RECUPERAÇÃO DE OURO FINO COM UM NOVO CONCENTRADOR CENTRÍFUGO {FALCON) M.M. Veiga 1, F.F. Lins 2

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Transcrição:

RECUPERAÇÃO DE OURO FINO COM UM NOVO CONCENTRADOR CENTRÍFUGO {FALCON) M.M. Veiga 1, F.F. Lins 2 O emprego de concentradores centrífugos no beneficiamento de minérios auríferos é uma prática cada vez mais disseminada. Neste trabalho é feita inicialmente uma breve revisão da aplicação dos concentradores centrífugos, relacionando alguns dos equipamentos comercializados no País. As características do concentrador Falcon são descritas, seguindo-se a apresentação de alguns casos de sua aplicação com minérios de ouro. RECOVERY OF FINE GOLO USING A NEW CENTRIFUGE {FALCON) The use of centrifugai concentrators is becoming a worldwide practice in concentrating gold ores. ln this paper the application of centrifugai concentrators is reviewed and some centrifuges marketed in Brazil are presented. The characteristics of Falcon concentrator are then described as well as some exemples of its performance in treating fine gold ores. 477 1 DMP, Instituto de Geociências, USP 2 Departamento de Tratamento de Minérios Centro de Tecnologia Minerai-CETEM/ CNPq Rua Quatro, Quadra D, Ilha do Fundão 21949 - Rio de Janeiro- RJ

478 INTRODUÇÃO A recuperação de metais nobres através de processos gravíticos tem contemplado um grande avanço com o surgimento de concentradores centrífugos. Diferentes tipos de centrífugas estão sendo comercializadas, nas quais o princípio básico compreende o aumento da diferença de densidade entre as partículas de mineral-minério e ganga, quando submetidas a uma força centrífuga superior à força da gravidade (1,2). Quando as partículas são aceleradas, a diferença entre suas densidades tende a ser da mesma ordem de grandeza da aceleração imposta (3). Segundo Burt (4), as centrífugas são os concentradores gravíticos mais promissor~s para a recuperação de minerais-minérios de granulometria muito fina. Há registros na literatura do emprego de concentradores centrífugos na concentração de cassiterita ultrafina de ganga quartzosa (5), na purificação de finos de carvão (6), assim como na recuperação de mercúrio de rejeitos de garimpo (7). No entanto, os equipamentos de centrifugação ganharam maior difusão nas minerações de ouro, onde sua capacidade de processamento (até 35 toneladas de sólidos/hora/ equipamento) e a maior recuperação de ouro fino ( < 74 11m) são apresentadas como as principais vantagens. O tipo de centrífuga mais empregada no Brasil teve como modelo o equipamento Knelson, desenvolvido na década de 70 em Langley, Columbia Britânica, Canadá (8). Trata-se de um rotor cônico contendo cinco zonas de concentração (anéis) onde os leitos de concentração são permanentemente lavados por água em contra-pressão (Figura 1 ). A operação com centrífugas Knelson e equipamentos semelhantes, fabricados no Brasil, tem sido amplamente difundida, inclusive em alguns garimpos, como nos do Sul de Mato Grosso(7), onde são registradas recuperações de ouro entre 40 e 50% e enriquecimentos de ouro nos concentrados de 200 a 500 vezes. A maior parte do ouro perdido nesses garimpos é atribuida às partículas não liberadas na cominuição com moinho de martelos e aos finos da fração argila.

479 Rejeitas Alimentação Rejeitas.:to-:>.rll--- Leito de -t- concentrado descarga dos rejeitas...------...------- Dreno p/ concentrado IS::S:S1 Água Material resistente a abrasão entrada de água Figura 1 - Esquema do concentrador Knelson. Os principais tipos e características de centrífugas comercializadas no Brasil são apresentados na Tabela 1, segundo compilação de Lins et ai. (2). Não são apresentados todos os modelos de cada fabricante, mas apenas os de maior capacidade, que são, via de regra, os ma is demandados nas usinas de beneficiamento. O modus operandi dos modelos listados na Tabela 1 são similares, inclusive com o emprego de água de contra- pressão. Tabela I - Alguns concentradores centrífugos comercializados no Brasil. Fabricante Knelson Hidrojet Famag Mineraltec (modelo) (C30) (C3) (M30) (900) Capacidade (t/h) 32 30 30 35 Diâmetro Cesta (m) 0,76 1,1 0,90 0,90 Rotação ( rpm) 400 240 326 366 Fc/F 9 * 67 35 52 66 Peso Conc.'(kg) 65 60 95 70 Potência Motor (h p) 10 5 4 10 * F c/f 9 = razão entre a força centrífuga e força gravitacional.

