Dra. Daniela Montanari Migliavacca Osório Universidade Feevale, Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental

Documentos relacionados
Bento Gonçalves RS, Brasil, 5 a 7 de Abril de Palavras-chave: Inventário. Material particulado. Poluição atmosférica.

André Araújo Bürger. Abril/2018 1

DISTRIBUIÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE PM10 DURANTE UM EVENTO DE INVERSÃO TÉRMICA EM VITÓRIA-ES UTILIZANDO O MODELO CMAQ

X-017 COMPARAÇÃO DAS CONCENTRAÇÕES DE MP10 MONITORADAS NA CIDADE DE FLORIANÓPOLIS COM PADRÕES DE QUALIDADE DO AR

Material Particulado em regiões com produção do carvão vegetal

EMISSÃO DOS AEROSSÓIS VEICULARES MEDIDA NO TÚNEL JÂNIO QUADROS EM SÃO PAULO

X Congresso Brasileiro de Engenharia Química Iniciação Científica

Meteorologia Ambiental 2017

Indicadores de Qualidade do Ar

ESTUDO DA DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA E MENSURAÇÃO DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA DE ORIGEM VEICULAR NO MUNICÍPIO DO NATAL RN

CAPÍTULO. Santos, Rafaela Souza ¹ *; Romualdo, Lincoln Lucílio ¹

POLUIÇÃO AMBIENTAL II (LOB1211) Aula 1. Meio Atmosférico

Poluição do Ar. Prof. Tadeu Malheiros 2017

CONCENTRAÇÃO DE MATERIAL PARTICULADO INALÁVEL MP10 EM ESPÍRITO SANTO DO PINHAL - SP

DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE CHUMBO (Pb) PRESENTE NO MATERIAL PARTICULADO FINO (MP2,5) E GROSSO (MP10) DA REGIÃO CENTRAL DE GOIÂNIA - GO

Amostragem de Material Particulado (MP2,5) Utilizando Impactador Harvard na Cidade de Ponta Grossa/PR

Composição e Origem das Partículas Respiráveis na Zona Urbana de Lisboa

USO DE AMOSTRADORES PASSIVOS PARA AVALIAR A QUALIDADE DO AR NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOS SINOS

Climatologia de Cubatão

Cláudia Marques Peixoto e Altair Drumond de Souza

Programa Analítico de Disciplina QUI318 Monitoramento da Qualidade do Ar

AVALIAÇÃO DA TAXA DE SULFATAÇÃO COM USO DE AMOSTRADORES PASSIVOS EM ÁREA URBANA E SEMIURBANA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOS SINOS

DETERMINAÇÃO DA POEIRA SEDIMENTÁVEL TOTAL EM DOIS PONTOS NO MUNICÍPIO DE MÁRIO CAMPOS MG

N 2 78% O 2. COMPOSIÇÃO DO AR SECO [% v/v] CO % ( %/a) 21% TODOS OS OUTROS?0.0034% Ne 18 ppm He 5.2 CH Kr 1.1 O 0.

Material particulado (MP2,5) amostrado em Ponta Grossa/PR

PROTOCOLO DE INSTALAÇÃO DO PROJETO AMOSTRADOR DICOTÔMICO (AMDIC)

ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE MATERIAL PARTICULADO NO CENTRO DE PELOTAS, RS, PARA VERÃO E OUTONO DE 2012 E CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS ASSOCIADAS.

