RESULTADOS DA POLÍTICA PÚBLICA SOBRE O ENFRENTAMENTO ÀS DROGAS NO RIO DE JANEIRO RESUMO

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RESULTADOS DA POLÍTICA PÚBLICA SOBRE O ENFRENTAMENTO ÀS DROGAS NO RIO DE JANEIRO Coordenador: Aderlan Viana Crespo Pesquisador: Bruno Alves Pesquisadora: Carolina de Castro Miranda Pesquisadora: Bruna de Souza Pimentel Pesquisadora: Andressa Vieira UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES UCAM [1] E-mail: aderlancrespo@gmail.com RESUMO No Brasil há um largo espaço de discussão sobre a questão das drogas, seja pela descriminalização do consumo, seja pela ampliação da resposta penal. Assim, fundamental a análise dos resultados das ações do Estado, a fim de melhor compreensão da conjuntura. Adotamos o falido sistema de proibição. A meta definida em 1988 era a de um mundo livre de drogas, acreditava-se que seria possível proteger a saúde pública e minimizar o consumo e o lucro desse mercado via modelo, que reprime criminalmente usuários e traficantes. O que se vê, porém, é que em nenhum aspecto desse modelo teve o sucesso esperado. Legalizar significa regular. Não é ausência de controle, e sim o exercício deste sob uma ótica humanitarista. A proibição traz danos graves para a saúde, dificulta a intervenção social do Estado. A falta de pluralidade na mídia também contribui, e favorece as campanhas políticas montadas na política do medo. Policiais perdem prestígio por estarem envolvidos na imposição da proibição das drogas. A intervenção deve ser social e não policial. 1 O grupo de pesquisa Resultados da Política Pública sobre o Enfrentamento às Drogas no Rio de Janeiro, Grupo de Iniciação Cientifica / Criminologia da Universidade Candido Mendes.

Deve haver uma análise dos resultados para conduzir as mudanças na natureza do controle e deslegitimar o discurso oficial. Principalmente para trabalhar com o paradigma da redução de danos. PALAVRAS CHAVES: TRÁFICO DE DROGAS - POLÍTICA CRIMINAL DE DROGAS - ESTADO POLICIAL - DIREITO PENAL - LEI DE DROGAS. INTRODUÇÃO O objeto da pesquisa, Política de Drogas, se faz clara para todos nós a partir do momento que a atual política reflete as ações governamentais de enfrentamento policial, acrescida da proposta de pacificação nas favelas, com as chamadas Upp s, contudo os efeitos prometidos com a atual Política Criminal de Drogas não são alcançados. Ao contrário, a Guerra as Drogas possui uma letalidade assustadora. Vitimando em massa, traficantes, policiais e Amarildos que são os cidadãos que não possuem relação com o tráfico, mas sofre os efeitos colaterais típicos de guerra. Todos do mesmo extrato social, pobres. A tarefa fundamental da criminologia é a teoria crítica da realidade social do direito, o desafio do criminólogo contemporâneo é compreender as funções atuais do sistema penal com a globalização, o enfraquecimento do Estado, o poder infinito do mercado e o papel que a política criminal de drogas, capitaneada pelos Estados Unidos, desempenha no processo de criminalização global dos pobres. É o que sustenta Alessandro Baratta.[2] Nilo Batista descreve esta política criminal de drogas no Brasil como política criminal com derramamento de sangue.[3] Ele descreve a transição do modelo sanitário desde 1914 até o modelo bélico implantado em 1964, na conjuntura da guerra fria, da doutrina de segurança nacional, com a exploração da figura do inimigo interno, e com a droga como metáfora diabólica contra a civilização cristã. A guerra contra as drogas introduz um elemento religioso e moral. Não há nada mais parecido com a inquisição medieval do que a atual guerra santa contra as drogas, com a figura do traficante herege que pretende apossar-se da alma de nossas crianças.[3] Essa cruzada exige uma ação sem limites, sem restrições, sem padrões regulativos. A droga se converte no grande eixo (moral, religioso, político e étnico) da reconstrução do inimigo interno, ao mesmo tempo em que produz verbas para o capitalismo industrial de guerra. Este modelo bélico produz marcas no poder jurídico, produz a banalização da morte. Os mortos desta 2 BARATTA, Alessandro. Fundamentos ideológicos da atual política criminal sobre drogas. In.: Só socialmente. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1992. 3 BATISTA, Nilo. Politica criminal com derramamento de sangue. In.: Revista Brasileira de Ciências Criminais. Nº 20. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.

