Fl. 1 27 a VARA DO TRABALHO DE PORTO ALEGRE PROCESSO Nº 0001015-67.2012.5.04.0027 RECLAMANTE: SINDICATO DOS SERVIDORES E EMPREGADOS DOS CONSELHOS E ORDENS DE FISCALIZAÇÃO DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL SINSERCON/RS RECLAMADA: CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA E AGRONOMIA DO RIO GRANDE DO SUL CREA/RS Vistos etc. O Sindicato dos Servidores e Empregados dos Conselhos e Ordens de Fiscalização do Exercício Profissional Sinsercon/RS ajuíza ação, em 08/08/2012, contra o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul CREA/RS, postulando seja mantido ou restabelecido o convênio médico ofertado pela reclamada aos seus empregados, dependentes e inativos afastados do trabalho em decorrência de plano de demissão incentivada PDI, pretensão veiculada inclusive em sede de antecipação de tutela. Postula a concessão do benefício da Assistência Judiciária. Atribui à causa o valor de R$ 25.000,00. A reclamada contesta, conforme razões de fls. 281-288, afirmando que a suspensão de repasse dos valores do convênio decorreu de recomendação em auditoria interna realizada pelo CONFEA Conselho Federal de Engenharia e Agronomia, sob pena de responsabilização pessoal do gestor da entidade, o que foi acatado. Conforme decisão de fl. 329, é deferida a antecipação dos efeitos da tutela, sendo determinado que a demandada restabelecesse o conveio médico prestados pela UNIMED aos seus empregados, dependentes e inativos que aderiram ao PDI, informando a reclamada à fl. 334 o atendimento da medida. É produzida prova documental. As razões-finais são remissivas pelas partes. As propostas conciliatórias oportunamente formuladas restaram inexitosas. É o relatório. Decido. 1. DA MANUTENÇÃO DO BENEFÍCIO DE PLANO MÉDICO. Afirma o sindicato-autor que desde 1986 os empregados da reclamada são beneficiários de serviços médicos, ambulatoriais e hospitalares prestados pela UNIMED
Fl. 2 Porto Alegre, arcando a reclamada com 80% do custeio do plano dos seus empregados e com 70% do custeio do plano dos seus dependentes. Refere que, por força do plano de demissão incentivada instituído em 14/07/2011, o benefício médico foi estendido para os empregados que assim passaram à inatividade. Diz que tal benefício, até junho de 2006, foi concedido por liberalidade da empresa, passando, a contar de 30/06/2006, a fazer parte integrante do rol de benefícios garantidos aos empregados por força de norma coletiva, conforme Acordos Coletivos 2006/2007, 2007/2009, 2009/2010 e 2010/2011, este último com vigência de 01/05/2010 a 30/04/2011. Diz que após o término da vigência da norma, a reclamada permaneceu cumprindo com as obrigações previstas em norma coletiva, até que em 16/07/2012 foi informado à Associação dos Funcionários do CREA/RS que a partir do mês de agosto de 2012 não seriam mais repassados os valores destinados ao convênio firmado com a UNIMED. Sustenta que o benefício, que permaneceu sendo alcançado por liberalidade do empregador, integra o patrimônio jurídico dos substituídos, pelo que postula o restabelecimento do plano de saúde sempre prestado pela UNIMED, nos mesmos moldes antes praticados quanto ao seu custeio, para os empregados da reclamada e seus dependentes, bem como para os inativos vinculados ao PDI da demandada. A reclamada contesta, ressaltando a sua natureza autárquica, sendo fiscalizada pelo Tribunal de Contas da União TCU. Aduz que o TCU, mediante convênio, conferiu ao Conselho Federal de Engenharia e Agronomia - CONFEA a tarefa de realizar auditorias internas nos Conselhos Regionais. Frente a tais fatos, diz que a denúncia do convênio ocorreu para atendimento às recomendações do CONFEA, sob pena de responsabilidade do seu gestor. Postula a improcedência da demanda. Analiso. Dos documentos trazidos aos autos com a inicial, se infere que desde o ano de 1986 o plano de saúde era conferido aos empregados da reclamada e seus dependentes através de convênios firmados com a Associação dos Funcionários do CREA/RS, mediante repasse de valores à citada Associação, a qual, em nome próprio, mantinha contrato de prestação de serviços médicos com a UNIMED (instrumento de fls. 79-111). Os citados convênios (juntados às fls. 112-154) eram renovados com periodicidade quase que anual, nos mesmos moldes, com a previsão de repasse de valores pelo CREA/RS à citada Associação para subvenção de parte do valor do convênio médico contratado. A contar de 01/05/2006, conforme informado na petição inicial, a reclamada passou a comprometer-se em Acordo Coletivo de Trabalho a manter o
Fl. 3 convênio firmado com a Associação dos Funcionários do CREA/RS, que contemplasse a contratação de serviços médicos, ambulatoriais e hospitalares, em regime de coparticipação, em moldes idênticos aos verificados nos convênios anteriormente citados (cláusula 28ª da CCT 2006/2007), previsão mantida nos ACT 2008/2009 e 2009/2010. No Acordo Coletivo de Trabalho 2010/2011, vigente de 01/05/2010 a 30/04/2011, em sua cláusula 33ª, a reclamada comprometeu-se a contratar empresa de serviços médicos, ambulatoriais e hospitalares, também no mesmo regime de co-participação verificado desde a instituição do plano médico, no ano de 1986. Com o término da vigência do citado Acordo Coletivo, a reclamada permaneceu repassando os valores devidos a título de custeio do plano médico à Associação dos Funcionários do CREA/RS, o que ocorreu até o mês de