Suzana Gico Montenegro (1), Abelardo A. Montenegro (2), Giancarlo L. Cavalcanti (3), Albert Einstein Spíndola de Moura (4)



Documentos relacionados
PROJETO DE LEI Nº, DE 2014

XVII CONGRESSO BRASILEIRO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

Sistema para balanceamento hídrico de empreendimento. Dentre estas medidas está a constante busca pela redução de consumo de água potável,

Gestão da Demanda de Água Através de Convênios e Parcerias com o Governo do Estado de São Paulo e Prefeitura da Cidade de São Paulo SABESP

A OUTORGA DE DIREITO DE USO DOS RECURSOS HÍDRICOS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAPIBARIBE, PERNAMBUCO- BRASIL.

Comunicado Técnico 08

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DA RECARGA ARTIFICIAL COMO ALTERNATIVA PARA RECUPERAÇÃO DA POTENCIOMETRIA DE AQUÍFERO: ESTUDO DE CASO NA PLANÍCIE DO RECIFE-PE

IT AGRICULTURA IRRIGADA. (parte 1)

PODER EXECUTIVO FEDERAL. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária do Rio Grande do Sul

HIDROGEOLOGIA E MINERAÇÃO (PLANEJAMENTO E OPERAÇÃO)

Gerenciamento de Drenagem de Mina. Soluções e Tecnologias Avançadas.

Projeto Tecnologias Sociais para a Gestão da Água

Eixo Temático ET Recursos Hídricos NOVAS TECNOLOGIAS PARA MELHOR APROVEITAMENTO DA CAPTAÇÃO DA ÁGUA DE CHUVA

O maior manancial de água doce do mundo

Eixo Temático ET Educação Ambiental UM ESTUDO SOBRE POÇOS ARTESIANOS EM SANTA CRUZ DO CAPIBARIBE-PE

DISCIPLINA: SISTEMA SANITÁRIO (2/7)

Serão distribuídos: Para os professores: Cinco módulos temáticos e um caderno de atividades. Para os alunos: um caderno de atividades.

Concepção de instalações para o abastecimento de água

Termo de Referência nº Antecedentes

O Sistema de Monitoramento Hidrológico dos Reservatórios Hidrelétricos Brasileiros

As consequências da exploração desordenada das águas subterrâneas em tempos de escassez de água

RET Relatório Técnico de Encerramento Título do Teste TESTE DE HIDROVARIADOR DE VELOCIDADE HENFEL MODELO HFPM2500

O ESTADO DA ARTE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS E O SEU CONTEXTO DIANTE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

DISCIPLINA: SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA E SANEAMENTO PROFESSOR: CÁSSIO FERNANDO SIMIONI

Detecção de vazamentos na rede urbana de água com rede de sensores sem fio

Fenômeno El Niño influenciará clima nos próximos meses

ASPECTOS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM REDES INTELIGENTES SMART GRIDS PROJETO DE PESQUISA 01: ANÁLISE DA MEDIÇÃO INTELIGENTE DE ENERGIA VIA PLC

DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL PORTARIA Nº 231,de 31 DE JULHO DE 1998, DOU de 07/08/98

PROBLEMAS ATUAIS DA LOGÍSTICA URBANA NA ENTREGA DE MATERIAIS HOSPITALARES UM ESTUDO INVESTIGATIVO

Geotecnologia aplicadas à análise histórica humana /intervenções urbanas e evolução da linha de costa

ANEXO II DO REGULAMENTO TÉCNICO 001/08 -RELATÓRIO DE TESTES DE BOMBEAMENTO-

REDUÇÃO DE PERDAS REAIS NA ÁREA PILOTO DO PARQUE CONTINENTAL.