PADRÕES DA QUALIDADE DO AR NO BRASIL. Mauricy Kawano Gerência de Meio Ambiente e Sustentabilidade (GMAS) do Sistema FIEP

ANÁLISE DA QUALIDADE DO AR DE UBERLÂNDIA: PARTÍCULAS INALÁVEIS (MP 10 )

AEROSSÓIS: COMPOSIÇÃO E PROPRIEDADES. Simone Gomes (PAIC/F.A.-UNICENTRO), Sandra Mara Domiciano (Orientador),

RESOLUÇÃO Nº 491, DE 19 DE NOVEMBRO DE 2018

Supplementary Information

EFICIÊNCIA DE COLETA DE PARTÍCULAS PM10 EM UM LAVADOR VENTURI DE SEÇÃO RETANGULAR

ANÁLISE DA QUALIDADE DO AR DE UBERLÂNDIA: PARTÍCULAS TOTAIS EM SUSPENSÃO (PTS)

INVESTIGAÇÃO SOBRE POLUENTES ATMOSFÉRICOS

AVALIAÇÃO DAS CONCENTRAÇÕES DE MATERIAL PARTICULADO TOTAL EM SUSPENSÃO EM AMBIENTES DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA DA CIDADE DE SÃO CARLOS- SP

Caracterização química e identificação de fontes de material particulado coletado em diferentes regiões do Estado do Rio de Janeiro

PROTOCOLO PARA COLETA DE MATERIAL PARTICULADO ATMOSFÉRICO

o TRANSPORTE DO S02 NA CIDADE UNIVERSITARIA.

QUALIDADE DO AR USO DE ACP PARA EXPLICAR A RELAÇÃO DE FATORES METEOROLÓGICOS E MATERIAL PARTICULADO NO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ (SP)

POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA. QUÍMICA AMBIENTAL IFRN NOVA CRUZ CURSO TÉCNICO EM QUÍMICA Prof. Samuel Alves de Oliveira

Poluição Ambiental: Análise Quantitativa de Material Particulado (PM 10 ) por SR-TXRF

ESTUDO DE ÍONS MAIORES NO EXTRATO AQUOSO DE PARTICULADO ATMOSFÉRICO EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Determinação de Peso de Material Particulado. Enqualab, 2013

SIMULAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE MATERIAL PARTICULADO INALÁVEL DE ORIGEM VEICULAR EM UMA INTERSEÇÃO SINALIZADA DE UBERLÂNDIA-MG

Introdução: O que é Poluição Atmosférica e quais os padrões nacionais de Emissão?

Indicadores de Qualidade do Ar

Aerossóis Atmosféricos. Partículas sólidas ou líquidas em suspensão em um gás 0, µm

ESTIMATIVA DOS FLUXOS TURBULENTOS NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO Maria Helena M. MARTINS 1,2 e Amauri P. de OLIVEIRA 1

Poluição do Ar 3 Site UOL 29/06/2007 2

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO AR NAS DEPENDÊNCIAS DE INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR LOCALIZADA NA CIDADE DE CARUARU

Estudo sobre Dispersão de poeiras na região do Polo Cerâmico de Santa Gertrudes PCSG

1.1. Poluição Atmosférica

CORRELAÇÃO ENTRE INTERNAÇÕES POR PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS E A EMISSÃO DE MATERIAL PARTICULADO NA CIDADE DE SÃO CARLOS - SP

Composição multielementar e fontes de emissão de aerossóis atmosféricos em Cuiabá de 1992 à 1995

Notas de aula Ozônio troposférico

Aerossóis Atmosféricos

Avaliação inicial dos dados de variabilidade da concentração de aerossóis do AERONET de Petrolina

Metodologia Científica

DEPOSIÇÃO DE ENXOFRE ATMOSFÉRICO EM SANTA MARIA-RS 1

Avaliação da exposição de passageiros de veículos às partículas ultrafinas em condições de tráfego de um grande centro urbano.

Variabilidade da concentração em massa e Black Carbon de MP 2,5 da cidade de Recife, efeitos da pluviometria (remoção)

UTILIZAÇÃO DE DADOS METEOROLÓGICOS REAIS EM SIMULAÇÕES DO MODELO DE DISPERSÃO ISCST3 NA USINA TERMOELÉTRICA PIRATININGA SP

FATORES AMBIENTAIS E A EMISSÃO DE MATERIAL PARTICULADO NA CIDADE DE SÃO CARLOS - SP

CONCENTRAÇÕES DE MATERIAL PARTICULADO 2,5µm NA ATMOSFERA DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SP.