agosto de 2012, quando a demandada informou à Associação, através do Ofício nº 268/2012 PRES, que não mais efetuaria o repasse dos valores decorrentes do convênio mantido com a Associação no que pertine ao plano de saúde UNIMED. A justificativa da demandada pauta-se em recomendações efetuadas pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia CONFEA em processo de auditoria interna, a exemplo do que indica o documento de fl. 316, consistindo a recomendação em, verbis, Denunciar o convênio assinado com a Associação dos Funcionários do CREA AFCREA, observando o que prescreve o inciso XXI do Art. 37 da Constituição Federal, o inciso I do Art. 1º do Decreto nº 99.509/90, e o entendimento do Tribunal de Contas da União, contido no Acórdão nº 1.386/2005 Plenário, iniciando processo licitatório a fim de contratar esse serviço, em detrimento do término do atual convênio. No mesmo documento, se infere a resposta da demandada, no sentido de que, em pesquisa realizada, os preços praticados estariam 60% menores do que os que seriam devidos em uma nova contratação, mas que o CREA/RS licitaria no próximo exercício, resguardando o interesse público. Por todo o exposto, entendo procedente a pretensão da inicial. O benefício de plano de serviços médicos, ambulatoriais e hospitalares é direito instituído pela reclamada desde o ano de 1986, concedido por intermédio de convênio estabelecido com a Associação de Funcionários do CREA, à qual repassados os respectivos valores, tratando-se de direito fornecido por força do contrato de trabalho, a empregados e dependentes, direito que, nessa condição, integra o pacto laboral. Mesmo no período em que vigentes os Acordos Coletivos da categoria, o pactuado dizia respeito somente à observância dos convênios firmados com a citada Associação, não sendo a fonte do direito as normas coletivas propriamente ditas. Tanto é assim que após o término da
Fl. 4 vigência dos Acordos Coletivos os repasses à Associação continuaram a ser realizados, por força do convênio estabelecido. O direito, portanto, encontra-se protegido contra supressão, nos moldes do art. 468 da CLT, o que viria em prejuízo de uma gama de empregados e seus dependentes, sem falar nos inativos a quem estendido o benefício por força do plano de demissão incentivada PDI, conforme critérios estabelecidos no documento de fls. 74-77. É evidente que as recomendações do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia CONFEA, órgão conveniado do TCU para controle externo, devem ser respeitadas, o que aponta a reclamada estar atendendo, mediante a licitação de plano de saúde, ao que tudo indica não mais através da Associação de Funcionários (o que contrariaria, segundo auditoria do CONFEA, o Decreto nº 99.509/90). O que não se cogita é a alteração contratual lesiva aos empregados da reclamada e demais substituídos. Portanto, confirmando os efeitos da tutela antecipada concedida, dou parcial provimento à ação, para determinar a manutenção do plano de atendimento médico, ambulatorial e hospitalar mantido através da Associação de Funcionários do CREA, nos mesmos moldes pactuados através dos convênios firmados com a referida Associação, a todos os substituídos nesta ação, na qualidade de empregados, dependentes e aderentes ao plano de demissões incentivadas (observadas, quanto a estes, as regras próprias do PDI), mas somente até que a reclamada proceda à licitação de semelhante benefício, sem interrupção da sua concessão aos substituídos. 2. DA JUSTIÇA GRATUITA E DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Demandando o sindicato em nome próprio direito alheio e havendo declaração de insuficiência econômica em nome dos substituídos nos autos (fl. 50), defiro à parte autora o benefício da gratuidade judiciária, com fulcro no art. 790, 3º, da CLT. Outrossim, nos moldes da Súmula nº 219, III, do C. TST, em tais circunstâncias são devidos honorários advocatícios ao sindicato-autor, os quais arbitro, na forma do art. 20, 4º, do CPC, por razoável, em R$ 1.000,00. ANTE O EXPOSTO, decido, na forma da fundamentação acima, julgar PARCIALMENTE PROCEDENTE a ação movida pelo SINDICATO DOS SERVIDORES E EMPREGADOS DOS CONSELHOS E ORDENS DE FISCALIZAÇÃO DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL SINSERCON/RS contra CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA E AGRONOMIA DO CREA/RS, para, confirmando os efeitos da tutela
Fl. 5 antecipada concedida, condenar a reclamada à manutenção do plano de atendimento médico, ambulatorial e hospitalar mantido através da Associação de Funcionários do CREA, nos mesmos moldes pactuados através dos convênios firmados com a referida Associação, a todos os substituídos nesta ação, na qualidade de empregados, dependentes e aderentes ao plano de demissões incentivadas (observadas, quanto a estes, as regras próprias do PDI), mas somente até que a reclamada proceda à licitação de semelhante benefício, sem interrupção da sua concessão aos substituídos. Custas pela reclamada, no valor de R$ 20,00, sobre o valor atribuído à condenação, de R$ 1.000,00, na forma do art. 789, IV, do CPC. Condeno a reclamada ao pagamento de honorários advocatícios ao sindicato-autor, no valor de R$ 1.000,00. Concedo à parte autora o benefício da Justiça Gratuita. Publique-se. Intimem-se as partes. Cumpra-se após o trânsito em julgado. Nada mais. Mariana Roehe Flores Arancibia Juíza do Trabalho Substituta