guerra têm uma extração social comum: são jovens, negros/índios e são pobres. Salo de Carvalho criticou historicamente a legislação penal de drogas no Brasil com seus dispositivos vagos e indeterminados e o uso abusivo de normas penais em branco, que acabaram por legitimar sistemas de total violação das garantias individuais.[4] A professora Vera Malaguti salienta que nossa política criminal de drogas é um tigre de papel: [5] sua fraqueza provém de sua força. Sua forma e seu discurso de cruzada, moral e bélico, tem realizado muitas baixas, mas nada tem feito contra o demônio que finge combater: a dependência química. Esta só pode ser tratada com um olhar radicalmente diferente e que rompe com a esquizofrenia de uma sociedade que precisa se drogar intensamente, mas que precisa demonizar e vulnerabilizar as vítimas desse modelo perverso: dependentes químicos de substâncias ilegais, jovens e negros pobres das favelas do Brasil, camponeses colombianos ou imigrantes indesejáveis no hemisfério norte. Desta forma, cumulado com a indagação de Loïc Wacquant Para que serve finalmente, a prisão no século XXI? o presente objeto de de pesquisa visa desvendar os resultados da atual Guerra as Drogas em um dos seus principais palcos, o Rio de Janeiro. 1 - BREVE HISTÓRICO DA POLÍTICA CRIMINAL DE DROGAS NO BRASIL No Brasil, o primeiro diploma legal a sinalizar para as drogas foi português. As Ordenações Filipinas, de 1603, no V Livro, faziam menção, no título LXXXIX, a incriminação do uso, porte e venda de algumas substâncias tidas como tóxicas, como: rosalgar, solimão, escamonéa e ópio. Previam a aplicação de penas como: confisco de bens e degredo para a África. Do mesmo modo, nas esparsas Posturas da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, de 1830, a proibição do pito-de-pango, como aponta pesquisa de Nilo Batista.[6] Mas foi o Código Penal Republicano, de 1890, o primeiro diploma penal brasileiro incriminador, que expressamente dispôs, no artigo 159, sobre a proibição à algumas substâncias tidas como venenosas, que não eram determinadas, careciam de norma complementar. 4 CARVALHO, Salo de. A política criminal de drogas no Brasil: do discurso oficial às razões da descriminalização. 2ª. Edição. Rio de Janeiro: Luam, 1997. 5 BATISTA, Vera Malaguti. O Tribunal de Drogas e o Tigre de Papel. Disponível na Internet: <http://www.mundojuridico.adv.br>. Acesso em 05 de Fevereiro de 2008. 6 BATISTA, Nilo. Politica criminal com derramamento de sangue. In.: Revista Brasileira de Ciências Criminais. Nº 20. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.

A primeira trincheira travada contra as drogas, em âmbito internacional, começou em 1839, ligada ao comércio do ópio, na China e na Índia. Em 1912, em Haia, ocorreu a Conferência Internacional do Ópio, que foi subscrita pelo Brasil, adesão que se confirmou no Decreto no. 2.861 de 1914, seguido do Decreto 11.481 de 1915, que abarcava a incriminação do ópio, morfina e cocaína. Dessa forma, pouco a pouco se configurava um modelo sanitário, que prevaleceu por quase meio século. Já o Decreto 4.294 de 1921, revogou o artigo 159 do Código Penal de 1890. Este novo dispositivo legal especificou o termo entorpecente, como uma qualidade designativa às substâncias mencionadas como venenosas. Este termo somente abandonaria a legislação em 2006. O referido Decreto foi regulamentado pelo Decreto 14.969 de 1921, que determinava a criação dos sanatórios para toxicônomos. Mas, enquanto não fossem implantados, cabia a interdição na Colônia de Alienados. Mais tarde adveio o Decreto 20.930 de 1932, alterado pelo Decreto 24.505 de 1934, revogado pelo Decreto-Lei 891 de 1938, que conduziria ao artigo 281 do Código Penal de 1940. A alternância de decretos na década de 30 reverbera as sucessivas tendências das Convenções Internacionais, como a de Haia (1912) e as de Genebra (1925, 1931 e 1936), que confirmaram a influência sofrida pelo Brasil. Trata-se, no dizer autorizado de Nilo Batista[7], da internacionalização do controle, característica permanente do modelo sanitarista, reformado de fora para dentro, em que a legislação interna funciona como ressonância decorada com as volutas do bacharelismo tropical. Contemplava a venda sob receituário médico rubricado pela autoridade sanitária, figura que ganha enlevo. Desse modo, consolidou-se a concepção sanitária de controle das drogas. As drogas estavam nas prateleiras, sob os auspícios dos boticários e farmacêuticos. As autoridades sanitárias aderiram às técnicas higienistas, tendo como instrumento as barreiras alfandegárias. A drogadição consubstanciava-se em doença de notificação compulsória. Desenhava-se um sistema médico-policial. Os usuários, dependentes e experimentadores inicialmente não eram criminalizados. Mas estavam submetidos à rigoroso tratamento, que passava pela internação obrigatória (por representação da Autoridade Policial ou do Ministério Público, pautada, nos casos urgentes, em mero laudo de exame, com caráter sumário) ou facultativa (por controle familiar até o quarto grau, com projeções patrimoniais, pelo acautelamento dos bens). Já o hospital que recebesse toxicônomos deveria comunicar fato à Autoridade Sanitária, que comunicaria à Polícia e ao Ministério Público. A droga deveria ser ministrada em doses homeopáticas para os internos, pela diminuição gradativa ou pela privação progressiva. A saída dos internos atrelava-se ao atestado médico de cura, referente à alta concedida pela Autoridade Sanitária, que notificaria a Polícia, para efetivar a vigilância. A alta do paciente assimilava-se a um alvará de soltura e consistia em decisão judicial. O eixo médico-farmacêutico impregnou o modelo legal e imprimiu um caráter científico com a insurgência de um viés moralista. 7 BATISTA, Nilo. Politica criminal com derramamento de sangue. In.: Revista Brasileira de Ciências Criminais. Nº 20. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.