A. P. S. da SILVA 1, M. A. M. COSTA 1, J. E. F. CIESLINSKI 1, J. A. de CARVALHO. Jr², T. GOMES³, F. de ALMEIDA FILHO¹, F. F. MARCONDES¹.

CONTROLE DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

Plataforma de Qualidade do Ar Nota Metodológica

Aluna: Isabela Luizi Gonçalves Monteiro Orientadora: Adriana Gioda

CONTROLE DE MATERIAL PARTICULADO ORIGINADO DA QUEIMA DE PALHA E BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR EM LAVADOR VENTURI

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

UM MODELO APROXIMADO COM REAÇÃO DA DISPERSÃO DE GASES DE UMA CENTRAL TERMOELÉTRICA

A influência da poluição atmosférica na saúde da população de São Caetano do Sul.

Qualidade do ar. PhD Armindo Monjane - Dep. Quimica UP

Programa Analítico de Disciplina ENG426 Poluição do Ar

TESTE PRÁTICO (TP-3) UM PERÍODO DE POLUIÇÃO NA EUROPA OCIDENTAL

Deposição úmida, deposição seca e impactos ao ambiente

ESTUDO DO IMPACTO DAS EMISSÕES DE POLUENTES NA REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE RS

DIRETORIA DE ENGENHARIA, TECNOLOGIA E QUALIDADE AMBIENTAL DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA DO AR DIVISÃO DE TECNOLOGIA DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO AR

ANÁLISE DA QUALIDADE DO AR DE UBERLÂNDIA: PARTÍCULAS TOTAIS EM SUSPENSÃO (PTS)

IDENTIFICAÇÃO DAS FONTES PRECURSORAS DE OZÔNIO NA TROPOSFERA DE SOROCABA (S.P.).

Mais Demanda por Recursos com os Mesmos Recursos: o Aumento da Frota de Veículos em São Paulo

O MATERIAL PARTICULADO E O DIREITO À QUALIDADE DO AR DAS GERAÇÕES PRESENTES E FUTURAS

AVALIAÇÃO FOTOQUÍMICA DA QUALIDADE DO AR PARA OZÔNIO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS

Poluição do ar e clima. Profa. Dra. Luciana V. Rizzo

Física da poluição do ar

Lucas de Assis Soares, Luisa Nunes Ramaldes, Taciana Toledo de Almeida Albuquerque, Neyval Costa Reis Junior. São Paulo, 2013

ESTUDO COMPARATIVO DA RADIAÇÃO SOLAR EM ÁREA URBANA E RURAL

Melhoria da Qualidade do Ar. Melhoria da Qualidade do Ar

8. Referências Bibliográficas

ANÁLISE DOS POLUTOGRAMAS PARA UM EVENTO CHUVOSO NUMA GALERIA DE DRENAGEM PLUVIAL

Estudo de Periodicidade dos Dados de Poluição Atmosférica na Estimação de Efeitos na Saúde no Município do Rio de Janeiro

DESENVOLVIMENTO DE UM MÉTODO PARA OTIMIZAÇÃO DA ALTURA E LOCALIZAÇÃO DA FONTE PONTUAL ATRAVÉS DA DISPERSÃO ATMOSFÉRICA DE SUA EMISSÃO

QUÍMICA ATMOSFÉRICA. (Qualidade do ar e emissões atmosféricas)

O que contribui para a alteração do ar atmosférico?

