FAUNA DO SOLO EM DIFERENTES ESTÁGIOS DE SUCESSÃO FLORESTAL NA RESERVA BIOLÓGICA UNIÃO, RIO DAS OSTRAS, RJ Ana Paula Ferreira Santos da Costa 1 ; Fábio Souto Almeida² ( 1 Graduanda em Gestão Ambiental, ²Docente do Departamento de Ciências do Meio Ambiente - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - Instituto Três Rios, Av. Prefeito Alberto Lavinas, 1847 - Centro - Três Rios/RJ; anapaulla_costa@hotmail.com) RESUMO O presente trabalho teve como objetivo analisar a abundância, a riqueza e a diversidade da fauna do solo em dois estágios de sucessão ecológica na Rebio União, RJ. Foram coletadas amostras de serapilheira em duas áreas localizadas no interior da trilha do Pilão em dois diferentes estágios de sucessão florestal: médio e avançado. Os pontos de coleta foram escolhidos de forma aleatória. Cada parcela amostrada foi marcada com um quadrat de 25 x 25 cm, sendo que em cada área foram feitas quatro repetições. Foram encontrados 216 artrópodes, 45 da classe Arachnida, 8 da classe Myriapoda e 163 da classe Hexapoda. As ordens mais representativas foram Hymenoptera, Acari, Isopoda, Aranae e Coleoptera. No total foram identificadas 15 ordens de artrópodes na serapilheira. As análises estatísticas mostraram que a abundância de artrópodes não foi influenciada pelo estágio sucessional. Por outro lado foi influenciada pela profundidade da serapilheira. A riqueza não foi influenciada significativamente pelo estágio sucessional e nem pela profundidade da serapilheira. A diversidade de artrópodes foi influenciada pelo estágio sucessional da vegetação, mas não foi influenciada pela profundidade da serapilheira. Somente artrópodes foram encontrados na serapilheira, não sendo encontrado nenhum outro filo. Isso demonstra a relevância desse grupo como componente da biodiversidade global e como decompositor de matéria orgânica. Palavras-chave: áreas protegidas, biodiversidade, conservação. INTRODUÇÃO A conservação da Mata Atlântica é de grande importância para o mundo, devido à sua elevada riqueza de espécies e endemismo (Lagos & Muller 2007). Contudo, é um dos biomas mais ameaçados, em virtude da pressão antrópica decorrente de contínuos distúrbios, como o desmatamento, as alterações no uso e ocupação do solo, as queimadas e outros fatores antrópicos. A sua importância é reconhecida nacionalmente e internacionalmente, pois foram criadas em seu domínio uma Reserva da Biosfera (UNESCO) e inúmeras unidades de conservação da natureza (SOS Mata Atlântica 2015). Dentre as unidades de conservação que foram estabelecidas para a proteção da Mata Atlântica pode-se destacar a Reserva Biológica União (Rebio União), que está localizada nos municípios de Casimiro de Abreu, Macaé e Rio das Ostras, na baixada litorânea do Estado do Rio de Janeiro. A Rebio União é uma unidade de conservação de proteção integral. Assim, a utilização de seus recursos naturais pode ser realizada apenas de forma indireta, com vistas à sua preservação. A ReBio União, especificamente, incentiva o uso de seus espaços para atividades educativas e para a realização de pesquisas científicas. A Reserva tem um histórico de ocupação, que antecede a existência do local como área protegida, com diferentes atividades antrópicas. Após seu decreto de criação, manejos florestais para recuperação da vegetação nativa das áreas antropizadas vem sendo realizados, encontrando-se em seu interior diferentes estágios de sucessão florestal. Todavia, a revegetação das áreas degradadas não é garantia de que os processos ecológicos essenciais para a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas voltaram a ocorrer ou mesmo que a biodiversidade tenha sido restaurada. Nesse sentido, a serapilheira e os organismos que nela vivem, sobretudo os artrópodes, têm sido muito utilizados como bioindicadores da recuperação de áreas