Praça do Município, n.º Arraiolos T

Documentos relacionados
Introdução. à do Azulejo em Portugal. João Pedro Monteiro. 3 de Março de 2009

catálogo tapetes Catalogue rugs Catalogue tapis

26/1 a 9/11 As Relações entre Portugal e os Estados Unidos da América Séculos XVIII XX (Ciclo de Conferências 2018, no Museu Bernardino Machado)

PROJECTO DE LEI N.º 444/VIII ASSEGURA A DEFESA E VALORIZAÇÃO DO TAPETE DE ARRAIOLOS. Exposição de motivos

Identificação do Monumento: Casa do Corpo Santo

O Tapete. está na Rua a 17 de junho

PROGRAMA OUTUBRO 2017 Hotel do Parque, Bom Jesus - Braga. 12 OUTUBRO, Quinta-feira

Joana Cirne Marília Henriques

A RIBEIRA DE SINES DE 1601 A Obras portuárias e actividades económicas

Data de Nascimento: Nacionalidade: Portuguesa Bilhete de Identidade:

António Furtado Gráfica Eborense Évora ,5 x 19 cm 12 p. 4. Lda Lisboa x 19,5 cm 183 p. 10 sua História: Vol. 1

Curriculum Vitae. 2012, desde sócio n.º 342 da Associação Portuguesa de História Económica e Social (APHES).

FOLHA INFORMATIVA Nº

885 DANTE, escultura em bronze de arte, Itália, séc. XIX Dim cm

O Património Têxtil do Centro de Documentação/Arquivo Histórico do Museu de Lanifícios da UBI. Helena Correia

Vila Viçosa oferece a quem a visita um espólio de cultura, arte e beleza com os seus monumentos, solares, igrejas e museus. Nos Roteiros Turísticos

Estrutura da Apresentação

PROJECTO DE LEI N.º 374/VIII ELEVAÇÃO DA VILA DE AGUALVA-CACÉM A CIDADE. Exposição de motivos

PENA PARQUE E PALÁCIO

"Porquanto nas imagens das moedas e suas inscrições se conserva a memória dos tempos mais que em nenhum outro monumento"

1110 LUSTRE COM BRAÇOS EM METAL DOURADO E PINGENTES EM CRISTAL COM DOZE LUMES, séc. XIX, electrificado, faltas e defeitos Dim.

D E C O N F E R Ê N C I A S / C O N V E R S A S COM ARTE E COM ALMA. Serões com o nosso Património

Luís Carlos Monteiro 2018

TOCHEIRO, madeira entalhada e dourada, português, séc. XVIII/XIX, faltas Dim cm

SANTA MADALENA, escultura em terracota policromada, portuguesa, séc. XVIII, faltas e defeitos Dim cm

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA C/H 170 (1388/I)

O primeiro valor indicado em euros corresponde à reserva contratada com o proprietário cabral moncada leilões Q página 117

414 ALFREDO ROQUE GAMEIRO , "Cacho de uvas", aguarela sobre papel, assinada e datada no verso de 1899 Dim x 28 cm

A R Q U I V O H I S T Ó R I C O M U N I C I P A L D E C O I M B R A

CONVENTO DE SÃO BENTO DE ARCOS DE VALDEVEZ

169 PAPELEIRA D. MARIA, vinhático, interior com escaninhos, portuguesa, séc. XVIII, pequenos defeitos Dim x 113 x 55 cm

CURSO DE HISTÓRIA UNEB/CAMPUS VI (Caetité-BA) EMENTÁRIO

ROTA DAS IGREJAS DO CONCELHO DE PENICHE

BIBLIOTECA PÚBLICA DE ÉVORA UMA BIBLIOTECA NACIONAL COM IDENTIDADE LOCAL. Zélia Parreira, 2017

CONVENTO DE SANTO ANTÓNIO DE PONTE DE LIMA

ATIVIDADES FORMATIVAS 2 PARTE IV CLASSIFICAÇÃO DECIMAL UNIVERSAL

IDADE MÉDIA POESIA TROVADORESCA CONTEXTUALIZAÇÃO

4253 CULTURA AFRO-BRASILEIRA V U C. Sociais quarta-feira MARKETING ELEITORAL V U C. Sociais segunda-feira 11

ANAIS DAS BIBLIOTECAS E ARQUIVOS DE PORTUGAL, LISBOA, BIBLIOTECA NACIONAL

328 PAR DE CADEIRAS, mogno com pinturas, assentos de palhinha, portuguesas, séc. XVIII/XIX, pequenas faltas e defeitos Dim x 46 x 47 cm