Doenças da pele relacionadas à poluição do ar: uma revisão sistemática Skin diseases related to air pollution: a systematic review

INFLUÊNCIA DA METEOROLOGIA NA CONCENTRAÇÃO DO POLUENTE ATMOSFÉRICO PM 2,5 NA RMRJ E NA RMSP

INTERPRETAÇÃO DOS PADRÕES NACIONAIS DA QUALIDADE DO AR AMBIENTE PARA MATERIAL PARTICULADO

CETREL NO BRASIL CERTIFICADOS

Transcrição:

AVALIAÇÃO DO MATERIAL PARTICULADO GROSSO E FINO EM ÁREAS URBANAS E SEMI-URBANAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOS SINOS, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL QUALIDADE AMBIENTAL GESTÃO E MONITORAMENTO AMBIENTAL Darlan Daniel Alves darlandaniel@gmail.com Universidade Feevale - Programa de Pós Graduação Mestrado em Qualidade Ambiental RS-239, 2755 CEP 93352-000 - Novo Hamburgo - Rio Grande do Sul Rosieli da Silva Leites rosieli_leites@hotmail.com Universidade Feevale - Engenharia Química Dra. Daniela Montanari Migliavacca Osório danielaosorio@feevale.br Universidade Feevale, Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental Resumo: A composição do ar vem sofrendo alterações significativas, principalmente em função das elevadas taxas de urbanização e do desenvolvimento industrial. O processo de alteração da qualidade do ar, causado por fontes de emissão fixas e móveis é denominado poluição atmosférica e pode conferir ao ar, características que o tornem impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde. Entre os principais poluentes atmosféricos, o material particulado (MP) destaca-se em função de suas características químicas e morfológicas. Constituído por partículas sólidas e líquidas em suspensão, é capaz de absorver e transportar uma grande variedade de componentes tóxicos, como metais, compostos orgânicos, íons, gases reativos, entre outros. Este trabalho teve como objetivos a avaliação da qualidade do ar, através da determinação da concentração do MP grosso e fino em três pontos de amostragem, localizados em municípios com diferentes índices de urbanização, ao longo dos trechos médio e inferior da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul (Brasil). As coletas do MP (MP 10 e MP 2,5-10 ) foram realizadas, utilizando-se um amostrador sequencial (amostrador de material fino e grosso - AFG) de pequeno volume. A amostragem foi realizada a cada 15 dias, por 24 horas, no período de janeiro a julho de 2013. Os resultados mostraram que as diferentes frações de MP na atmosfera estão relacionadas às suas principais fontes de emissões, com a concentração de partículas finas mais significativa em locais mais afastados das possíveis fontes de emissões. Palavras-chave: Emissões atmosféricas, material particulado, qualidade do ar.

ASSESSMENT OF FINE AND COARSE PARTICULATE MATTER IN URBAN AND SEMI-URBAN AREAS OF RIO DOS SINOS HYDROGRAPHIC BASIN, RIO GRANDE DO SUL, BRAZIL ENVIRONMENTAL QUALITY ENVIRONMENT MANAGEMENT AND MONITORING Abstract: The air composition air is undergoing significant changes, mainly due to high rates of urbanization and industrial development. The process of change in air quality, caused by stationary and mobile emission sources, is called air pollution and confers upon the air, characteristics that make it unsuitable, harmful or injurious to health. Among the major air pollutants, particulate matter (PM) stands out because of their chemical and morphological characteristics. Consisting of solid and liquid suspended particles, pm is capable of absorbing and transporting a wide variety of toxic components such as metals, organic compounds, ions, reactive gases, among others. This study aimed to evaluate the air quality by determining the concentration of fine and coarse pm in three sampling points, located in places with different levels of urbanization along the middle and lower stretches of the Sinos River Basin, Rio Grande do Sul (Brazil). Collection of the particulate matter (MP 10 e MP 2,5-10 ) was carried out using a sequential sampler (fine and coarse matter sampler - FCS) of small volume. Sampling was performed every 15 days, for 24 hours, from January to July, 2013. The results showed that different fractions of pm in the atmosphere are related to their major sources of emissions, with the concentration of fine particles more significant in locations away from possible sources of emissions. Keywords: Air quality, atmospheric emissions, particulate matter. 1. INTRODUÇÃO A composição do ar vem sofrendo alterações significativas, principalmente em função das elevadas taxas de urbanização e do desenvolvimento industrial. O processo de alteração da qualidade do ar, causado por fontes de emissão fixas e móveis é denominado poluição atmosférica e pode conferir ao ar, características que o tornem impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde. Entre os principais poluentes atmosféricos, o material particulado (MP) destaca-se em função de suas características químicas e morfológicas. Constituído por partículas sólidas e líquidas em suspensão, é capaz de absorver e transportar uma grande variedade de componentes tóxicos, como metais, compostos orgânicos, íons, gases reativos, entre outros (Castanas e Kampa, 2008). O MP presente na atmosfera pode ser originado a partir de fontes naturais, como a poeira transportada pelo vento, os sprays marinhos, partículas emitidas por vulcões, entre outros, ou resultantes das atividades antrópicas, como a queima de combustíveis. O MP está associado às partículas compreendidas em uma faixa de tamanho que varia entre alguns nanômetros (nm) a dezenas de micrômetros (µm), chegando a aproximadamente 100 µm de diâmetro aerodinâmico. Podem ser emitidas diretamente como partículas (aerossóis primários) ou formadas na atmosfera por processos de conversão gás-partícula (aerossóis secundários). Quando o diâmetro das partículas atinge cerca de 100 µm, ocorre a precipitação e consequente remoção da atmosfera (deposição seca). Além desse mecanismo de deposição, as partículas podem incorporar-se a nuvens durante a formação das precipitações (deposição úmida). Partículas geradas a partir da combustão, como as