antropizadas. A serapilheira é a camada de folhas, flores, galhos, sementes, frutos e demais materiais vegetais que são depositados sobre o solo, principalmente em ambientes florestais (Costa 2010). Grande parte da fauna de artrópodes presente na serapilheira auxilia na degradação do material que compõem a serapilheira e na ciclagem de nutrientes, sendo um processo extremamente importante para os ecossistemas e sua biodiversidade (Correia & Pinheiro 1999). Assim, o presente trabalho visa analisar e comparar a abundância, a riqueza e a diversidade da fauna do solo em dois estágios de sucessão ecológica na Rebio União. 254
MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado na Reserva Biológica União (Rebio União), situada na Região das Baixadas Litorâneas do Estado do Rio de Janeiro (ICMBio/MMA 2008) (Figura 1). Na região o clima predominante é o tropical úmido, sendo a precipitação média de aproximadamente 1.700 mm por ano e a temperatura média de 24 C (ICMbio 2007). Figura 7: Mapa de localização da Reserva Biológica União, Rio das Ostras, RJ, com foto de Satélite. (Fonte: Google Earth). A vegetação da REBIO União é caracterizada como Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas e Floresta Ombrófila Densa Submontana e alguns estudos apontam a riqueza e diversidade vegetal da unidade como uma das maiores dentro do estado do Rio de Janeiro (ICMBio/MMA 2015). As coletas foram realizadas no mês de novembro de 2015, sendo realizadas na parte da manhã. Foram coletadas amostras de serapilheira em duas áreas localizadas no interior da trilha do Pilão em dois diferentes estágios de sucessão florestal: médio (Área 1) e avançado (Área 2). Os pontos de coleta foram escolhidos de forma aleatória. Cada parcela amostrada foi marcada com um quadrat de 25 x 25 cm, sendo que em cada área foram feitas quatro repetições, totalizando 8 amostras no total. Também foi medida a profundidade da serapilheira com auxilio de régua graduada. A serapilheira presente em cada quadrat foi retirada até que se atingisse o solo e armazenada em sacos plásticos que receberam a devida identificação. Em seguida, foi realizada a triagem dos artrópodes presentes por parcela, de modo manual e a olho nu, feita com auxilio de pinça e pincel, sendo os organismos fixados em álcool 70% para posterior identificação. Foi feita análise de Covariância (ANCOVA) para verificar se há diferença na abundância de espécies entre as áreas amostradas e se esta sofre influencia da profundidade de serapilheira. A mesma análise foi feita para verificar se há influencia do estágio sucessional sobre a riqueza e a diversidade de artrópodes. Para calcular a diversidade foi utilizado o índice de diversidade de Shannon (H ). RESULTADOS E DISCUSSÃO Apenas artrópodes foram encontrados na serapilheira, não sendo observados animais de outros filos. Foram encontrados 216 artrópodes, 45 da classe Arachnida, 8 da classe Myriapoda e 163 da classe Hexapoda. Notadamente, esta última mostrou-se dominante em 255
relação às outras duas. As ordens mais representativas foram Hymenoptera, Acari, Isopoda, Aranae e Coleoptera. No total foram identificadas 15 ordens de artrópodes na serapilheira (Tabela 1). Cinco grupos de artrópodes não estiveram presentes na área de estágio avançado de sucessão: Opiliones, Pseudoscorpiones, Symphyla, Blattodea e Vespidae. Tabela 3: Artrópodes coletados por triagem manual na serapilheira das áreas de sucessão florestal média (A1) e avançada (A2), Rebio União, Rio das Ostras - RJ. CLASSES ORDENS A1 A2 Aranae 4 10 ARACHNIDA Opiliones 9 0 Acari 2 15 Pseudoscorpiones 5 0 MYRIAPODA Chilopoda 2 4 Symphyla 2 0 Hymenoptera: Formicidae 75 30 Blattodea 3 0 Hymenoptera: Vespidae 1 0 HEXAPODA Collembola 4 2 Coleoptera 3 10 Larva de Coleoptera 2 11 Isopoda 13 2 Diptera 1 1 Hemiptera 2 3 As análises estatísticas