Quando sobreveio o Código Penal de 1940, firmou-se a opção por não se criminalizar o consumo de drogas. No contexto histórico da redemocratização, após o Estado Novo, foi se delineando, a partir de 1946, um eixo moralizante, que foi se aderindo ao discurso da droga, o que continuaria até 1964. Para Nilo Batista [8], este ano significou a baliza divisória da ruptura do modelo de política criminal, que se translocou do sanitário para o bélico. Todavia, se percebem algumas permanências, vinculadas à construção do estereótipo da dependência e da doença. O marco foi justamente o ano do golpe militar, e não sem motivo. Pois este regime passou a ter ingerência sobre a condução de toda a política criminal no Brasil. Nesse contexto, da Europa às Américas, a partir da década de 60, a droga passou a ter uma conotação libertária, associada à manifestações políticas democráticas, aos movimentos contestatórios, à contra-cultura, especialmente as drogas psicodélicas, como a maconha e o LSD. Nesse momento, entrou em cena a guerra fria, com o capitalismo industrial de guerra, fato que propiciou a militarização das relações internacionais, no campo da geopolítica. Para o governo militar, a droga era ainda tida pelo DOPS-Rio como elemento de subversão, vista como arma da guerra fria, associada a uma estratégia comunista para destruir o Ocidente [9] e as bases morais da civilização cristã. Nessa direção, os investimentos foram se tornando cada vez mais vultuosos no combate às drogas. Revestido do lema de que o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil, o instrumento ideológico de controle foi elaborado pela ESG (Escola Superior de Guerra), com a colaboração da Missão Militar Americana. Assim, modelou-se a Doutrina de Segurança Nacional, a qual estabeleceu os inimigos internos, associados aos comunistas, que mais tarde se deslocariam para uma nova categoria de inimigos internos: os traficantes de drogas. Nesse diapasão, o Brasil passou a integrar o modelo de política criminal bélico. De acordo com Salo de Carvalho [10], após a aprovação da Convenção Única sobre Entorpecentes, pelo Decreto 54.216 de 1964, a adesão belicista passou a ser plena, com a expansão da repressão. Em 1968, logo após o Ato Institucional no. 5, o Decreto 385 modificou o artigo 281 do Código Penal, acrescentou outros verbos criminalizadores. O Decreto-lei no. 753 de 1969 reforçou a fiscalização. Posteriormente, entrou em vigor a Lei 5.726 de 1971, que já esboçou, em seu primeiro artigo, a preocupação no combate ao tráfico como sendo um dever de todos, com a necessidade premente de colaboração na delação. A lei em questão transpôs, no âmbito penal, aqueles que seriam os espectros da Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170 de 1983) e impôs grande repressão. Nas campanhas iniciais de Lei e Ordem os traficantes se coadunavam ao inimigo interno, quando eram jovens sucumbiam ao cancelamento da matrícula escolar e ainda eram incentivados a delatar outros envolvidos com drogas. Professores e diretores da rede de ensino deveriam delatar também, tinham o dever 8 BATISTA, Nilo. Politica criminal com derramamento de sangue. In.: Revista Brasileira de Ciências Criminais. Nº 20. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. 9 MALAGUTI, Vera. Drogas e criminalização da juventude pobre no Rio de Janeiro. In.: Revista Discursos Sediciosos: Crime, Direito e Sociedade. Nº. 2. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1996, p. 238. 10 CARVALHO, Salo de. A política criminal de drogas no Brasil: do discurso oficial às razões da descriminalização. 2ª. Edição. Rio de Janeiro: Luam, 1997.

jurídico de encaminhar os alunos suspeitos de envolvimento com drogas, fato que consistia em prestação de serviço relevante. Cabia aos infratores medida de recuperação com internação para tratamento psiquiátrico. A Lei 5.726 de 1971 estabeleceu a equiparação entre usuário e traficante, com até 6 anos de pena privativa de liberdade e trouxe a tipificação da quadrilha composta por dois membros. Nesse contexto, foi se moldando uma política criminal bélica. A política criminal de drogas ajustou-se à metáfora da guerra. Os discursos proferidos passaram a articular a noção de combate ao inimigo, que deve ser exterminado, com o aval da sociedade. A política da guerra foi potencializada no Brasil por uma tríplice base ideológica, a ideologia da Defesa Nacional, complementada pela Doutrina de Segurança Nacional e pelos Movimentos de Lei e Ordem. Ocorreu, desde meados da década de 70 e início da década de 80, no Brasil, durante o período da ditadura militar, através de um alinhamento com o discurso americano. A guerra às drogas, adveio, especialmente, após o colapso da guerra fria. Representou o deslocamento do aparato bélico e a continuidade da fabricação de armas. Estabeleceu-se um poder repressivo paralelo, designado para o combate ao tráfico de drogas, pelos EUA com o apoio do Canadá, intitulado DEA (Drug Enforcement Administration), que atua com polícias locais e especiais da América do Sul, em atividade de ingerência no Continente Americano, movimentação estratégica, na geopolítica atual. Assim parcerias com a FELCN (Força Especial de Luta contra o Narco-tráfico) na Bolívia; com a GNS (Guarda Nacional de Segurança) no Brasil, entre outros... Desse modo, o discurso punitivo atingiu as maiores nuances repressivas, de modo a justificar e a legitimar as operações policiais de enfrentamento ao tráfico de drogas, que deixou de ser compreendido como um problema de saúde pública, diretamente relacionado à ordem econômica e social, para se tornar o ponto nodal de uma política de extermínio. A década de 70 recrudesceu o modelo de política criminal de drogas, Salo de Carvalho [11], apropriadamente recorda as modificações na Convenção Única de Estupefacientes realizadas em 1972, seguida da visita do grupo de estudos do Congresso Americano à América Latina sobre Estupefacientes e Psicotrópicos, em 1973. Neste mesmo ano foi implantado o ASEP (Acordo Sul-Americano sobre Estupefacientes e Psicotrópicos). Apresentava características médico-jurídicas e subdividiu-se em quatro blocos: Prevenção, Tratamento, Reabilitação, Fiscalização e Repressão. Estes blocos se converteram na estrutura tipológica da Lei 6.368 de 1976. A nova Lei 6.368 de 1976 possibilitou um elevado aumento nas tipificações de tráfico de drogas. Este diploma retirou o termo combate do primeiro dispositivo legal e o substituiu por prevenção e repressão. Distinguiu as figuras penais do tráfico e do usuário, especialmente no tocante à duração das penas. Nesse sentido, as penas podiam variar de 3 a 15 anos de reclusão e multa para o tráfico e de detenção de 6 meses a 2 anos e multa para o uso. 11 CARVALHO, Salo de. A política criminal de drogas no Brasil: do discurso oficial às razões da descriminalização. 2ª. Edição. Rio de Janeiro: Luam, 1997, p. 28.