resultantes da queima de combustível por automóveis, geração de energia e queima de madeira, podem chegar a 1 µm de diâmetro aerodinâmico, enquanto que as partículas de poeiras transportadas pelo vento, como pólens, fragmentos de plantas e o sal do mar apresentam, geralmente, diâmetro aerodinâmico superior a 1 µm (SEINFELD; PANDIS, 2006). Os riscos a saúde e as características das fontes de emissão do MP fino (diâmetro aerodinâmico < 2,5 µm) e grosso (2,5 < diâmetro aerodinâmico < 10 µm) são distintos. Admite-se que o impacto das partículas finas é maior do que o das grossas, pois podem se aprofundar mais no trato respiratório e se depositar sobre este, o que afeta a função pulmonar (BOUROTTE et al., 2007). Portanto, o tamanho das partículas influi decisivamente em seu potencial de contaminação. A legislação ambiental brasileira, através da Resolução Nº 003/1990, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), estabelece padrões de qualidade do ar para material MP, sob a forma de partículas totais em suspensão (PTS) e partículas inaláveis (PI), sendo as últimas, caracterizadas por apresentar diâmetro aerodinâmico menor do que 10 μm, ou seja, ainda não prevê a fragmentação das PI em material particulado grosso (PM 10 ) e fino (PM 2,5-10 ) e consequentemente os padrões de qualidade para estes parâmetros (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, 2013). Assim, a caracterização química e a determinação das diversas fontes emissoras de MP para a atmosfera são pré-requisitos para estudos mais aprofundados deste tipo de poluição. Além disso, esses dados contribuem como fonte de informação para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes, que considerem a capacidade de suporte do meio ambiente e que desenvolvam e adotem tecnologias econômicas e tecnicamente viáveis de controle das emissões de poluentes. 2. OBJETIVO Este trabalho teve como objetivo a avaliação da qualidade do ar, através da determinação da concentração do MP grosso e fino em três pontos de amostragem, localizados em municípios com diferentes índices de urbanização, ao longo dos trechos médio e inferior da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul (Brasil). 3. METODOLOGIA 3.1. Caracterização da Área de Estudo A Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos está situada a nordeste do estado do Rio Grande do Sul, entre os paralelos 29 e 30 sul. Possui uma área de 3.820 km 2, correspondendo a 4,5% da Bacia Hidrográfica do Guaíba e 1,5% da área total do Estado, com uma população aproximada de 975.000 habitantes, sendo que 90,6 % ocupam as áreas urbanas e 9,4 % estão nas áreas rurais. Esta bacia é delimitada a leste pela Serra Geral, pela bacia do Caí à oeste e ao norte, e ao sul pela bacia do Gravataí (FEPAM, 2009). As amostragens foram realizadas nos municípios de Campo Bom, São Leopoldo, e Canoas. Esses municípios estão localizados nos trechos médio e inferior da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos e apresentam, níveis distintos de urbanização, sendo o ponto Campo Bom o menos urbanizado, São Leopoldo o intermediário e Canoas o ponto mais urbanizado. Campo Bom apresenta população de 60.074 habitantes, área territorial de 60 Km 2, sendo 23 km 2 (38,33%) de área urbana e 37 km 2 (61,66%) de área rural. A localização do ponto de amostragem neste município (-29 40 39.48, -51 2 25.43 ) foi definida em função de seu afastamento de vias movimentadas, a fim de se diminuir a amostragem de MP proveniente das atividades antropogênicas (Figura 1).