Apresentação CEI. Perspectivas no mercado de energia fotovoltaica

RESERVATÓRIOS DE DETENÇÃO HIDRICA: SOLUÇÃO PARA PROBLEMAS DE DRENAGEM URBANA NO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE - PB

Atividade de Aprendizagem 1 Aquífero Guarani Eixo(s) temático(s) Tema Conteúdos Usos / objetivos Voltadas para procedimentos e atitudes Competências

AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE VAZÃO DAS INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE GUARULHOS

Infra Estrutura Verde no Planejamento Urbano Das Cidades

HIDROGEOLOGIA DO OESTE DE SANTA CATARINA

III-123 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM ATERROS DE RESÍDUOS SÓLIDOS A PARTIR DE ESTUDOS DE REFERÊNCIA

ARTIGO TÉCNICO. Os objectivos do Projecto passam por:

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO TÉRMICO DA QUADRA MULTIFUNCIONAL DO CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO CEARÁ, BRASIL.

C A T Á L O G O D E S E R V I Ç O S

EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO RURAL NOS MUNICÍPIOS DO CENTRO- SUL PARANAENSE NO PERÍODO DE 2000 A 2010

O Enfrentamento à Vulnerabilidade Costeira de Pernambuco

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS CURITIBA ENGENHARIA INDUSTRIAL ELÉTRICA / ELETROTÉCNICA

INSPEÇÃO DE FONTES ALTERNATIVAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA PARA A COBRANÇA DOS ESGOTOS

INSTRUÇÃO NORMATIVA. Assunto: Procedimentos para Tamponamento de Poços

SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA - 3P TECHNIK

Banco de Boas Práticas Ambientais: Cases de. Antônio Malard FEAM 09/06/2015

A1.2 Águas subterrâneas. A1.2.0 Introdução 1

A HIDROSFERA. Colégio Senhora de Fátima. Disciplina: Geografia 6 ano Profª Jenifer Tortato

"Água e os Desafios do. Setor Produtivo" EMPRESAS QUE DÃO ATENÇÃO AO VERDE DIFICILMENTE ENTRAM NO VERMELHO.

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA PROJETO DE LEI Nº 051/2012

O AGENTE DA MOBILIDADE URBANA NO SISTEMA MUNICIPAL DE DEFESA CIVIL

Relatório da Situação Atual e Previsão Hidrológica para o Sistema Cantareira

INTEMPERISMO, FORMAÇÃO DOS SOLOS E ÁGUA SUBTERRÂNEA. Profa. Andrea Sell Dyminski UFPR

SISTEMA DE CONTENÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS

Área de restrição e controle de capacitação e uso de águas subterrâneas PROJETO JURUBATUBA. INSTITUTO DE ENGENHARIA 29 Junho de 2011

SISTEMATIZAÇÃO DA SAZONALIDADE DAS VAZÕES CARACTERÍSTICAS PARA FLEXIBILIZAÇÃO DA OUTORGA DE DIREITO DE USO DOS RECURSOS HÍDRICOS

ROTEIRO PARA A ELABORAÇÃO DO RAS - Obras de Telecomunicação

INÍCIO DE OPERAÇÃO DO SISTEMA: A primeira etapa entrou em operação em 1975 e a segunda, em 1982.

Painel 2 - Um desafio histórico no Nordeste: escassez de água ou de soluções? Água de Chuva: alternativa para conviver com a seca

Metalúrgica Inca Ltda Avenida Geraldo Marra, 865 Distrito Industrial II CEP Fone/Fax : (19) Site

Prognos SMART OPTIMIZATION

Convenção de Condomínio para prédios verdes

NARRATIVA DO MONITOR DAS SECAS DO MÊS DE JUNHO DE 2015

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO NA CIDADE DE SALVADOR (BA): CORRELAÇÃO ESTATÍSTICA DE SETE ESTAÇÕES PARA MODELAGEM DE PREVISÃO

Petróleo e Meio Ambiente

MEDIDAS NECESSÁRIAS HOJE PARA PREVISÕES CONFIÁVEIS SOBRE A FUTURA DISPONIBILIDADE E QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS

T- 072 FERRAMENTAS PARA DETERMINAÇÃO DO PADRÃO DE CONSUMO RESIDENCIAL DE ÁGUA

Prêmio Nacional da Qualidade em Saneamento. Metodologia de Priorização Gestão de Ações no Combate às Perdas Reais de Água

RESERVATÓRIOS DE PLACAS DE ARDÓSIA ARMADAS PARA ARMAZENAMENTO DE ÁGUA DA CHUVA

componente de avaliação de desempenho para sistemas de informação em recursos humanos do SUS