Nesta última espécie cabia a substituição por pena alternativa e sursis. Além disso, esta lei fixou a necessidade do laudo toxicológico, retirou o trancamento da matrícula dos usuários e a delação no que tange aos agentes da área da educação. Verificou-se, ainda, o chamado fenômeno da multiplicação dos verbos, sinalizado por Zaffaroni[12], o qual deu-se através dos crescimento dos tipos penais incriminadores, ao longo dos anos. Em 1988, a Constituição brasileira determinou que o tráfico de drogas deveria se configurar em crime insuscetível de anistia e de graça, como forma de extinguir a punibilidade, do mesmo modo, erigiu-se a inafiançabilidade. Mais tarde, em 1990, com o advento da Lei de Crimes Hediondos (Lei 8.072 de 1990), foram proibidos o indulto e a liberdade provisória para o crime de tráfico e ainda foram dobrados os prazos processuais, com o intuito de se postergar a prisão provisória. A Convenção da ONU contra o tráfico ilícito de estupefacientes e susbstâncias psicotrópicas de 1988 converteu-se em um estratégico mecanismo de controle, especialmente nos países da América do Sul, com destaque para o Brasil. A Convenção de Viena, em 1991 foi aprovada pelo Congresso brasileiro, que reforçou o viés punitivo. Isso fez com que o Governo brasileiro, em meados da década de 90, criasse o PANAD (Programa de Ação Nacional Anti-Drogas) e a SENAD (Secretaria Nacional Anti-Drogas). Em 1994, veio ao Brasil a Comissão de Fiscalização das Nações Unidas, seguida de outra em 1995, ambas teceram severas críticas no 2- POLÍTICA CRIMINAL DE DROGAS NO RIO DE JANEIRO Em assuntos de Direitos Humanos devemos ser sempre precisos. Mas o que dizer de um projeto penal que é a principal causa da morte de 33.000 jovens em 10 anos no Rio de Janeiro? Estamos com uma constante em torno de 1.000 homicídios/ano em autos de resistência, confrontos com a polícia. Além do claro extermínio é um tratamento diferenciado de acordo com a condição social e raça do agente. Conforme já citado o governo militar, entendia a droga como elemento de subversão, como arma de guerra. O início deste pensamento no Rio foi protagonizado pelo DOPS-Rio (DELEGACIA DE ORDEM POLÍTICA E SOCIAL) cujo o braço armado para atingimento do fim letal as drogas era realizado pela Polícia Especial, que funcionava como um verdadeira tropa de choque, criada em 1933.[13] Em 1927, no Rio de Janeiro [14], o quadro de internações de usuários de drogas realizado pela polícia constatou 363 homens e 111 mulheres viciados em álcool, 14 12 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. La legislacion de antidrogas latinoamericana: sus componentes de derecho penal autoritario. In.: Fascículos de Ciências Penais. Volume: 3. Número: 2. Porto Alegre: Antonio Fabris, 1990, p. 18. 13 RETINA, Marcia Regina da Costa. São Paulo e Rio de Janeiro: A constituição do Esquadrão da morte. In: http//www.omartelo.com/omartelo23/materia2.html 14 RETINA, Marcia Regina da Costa. São Paulo e Rio de Janeiro: A constituição do Esquadrão da morte. In: http//www.omartelo.com/omartelo23/materia2.html

homens e 7 mulheres em ópio, 8 homens com cocaína, 4 homens e 1 mulher com éter, 3 homens com luminal, 1 mulher com morfina e outra por heroína. Apesar de a elite consumir drogas o alvo preferencial da polícia sempre foram os extratos mais pobres. Vera Malaguti reforça em sua obra [15], apresentando estatísticas que apontam hoje as drogas como principal fator de criminalização da Juventude. Cerca de 49% dos adolescentes que entram no sistema estão envolvidos com drogas (38% por tráfico, 11% por consumo). A maioria destes meninos vêm dos morros, favelas e bairros pobres cariocas e 38% são analfabetos. [16] O discurso repressivo apresenta uma visão dicotômica da sociedade, aos jovens consumidores, integrantes dos estratatos sociais mais altos, aplica-se o paradigma médico; enquanto aos jovens vendedores, integrantes dos substratos baixos, aplica-se o paradigma criminal. Como demonstrado pela pesquisadora Vera Malaguti, a criminalização por drogas da juventude pobre do Rio de Janeiro, entre 1968 e 1988, deu-se pela construção do inimigo interno (traficantes). Os jovens traficantes enquadrados eram 9,1% em 1968, em 1973 alcançaram 17,9%, seguidamente, passaram para 24,2% em 1978 e finalmente atingiram 47,5% em 1983. Desde 1995, o comércio ilegal de drogas ultrapassou 50% e já se tornou o principal motivo da criminalização da juventude pobre por drogas no Brasil[17], pois decorrem de estereótipos que são construídos para estigmatizá-los, traficantes de drogas. [18] A guerra as drogas Carioca tem baixa dos dois lados do confronto. O número de policiais mortos, da mesma faixa etária e extração social de seus inimigos crescem. Cumpre destacar que a militarização no controle das drogas está subsumida à militarização ideológica da segurança, com um inimigo declarado, consoante uma visão maniqueísta. Assim, o inimigo deve, a todo custo, ser destruído. Mais uma consequência da Política Criminal de Drogas, no Rio de Janeiro foi a extensão das militarização da Operação Rio, realizada em 1994 e 1995, a partir de convênio firmado com as Forças Armadas do Governo Federal e a Polícia Militar do Governo do Estado do Rio de Janeiro; às Operações realizadas em 2007 e 2008, a partir de novo convênio firmando entre a Força Nacional de Segurança do Governo Federal e a Polícia Militar do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Ambas as operações com a 15 MALAGUTI, Vera. Difíceis ganhos fáceis: drogas e juventude pobre no Rio de Janeiro. Instittuto Carioca de Criminologia.Coleção Pensamento Criminológico: Volume 2. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1998. 16 Estatística da 2 Vara da Infância e Juventude do Rio de janeiro 17 MALAGUTI, Vera. Difíceis ganhos fáceis: drogas e juventude pobre no Rio de Janeiro. Instittuto Carioca de Criminologia.Coleção Pensamento Criminológico: Volume 2. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1998. 18 MALAGUTI, Vera. Difíceis ganhos fáceis: drogas e juventude pobre no Rio de Janeiro. Instittuto Carioca de Criminologia.Coleção Pensamento Criminológico: Volume 2. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1998.

