Questão Agrária na América Latina. Professor Thiago Espindula - Geografia

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Transcrição:

Questão Agrária na América Latina Professor Thiago Espindula - Geografia

Objetivos da Aula -Traçar uma linha histórica dos problemas da estrutura fundiária da América Latina e de suas dificuldades teóricas para análise; -Diferenciar as várias formas de propriedade da terra no meio agrícola; -Apresentar dados atuais através de tabela e mapa. -Proposição de alguns caminhos para a América Latina conseguir resolver seus problemas de estrutura fundiária.

Problemas Teóricos -Influência de estudos norte-americanos, que não avaliam o contexto histórico da América Latina; -Racionalidade européia se faz presente, através de teorias que tentam moldar nossa agricultura à da Europa; -Pesquisas e teorias formuladas por pensadores latino-americanos não são levadas em conta; -Europeus e norte-americanos debatem nossos problemas segundo seu modo de perceber o mundo, o que gera um olhar turístico sobre os problemas e uma falta de soluções novas que realmente funcionem.

Problemas Teóricos Correntes de pensamento européias que balizam nossa análise e geram as distorções teóricas: -capitalista: o problema agrário nasce na pouca inserção no capitalismo; -feudalista: o problema agrário nasce no excesso de inserção no capitalismo. *Obs.: análises eurocêntricas não fazem um estudo de caso, e assim, a teoria fica apenas no campo abstrato, sem verificação no campo prático.

Problemas Teóricos Faz-se imprescindível analisar as duas realidades (da Europa e da América Latina) nos séculos XVI e XVII, para conseguirmos perceber onde mora o problema teórico: -Europa: excesso de mão-de-obra, falta de terras e recursos; -América Latina: excesso de terras e recursos, falta de mão-de-obra. *Obs.: é, no mínimo, grosseiro tentar aplicar uma teoria européia em um contexto totalmente diferente, como o presente na América Latina.

Problemas Teóricos Existem duas outras idéias errôneas que causam grande distorção no meio agrário: -Analisar o campo, esperando que ele gere a mesma quantidade de capital e no mesmo tempo que uma indústria do meio urbano. É notório que a velocidade de conclusão do ciclo do capital é mais lenta no meio rural. -Atribuir maior produtividade ao latifúndio, só porque dele saem mais produtos do que de uma propriedade familiar. Essa análise não leva em conta a relação do tamanho da propriedade e da produtividade por hectare.

História Agrária da América Latina Qual foi a base dos problemas de estrutura fundiária na América Latina, além das distorções teóricas? -População foi dizimada a menos da metade de 1500 a 1650 (trabalho pesado, combates, epidemias, etc), isso denota uma destruição de um modo de pensar; a falta de mão-de-obra será o motivo da importação de escravos da África. -As concentrações populacionais se deram nos povoados, o que promoveu um inchaço das cidades e um esvaziamento do meio rural. Obs.: a supremacia do urbano e a violência cultural, serão as bases em que se firmou toda a história da América Latina.

História Agrária da América Latina As origens do latifúndio: -Europeus (donos das terras) recusavam-se a trabalhar na lida agrícola e terras em abundância ficavam sem trabalho (a pecuária foi uma solução para o uso dessas terras com poucos trabalhadores); -Trabalho intensivo nos meios urbanos (têxtil) e mineração foram as atividades privilegiadas; Origens do minifúndio pobre: -População indígena foge para zonas periféricas, com a intenção de escapar da dominação européia, e nesses locais iniciam práticas de subsistência.

História Agrária da América Latina Século XVII a XIX (Revolução Industrial e Estruturação do Mercado Mundial) -Por falta de expressão demográfica, a América Latina começa com desvantagem nos acordos internacionais; (a população em 1800 era de 19 milhões de pessoas, contra 190 milhões da Europa) -Por não constituir mercado interno, ou seja, por não ter uma massa consumidora, o Mercado Internacional decide que a maioria dos países da América Latina voltarão suas atividades para a agricultura de exportação; -A agricultura de exportação torna-se a base das economias latinoamericanas.

História Agrária da América Latina Século XIX (Movimentos de Independência) -Instabilidades políticas e sócio-econômicas, conseqüente queda nas exportações; -Surgimento da imagem dos caudillos, como líderes regionais (detentores de terras); -Divisão dos territórios geram uma nova ordem, onde a competição entre os países latino-americanos se acirrará no Mercado Agroexportador; -Gastos com exército empobrecem os países.

História Agrária da América Latina Século XIX (Fortes Mudanças) -Laicização do Estado faz com que a igreja tenha suas terras distribuídas; -Com o enriquecimento o latifundiário irá participar das discussões políticas; -Terras indígenas serão engolidas pelos latifúndios; -As elites locais (fazendeiros, coronéis) reproduzem um padrão de vida europeu e influenciam as regiões que cercam suas propriedades com suas idéias; -Endividamento de trabalhadores do latifúndio, pois, recebem pouco e têm de comprar em armazéns de seus patrões.