Esclarecimentos sobre rentabilidade das cotas do Plano SEBRAEPREV

I-021 PERDAS DE ÁGUA NO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA DO CAMPUS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ - UFPA

REAPROVEITAMENTO DA ÁGUA POTÁVEL: REUSO DE ÁGUA PARA MINIMIZAR O DESPERDICIO EM VASOS SANITÁRIOS

ESTUDO DE CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇO PARA EMPREENDIMENTOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA. Palavras-Chave: Custos, Formação de Preço, Economia Solidária

Financiamento: FCT e o Ministry of Scientific Research, Technology and Competency Development da Tunisia

Análise da rede de monitoramento hidrometeorológico do estado de Sergipe

EMPREGO DA PRESSÃO NA REDE DE DISTRIBUIÇÃO ENQUANTO INDICADOR DA QUALIDADE DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE SANEAMENTO

UTILIZADORES DE REDUTORES DE VAZÃO NA REDUÇÃO DO TEMPO DE RECUPERAÇÃO DE SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO

AQUIFERO BOA VIAGEM, RECIFE PE: UMA ABORDAGEM DOS IMPACTOS DA VEDAÇÃO DAS ÁREAS DE INFILTRAÇÃO SOBRE A DISPONIBILIDADE HÍDRICA.

P L A N O M U N I C I P A L D E S A N E A M E N T O B Á S I C O

FACULDADE SUDOESTE PAULISTA CURSO - ENGENHARIA CIVIL DISCIPLINA- HIDROLOGIA

Sistema de Monitoramento de Poços Tubulares

Aplicação da ferramenta Invest para identificação de Áreas de Risco de Contaminação no âmbito do Plano de Segurança da Água

Plano Básico Ambiental

Termos de referência para o cadastro das infraestruturas de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais

PLANEJAMENTO URBANO E DE TRANSPORTES BASEADO EM CENÁRIO DE MOBILIDADE SUSTENTÁVEL O CASO DE UBERLÂNDIA, MG, BRASIL

Principais ações desenvolvidas pela empresa

II LEITOS CULTIVADOS ( CONSTRUCTED WETLAND ): COMPARAÇÃO ENTRE VALORES OBTIDOS PARA UMA MESMA VAZÃO AFLUENTE EM ÉPOCAS DISTINTAS

1 INTRODUÇÃO. 1.1 Motivação e Justificativa

O uso do gvsig na Identificação de locais estratégicos para instalação de uma loja de confecções

Você sabia. As garrafas de PET são 100% recicláveis. Associação Brasileira da Indústria do PET

Sitec Power Soluções em Energia ENERGIA REATIVA E FATOR DE POTÊNCIA

CATÁLOGO Aquah Cisternas Verticais PLUVIAIS E POTÁVEIS

Perspectivas da Produção de Óleo e Gás pelo Método de Fraturamento Hidráulico

RESOLUÇÃO CRH Nº 10 /09, DE 03 DE DEZEMBRO DE 2009.

CONSELHO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE CONEMA RESOLUÇÃO Nº 01/2014

Transcrição:

CAPTAÇÃO E MANEJO DE ÁGUA DE CHUVA PARA SUSTENTABILIDADE DE ÁREAS RURAIS E URBANAS TECNOLOGIAS E CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA TERESINA, PI, DE 11 A 14 DE JULHO DE 2005 RECARGA ARTIFICIAL DE AQÜÍFEROS COM ÁGUAS PLUVIAIS EM MEIO URBANO COMO ALTERNATIVA PARA A RECUPERAÇÃO DOS NÍVEIS POTENCIOMÉTRICOS: ESTUDO DE CASO NA PLANÍCIE DO RECIFE (PE) Suzana Gico Montenegro (1), Abelardo A. Montenegro (2), Giancarlo L. Cavalcanti (3), Albert Einstein Spíndola de Moura (4) (1) Professora Adjunta. Departamento de Engenharia Civil. Universidade Federal de Pernambuco. Av. Acad. Hélio Ramos, s/n.cidade Universitária. Recife, PE. e-mail: suzanam@ufpe.br (2) Professor Adjunto. Departamento de Tecnologia Rural. UFRPE. e-mail: monte@hotlink.com.br. (3) Bolsista PIBIC UFPE/CNPq. (4) Bolsista Mestrado CT-Hidro/ CNPq, Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, UFRPE. INTRODUÇÃO A busca por fontes de água mais confiáveis, impulsionada nos últimos anos pelo déficit no abastecimento na Região Metropolitana do Recife (RMR), Pernambuco, gerou uma explotação excessiva dos aqüíferos costeiros. Esta super-explotação, associada ao desequilíbrio com o processo de recarga natural, que é insuficiente, vem causando elevados rebaixamentos na potenciometria desses aqüíferos. A super- explotação diminui a disponibilidade hídrica do aquífero, aumenta a sua vulnerabilidade a contaminações advindas de camadas superiores, bem como o torna susceptível à intrusão marinha. Apesar da carência de água para o abastecimento, a RMR conta com um índice pluviométrico anual médio de 2200 mm. A impermeabilização, associada à topografia relativamente plana da área e ao fato da mesma se situar praticamente ao nível do mar vem acarretando sérios prejuízos à população, que sofre crescentes alagamentos em virtude de chuvas de alta intensidade. 5º Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva, Teresina, PI, 11-14/07/2005 1

É necessário implementar metodologias que preservem o aqüífero, recuperem seus níveis de pressão, e reponham gradualmente os volumes retirados nos últimos anos. Uma alternativa que vem sendo adotada em áreas com escassez de água, como o Oeste dos EUA e Israel é o aproveitamento de águas servidas, de rios ou de chuvas para a recarga artificial. A recarga artificial do aquífero utilizando águas de chuva também tende a aliviar problemas de drenagem urbana. Chuvas de alta intensidade tendem a gerar alagamentos, sendo gradualmente escoadas para o oceano. Com a metodologia em discussão, parte destes volumes que seriam perdidos passariam a constituir aportes adicionais para o aquífero. Esse trabalho apresenta experimento de recarga artificial, discutindo a utilização de águas de chuva para tal finalidade em escala piloto na RMR, analisando a evolução da potenciometria do aqüífero em resposta à recarga. METODOLOGIA Área de Estudo O sistema aqüífero da Planície do Recife (PE) é composto por dois aqüíferos profundos, Cabo e Beberibe, de características semi-confinadas, recobertos por um aqüífero freático, o Boa Viagem. Costa et al. (1998) elaboraram um estudo que originou o zoneamento da explotação de águas subterrâneas para a planície do Recife, denominado HIDROREC I, sendo posteriormente atualizado constituindo o HIDROREC II (Costa et al., 2003). Costa et al. (2003) apresentam o mapa identificando as zonas de explotação (A, B, C, D, E e F), assim como descrição com aqüífero explotado, situação da profundidade atual dos níveis d água e condicionantes de explotação. Das zonas identificadas, a mais crítica é a chamada zona A, sendo o aqüífero mais explotado o Cabo, onde o estudo indicou que nenhum novo poço deve ser perfurado; os poços atualmente existentes deverão ter sua vazão reduzida em 50% e um monitoramento contínuo de níveis e vazões de explotação deverá ser exercido. Na zona A, a recarga natural não repõe o volume de água explotado, causando um déficit hídrico que resulta na diminuição dos níveis potenciométricos do aqüífero na região. A chamada zona A localiza-se no bairro de Boa Viagem, na faixa costeira, com grande densidade populacional e elevada concentração de condomínios residenciais, estabelecimentos comerciais, clínicas e hospitais de padrão econômico de médio a elevado, grande parte dos quais se abastecem de água subterrânea através de poços privados. A utilização de um sistema de poços injetores na Zona A, além de possibilitar a reposição gradual dos volumes retirados nos últimos anos, traria uma outra série de benefícios, como o 5º Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva, Teresina, PI, 11-14/07/2005 2