mesma finalidade, a eliminação do tráfico de drogas das favelas da cidade, a captura de armas e criminosos. Com animação de espetáculo televisionado ao vivo. Merece destaque o fato de que ambas produziram graves violações aos direitos humanos, afetaram a vida de milhares de moradores, por detenções ilegais, mandados de busca generalizados, saques à residências, lesões corporais e finalmente execuções. [19] 3- A FALÊNCIA DO MODELO DE PROIBIÇÃO Nas palavras de Evandro Lins e Silva, a droga só gera violência por ser crime. A Chicago dos gângsteres é um bom exemplo. La, o crime se organizou a partir da Lei que proibia a venda de bebidas alcoólicas. Quando liberou, acabou. O modelo proibicionista de controle falhou. A meta definida em 1988 era a de um mundo livre de drogas, acreditava-se que seria possível proteger a saúde pública e minimizar o consumo e o lucro desse mercado via modelo proibicionista, que reprime criminalmente usuários e traficantes. O que se vê, porém, é que em nenhum aspecto esse modelo teve o sucesso esperado. No Brasil e em outros países em desenvolvimento, a realidade é pior: em vez de minimizar danos, essa formulação acarretou consequências nefastas. Baixa qualidade das drogas em circulação, situação de vulnerabilidade dos usuários, superlotação de prisões com indivíduos que não necessariamente são traficantes. Segundo a A LEAP Law Enforcement Against Prohibition [20] que traduzimos como Agentes da Lei Contra a Proibição, As drogas que hoje são ilícitas, como a maconha, a cocaína, a heroína, foram proibidas, em âmbito mundial, no início do século XX. Nos anos 1970, a repressão aos produtores, comerciantes e consumidores dessas substâncias foi intensificada, com a introdução da política de guerra às drogas. Essa guerra, declarada pelo expresidente norte-americano Richard Nixon, nos Estados Unidos da América, em 1971, logo se espalhou pelo mundo. 19 CARVALHO, Salo de. A atual política brasileira de drogas: os efeitos do processo eleitoral de 1998. Texto apresentado na Oficina sobre Drogas do ENED (Encontro Nacional de Estudantes de Direito), realizado na UNISINOS RS, em Outubro de 1998. 20 Palestra na abertura do Seminário Drogas: dos perigos da proibição à necessidade da legalização, promovido por Law Enforcement Against Prohibition Agentes da Lei Contra a Proibição (LEAP BRASIL), em conjunto com o Fórum Permanente de Direitos Humanos da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ), o Fórum Permanente de Especialização e Atualização nas Áreas do Direito e do Processo Penal da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ) e o Instituto Carioca de Criminologia (ICC) Rio de Janeiro-RJ 4 abril 2013.

Passados 100 anos de proibição, com seus mais de 40 anos de guerra, os resultados são mortes, prisões superlotadas, doenças contagiosas se espalhando, milhares de vidas destruídas e nenhuma redução na circulação das substâncias proibidas. Ao contrário, nesses anos todos, as drogas ilícitas foram se tornando mais baratas, mais potentes, mais diversificadas e muito mais acessíveis do que eram antes de serem proibidas e de seus produtores, comerciantes e consumidores serem combatidos como inimigos nessa nociva e sanguinária guerra. A proibição não é apenas uma política falida. É muito pior do que simplesmente ser ineficiente. A proibição causa danos muito mais graves e aumenta os riscos e os danos que podem ser causados pelas drogas em si mesmas. O mais evidente e dramático desses riscos e danos provocados pela proibição é a violência, resultado lógico de uma política baseada na guerra. Não há pessoas fortemente armadas, trocando tiros nas ruas, junto às fábricas de cerveja, ou junto aos postos de venda dessa e outras bebidas. Mas, isso já aconteceu. Foi nos Estados Unidos da América, entre 1920 e 1933, quando lá existiu a proibição do álcool. Naquela época, Al Capone e outros gangsters trocavam tiros nas ruas, enfrentando a polícia, se matando na disputa do controle sobre o lucrativo mercado do álcool tornado ilícito, cobrando dívidas dos que não lhes pagavam; atingindo inocentes pegos no fogo cruzado. Hoje, não há violência na produção e no comércio do álcool, ou na produção e no comércio de tabaco. Por que é diferente na produção e no comércio de maconha ou de cocaína? A resposta é óbvia: a diferença está na proibição. Só existem armas e violência na produção e no comércio de maconha, de cocaína e das demais drogas tornadas ilícitas porque o mercado é ilegal. As drogas tornadas ilícitas foram e são usadas por milhões de pessoas em todo o mundo. A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que, no ano de 2008, de 149 a 272 milhões de pessoas, entre 15 e 64 anos, fizeram uso de tais substâncias proibidas.1 A intervenção do sistema penal em um mercado que responde a uma demanda de tão grandes proporções traz mais uma consequência inevitável: a corrupção. A amplitude do mercado ilegal faz da produção e do comércio das drogas tornadas ilícitas a principal oportunidade de lucro vindo de negócios ilícitos e, consequentemente, o maior incentivo à corrupção de agentes estatais, financiando ainda outras atividades ilícitas. A proibição da produção, do comércio e do consumo das drogas tornadas ilícitas foi instituída sob o pretexto de proteção à saúde. No entanto, é a própria proibição que paradoxalmente causa maiores riscos e danos a essa mesma saúde que enganosamente anuncia pretender proteger. Com a irracional decisão de enfrentar um problema de saúde com o sistema penal, o Estado agrava esse próprio problema de saúde.