mostraram que a abundância de artrópodes não foi influenciada pelo estágio sucessional (ANCOVA; F = 2,728; P = 0,16). Por outro lado foi influenciada pela profundidade da serapilheira (ANCOVA; F = 9,025; P = 0,03). A riqueza não foi influenciada significativamente pelo estágio sucessional (ANCOVA; F = 1,342; P = 0,299) e nem pela profundidade da serapilheira (ANCOVA; F =0,334; P = 0,588). A diversidade de artrópodes foi influenciada pelo estágio sucessional da vegetação (ANCOVA; F = 5,84; P = 0,05), mas não foi influenciada pela profundidade da serapilheira (ANCOVA; F = 3,501; P = 0,12). Teixeira et al. (2015) também observaram maior diversidade de artrópodes de serapilheira no estágio intermediário do que no avançado, e com relação a abundância, aferiu certa semelhança entre os dois estágios sucessionais. Há certa similaridade entre as comunidades de artrópodes dos dois ambientes estudados, isso pode estar relacionado à proximidade das duas áreas em questão (Wolda 1996 apud Silva 2012). Estudos feitos na Amazônia com Coleópteros em três ambientes, com características de vegetação distintas, também não constataram diferenças expressivas na riqueza, isso pode ser explicado pela maioria das famílias serem generalistas e pela proximidade dos ambientes estudados (Barbosa 2001 apud Silva 2012). Segundo Battirola et al. (2007), a artropodofauna tende a acompanhar a riqueza vegetal, pois muitos animais dependem direta ou indiretamente desta para sua sobrevivência. Assim, a área em estágio intermediário pode possuir maior diversidade de plantas e por isso apresentar maior diversidade de artrópodes. Cabe destacar que Formicidae foi o grupo taxonômico mais abundante nas duas áreas, o que apoia a afirmação de Brandão & Cancello (1999) apud Copatti; Daudot (2009) de que as formigas são dominantes em muitos ecossistemas. Isso decorre da Família Formicidae possuir um grande número de espécies oportunistas e generalistas (Schmidt & Diehl 2008 apud Silva 2012). 256
Figura 2: Média com Desvio Padrão da abundância de artrópodes encontrados nas áreas de estágio intermediário(a1) e avançado(a2) de sucessão, REBIO União - RJ. Figura 3: Média com Desvio Padrão da riqueza de artrópodes encontrados nas áreas de estágio intermediário (A1) e avançado (A2) de sucessão, Rebio União - RJ. Figura 4: Média com Desvio Padrão da diversidade de espécies de artrópodes encontrados nas áreas de estágio intermediário (A1) e avançado (A2) de sucessão, Rebio União RJ. Teixeira et al. (2015) encontraram em seus estudos resultados parecidos em relação a serapilheira, pois não constataram relação entre a serapilheira e a riqueza de artrópodes. Por outro lado, seus estudos não apresentaram relação positiva da profundidade de serapilheira 257
com a abundância de espécies. Já Cunha (2004) observou a existência de relação entre o volume e o peso da serapilheira e a abundancia de artrópodes. Vasconcellos (1990) apud Cunha (2004) constatou que a fauna de artrópodes foi mais abundante e diversa onde a serapilheira apresentava maior profundidade. CONCLUSÃO Observa-se que o estágio sucessional não influenciou a abundância e riqueza de grupos de artrópodes de serapilheira. Por outro lado, a diversidade variou entre áreas com diferentes estágios sucessionais. Observou-se o aumento do número de indivíduos com o aumento da profundidade de serapilheira. Contudo, as áreas estudadas estavam relativamente próximas, o que pode implicar na abundância e na riqueza das duas áreas serem parecidas. Somente artrópodes foram encontrados na serapilheira, não sendo encontrado nenhum outro filo. Isso demonstra a relevância desse grupo como componente da biodiversidade global e como decompositor de matéria orgânica. Além disso, essa fauna associada à serapilheira é formada, geralmente, por espécies que utilizam esse recurso como abrigo e