1 Ordem Mundial Prof. Rodrigo Carvalho Lucas de Freitas N o início do século XXI é possível perceber uma série de mudanças na política e economia mundiais que só podem ser compreendidas se estudadas as relações de poder entre os Estados. A Ordem mundial representa exatamente essa divisão e distribuição de poderes no mundo. Em geral, elencam-se dois períodos importantes: a Velha Ordem Mundial, que se estende do pós II Guerra ao fim da década de 1980, e a Nova Ordem Mundial, iniciada na década de 1990. Passaremos agora à analise dos dois momentos. Velha Ordem Mundial A velha ordem mundial tem início com o fim da II Guerra Mundial e a emergência de duas novas potências: Estados Unidos (EUA) - capitalista e União Soviética (URSS) socialista. A partir daquele momento o mundo passa a ser BIPOLARIZADO, ou seja, dividido em duas grandes áreas de influência e domínio ora da potência capitalista, ora da potência socialista. Vigorava, pois, uma divisão ideológica muito clara entre o oeste (capitalista) x leste (socialista), que na Europa, onde tal contexto era mais evidente, deu origem à cortina de ferro (linha imaginária que separava a Europa capitalista da Europa socialista), (conf. Figura abaixo)
2 A maior concretização da referida divisão era o muro de Berlim, construído para separar a Alemanha Ocidental (capitalista e sob forte domínio estadunidense) e Alemanha Oriental (socialista e sob influência soviética). Além disso, foram criadas organizações cujo antagonismo era muito claro tanto nos âmbitos militar e econômico. Os capitalistas criaram a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para reforçar a defesa contra possíveis ataques socialistas. Em contrapartida, os socialistas criaram o Pacto de Varsóvia, organização militar de defesa contra ataques capitalistas. No âmbito econômico a dicotomia se manifestava pela oposição existente entre o Mercado Comum Europeu (hoje União Europeia) e o COMECON, ambas organizações de integração econômica. Os referidos antagonismos acabaram por gerar a Guerra Fria, um conflito ideológico entre as duas potencias que, apesar de não gerar confronto direto, intensificou as corridas armamentista (nuclear) e espacial. Era uma guerra de ameaças que não se concretizava pelo grande potencial bélico dos dois lados envolvidos. Entretanto, é bom ressaltar que durante a velha ordem mundial ocorreram alguns conflitos entre capitalistas e socialistas como a Guerra do Vietnã (1960 1973). No referido período um país era considerado potência se possuísse um arsenal bélico considerável. Ou seja, quanto mais armas, mais poder, mais influência. A velha ordem perdurou até o fim da década de 1990, quando o socialismo real começou a ruir. A queda do muro de Berlim (1989) e o desfacelamento da URSS colocaram fim ao período de bipolarização mundial e iniciou uma nova ordem. Nova Ordem Mundial Com o fim da velha ordem o mundo passa a ser multipolarizado, ou seja, ter várias áreas de influência política e econômica. Isso ocorre porque a barreira que antes dificultava as relações entre Estados capitalistas e socialistas praticamente se dissolveram. Países antes socialistas fizeram a transição (nem sempre tranquila) para o capitalismo, passaram a participar de organismos supranacionais antes frequentados apenas por Estados capitalistas. Como exemplo dessas transformações tem-se os países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) que após o fim do socialismo no leste europeu fizeram a transição para o capitalismo e entraram para a União Europeia e para a OTAN (em 2004). O mundo passa a ser dividido em norte (países ricos e industrializados) e sul (países periféricos), como demonstra a figura abaixo.