Com a proibição, o Estado entrega o próspero mercado das drogas tornadas ilícitas a agentes econômicos que, atuando na clandestinidade, não estão sujeitos a qualquer limitação reguladora de suas atividades. A ilegalidade significa exatamente a falta de qualquer controle sobre o supostamente indesejado mercado. São esses criminalizados agentes os ditos traficantes que decidem quais as drogas que serão fornecidas, qual seu potencial tóxico, com que substâncias serão misturadas, qual será seu preço, a quem serão vendidas e onde serão vendidas. Os maiores riscos à saúde daí decorrentes são evidentes. A proibição ainda dificulta a assistência e o tratamento eventualmente necessários, seja ao impor internações compulsórias, que, além de reconhecidamente ineficazes, violam direitos fundamentais, seja por inibir a busca voluntária do tratamento, ao pressupor a revelação da prática de uma conduta tida como ilícita. Muitas vezes, essa inibição tem trágicas consequências, como em episódios de overdose em que o medo daquela revelação paralisa os companheiros de quem a sofre, impedindo a busca do socorro imediato. A repressão provoca danos ambientais, seja diretamente com a erradicação manual das plantas proibidas ou pior, com as fumigações aéreas de herbicidas sobre áreas cultivadas, como ocorreu na região andina, seja indiretamente, ao provocar o desflorestamento das áreas atingidas e levar os produtores a desflorestar novas áreas para o cultivo, geralmente em ecossistemas ainda mais frágeis. Além disso, como acontece na comercialização dos produtos proibidos, também no que se refere à produção a clandestinidade, provocada pela proibição, impede qualquer controle ou regulação, o que naturalmente eleva os riscos e danos ambientais. A proibição às drogas tornadas ilícitas é imposta nas vigentes convenções da Organização das Nações Unidas (ONU), que dão as diretrizes para a formulação das leis internas sobre esse tema nos mais diversos Estados nacionais. Essas convenções internacionais e leis nacionais, como a brasileira Lei 11343/2006, contrariam diversos princípios garantidores consagrados nas declarações internacionais de direitos humanos e nas constituições democráticas. A proibição se baseia na distinção arbitrariamente feita entre substâncias psicoativas que foram tornadas ilícitas (como, por exemplo, a maconha, a cocaína, a heroína) e outras substâncias da mesma natureza que permanecem lícitas (como, por exemplo, o álcool, o tabaco, a cafeína). Todas são substâncias que provocam alterações no psiquismo, podendo gerar dependência e causar doenças físicas e mentais. Todas são drogas. Tornando ilícitas algumas dessas drogas e mantendo outras na legalidade, as convenções internacionais e leis nacionais introduzem assim uma arbitrária diferenciação entre as condutas de produtores, comerciantes e consumidores de umas e outras substâncias:

umas constituem crime e outras são perfeitamente lícitas; produtores, comerciantes e consumidores de certas drogas são criminosos, enquanto produtores, comerciantes e consumidores de outras drogas agem em plena legalidade. Esse tratamento desigual de atividades similares claramente viola o princípio da isonomia. Não bastasse isso, as convenções internacionais e leis nacionais criam crimes sem vítimas, ao proibir a mera posse das arbitrariamente selecionadas drogas tornadas ilícitas e sua negociação entre adultos, assim violando a exigência de ofensividade da conduta proibida e o próprio princípio das liberdades iguais. Em uma democracia, o Estado não pode tolher a liberdade dos indivíduos sob o pretexto de pretender protegê-los. Ninguém pode ser coagido a ser protegido contra sua própria vontade. Intervenções do Estado supostamente dirigidas à proteção de um direito contra a vontade do indivíduo que é seu titular contrariam a própria ideia de democracia, pois excluem a capacidade de escolha na qual esta ideia se baseia. Quando não traz um risco concreto, direto e imediato para terceiros como é o caso da posse para uso pessoal de drogas ilícitas, ou responsável pela conduta age de acordo com a vontade do titular do bem jurídico como acontece na venda de drogas ilícitas para um adulto que quer comprá-las o Estado não está autorizado a intervir. Violações a normas garantidoras de direitos fundamentais estão, assim, na base da proibição e se aprofundam à medida que cresce o tom repressor, multiplicando-se as regras das convenções internacionais e leis internas que, ao estabelecer maior rigor penal e processual contra condutas relacionadas a drogas, ampliam a contrariedade a normas inscritas nas declarações internacionais de direitos humanos e constituições democráticas. A proibição e sua guerra são totalmente incompatíveis com os direitos humanos. A proibição violadora do princípio da isonomia, do princípio das liberdades iguais, e de tantos outros princípios garantidores de direitos fundamentais; a proibição causadora de violência, mortes, prisões e doenças a proibição não se harmoniza com a ideia de direitos humanos. São conceitos incompatíveis e incongruentes. Aliás, guerras e direitos humanos não são mesmo compatíveis em nenhuma circunstância. 4 - DESCRIMINALIZAÇÃO DAS DROGAS A guerra às drogas não é propriamente uma guerra contra as drogas. Não se trata de uma guerra contra coisas. Como quaisquer outras guerras, é sim uma guerra contra pessoas: os produtores, comerciantes e consumidores das arbitrariamente selecionadas drogas tornadas ilícitas. Mas, não exatamente todos eles. Os alvos preferenciais da guerra às drogas são os mais vulneráveis dentre esses produtores, comerciantes e