Marcas e certificação

Fig. 1 - Portal e ajimeces da sala capitular da Colegiada de Nossa Senhora de Guimarães

HISTÓRIA E GEOGRAFIA DE PORTUGAL

Data: Tipologia do monumento: Arquitectura religiosa

210 n. 210 s. porcelana da China, decoração a azul dita de Cantão, reinado Jiaqing, séc. XVIII/XIX Dim cm

O primeiro valor indicado em euros corresponde à reserva contratada com o proprietário cabral moncada leilões Q página 117

116 JOSÉ CONTENTE "Trecho de vila", óleo sobre tela colada em cartão, assinado e datado de 1938 Dim x 21 cm

Cabral Moncada Leilões Q Página 103

97 EMMÉRICO NUNES "Paisagem com casario", óleo sobre cartão, assinado, pequenas faltas na tinta Dim x 22 cm

Introdução. A Queda da Monarquia a revolta de 31 de Janeiro de 1891 no Porto. (A primeira tentativa)

Catálogo. Série de Livros de Sumários da Licenciatura de História - Variante de Arte

BAIXO ALENTEJO. Fernando Nieto Muriel (2B1C) Natalia Rodríguez González (2B1C) Alejandro Moriñigo Vicente (2B3S)

ESCOLA SECUNDÁRIA DO MONTE DA CAPARICA Curso de Educação e Formação de Adultos NS

TESOUROS DA JOALHARIA EM PORTUGAL E NO BRASIL

Bordado de Tibaldinho no Museu Nacional do Traje

MOSTRA GASTRONÓMICA 07

D. João VI e o Real Paço de Mafra A campanha pictórica de Cirilo Volkmar Machado 1. Oratório Sul ou Capela de Nossa Senhora do Livramento

AGRADECIMENTOS 17 PREFÁCIO 21. INTRODUçAo 33 I PARTE - GEOGRAFIA E HISTÓRIA CIVIL 37. Geografia 39 História Civil ~ 43

420 ALBUQUERQUE MENDES - NASC. 1953, FIGURA DE NEGRO E PAISAGEM, técnica mista sobre papel, assinado e datado de 1988 Dim x 29 cm

Inventariação. Monitorização ambiental Tratamento preventivo Conservação e restauro

Capa: obra de Daniel Senise (Sem titulo) Um tesouro. da Nossa. Biblioteca. Nº21 fevereiro 2018 BMPS

PAISAGISMO. Antonio Castelnou

HISTÓRIA E GEOGRAFIA DE PORTUGAL - 6º Ano PLANIFICAÇÃO ANUAL º PERÍODO: 13 semanas (+/- 26 tempos)

A consolidação das monarquias na Europa moderna

FUNDAÇÃO MANUEL CARGALEIRO. Relatório de Atividades 2011

1. ZIMBOS Angola Ilha de Luanda Nácar

Tabela 25 Matriz Curricular do Curso de História - Licenciatura

Da cidade sacra à cidade laica. A extinção das ordens religiosas e as dinâmicas de transformação urbana na Lisboa do século XIX

130 JÚLIO POMAR - NASC "Ceifador com gadanha", aguarela sobre papel, assinada e datada de 27 de Janeiro de 1951 Dim x 21 cm

> Serviço Educativo. Atividades Visitas Oficinas

Sistema Nacional de Qualificação e Certificação de Produções Artesanais Tradicionais. Decreto-Lei nº 121/2015, de 30 de junho

ROTA DAS IGREJAS DE PENICHE. 5ª Temporada. Promoção e Valorização do Património Histórico Religioso. 15 de Julho 14 de Outubro de 2013

DEPARTAMENTO CURRICULAR DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS. PLANO CURRICULAR DA DISCIPLINA DE HISTÓRIA E DE GEOGRAFIA DE PORTUGAL 5º Ano

UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS

A MÚSICA NA SÉ DE CASTELO BRANCO APONTAMENTO HISTÓRICO E CATÁLOGO DOS FUNDOS MUSICAIS

O primeiro valor indicado em euros corresponde à reserva contratada com o proprietário cabral moncada leilões Q página 47

Módulo 3-3. A produção cultural A arte em Portugal: o gótico-manuelino e a afirmação das novas tendências renascentistas