impedimento do possível avanço da cunha salina, e a melhora da qualidade das águas contaminadas. O sítio em estudo localiza-se na Planície do Recife, mais precisamente no bairro de Boa Viagem, em Recife, Pernambuco, na denominada Zona A. Neste sítio, os aqüíferos presentes são o Boa Viagem, mais acima e o Cabo, logo abaixo, semi-confinado. Na área existe um grande número de poços em operação e alguns desativados, devido ao excessivo rebaixamento potenciométrico, de condomínios e estabelecimentos comerciais diversos, incluindo um Shopping Center. Montagem do experimento Tendo como objetivo principal a recarga artificial através de água coletada de chuva, a montagem do projeto de recarga foi realizada levando em conta a hidrogeologia local, a captação de água de chuva e o controle da qualidade da mesma, além das características do uso do solo no local. Como optou-se pela montagem do experimento numa área densamente povoada, numa região onde o aqüífero se apresenta semi-confinado a cerca de 70 m de profundidade, verificou-se que o método de recarga artificial a ser aplicado no estudo deveria ser subterrâneo, de modo que injetasse a água a essa profundidade e interferisse o menos possível no uso do solo. Optou-se então pela utilização de poços de injeção, que utiliza para recarga as águas de chuva coletadas por um sistema de captação que permite controlar a procedência da mesma, o volume a ser armazenado e controlar a sua qualidade. Foram consideradas diversas possibilidades na escolha do local para instalação do experimento. Contatos foram mantidos com rede de supermercado para utilização de estabelecimento na área de Boa Viagem para realização da recarga. Infelizmente, a parceria não despertou o interesse dos dirigentes. Outra tentativa empreendida foi considerar a área do Shopping Center Recife, onde se acreditava que, em razão da grande área de captação de água de chuva, o experimento teria um impacto considerável e um forte apelo do ponto de vista de demonstração. Foi solicitado à empresa de engenharia local orçamento para montagem do experimento coletando água de chuva do telhado e de estacionamento, armazenamento e injeção através de poços abandonados no local e os custos superaram o orçamento do projeto de pesquisa, inviabilizando essa opção. Considerou- se então a possibilidade de selecionar edifício residencial localizado na zona A no bairro de Boa Viagem para o estudo da recarga. Foi selecionado para montagem do mesmo o 5º Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva, Teresina, PI, 11-14/07/2005 3

condomínio Le Grand Village, que tem um poço que não possui vazão suficiente para ser explorado, e uma área suficientemente elevada para coletar um volume significativo de águas pluviais. Neste condomínio foi feita montagem de um esquema de captação de águas pluviais que permite selecionar através de um sistema de registros quais áreas do condomínio (áreas do telhado, piso de circulação e lazer) contribuirão para a captação, controlando assim o volume e a procedência da mesma. As águas coletadas das áreas da coberta e do piso de lazer são encaminhadas a um reservatório subterrâneo já existente no condomínio. A área de captação das águas de chuva é formada pela área do telhado mais a área de livre circulação externa (pátio e lazer), perfazendo um total de 2.270 m 2. Uma importante consideração sobre a qualidade da água na recarga artificial de aqüíferos é a concentração de sólidos suspensos da fonte de suprimento (Pyne, 1995). Antes de serem recolhidas ao reservatório, as águas captadas passam por um sistema de filtragem, que tem a função de reter todo material granular carreado pela chuva. Acoplado a este sistema há um sistema de controle de captação das águas pluviais que permite a seleção da procedência das águas através de um sistema de registros (Figura 1). A água coletada é direcionada para o reservatório no sub-solo. Figura 1 - Sistema de captação das águas pluviais. Com a utilização deste sistema é possível determinar se a captação das água de chuva acumularia água da área total (cobertas e pátio) ou apenas de uma determinada área do 5º Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva, Teresina, PI, 11-14/07/2005 4