A força centrífuga imposta por esses equipamentos a uma partícula mineral na parede do cone pode ser expressa por: Fc = m(w 2 R) = m(n 2 {27r /60) 2 R) = m ac (1) onde m é massa da partícula, w a velocidade angular, R o raio do rotor, N a velocidade rotacional (rpm) e ac a aceleração cenúífuga. A aceleração de' uma partícula, portanto, aumenta com o quadrado da velocidade de rotação e diretamente com raio da cesta da centrífuga. A relação entre a força centrífuga (Fc) e a força gravitacional (F 9 ) é dada por Fc/F 9 = m ac/m g = ac/g"' ac/10, se considerarmos g aproximadamente igual a 10 mjs 2. Um outro tipo de centrífuga é comercializado no Brasil, o Ourocone. Neste equipamento a velocidade de rotação é baixa (85rpm ), mas o diâmetro maior da cesta alcança até 2 metros, implicando numa razão Fc/F 9 rv 8. Este tipo de centrífuga está sendo utilizado para concentração de ouro do minério de ferro (itabirito) nas jazidas dá Companhia Vale do Rio Doce em ltabira. O Ourocone não usa água de contra-pressão; o revolvimento do material depositado nos anéis é feito mecanicamente por aletas. Um novo. tipo de concentrador centrífugo ( "Falcon concentrator") foi recentemente desenvolvido, também em Langley, na Columbia Britânica, Canadá. Este equipamento não utiliza água de contra-pressão, apresenta rotor liso (sem anéis) e sua alta rotação promove uma força centrífuga da ordem de 300 vezes superior à força da gravidade (9), ou cerca de 5 vezes superior às obtidas pelos concentradores centrífugos conhecidos. A polpa é alimentada com 20 a 30% de sólidos ( < 1,5mm) e a geometria do rotor permite a retenção do ouro nas paredes revestidas por borracha, deixando fluir pela parte superior do rotor os minerais leves (Figura 2). A descarga do concentrado, efetuada por bicos d'água, dispende cerca de 3 minutos. A automatização do sistema de descarga do concentrado já está sendo comercializada (Autopac), reduzindo com isto o tempo de parada para 30 segundos e evitando o contato manual com o concentrado (10). 480

481 ALIMENTAÇÃO C _) PROCESSO DE SEPARAÇÃO A POLPA E ACELERADA. E DAÍ ESTRATFICADA À MEDIDA QUE' ASCE'NOE AO ROTOR O O!A'10 MIGRA PARA A PERFERIA E É RETOO - CONTRA A PAREDE DO RcJ'roo AS GANGAS LEVES SAD RE.A:ITADAS Figura 2- Esquema de separação do concentrador Falcon.

Já foram comercializados mais de 50 concentradores Falcoo nos Estados Unidos, Canadá e Austrália. Os modelos de linha são apresentados na Tabela 11. Existem modelos fora de linha com maior capacidade e configuração feita sob medida (10). Tabela 11 - Modelos do Concentrador Falcon Modelo B6 B12 B20 B30 Capacidade (t/h) 0,5 6,0 25 100 Diâmetro Cesta (m) 0,15 0,31 0,51 0,76 Rotação ( rpm) 1900 1330 1040 847 Fc/F 9 298 292 303 300 Peso Cone. (kg) 1 4 10 45 Potência Motor (hp) 1 7,5 30 75 É interessante ressaltar {10) que a geometria da cesta, particularmente a inclinação da parede, depende das características do minério a ser processado, havendo, contudo, duas geometrias básicas adequadas a minérios de baixa densidade ( quartzosos) e a minérios de alta densidade (ricos e.m sul fetos ou óxidos de ferro, ou mesmo concentrados). APRESENTAÇÃO DE CASOS Casol O sistema de reprocessamento ( "upgrading circuit") de concentrados gravíticos ou de flotação pelas concentradoras Falcon levou à obtenção de concentrados de até 50% de ouro, no caso da instalação industrial da Placer Dome, Campbell Red Lake Mine no Canadá (10). Esta sequência de operações de limpeza do concentrado é uma promissora opção para evitar o uso de mercúrio ( amalgamação ), pois os concentrados podem ser fundidos di reta mente. 482

48 3 Caso 2 Uma experiência realizada pelos autores deste trabalho (11), usando um minério sulfetado ( 17% de pirita e 2% calcopirita) na usina piloto (2t/h) d~ companhia Metais Research Co. of America na Ilha de Texada, Columbia Britânica, Canadá. O "overflow" do hidrociclone (circuito fechado com moinho de bolas e jigue), com 72% da massa com granulometria inferior a 74J-Lm, estava sendo encaminhado ao circuito de flotação (Figura 3). AUMENTAÇÃO COMINUIÇÃO/ CLASSIFICAÇÃO I 0/F FLOTAÇÃO REJEITO JIGAGEM CONCENTRADO DE Au CONCENTRADO DE {Au+Cu) Figura 3 - Diagrama simplificado da usina piloto da Ilha de Texada. A caracterização desse material (11), segundo metodologia descrita por Veiga (12), mos~rou que 24,6% do ouro estava liberado suficientemente para ser amalgamado, conforme apresentado na Tabela III. Tabela III - Caracterização de amostra do "overflow" do hidrociclone Fração Peso Au total I Au recuperado (%) por (J-L m) (%) (g/t) Dist.(%) Amalgam. Cianet. "Fire-Assay" +150 9,3 5,80 7,40 3,3 72,9 23,8-150 + 74 18,6 6,11 15,6 8,0 75,6 16,4-74 + 37 20,7 7,92 22,5 21,4 68,1 10,5-37 51,4 7,74 54,5 33,4 57,9 8,7 Aliment. 100 7,29 100 24,6 64,0 11,4

