AMBIENTE ECONÔMICO GLOBAL MÓDULO 2

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AMBIENTE ECONÔMICO GLOBAL MÓDULO 2

Índice 1. As dinâmicas da globalização... 3 2. Globalização comercial... 3 2

1. AS DINÂMICAS DA GLOBALIZAÇÃO Se o termo globalização sugere diferentes significados, podemos entender o fenômeno a partir de suas diferentes dimensões ou dinâmicas, assim consideradas: comerciais, produtivas, financeiras e tecnológicas. 2. GLOBALIZAÇÃO COMERCIAL A globalização comercial é, provavelmente, a dimensão mais facilmente mensurável. Ao passo em que as pautas dos mercados externos estão cada vez menos atreladas às dos mercados internos, as nações vêm procurando se adaptar à demanda mundial de produtos e consumidores. Se esse aspecto contribui para uma maior universalização dos padrões de consumo e das novas tecnologias, pode trazer consigo um acirramento do desemprego e o enfraquecimento de regiões produtoras de artigos específicos (Barbosa, 2006, p. 42). A análise de várias fontes (estatísticas e históricas) nos revela que, a partir dos anos 1950, intensificou-se o processo de abertura do mercado internacional por países participantes da conjuntura globalizada, fato que pode ser comprovado através do coeficiente de abertura, ou seja, Quando o volume de comércio produção destinada ou proveniente de outros mercados cresce mais rapidamente do que o volume total de produtos fabricadosmundialmente,issoindicaqueaseconomias estão se abrindo e que os mercados internos perdem importância como fonte de escoamento da produção local (Barbosa, 2006. p. 41). Este processo, qual seja, o de crescimento do comércio mundial, acelerou-se particularmente nos anos 1980 e 1990, o que nos leva a concluir que o incremento da atividade comercial pode caracterizar, se não um fato novo, algo de relevante importância e que explica a interpretação da globalização como sendo particularmente um fenômeno de características comerciais. Tal leitura está, portanto, irremediavelmente ligada à extinção de barreiras comerciais e práticas protecionistas e ao surgimento de grandes blocos comerciais. Também por essa razão ganham excepcional notoriedade as políticas aduaneiras e os acordos comerciais preconizados pela Organização Mundial do Comércio (OMC), herdeira das principais conquistas obtidas pelo Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), estabelecido em 1947. É importante, porém, salientar: ainda que o GATT visasse facilitar as relações comerciais sob a égide da equidade, a realidade vem revelando profundas diferenças entre o discurso pronunciado e a práxis, o que significa dizer que nem sempre as práticas de nações industrializadas encontram-se em sintonia com o preconizado para os outros, ou seja, nem sempre os países que mais defendem o livre comércio são aqueles que o praticam. 3

Outra evidência da intensificação do comércio mundial é a formação de blocos regionais. O comércio entre os países dos blocos e entre blocos tem se expandido, visto que os tratados de tarifas alfandegárias e as concessões implicam reciprocidade e são aplicados em conjunto. Na figura 1, pode-se ver a localização geográfica dos principais blocos econômicos regionais. Figura 1: Mapa dos blocos econômicos regionais Fonte: http://www.marcoscintra.org/novo/default.asp?idsecao= 14 Segundo Barbosa (2006), esses blocos vêm se diferenciando em termos das etapas que conseguem alcançar e das dificuldades que logram superar: temos áreas denominadas de livre comércio caracterizadas pela ausência de barreiras tarifárias e não tarifárias entre os países componentes como a NAFTA e a ASEAN; temos também as uniões aduaneiras caracterizadas pela adoção de tarifas externas comuns para produtos importados como o MERCOSUL (apesar de incompleto esse processo); há o mercado comum no qual há livre circulação de pessoas, mercadorias e serviços como foi a Comunidade Europeia no período entre 1992 e 1998; finalmente, temos a união econômica estágio final da união regional, no qual há uma moeda comum e um só Banco Central para os países participantes como a União Europeia desde 1999. É evidente que, para se alcançar um estágio desse último tipo, é necessário que inflação, câmbio e juros dos países sejam compatíveis. O quadro 1 mostra a abertura comercial desde a Segunda Guerra Mundial, em percentagem do PIB: Quadro 1: Abertura comercial desde a Segunda Guerra Mundial (em porcentagem do PIB) (a) 4

(a) A abertura é definida como a soma das exportações e importações nominais de mercadorias enquanto uma porcentagem da produção nominal. Os dados agregados são calculados com base nos pesos de paridade do poder de compra (PPC). (b) 1980-87. (c) Excluindo a China.Fonte: World Economic Outlook, outubro de 1994, IMF, tabela 21, p. 89.In: HIRST, Thompson,1998, p. 52. Segundo Prado (2003, p. 4), a discussão sobre os aspectos da globalização comercial não é particularmente controversa: Se o crescimento do comércio mundial (...) [se dá] a uma taxa de crescimento média anual mais elevada do que a do PIB mundial, podemos afirmar que há globalização comercial. Utilizando esse critério, podemos perceber que: a) A relação exportação mundial/pib mundial apresenta taxas de crescimento até o ano de 1929, a partir de quando passa a decrescer. Tal fato pode ser explicado pela recessão que tomou conta da maioria dos países, em decorrência das consequências da quebra da bolsa de Nova Iorque e da posterior retração da economia mundial; b) A relação exportação mundial/pib mundial volta a apresentar taxas de crescimento a partir da década de 1950, muito provavelmente por conta dos efeitos benéficos do pós-guerra; c) A relação exportação mundial/pib mundial apresenta substancial crescimento a partir da década de 1980 e, de forma mais notável, a partir dos anos 1990. 5