História Agrária da América Latina Século XIX (Binômio Minifúndio-Latifúndio) -Crescimento demográfico global, aumento do Mercado Consumidor interno e externo, como suprir ambos? -É, justamente, quando entra em cena a produção dos minifúndios, que abastecem os Mercados locais. -O latifúndio abastece o Mercado Externo, basicamente. -Porém, com o enriquecimento, os latifundiários passam a comprar terras de minifundiários;

História Agrária da América Latina Século XX ( Boom demográfico e industrialização na América Latina e estagnação no crescimento demográfico na Europa, até 1975) -queda nas exportações e aumento no consumo interno, de produtos e insumos; Uma ação, diferenciadas reações -Uruguai e Argentina: aumento do rebanho bovino; -América Central: desenvolvimento dos minifúndios; -Brasil e México: expansão da fronteira agrícola.

História Agrária da América Latina Algumas mudanças importantes ao longo do tempo -O fim da escravidão coincide com o excesso de mão-de-obra no século XIX; -A pecuária regride com a valorização da renda da terra; -O Mercado Internacional é, atualmente, o que os colonizadores eram na época colonial, em suma, reguladores da produção da América Latina; -O urbano estende-se até o campo, a Empresa Agrícola transnacional começará no século XX a tirar o lugar dos latifundiários tradicionais dentro do cenário econômico.

Tipos de Propriedades Latifúndio: grande extensão de terra pertencente a um dono; Minifúndio Subfamiliar: extensão insuficiente para gerar condições de produção dignas para uma família; Fazenda Comercial Moderna: indústria no meio rural, ou seja, maior fluxo de capital; Propriedades Médias e Familiares: maior que subfamiliar, mas não chega a latifúndio; Comunidades Indígenas

Tipos de Propriedades Latifúndio Especulativo: pequena produção, a principal função é a renda da terra através do valor simbólico atribuído (mão-morta). -Ocorrem em áreas vizinhas às cidades à espera de expansão urbana e em zonas mais afastadas a espera de expansão da fronteira agrícola. Latifúndio Tradicional: pouca produção e pouca mão-de-obra por hectare, mas, devido ao seu tamanho, há lucro; -Baixos salários e, muitas vezes, ocorre arrendamento para pequenos produtores; -Representa grande área na América Latina, porém, emprega menos de 5% da mão-de-obra total disponível.

Tipos de Propriedades Minifúndio Subfamiliar -Alta produtividade por hectare, e, devido à pequena extensão, alta degradação do solo; -Pessoas ociosas, por falta de área para cultivar, acabam aceitando convites do latifúndio e construção civil para trabalhar por baixos salários; -Representam menos de 5% da área agrícola na América do Sul, e respondem por um grande número de pessoas trabalhando, e também pela geração de produtos para consumo interno; -Essa prática está muito relacionada aos nativos da América Latina, que encontraram nessa prática sua forma de subsistência.

Tipos de Propriedades Fazenda Comercial Moderna -Como forma de apropriação do espaço, equivale-se ao latifúndio tradicional; -A diferença é o fluxo de capital, muito mais dinâmico (maior trabalho assalariado e maior comercialização) -atividade principal: monocultivo para exportação -aspecto positivo: alimenta o Mercado Exportador -aspecto negativo: mecanização gera desemprego rural

Tipos de Propriedades Propriedades Médias e Familiares -menor que latifúndio, mas maior que minifúndio; -equilíbrio entre mão-de-obra e terra (boa solução para o Mercado Interno) -alta produtividade -destaques: Brasil, Chile, Colômbia, Guatemala e uma alta representatividade da Argentina

Tipos de Propriedades Comunidades Indígenas -apresentam até hoje um modo de vida diferenciado do vigente no resto do mundo, tradições de harmonia com a natureza; -a partir do século XVIII as terras indígenas começaram a ser invadidas; -os latifúndios cresceram engolindo terras indígenas; -as reservas nativas, hoje, são muito diminutas, o que torna muito difícil a manutenção de uma cultura tão diferenciada.

MAPA

Propostas - Rotação de culturas proporciona uma menor degradação do solo, menor dependência do Mercado Externo e mão-de-obra empregada o ano todo; -Diminuir latifúndio e aumentar minifúndio em tamanho, mantendo a propriedade média, e fazendo-a crescer em número; -legislação e apoio financeiro a pequenos produtores e comunidades indígenas.

Bibliografia SOARES. Glaucio. A Questão Agrária na América latina. Zahar Editores. 1976 Fonte do Mapa: Adaptado de World Atlas. Londres, Dorling Kindersley, 2003.