refúgio de predadores. Também fica claro que a serapilheira é um dos recursos mais importantes como fonte de alimento para esses animais. REFERÊNCIAS Barbosa, M. G. V. (2001) apud SILVA, A. 2012. Insetos edáficos em diferentes estágios sucessionais da Floresta ombrófila densa montana, Orleans, SC. Trabalho de conclusão de curso (Monografia) em Ciências Biológicas. Criciúma, São Paulo: UNESC. Battirola, L. D.; Adis, J.; Marques, M. I.; Silva, F. H. O. 2007. Composição da comunidade de artrópodes associada a copa de Attalea phalrata. Mart. (Arecaceae), durante o período de cheia no pantanal Poconé, Mato Grosso, Brasil. Neotropical Entomology 36: 640-651. Brandão & Cancello (1999) apud Copatti, C.E.; Daudt, C.R. 2009. Diversidade de artrópodes na serapilheira em fragmentos de mata nativa e Pinus elliottii (Engelm. Var elliottii). Ciência e Natura 31(1): 95-113. Correia, M. E. F; Pinheiro, L. B. A. Correia, M. E. F; Pinheiro, L. B. A. 1999. Monitoramento da fauna de solo sob diferentes coberturas vegetais em um sistema integrado de produção Agroecológica, Seropédica (RJ). Seropédica: Embrapa, Agrobiologia. (Embrapa-CNPAB. Circular Técnica, 3). Disponível em:<http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/ bitstream/cnpab-2010/27118/1/cit003.pdf> Acesso em: 27 nov. 2015. Costa, C. C. A.; CamachO, R. G. V.; Macedo, I. D.; Silva, P. C. M. 2010. Análise comparativa da produção de serrapilheira em fragmentos arbóreose arbustivos em área de caatinga na Flona de Açu Rio Grande do Norte.Revista Árvore 34(2): 259-265. Cunha, N. L. 2004. Artropódos associados à serrapilheira suspensa acumulada em folhas de duas palmeiras,amazônia Central. Curso de campo: Ecologia da Floresta Amazônica. Dissertação de Mestrado, UFV, Viçosa. Entomol. 29: 25-46. ICMBio/MMA (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidadee Ministerio do Meio Ambiente) 2008. plano de manejoreserva biológica união, encarte 2: análise da região da unidade de conservação. Rio de Janeiro. Maio de 2008. 170p. ICMBio/MMA (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidadee Ministerio do Meio Ambiente).Encarte Reserva Biológica União ICMBio, Biodiversidade. Pesquisa Cientifica. Educação Ambiental. Inclusão Social. 2015 ICMbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) 2007. Plano de Recuperação dos Eucaliptais da Reserva Biológica União. Reserva Biológica União. Rio das Ostras.141p. Lagos, A.R. & Muller, B.L.A. Hotspot brasileiro: Mata Atlântica. 2007. Saúde & Ambiente em Revista 2(2): 35-45. Schmidt E Diehl (2008) apud Silva, A. 2012. Insetos edáficos em diferentes estágios sucessionais da Floresta ombrófila densa montana, orleans, sc. Trabalho de conclusão de curso (Monografia) em Ciências Biológicas. Criciúma, São Paulo: UNESC, 2012. Silva, A. 2012. Insetos edáficos em diferentes estágios sucessionais da Floresta ombrófila densa montana, orleans, sc. Trabalho de conclusão de curso (Monografia) em Ciências Biológicas. Criciúma, São Paulo: UNESC, 2012. SOS Mata Atlântica. 2015. A Mata Atlântica. Disponível em: <http://www.sosma.org.br/nossa-causa/a-mata-atlantica/>. Acesso em: 19 nov. 2015. Teixeira, L. R.; Gabriel, E.; Sausen, T. L.; Decian, V. S. 2015. Fauna de serapilheira em três estágios de sucessão ecológica no sul do Brasil. XII Congresso Brasileiro de Ecologia do Brasil. São Lourenço, MG. Vasconcellos (1990) apud Cunha, N. L. 2004. Artropódos associados à serrapilheira suspensa acumulada em folhas de duas palmeiras, Amazônia Central. Curso de campo: Ecologia da Floresta Amazônica. Dissertação de Mestrado, UFV, Viçosa. Entomol. 29: 25-46. Wolda (1996) apud Silva, A. 2012. Insetos edáficos em diferentes estágios sucessionais da Floresta ombrófila densa montana, orleans, sc. Trabalho de concussão de curso (Monografia) em Ciências Biológicas. Criciúma, São Paulo: UNESC, 2012. 258