Figura 1 Ponto de Amostragem de MP em Campo Bom São Leopoldo possui uma população de 214.087 habitantes, área territorial de 102,31 km 2, sendo 69,87 km 2 (68,29%) de área urbana e 14,84 km 2 (14,50%) de área rural. Neste município, a definição da localização do ponto de amostragem (-29 46 19.01, -51 9 7.17 ) foi feita de forma obter-se um ponto onde a taxa de urbanização fosse intermediária entre os outros dois pontos (Campo Bom e Canoas). Ainda assim, é possível observar-se a proximidade deste ponto (Figura 2) com uma rodovia de tráfego intenso (BR 116). Figura 2 Ponto de Amostragem de MP em São Leopoldo Canoas apresenta uma população de 323.827 habitantes e área territorial de 131.096 km 2, constituída apenas por área urbana. Neste município, o ponto de amostragem está localizado a aproximadamente 50m da rodovia BR 116 (-29 55 19.79, -51 10 43.05 ), conforme pode ser

observado na Figura 3: 3.2. Coleta de Material Particulado Figura 3 Ponto de Amostragem de MP em São Leopoldo As coletas do MP (MP 10 e MP 2,5-10 ) foram realizadas utilizando-se um amostrador sequencial (amostrador de material fino e grosso - AFG) de pequeno volume, construído com base nos estudos experimentais de Hopke et al., 1997. O equipamento é composto por um holder onde são fixados os filtros, uma tubulação de silicone que possibilite que o holder seja fixado a 1,5 m de altura da superfície do solo e uma bomba de vácuo com capacidade de fluxo de pelo menos 16 L m -1. A amostragem foi realizada a cada 15 dias, por 24 horas, no período de janeiro a julho de 2013. No início e no fim de cada coleta, a vazão de ar (L m -1 ) foi determinada com auxílio de um rotâmetro e, para fins de cálculo, foi considerada a média das duas medições. Foram utilizados filtros de policarbonato (Millipore), nas porosidades de 2 µm para MP fino e 10 µm para MP grosso, ambos com diâmetro de 47 mm. A massa do MP foi determinada por método gravimétrico. 3.3. Determinação da Concentração de MP Após as coletas, a massa do MP foi determinada por método gravimétrico, em balança analítica (Bel Equipamentos Eletrônicos), com precisão 100 μg. Os filtros foram estabilizados por 24 horas (no mínimo) em dessecador a temperatura ambiente (25 C e 30-40% de umidade), antes e após as coletas. Para o cálculo da concentração de MP (C MP ), a massa do MP fino e grosso (µg) foi dividida pelo volume de ar amostrado (m 3 ) durante as 24 horas de coleta, para obter a concentração em µg m -3, conforme equação: C MP = (1) C MP = Concentração de Material Particulado (µg m -3 )