condomínio. Este sistema permite também a saída das águas diretamente para a rua, no caso do reservatório ficar completamente cheio. O reservatório utilizado possui capacidade de 100 m 3. O sistema injetor é formado por um conjunto de vários elementos, sendo o principal a bomba injetora, que é acionada assim que a bóia no reservatório atinge um determinado nível, iniciando assim a recarga. Além do sensor de bóia instalado no reservatório, o sistema injetor possui outro sensor de nível instalado no poço injetor, que desliga a bomba quando o nível do poço chega a cota do terreno. A vazão da bomba injetora é regulada de modo a permitir a maior taxa de recarga possível para o ensaio. A cerca de 4,6 m do poço injetor foi instalado um poço piezômetro, para medir as variações de nível nas proximidades do injetor. Foi selecionado ainda o poço a 24 m de distância do injetor (Edf. Central Park), com o objetivo de medir a influência da recarga a uma maior distância. Neste poço também foi instalado um tubo de acesso, que permite a descida do medidor de nível para acompanhar sua variação durante o experimento de recarga. Foram identificados outros poços vizinhos para acompanhamento dos níveis durante experimento de injeção. Foi identificado poço no edifício Chambord, a cerca de 81 m do poço injetor. Neste poço foi então instalado um tubo de acesso, permitindo assim medir os níveis durante os ensaios de campo. Todos os poços selecionados para o experimento de recarga possuem perfis construtivos e litológicos, e além destes foram realizadas perfilagem ótica no poço do Le Grand Village e perfilagem geofísica no poço piezômetro, ajudando a avaliar as condições de conservação e litologia. A Tabela 1 apresenta as características dos poços utilizados durante os ensaios de recarga artificial. Tabela 1 características dos poços injetor e de monitoramento de nível. Poço Função Dist. ao Injetor (m) Filtro (m) Ano de instalação Le Grand Village Injeção 0 102 a 118 1992 Piezômetro Monitoramento 4,6 100 a 114 2003 Central Park* Monitoramento 24 100 a 120 1989 Chambord* Monitoramento 81 92 a 112 1991 *Poços em operação Experimentos Realizados 5º Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva, Teresina, PI, 11-14/07/2005 5

Foram realizados durante o período de novembro de 2003 a Novembro de 2004 cinco ensaios de recarga. Os ensaios de campo permitiram um maior conhecimento da hidrogeologia local, sendo a metodologia dos ensaios aperfeiçoada à medida que os mesmos foram sendo realizados. Foram realizados testes de injeção com carga hidráulica variável no tempo, de modo a investigar o potencial da formação em receber recarga através do poço disponível, com 4 de diâmetro. A Figura 2 apresenta a geometria dos testes, com a vazão de injeção sendo estimada a partir da variação de volume de água no interior do poço. N.T. Z NA ( t ) H ( t ) N.E. N.D. q ( t ) Figura 2- Geometria do teste de injeção com carga hidráulica variável. Tabela 2 Resumo dos resultados dos ensaios de campo realizados. Ensaio Vazão máxima de Período de Volume Vazão estabilizada recarga estimada injeção (min) injetado (m 3 ) de recarga (m 3 /h) (m 3 /h) 14/04/2003 70 1,06 0,500 2,000 01/05/2003 85 0,75 0,500 2,000 05/11/2003 62 2,701 2,270 2,490 07/11/2003 221 3,527 0,957 1,128 10/12/2003 (*) 124 3,174 1,536 2,202 28/05/2004 (*) 150 7,045 2,445 2,445 09/11/2004 (**) 1080 100,670 5,550 5,706 5º Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva, Teresina, PI, 11-14/07/2005 6