ROTA DAS IGREJAS DO CONCELHO DE PENICHE. Promoção e Valorização do

A CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA

Rede de Museus e Equipamentos Culturais de Évora. Comemorações do Dia Mundial do Turismo 23 de setembro de Évora

A Direção Municipal de Cultura dispõe de um conjunto de exposições e de apresentações multimédia, sobre diversos temas, que poderá disponibilizar

1ª Exposição dos Artesãos de Real

ORIENTE MÉDIO: SUA IMPORTÂNCIA GEOESTRATÉGICA

Ano letivo 2016/2017 ARQUIVO MUNICIPAL DE PONTE DE LIMA

CONSOLIDAÇÃO DAS MONARQUIAS NA EUROPA MODERNA

BARROCO BRASIL. Disciplina: História da Arte PROFª:DANIELLI P.

NOTA DE AGENDA. Inauguração da FIA Lisboa com a presença do ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social

:: EXPOSIÇÕES TEMPORÁRIAS

ARQUITECTURA EXERCÍCIO 2. Uma Forma Um Contexto: Construir um Mapa de Análise Arquitectónica

PAR DE TAÇAS DE PÉ, cristal, decoração gravada, Europa, séc. XIX Dim x 22 cm

Informação aos Pais / Encarregados de Educação Programação do 5º Ano. Turmas 5º1 5º2 5º3. 1º Período 38 aulas 38 aulas 38 aulas

732 "PAISAGEM COM PATOS, AVES E LAGO" óleo sobre tela, escola inglesa, séc. XIX, restauros Dim x 200 cm

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular HISTÓRIA DA ARQUITECTURA PORTUGUESA MODERNA CONTEMPORÂNEA. Ano Lectivo 2013/2014

Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Industrial no Portugal Oitocentista O Caso dos Lanifícios do Alentejo

ROTA DAS IGREJAS DO CONCELHO DE PENICHE. Promoção e Valorização do Património Histórico-Religioso

Cabral Moncada Leilões. LEILÃO DE PINTURA, ANTIGUIDADES, OBRAS DE ARTE, MOEDAS, PRATAS E JÓIAS LEILÃO 95 SESSÃO ÚNICA 31 de Março de 2008

HISTÓRIA. aula Imperialismo e Neocolonialismo no século XIX

Adam Smith: Uma investigação sobre a natureza e causas da riqueza das nações. Uma investigação sobre sua natureza e causas

REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONAL Gabinete do Presidente NOTA INFORMATIVA

Transcrição:

Praça do Município, n.º 19 7040-027 Arraiolos T 266 490 240 c.i.tapete@cm-arraiolos.pt Tapete de Arraiolos Cópia do Séc. XVlll Fundação Ricardo Espírito Santo Silva C.M.A fotografia António Cunha

Textos de Manuel Borralho e Carla Barroseiro

tapete de Arraiolos é, no contexto nacional, uma das representações culturais, artesanais de maior valor patrimonial. Arte antiga que o saber e o saber fazer das Gentes Alentejanas que, na vila de Arraiolos, souberam criar, primitivamente influenciada pela presença de outras Gentes, outras Culturas, depressa assumiu identidade própria. Durante mais de 4 séculos, de que temos memória, transformou-se e reinventou-se. Foi durante décadas símbolo do poder civil e religioso (séc. XVI, XVII, XVIII e XIX) a atestá-lo os inventários de Nobres, de Igrejas e Conventos. Exemplares que, hoje, são todo um espólio de valor reconhecido integrados e salvaguardados em museus e coleções particulares, nacionais e estrangeiras. A criação do Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos tem dupla função de salvaguardar, dar a conhecer e divulgar todo um conjunto de conhecimentos atualmente, caídos no esquecimento. Reposição do Historial, Origens, Métodos e Técnicas do tapete antigo. Influências marcantes a que ao longo dos séculos vem sendo exposto. Tapete de Arraiolos Antiga Fábrica Kalifa 1.º quartel do Séc. XX C.M.A fotografia António Cunha Novas Perspetivas Novas Medidas Novos Desenhos Assim, o Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos, para além de um espaço museológico canalizado para dar a conhecer o tapete a diferentes grupos etários, funcionará simultaneamente como um espaço de investigação e estudo. Câmara Municipal de Arraiolos