mf = massa final do filtro (g) mi = massa inicial do filtro (g) Fi = fluxo inicial de ar (L m -1 ) fi = fluxo final de ar (L m -1 ) T = tempo de amostragem (h) 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 4 apresenta as concentrações médias de MP fino e grosso dos três pontos de amostragem, no período de janeiro a julho de 2013 para as áreas semi-urbanas e urbanas. Conforme pode ser observado, as concentrações médias de MP grosso decrescem em relação aos pontos de coleta, partindo-se do ponto com menor taxa de urbanização (Campo Bom) para os pontos mais urbanizados (Canoas e São Leopoldo, respectivamente). Este decréscimo nos resultados pode estar relacionado a fatores como a poluição do ar por materiais de origem biológica, como o pólen de plantas e a ressuspensão de particulados do solo, como já demonstrado por autores como Hopke et al. (2011) em estudos similares. Outro fator importante é que em Canoas não foi detectado MP grosso, o que pode ser explicado pela proximidade do ponto de coleta com a principal fonte de emissão de partículas finas, as emissões veiculares. Vários estudos identificam que as emissões veiculares são as principais fontes de MP em áreas urbanas, podendo ser detectadas longe da provável fonte de emissão (COLVILE et al., 2001; HIEU e LEE, 2010; KARANASIOU et al., 2011; TEIXEIRA et al., 2009). E ainda, as emissões dos veículos a gasolina e diesel podem contribuir para um maior número total de partículas, em torno de 90%, especialmente de partículas finas (MORAWSKA et al., 2008; PEY et al., 2009). Figura 4 Média aritmética das concentrações de MP fino e grosso de áreas semi-urbanas e urbanas A concentração média do MP fino foi maior no ponto menos urbanizado (Campo Bom), menor no ponto intermediário (São Leopoldo), apresentando uma maior concentração em Canoas. Valores elevados na concentração de MP fino estão normalmente associados a fontes antropogênicas de poluição, como o tráfego e a queima de biomassa (HOPKE et al., 2011; HIEU e LEE, 2010). Os resultados obtidos nos pontos São Leopoldo e Canoas indicam que a poluição destes locais pode estar relacionada ao tráfego de veículos, pois este é mais intenso em Canoas, visto que o local de coleta situa-se a aproximadamente 50 m de uma rodovia de trânsito intenso (BR 116).

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Os resultados mostraram que as diferentes frações de MP na atmosfera estão relacionadas às suas principais fontes de emissões, com a concentração de partículas finas mais significativa em locais mais afastados das possíveis fontes de emissões. Entretanto, as partículas grossas podem estar associadas a fontes naturais, como a ressuspensão do solo, e também a fontes antrópicas como a construção civil. Salienta-se a importância das análises químicas e a correlação com os dados meteorológicos de superfície para determinar os principais componentes presentes em cada uma das frações, no sentido de se identificar as possíveis fontes de emissão. Agradecimentos Agradecemos a Universidade Feevale, ao CNPq (Projeto Universal 014/2011 Processo 476636/2011-6) e a FAPERGS pelo suporte financeiro e auxílio de bolsas (IC) para o desenvolvimento da pesquisa. REFERÊNCIAS BATHMANABHAN, S., SARAGUR MADANAYAK, S. N. Analysis and interpretation of particulate matter PM 10, PM 2.5 and PM 1 emissions from the heterogeneous traffic near an urban roadway, Atmospheric Pollution Research 1, 1 (3), 184-194, 2010. BOUROTTE, C., BRAGA, A., CURI AMARANTE, A. P., FORTI, M. C., LOTUFO, P. A., PEREIRA, L. A. A. Association between ionic composition of fine and coarse aerosol soluble fraction and peak expiratory flow of asthmatic patients in São Paulo city (Brazil). Atmospheric Environment, 41 (10), 2036-2048, 2007. CASTANAS, E., KAMPA, M. Human health effects of air pollution. Environmental Pollution, 151 (2), 362-367, 2008. CHITHRA, V. S., NAGENDRA, S. M. S. (2013) Chemical and morphological characteristics of indoor and outdoor particulate matter in an urban environment. Atmospheric Environment, 77 (27), 579-587. COLVILE, R. N., HUTCHINSON, J. S., MINDELL, J. S., WARREN, R. A. The transport sector as a source of air pollution. Atmospheric Environment, 35 (9), 1537-1565, 2001. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução CONAMA Nº 003, de 28 de junho de 1990. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 ago. 1990 Disponível em: < http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=100> Acesso em: 01 jun. 2013. DALLAROSA, J., MEIRA, L., TEIXEIRA, E. C., WIEGAND, F. Study of the chemical elements and polycyclic aromatic hydrocarbons in atmospheric particles of PM 10 and PM 2.5 in the urban and rural areas of South Brazil. Atmospheric Research, 89 (1-2), 76-92, 2008. FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PORTEÇÃO AMBIENTAL HENRIQUE LUIZ HOESSLER (FEPAM). Qualidade das águas da bacia hidrográfica do Rio dos Sinos. 2009.