consumidores das substâncias proibidas. Os inimigos nessa guerra são os pobres, não brancos, os marginalizados, os desprovidos de poder. O encarceramento massivo de afro-americanos nos Estados Unidos da América nitidamente revela o alvo e a função da guerra às drogas naquele país: perpetuar a discriminação e a marginalização fundadas na cor da pele, anteriormente exercitadas de forma mais explícita com a escravidão e o sistema de segregação racial conhecido como Jim Crow. O alvo preferencial da guerra às drogas brasileira também é claro: os mortos e presos nessa guerra os inimigos são os traficantes das favelas e aqueles que, pobres, não-brancos, marginalizados, desprovidos de poder, a eles se assemelham. É preciso pôr fim a essa falida e danosa política que, além de não funcionar em sua pretensão de salvar as pessoas de si mesmas e construir um inviável mundo sem drogas, produz demasiada violência, demasiadas mortes, demasiadas prisões, demasiadas doenças, demasiada corrupção. É preciso legalizar a produção, o comércio e o consumo de todas as drogas para assim pôr fim à violência e à corrupção provocadas pela proibição; para assim afastar medidas repressivas violadoras de direitos fundamentais; para assim verdadeiramente proteger a saúde. Legalizar não significa permissividade ou liberação geral, como insinuam os enganosos discursos dos partidários da fracassada e danosa proibição. Ao contrário. Legalizar significa exatamente regular e controlar, o que hoje não acontece, pois um mercado ilegal é necessariamente desregulado e descontrolado. Legalizar significa devolver ao Estado o poder de regular, limitar, controlar e fiscalizar a produção, o comércio e o consumo dessas substâncias, da mesma forma que o faz em relação às drogas já lícitas, como o álcool e o tabaco. Exatamente por isso não basta descriminalizar a posse para uso pessoal ou legalizar apenas uma ou outra substância considerada mais leve, como a maconha. É preciso sim legalizar a produção, o comércio e o consumo de todas as drogas. Todas as drogas, lícitas ou ilícitas, são potencialmente perigosas e viciantes. Seus efeitos mais ou menos danosos dependem, em grande parte, da forma como quem as usa se relaciona com elas. Mas, certamente há drogas mais e menos potentes, e assim mais ou menos perigosas. Quanto mais perigosa uma droga, maiores razões para que seja legalizada, pois não se pode controlar ou regular algo que é ilegal. É preciso que a produção, o comércio e o consumo de todas as drogas venham para a luz do dia, para assim se submeterem a controle e regulação. Legalizar tampouco significa que haveria um aumento incontrolável do consumo, como insinuam os enganosos discursos dos partidários da fracassada e danosa proibição. Pesquisa realizada pelo Zogby, nos Estados Unidos da América, em dezembro de 2007, registrou 99% de respostas negativas à indagação sobre se, uma vez legalizadas drogas

como cocaína ou heroína, os entrevistados passariam a consumi-las. Na Holanda, onde o consumo de derivados da cannabis é acessível nos tolerados coffee-shops, o percentual de consumidores entre os jovens é muito inferior ao registrado nos Estados Unidos da América. [21] Por outro lado, é preciso ter claro que a legalização não significa que todos os problemas estarão solucionados. A legalização não é, nem pretende ser, uma panaceia para todos os males. A necessária legalização apenas porá fim aos riscos e aos danos criados pela proibição, assim removendo uma grande parcela de violência, o que já significa enorme conquista para o bem-estar social e a segurança pública. Com efeito, não há como se ter guerra às drogas e segurança pública ao mesmo tempo. Preocupações verdadeiras com a segurança pública também exigem o fim da proibição. A realidade e a história demonstram que o mercado das drogas não desaparecerá, nada importando a situação de legalidade ou ilegalidade. As pessoas continuarão a usar substâncias psicoativas, como o fazem desde as origens da história da humanidade. Com o fim da proibição, essas pessoas estarão mais protegidas, tendo maiores possibilidades de usar tais substâncias de forma menos arriscada e mais saudável. 5- NOVO PARADIGMA DA REDUÇÃO DE DANOS A professora e coordenadora do grupo de pesquisas em Política de drogas e Direitos Humanos da Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luciana Boiteux traz um apontamento único, da questão de trabalhar com a redução de danos, e não necessariamente a abstinência, o que segundo ela é o novo paradigma. A complexidade começa quando o atual modelo de combate as Drogas, que conforme já explorado em capitulo próprio, é um modelo superado não leva em consideração a vontade do usuário, o que indica a necessidade de políticas públicas que tenham como foco os direitos humanos. Ocorre que, no âmbito da política criminal, não há consenso, mas no da política de saúde, sim. Deve-se investir em prevenção, em informação... Os usuários que queiram ajuda precisam ser apoiados pelo Estado. Uma intervenção social e não policial. A redução de danos é um novo paradigma, porque não trabalha com a ideia de abstinência como única meta aceitável, e sim, com a de apoio de medidas que minimizem os danos. Esse pensamento avança no sentido da saúde pública e do respeito 21 Fontes: European Monitoring Center for Drugs and Drug Addiction, 2005. National Survey on Drug Use and Health, 2004-2005. Holanda: jovens de 15 a 24 anos em torno de 12%; EUA; jovens de 18 a 25 anos: cerca de 27%.