16/12/2004 (**) 1440 107,420 4,446 4,460 (*) Após primeiro desenvolvimento do poço injetor. (**) Após segundo desenvolvimento do poço injetor. Os resultados demonstram o processo de evolução do poço por desenvolvimento, e apontam para valores viáveis de volume a ser injetado por recarga. SIMULAÇÃO DE CENÁRIO DE RECARGA PROLONGADA Através da utilização de modelos numéricos pode-se fazer o planejamento de aplicação de recarga de forma contínua, estimando a variação da potenciometria local sobre diferentes condições de recarga, permitindo um maior entendimento da dinâmica da recarga e guiando futuros passos do projeto. Com base nos dados das séries históricas de pluviometria no sítio em estudo e considerando perdas na captação das águas de chuva pode-se avaliar o impacto da recarga. O cenário foi simulado estimando uma vazão de 2,16 m 3 /h, injetada durante 3 horas por dia durante 3 meses, correspondendo ao período de chuvas mais freqüentes. A vazão foi estimada considerando dados históricos de precipitação em Recife (posto INMET- Instituto Nacional de Meteorologia) no trimestre mais chuvoso (maio a julho). Os resultados da aplicação do modelo matemático são apresentados em Silva et al. (2004) e demonstram importante impacto na elevação dos níveis de pressão no aqüífero Cabo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Destaca-se a recarga artificial de aqüíferos, que ainda não é praticada no Brasil, mas vem sendo implementada em diversos países como Estados Unidos, Austrália, Israel, como parte de programa de gerenciamento visando a recuperação dos níveis potenciométricos dos aqüíferos, bem como controle da intrusão marinha. A cidade de Los Angeles (EUA) experimentou problemas de intrusão marinha no aqüífero costeiro sob condições de super-explotação, primeiramente detectados em 1912 (Hutchinson et al., 1999). A solução encontrada para o problema do controle do avanço da cunha salina foi a construção de uma barreira hidráulica, constituída de poços de injeção promovendo a recarga artificial do aqüífero. No Brasil, nenhuma ação relacionada com a recarga artificial vem sendo realizada em escala operacional. As práticas mais comuns de recarga artificial são baseadas na utilização de águas 5º Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva, Teresina, PI, 11-14/07/2005 7

residuárias e de rios. Por outro lado, a captação de água de chuva vem sendo apontada como uma alternativa para a disponibilização de recursos hídricos em meios rurais, principalmente de regiões semi- áridas, e para o auxílio na solução de problemas de drenagem de águas pluviais em zonas urbanas. Procedimentos de gerenciamento de recursos hídricos que integrem a prática de captação de águas de chuva com a recarga artificial de aqüíferos não são comuns. Os problemas enfrentados em Recife devem ser tratados de forma integrada. Faz-se necessário implementar metodologias que preservem o aqüífero, e que reponham gradualmente os volumes retirados nos últimos anos. A recarga artificial do aqüífero através de poços de injeção, e utilizando águas de chuva, além das vantagens supracitadas, tende a aliviar problemas de drenagem urbana resultantes de chuvas de alta intensidade, constituindo iniciativa pioneira e de inovação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Costa, W. D.; Costa, H. F.; Ferreira, C. A.; Morais, J. F. S de, Villa Verde, E. R.; Costa, L. B. (2003). Estudo Hidrogeológico de Recife- Olinda- Camaragibe- Jaboatão dos Guararapes- HIDROREC 2. SRH- PE. Recife, 150p. 2. Costa, W. D., Manoel Filho, J., Santos, A. C., Costa Filho, W. D., Monteiro, A. B., Souza, F. J. A. de. (1998). Zoneamento de Explotação das Águas Subterrâneas na Cidade do Recife PE. X CONGRESSO BRASILEIRO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS. CD.São Paulo, SP. 3. HUTCHINCSON, A.; WENDELL, D.; FOREMAN, T. (1999). Los Angeles sea water intrusion barrier injection well redevelopment study. The 9 th Biennial Symposium on the Artificial recharge and Integrated Water Management. Tempe, Arizona, EUA. 4. PYNE, R. D. G. (1994) Groundwater Recharge and Wells: a guide to aquifer storage and recovery. Lewis Publishers, Florida, 376p. 5. Silva, G. do E. S., Montenegro, S. M. G. L., Costa, L. M. (2004). Modelagem numérica de recarga artificial em aquifero costeiro na planície do Recife (Brasil). Anais do XXV CILAMCE - Iberian Latin American Congress on Computational Methods. Recife, PE. Cd- rom. AGRADECIMENTOS 5º Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva, Teresina, PI, 11-14/07/2005 8

Os autores agradecem ao CNPq/CT- HIDRO pelo financiamento do projeto de pesquisa, ao CNPq/ UFPE por bolsa PIBIC, bem como aos moradores do Condomínio Le Grand Village pela permissão para realização do experimento. 5º Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva, Teresina, PI, 11-14/07/2005 9