HIEU T. N., LEE, K. B. Characteristics of particulate matter and metals in the ambient air from a residential area in the largest industrial city in Korea. Atmospheric Research, 98 (2-4), 526-537, 2010. HOPKE, P. K., XIE, Y., RAUNEMAA, T., BIEGALSKI, S., LANDSBERGER, S., MAENHAUT, W., ARTAXO, P., Cohen, D. Characterization of the gent stacked filter unit PM 10 sampler. Aerosol Science and Technology, 27 (6), 726-735, 1997. HOPKE, P. K., WIMOLWATTANAPUN, W., PONGKIATKUL, P. Source apportionment and potential source locations of PM 2,5 and MP 2.5-10 at residential sites in metropolitan Bangkok. Atmospheric Pollution Research 2, 2 (2), 172-181, 2011. KARANASIOU, A., MORENO, T., AMATO, F., LUMBRERAS, J., NARROS, A., BORGE, R., TOBÍAS, A., BOLDO, E., LINARES, C., PEY, J., RECHE, C., ALASTUEY, A., QUEROL, X. Road dust contribution to PM levels e Evaluation of the effectiveness of street washing activities by means of Positive Matrix Factorization. Atmospheric Environment, 45 (13), 2193-2201, 2011. MIGLIAVACCA, D. M. Estudo do processo de remoção de poluentes atmosféricos e utilização de bioindicadores na região metropolitana de Porto Alegre RS. Tese de doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2009. MORAWSKA, L., RISTOVSKI, Z., JAYARATNE, R., KEOGH, D. U., LING, X. Ambient nano and ultrafine particles from motor vehicle emissions: characteristics, ambient processing and implications on human exposure. Atmospheric Environment, 42 (35), 8113-8138, 2008. PEY, J., QUEROL, X., ALASTUEY, A., RODRÍGUES, S., PUTAUD, J. P., VAN DINGENEN, R. Source apportionment of urban fine and ultrafine particle number concentration in a Western Mediterranean city. Atmospheric Environment, 43 (29), 4407-4415, 2009. SEINFELD, J. H.; PANDIS, S. N. Atmospheric chemistry and physics: from air pollution to climate change. New York: John Wiley & Sons, 2006. 1203 p. TEIXEIRA, E. C., MEIRA, L., SANTANA, E. R. R. de., WIEGAND, F. Chemical Composition of PM 10 and PM 2.5 and Seasonal Variation in South Brazil. Water, Air and Soil Pollution, 199 (1-4), 261-275, 2009. UNITED ESTATES OF AMERICA. Environmetal Protection Agency, EPA. (2013) National Ambient Air Quality Standards (NAAQS). Disponível em: <http://www.epa.gov> Acesso em: 01 jun. 2013. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Air quality guidelines: global update 2005: particulate matter, ozone, nitrogen dioxide and sulfur dioxide. Disponível em: < http://www.euro.who.int/ data/assets/pdf_file/0005/78638/e90038.pdf > Acesso em: 01 jun. 2013.