a liberdade do usuário METODOLOGIA Trabalho de pesquisa baseado em dados, por método indutivo, para que seja possível depurar possíveis resultados que se constituem como aspecto prático, das funções dos agentes do controle social formal. Neste sentido, o objetivo da NIC será identificar o que ocorre, juridicamente, sobre os casos identificados pelo Estado, tanto de consumo quanto de comércio, para que se demonstre os resultados efetivados com a lei de drogas. Portanto, termos perguntas a serem respondidas que formam o problema do projeto de pesquisa. São elas: a) De que forma se aplica a lei ao usuário? b) De que forma se aplica a lei ao vendedor, traficante? c) Existe disparidade, sobre a aplicação da lei, entre a atuação policial e o judiciário? Passo a passo para implementação da pesquisa I- Cada aluno deverá identificar 20 casos; II- Deverá ser visita, inicialmente, uma delegacia (a escolha da aluna(o), para identificar os 20 casos. III- Buscar os casos nos juízos criminais para onde os casos foram distribuídos. IV- Identificar as peças: registro de ocorrência (flagrante ou inquérito), denúncia, defesa e sentença; V- Dirigir-se ao setor de jurisprudência do tribunal e verificar a apelação, contrarazões e o acórdão. A pesquisa deverá nos dar respostas específicas, para que seja possível responder as perguntas anteriormente referidas, que sugerem o problema (a,b e c). Na pesquisa cada aluna(o) deverá identificar as seguintes informações, para cada caso: ( ) usuário ( ) comércio/tráfico ( ) cor da pele/etinia (indicar B ou N) Residência: ( ) favela (sim ou não) Ocupação: Estuda ( ) série: Trabalha ( ) função: ( ) preso em flagrante (sim ou não) Tipo de droga(s) Quantidade de droga(s) ( ) denúncia (sim ou não) ( ) defensoria pública (sim ou não)

( ) réu preso (sim ou não) Tipo penal da lei de drogas: ( ) condenado (sim ou não) Tipo da pena: Tempo: ( ) recurso (sim ou não) 15-( ) sentença modificada (sim ou não) Resultado da reforma: CONCLUSÃO Com a omissão legislativa da lei 11.403/60 acerca da quantidade necessária para configurar tráfico ou consumo, ficou a discricionariedade do juiz de definir o destino dos agentes desviantes. Ocorre que esta liberdade é perigosa, ao passo que, o temos visto é o direito penal do autor, onde se julga pelo o que o réu é, e não pelo o fato cometido. Conforme já demostrado, seletividade da guerra as drogas escolhe como destinatário de suas mazelas o extrato pobre e negro da sociedade. Em juízo, branco são consumidores e não-branco são traficantes. O Luís Carlos Valois Juiz de Direito, mestre e doutorando em direito penal pela Universidade de São Paulo, membro da Associação Juízes para a Democracia e da Law Enforcement Against Prohibition - LEAP, Associação de Agentes da Lei Contra a Proibição das Drogas diz: A guerra às drogas é racista. Talvez não precisemos de mais estatísticas. Negros pobres são traficantes, enquanto brancos ricos são soltos como usuários, tudo com base no julgamento feito na rua e ratificado pelo Poder Judiciário. A falta do pluralismo na mídia, como construtora brutal de opiniões fortalece o discurso oficial de proibição. Favorecendo apenas os políticos exploradores do medo social. Os gastos públicos são exorbitantes. Polícias perdem o prestígio e suas vidas no enfretamento. Consumidores desinformados adquirem doenças ou morrem por overdose. As relações entre indivíduos são mínimas através do medo, motivadas pelo estereótipo ou racismo. Não há vantagem coletiva alguma. A política Criminal de Drogas merece reforma, é preciso haver mudança no controle. Um modelo médico, humano, social que respeite vontades individuais e não produza mortes. Seja a letalidade por enfrentamento ou por desinformação sanitária, é preciso sana-las. É preciso acabar com os desaparecimentos de Amarildos. Por tais fundamentos a pesquisa científica, é fundamental para apuração de dados, e levantamento de resultados que venham a influenciar em uma Política Pública verdadeiramente Humanitária.

BIBLIOGRAFIA MALAGUTI, Vera. Difíceis ganhos fáceis: drogas e juventude pobre no Rio de Janeiro. Instittuto Carioca de Criminologia.Coleção Pensamento Criminológico: Volume 2. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1998. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. La legislacion de antidrogas latinoamericana: sus componentes de derecho penal autoritario. In.: Fascículos de Ciências Penais. Volume: 3. Número: 2. Porto Alegre: Antonio Fabris, 1990 RETINA, Marcia Regina da Costa. São Paulo e Rio de Janeiro: A constituição do Esquadrão da morte. In: http//www.omartelo.com/omartelo23/materia2.html BARATTA, Alessandro. Fundamentos ideológicos da atual política criminal sobre drogas. In.: Só socialmente. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1992 BATISTA, Nilo. Politica criminal com derramamento de sangue. In.: Revista Brasileira de Ciências Criminais. Nº 20. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997 CARVALHO, Salo de. A política criminal de drogas no Brasil: do discurso oficial às razões da descriminalização. 2ª. Edição. Rio de Janeiro: Luam, 1997 BATISTA, Vera Malaguti. O Tribunal de Drogas e o Tigre de Papel. Disponível na Internet: <http://www.mundojuridico.adv.br>. Acesso em 05 de Fevereiro de 2008. 1 MALAGUTI, Vera. Drogas e criminalização da juventude pobre no Rio de Janeiro. In.: Revista Discursos Sediciosos: Crime, Direito e Sociedade. Nº. 2. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1996, p. 238. http://www.leapbrasil.com.br/quem-somos/a-leap http://www.ensp.fiocruz.br/radis/revista-radis/101/repostagens/entrevistalucianaboiteux-%e2%80%9cmodelo-proibicionista-de-combate-drogas-fa