em outras palavras, a anomia carnavalesca não é sem objeto. Ela recebe uma autorização da lei instituída. Há uma autorização para o excesso. Significa dizer que, nesta situação, todas as metamorfoses estão sob a vigília da lei. Uma espécie de anomia relativa à lei. O que é bastante preocupante, ao tempo que significativo como uma contribuição aos desenlaces sociais hoje, é o que Agamben mostra no sexto capítulo Auctoritas e Potestas. Importante porque entra em cena uma discussão mais profunda sobre a figura da autoridade, sua constituição e des-

834 Henrique Figueiredo Carneiro vanecimento. Autoridade, termo que reclama a presença de um autor, não pode ser confundido na sua essência com ditadura. Enquanto autoria, é um conceito impessoal que joga um papel subjetivo importante na estruturação de uma autorização paterna a um ato filial. A ditadura entra exatamente pela via excessiva do personalismo. É, sem sombra de dúvidas, uma linha tênue que separa este espaço de direito e que traz consequências gigantescas para a esfera subjetiva. Esta questão é tomada por Agamben anteriormente, no capítulo específico em que trata o Iustitium terceiro capítulo. Explica que o Iustitium, como suspensão da ordem jurídica, não suporta, na Constituição romana, uma interpretação que se confunda com a ditadura. E isso abre uma perspectiva instigante para se pensar a nova forma de totalitarismo na modernidade. Um totalitarismo não ditatorial. O que subsiste aqui é a interrupção do direito. O que podemos chamar de um totalitarismo promovido por uma interferência subjetiva na formação de laços deflagrados em função do anômico. Nesse sentido, o que se efetiva durante este estado de interrupção do direito fica questionado enquanto sua validade. Enfim, como sustentar um mandato sem o aparato jurídico suspenso pela exceção? É oque se questiona Agamben, para em seguida responder, após algumas análises sobre a presença/ausência da lei, que quem atua durante a suspensão da lei, não executa nem transdgride, senão que inexecuta o direito (pg. 99). E isso é a anomia, isto é, atos tomados como mero fatos, cuja natureza foge ao âmbito do direito. As consequências dos atos executados durante um estado de anomia é que carecem de sentido quando se tenta associá-los ao direito. Agamben aclara mais ainda que, nestas circunstâncias, não se confunde estado de necessidade ao estado de direito. A necessidade se dá em uma situação esvaziada de direito. Portanto, a anomia é uma espécie de não-lugar. Como tal, uma afirmativa pela negativa que conhecemos como o verdadeiro status do objeto na deflagração da angústia, conforme nos fala Lacan no Seminário da Angústia, quando trata que este afeto não é desprovido de objeto. E isso é importante para a psicanálise, pois nesse sentido o objeto da angústia é anômico, no sentido mais estrito que o termo suporta.

Estado de excepción 835 Para o desenvolvimento de uma lógica da violência enquanto ato, vamos encontrar elementos de suma importância no capítulo quarto, quando Agamben estabelece um diálogo entre a leitura de Walter Benjamin sobre a violência e o debate realizado sobre ela com Carl Schmitt em função do estado exceção. Parte do termo alemão Gewalt, que admite o duplo sentido entre as palavras violência e poder, para chegar à questão central: haveria uma violência pura, anômica ou a violência poderia ser situada dentro de um contexto jurídico? É esta questão que se coloca entre Benjamin e Schmitt. A tese de Schmitt é de que não haveria uma ação no estado de exceção que não tivesse situada pela exclusão dentro do estado de direito. Portanto, não se sustentaria a tese de Benjamin com respeito a uma violência pura. A discussão evolui e Schmitt trabalha com a teoria da soberania, como um lugar de decisão extrema e, sobretudo, para indicar que não há violência pura. Esta tese, Benjamin responde com a questão da soberania barroca, em que o estado de exceção se instala para fazer frente ao termo decisão. O soberano exclui ao invés de decidir. No final, com a instalação da ditadura nazista, Schmitt é levado a reconhecer a primazia da exceção. Com isso fica afetada a decisão e se instala uma confusão entre regra e exceção. Por fim, triunfa a tese de um estado de exceção, uma anomia em que a força de lei abandona toda relação com o direito. Fica a referência, enfim, de uma violência anômica e por fora da lei, isto é, sustentada por um estado de exceção. É aqui onde repousa a noção de violência pura, não como uma referência ingênua de uma violência pela violência, senão que, neste ponto, se insere a importância da linguagem. Violência pura é aquela que se dá por fora da linguagem, por fora da lei, como marca diferencial do humano. É quando a violência fica tomada, não pelos fins que a justificam, e sim como um meio sem fim. Um a exceção que só pode ser tomada pelo esvaziamento do sentido. É assim que se pode compreender a violência, a partir do que está desenvolvido no capítulo segundo, quando Agamben define o Estado de Exceção como um espaço anômico em que se põe jogo uma força-de-lei sem lei (p. 81). É quando sobrepõe sobre a palavra lei um X, propondo uma grafia do tipo força-de-lei.

836 Henrique Figueiredo Carneiro Neste capítulo, vai tomar a idéia de que o Estado de exceção é uma travessia do homem pelo umbral de uma indeterminação formada entre lógica e práxis, dando passagem também a uma pura violência, sem logos e sem um referente que sustente esta ação. Este é o Estado de Exceção como paradigma de governo que está proposto na introdução da obra e desenvolvido através dos aspectos que demarcamos como importantes para pensar o lugar da violência e os laços sociais na contemporaneidade. Uma obra indispensável. Recebido em 9 de julho de 2008 Aceito em 29 de agosto de 2008 Revisado em 9 de setembro de 2008