As desigualdades econômicas ficam mais visíveis e intensas. Há uma tendência de maior concentração de renda nas mãos de grandes grupos industriais que ampliam sua atuação diante do fim de barreiras econômicas e políticas antes existentes. A medida de poder deixa de ser o potencial bélico e passa a ser o potencial econômico. Com isso, nações antes sem expressão, passam a protagonizar as relações políticas e econômicas mundiais. É o caso do Japão que, proibido de se armar no período pós-ii guerra, durante a década de 1980 não tinha a mesma influência que passou a ter a partir da década de 1990. O fim do socialismo real na Europa e seu consequente enfraquecimento no resto do mundo, facilitou a intensificação do processo de globalização, principalmente após a III Revolução Industrial (Revolução técno-científico-informacional). Diante da maior facilidade de integração, as distâncias no mundo diminuíram, havendo um aniquilamento do espaço pelo tempo, como mostra a figura abaixo. 3
4 Diante de todas as mudanças, o capitalismo passou por um crescimento rápido na última década do século XX, o que reforçou a posição dos Estados Unidos como a grande potência mundial. Tanto que alguns analistas políticos falam em uma espécie de Monopolarização Multifacetada, ou seja, uma hegemonia do capitalismo e dos EUA sobre os demais Estados, mas com áreas de influência regionais (impulsionadas pelos blocos econômicos regionais). Tal cenário vem se reforçando nos últimos anos, até a crise econômica que atingiu os EUA e afetou o mundo em 2008. Fala-se até em uma NOVÍSSIMA ORDEM MUNDIAL. Novíssima Ordem Mundial? Em 2008 o mundo foi abalroado com a notícia da quebra de um dos maiores bancos de investimento dos EUA, o Lehman Brothers. Fato que marcou o início de uma crise mundial que trouxe inevitáveis lembranças da grande depressão causada pela quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929. Apesar de o auge da crise ter ocorrido em setembro de 2008, as suas causas são bem anteriores. Fazendo um breve histórico de acontecimentos (dos anos 2000 em diante) pode-se destacar: 1) ataque às torres gêmeas (setembro de 2001); 2) invasão do Afeganistão (2002) e do Iraque (2003) que aumentou os gastos militares; 3) furacão Katrina que destruiu a infra-estrutura de exploração de petróleo no Golfo do México e dos portos do rio Mississipi, o que aumentou os custos do transporte e a necessidade de importação de petróleo. 4) aumento significativo do preço do petróleo (2007) devido ao aumento na demanda por petróleo em países emergentes e ao aumento da importação pelos EUA.
5 5) crise econômica gerada pela estagnação do mercado imobiliário dos EUA (2008). Para entender melhor a crise do setor imobiliário que deu origem a crise de crédito é necessário retornar ao início dos anos 2000. Em 2002, os bancos estadunidenses começaram a fazer empréstimos longos a clientes que tinham avaliação duvidosa de poder de endividamento, aproveitando-se dos baixíssimos juros que vigoravam naquele momento. Os títulos advindos de tais empréstimos eram posteriormente negociados no mercado. A facilidade de crédito aqueceu o mercado, aumentando a demanda e, portanto, o preço dos imóveis (especulação imobiliária), o que atraiu uma grande quantidade de investidores para o setor. Devido aos elevados déficits públicos (impulsionados principalmente pelo aumento de gastos militares e com a alta do petróleo) a taxa de juros sofreu considerável elevação, dificultando o pagamento dos empréstimos suprime (feitos às pessoas que não tinham boa avaliação). Como os referidos empréstimos eram garantidos por hipoteca, os bancos começaram a retomar os imóveis dados em garantia e leiloá-los. Com mais imóveis disponíveis, aumentando, portanto, a oferta, o preço caiu consideravelmente, a indústria da construção civil estagnou e os empréstimos subprime perderam seu valor. Os bancos mais comprometidos passaram a não honrar seus compromissos, o que levou a uma grande crise de confiança e de crédito que assolou o mundo todo. Diante da citada crise muitos analistas políticos previram o surgimento de uma novíssima ordem mundial em que os EUA perdem parte de sua força e hegemonia e os países emergentes, com destaque para o BRIC (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China), ganham grande projeção. Alguns acontecimentos recentes ilustram bem o atual momento político. O G8 (grupo dos 7 países mais influentes do mundo mais a Rússia) que antes era responsável por, sozinho, decidir os rumos da economia mundial em seus Fóruns Econômicos Mundiais, vem gradativamente sendo substituído pelo G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo), que inclui os países de economia emergente. Cresce também a pressão por uma reforma da ONU, que segundo muitos analistas, não condiz com a atual conjuntura, já que remonta ao período pós-ii Guerra. Nesse sentido cresce a pressão do governo brasileiro para participar do conselho de segurança como membro permanente. É certo que a crise trouxe e trará consequências sensíveis as relações de poder no mundo, entretanto, é preciso um pouco mais de tempo e análise para percebe-las e entende-las. Para saber um pouco mais sobre a crise acesse: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2008/crisenoseua/