Tapete de Arraiolos Cópia do Séc. XlX Fundação Ricardo Espírito Santo Silva C.M.A fotografia António Cunha Com a produção de Arraiolos no período áureo da sua indústria a partir do segundo quartel do séc. XVIII assistimos a um afastamento gradual da influência oriental, embora se mantendo, não constitui, como até então, a principal fonte de inspiração dos motivos decorativos. A partir desta altura a decoração dos tapetes de Arraiolos começa a apresentar motivos orientais muitas vezes estilizados e misturados com motivos de cariz popular, resultado da produção caseira arraiolense e da interpretação das bordadeiras locais. A partir da segunda metade do séc. XVIII os motivos orientais desaparecem quase por completo dando lugar aos motivos dos estampados em voga na época e às decorações inocentes das bordadeiras locais. Juntamente com as mudanças dos padrões e desenhos, também as cores começaram a ser mais pobres, o linho nas telas é substituído pela grossaria ou canhamaço, e o ponto já não era tão pequeno e minucioso. Quando se chega à segunda metade do séc XIX o tapete de Arraiolos encontra-se a atravessar um período de crise. As tapeteiras eram cada vez menos e a produção era quase inexistente. Neste período, a escassez de meios levou à execução de exemplares em cores naturais, lã não tingida: brancos, castanhos e surrobecos. Com o início do séc. XX, dá-se o ressurgimento dos Tapetes de Arraiolos um grupo de senhoras da terra, recriaram exemplares com base em modelos, que em épocas e tempos diferentes, foram referência obrigatória dos Tapetes de Arraiolos, dando início a uma nova época.

om o decreto de lei de expulsão das minorias muçulmana e judaica, em 1496 (logo no inicio no reinado de D. Manuel I) e o encerramento das oficinas da comuna muçulmana de Lisboa, crê-se que esses mesmos mouros e judeus teriam migrado para Sul do território, historicamente mais tolerante a nível religioso, e se teriam fixado em Arraiolos e aí iniciado a produção de tapetes. Os exemplares executados em grande parte do séc. XVII, apresentam motivos decorativos contornados a ponto pé-deflor, sendo que os primeiros eram influenciados pelos desenhos dos tapetes de nós, Turcos e, principalmente Persas, igualmente difundidos em Portugal pelos tapetes de nós Espanhóis e Indianos, respetivamente, que chegavam a território nacional, consequentemente, o ponto nessa altura não corria todo na mesma direção. Os tapetes do século XVII que chegaram aos nossos dias têm desenhos eruditos, influenciados ou copiados por desenhos de tapetes orientais e, por isso, certamente concebidos por pessoas que de alguma forma eram conhecedores dos tapetes de nós realizados na Ásia. Se até ao séc. XVII os inventários mostram que nas casas portuguesas da época abundavam os tapetes orientais, a partir e sobretudo do séc. XVIII as referências a tapetes da terra, tapetes do Alentejo ou até mesmo tapetes de Arraiolos, são cada vez mais frequentes. No primeiro quartel do séc. XVIII os tapetes de Arraiolos panteavam e harmonizavam motivos orientais dispersos com motivos de lavor popular. tapete, expressão cultural elaborada, reflexo de poder e de abastança, torna-se, nas diferentes culturas de que é representação, elemento importante da vida social, política e religiosa. Tapetes de Arraiolos, são tapetes, com referências documentais que atestam o seu fabrico nesta vila alentejana já no século XVI. São bordados a lã (merina) sobre tela (linho, estopa de linho, canhamaço, brim ou grossaria), feitos a ponto cruzado oblíquo, também conhecido como trança eslava, através do processo de fios contados de modo a atapetar o fundo do campo e da barra. No inventário dos bens pessoais ordenado pelo juiz dos órfãos à morte dos respetivos proprietários, já, em 1598, surge a primeira referência a um tapete feito nesta vila: hum tapete da tera novo avalliado em dous mil Reis Muitos são os documentos que no mesmo inventário, entre 1598 e 1700, referem a existência de bordadeiras, do fabrico do tapete, assim como da existência de artesãos cardadores, pisoeiros, tintureiros e tecelões que se dedicavam ao tratamento das lãs e execução de telas. A decoração dos mais antigos tapetes de Arraiolos que se conhecem (séc. XVII) tem nítida influência nos tapetes clássicos da Pérsia e Turquia, a atestá-lo a evidência dos motivos decorativos e a organização decorativa dos tapetes mais antigos.

Tapete de Arraiolos Cópia do Séc. XVlll Fundação Ricardo Espírito Santo Silva C.M.A fotografia António Cunha