Teses de mestrado: A morte no mundo semita Autor(es): Publicado por: URL persistente: Coelho, Ilda Sobral Instituto Oriental da Universidade de Lisboa URI:http://hdl.handle.net/10316.2/24240 Accessed : 4-Mar-2017 08:32:46 A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. impactum.uc.pt digitalis.uc.pt
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O futuro assenta, portanto, em termos atemporais e ahistóricos. Na realidade, só esse contexto é que nos permite compreender o conceito de ressurreição e a necessidade de existir um julgamento celeste. De facto, Daniel vê o estabelecimento desse reino celeste como meio para que o reino terrestre de Israel obtenha a supremacia perante as restantes nações, ou seja, dos diversos deuses que também eram cultuados. É, mais uma vez, o domínio pela religião. Tendo tudo isto em conta, é relativamente simples afirmar-se que Daniel é um texto de esperança ao prever a possibilidade de existência de um mundo, chamemos-lhe perfeito, numa época onde reina 0 desespero. A quase impossibilidade de restabelecer o mundo original transforma-se naquilo que Daniel «vê» como futuro da sua época. Daí que 0 texto transmita uma certa sensação de segurança e de grande esperança no que diz respeito à criação em breve do reino de lavé. Daniel aproxima o futuro, diminuindo assim as «dores» do presente. Ao mesmo tempo, Daniel afirma de modo consistente que está para breve a reinstitucionalização do poder israelita, nomeadamente na cidade de Jerusalém, 0 que passa claramente pelo restabelecimento do culto no espaço sagrado do Templo. Só desse modo é que a supremacia prevista poderia ser completa. A MORTE NO MUNDO SEMITA lida Sobral Coelho A tese foi defendida a 2 de Fevereiro de 2004, perante um júri constituído pelo Professor Doutor José Augusto Ramos, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (presidente e orientador), Professor Doutor Joaquim Carreira das Neves, da Universidade Católica (arguente) e Professor Doutor António Ramos dos Santos, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Neste tema de dissertação do mestrado de História e Cultura Pré-Clássica, a Autora pretendeu reflectir sobre os pressupostos antropologicos da visão do homem semita sobre a morte, definindo-se a morte como uma realidade socio-cultural pela origem, pela concepção que dela se faz, pelas condições em que se manifesta, pelos rituais que organiza, pelos fantasmas e meios de defesa que suscita. A região dominada pelos povos semitas estendia-se dos rios Tigre e Eufrates ao mar Mediterrâneo. A Autora destacou na sua tese a região da Siria-Palestina, por esta ter sido um ponto de encontro de tradições e mitos. Deu também especial destaque ao pensamento de 203
Israel, pois este deixou à humanidade os pontos de vista mais intuitivos e mais profundos sobre a vida e a morte, sobre a condição humana e sobre as relações mais íntimas do homem com Deus. Quanto à estrutura, a dissertação é constituída por três partes: na primeira estabelece-se a relação entre as mitologias e os fenómenos do «aquém», as práticas e atitudes do homem semita perante a morte; na segunda encontramos as mitologias na sua relação com as teologías, constituindo 0 mundo bíblico o campo onde se digladiam os puristas defensores do monoteísmo e os seguidores de crenças populares influenciadas pelos povos vizinhos; na terceira encontramos os mitos como forma de explicação da origem e inevitabilidade da morte. O que mais chamou a atenção da Autora nos comportamentos necrológicos dos semitas foi a sua permanência. De facto, durante quase mil anos, as concepções da morte, da vida e do mundo dos mortos não sofreram quaisquer mudanças significativas. Para fazer uma história da morte no mundo semita foi necessária uma análise detalhada dos problemas relativos ao sentido da vida e à concepção da imortalidade, tendo em conta que esta deve ser definida no Mundo Antigo como «o prolongamento da vida por período indefinido, mas não necessariamente eterno» (Frazer), pois a eternidade é, na realidade, uma noção abstracta e tardia. O que é 0 morto nestas civilizações? O que 0 espera depois da morte? Será que as religiões começaram com a recusa da morte? De que concepção da morte nos sentimos mais próximos pela nossa cultura? Por que razão existe um modo de dramatizar a morte? A estas e outras questões se procurou dar resposta nesta dissertação. Hebreus e Mesopotâmios tinham uma concepção ctónica da morte, segundo a qual os homens e outros seres vivos foram criados a partir da argila, regressando a essa matéria primitiva em que foram feitos depois da sua morte. Para os Hebreus a vida implicava liberdade e movimento, e era simbolizada pela luz. Pelo contrário, 0 mundo inferior era uma prisão onde reinavam as trevas. A concepção hebraica sobre a morte deve entender-se como um estado que se opõe à vida e que não é, em caso algum, preferível. Este sentir de que tudo vale mais do que a morte encontramo-lo, por exemplo, no livro de Qohelet (9,4): «Um cão vivo vale mais do que um leão morto». Encontramos a mesma ideia no livro assírio da Sabedoria de Ahikar: «Uma raposa viva vale mais do que um leão morto». Sobretudo no mundo bíblico, as palavras que evocam 0 nada nunca se aplicam à morte, provavelmente porque os Hebreus não 2 0 4
concebiam a sua morte como um desaparecimento mas como uma transição, uma passagem para 0 Além. A história mais antiga das religiões, quer a Ocidente quer a Oriente, mostrou que estas não deram origem a uma oferta de vida para além da morte. As religiões preocuparam-se sobretudo em saber como manter a ordem em face do caos, em manter a moral e os valores, particularmente quando não havia crença sobre a existência de um julgamento dos mortos ou de uma compensação ou punição depois da morte. A EXPRESSÃO EGIPCIZANTE DΆ FLAUTA MÁGICA DE MOZART Aline Gallasch Hall A tese foi defendida a 16 de Fevereiro de 2004, perante um júri constituído pelo Professor Doutor José Augusto Ramos, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (presidente), Professor Doutor José das Candeias Sales, da Universidade Aberta (arguente), Professor Doutor Mário Vieira de Carvalho, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (co-orientador), Professor Doutor Luís Manuel de Araújo, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (co-orientador) e Professor Doutor António Ramos dos Santos, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A dissertação intitulada A Expressão Egipcizante d A Flauta Mágica de Mozart está dividida em dois grandes núcleos, denominados Actos, à semelhança da própria ópera mozartiana. No então baptizado I Acto, como 0 título poderá indicar, procede-se a uma tentativa de entender como 0 Egipto vai ser imaginado, vivido e admirado ao longo do tempo, entre o período compreendido pelo domínio romano até ao limiar do século das Luzes, sob o subtítulo de «A construção da imagem do Egipto». Dessa forma, as bases para uma percepção mais ampla da ideia do Egipto estavam traçadas, não como o conhecemos hoje, mas como ele foi visto e apreendido no passado (leia-se antes da decifração da escrita hieroglífica), de forma a salientar a importância do II Acto e que, no fundo, contém o âmago do trabalho. Este último foi denominado «Mozart e A Flauta Mágica». Nesta II parte, após uma sumária biografia do compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart, procedeu-se a um estudo das fontes que serviram para a criação da famosa ópera e que poderão ser divididas nos seguintes sub-capítulos: os clássicos e os romances; as fontes ma 205