Como pode-se observar, cerca de 55% do ouro encontra-se abaixo de 37 11m (400 malhas), ainda com baixa liberação, pois somente 33,4% do ouro da fração foi recuperado na amalgamação, embora o acesso do cianeto seja mais efetivo (57,9% a mais de ouro extraído na fração). A introdução de um c:oncentrador Falcon 812 no processamento desse "overflow" (1,5 t/h) permitiu a recuperação de 44% do ouro em 30 minutos de operação (Tabela IV), indicando a eficiência da concentração do ouro fino e até do ouro não liberado (não amalgamável). Tabela IV - Desempenho da Falcon 812 com diferentes tempos de operação Teor e Recuperação de Au Tempo (min) 15 30 60 90 Teor Au Alimentação (g/t) 3,83 3,33 2,99 3,83 Teor Au Concentrado (g/t) 591 634 694 694 Recuperação de Au (%) 33,4 44,2 26,1 11,0 O tempo de operação é, como esperado, importante para o desempenho do equipamento. A Tabela IV mostra o fenômeno esperado para o comportamento de um minério de ouro em uma centrífuga. A partir de determinado tempo o teor do concentrado cresce lentamente ou estabiliza enquanto a recuperação decai. A otimização do tempo de operação para equipamentos de centrifugação de minérios é fundamental; por isso, os empreendimentos que trabalham com concentradores tipo Knelson, geralmente com turnos de 8 horas de operação (7), poderiam aumentar substancialmente suas recuperações através de uma investigação simples, como a apresentada na Tabela IV. Uma questão relevante que emergiu na experiência de avaliação do concentrador Falcon realizada por Lins et ai. (11), foi a necessidade de adição de água no concentrador para se obter um bom resultado, o que contraria o fabricante, que cita como uma das vantagens do equipamento a não necessidade de água extra. A geometria inadequada do cone dos modelos avaliados (812 e 86) ao minério tratado foi apresentado como o motivo pelo fabricante {10). 484

48 5 Caso3 Outra experiência bem sucedida do concentrador Falcon foi com um minério de ouro e cobre da Camchib Mine, Canadá (10). O diagrama das operações no circuito piloto é mostrado na Figura 4, com a seguinte sequência de operações: moagem com barras, moagem com bolas, calha concentradora, peneiramento a 12 malhas do rejeito da calha, fração -12 malhas beneficiada numa centrífuga Knelson, bombeamento do rejeito da mesma e da fração +12 malhas para um hidrociclone, fechamento do circuito com o "underflow" do hidrociclone retornando para o moinho de bolas e o "overflow" sendo encaminhado para flotação. Na usina piloto (1 t/h) foram testados três equipamentos Falcon B6: (a) um sendo alimentado com o "overflow" do hidrociclone, isto é, material que alimentava o circuito de flotação; (b) outro processando o concentrado de flotação antes dele ser enviado à metalurgia (cianetação); (c) outro processando o rejeito fino da flotação ("overflow") que estava sendo descartado para a bacia de rejeitos. Os resultados com a introdução das centrífugas são apresentados na Tabela V. Tabela V -Resultados da experiência com três Falcon B6 em Camchib Mine Centrífuga Alimentação Concentrado (g Au/t) (g Au/t) Rec. Au (%) Massa (%) Falcon (a) 5,94 177 29 0,96 Falcon (b) 207 7019 37 1,10 Falcon (c) 1,03 13,9 33 2,45 Observa-se na Figura IV que o concentrador (a) processou os finos dos rejeitos de dois outros equipamentos de concentração gravítica (calha e Knelson) e ainda assim recuperou 29% do ouro antes dele ser flotado e cianetado. O concentrador (b) aumentou o teor do concentrado de flotação, o qual, após outra etapa de limpeza, poderia ser enviado diretamente para a fundição ao invés de ser todo ele cianetado. O terceiro recuperou 33% do ouro que estava sendo enviado à barragem de rejeitos, ou seja, perdido na usina de beneficiamento. Este concentrado com quase 14g/t de ouro pode agora ser enviado ao circuito de cianetação.

AUMENTAÇÃO CAu I I FLOT~ CIANETAÇÃO R I CLASSIFICAÇÃO I 0/F BACIA DE CAu I f " REJEITO U/F I I U/F CLASSIFICAÇÃO I 0/F CIANETAÇÃO Figura 4- Diagrama simplicado da usina piloto da Camchib Mine "" OJ "'

487 Caso4 Outro caso diz respeito a uma experiência recentemente executada pelos técnicos da Falcon Concentrators lnc. (10}. Trata-se do minério da mina de Lupin, de propriedade da companhia Echo Bay Mines Ltd. O rejeito da operação de cinetação da planta, contendo 0,50g/t de ouro, foi tratado em dois equipamentos Falcon 86 (operação "rougher" e "cleaner" ). Como resultado, obteve-se um concentrado final com teor de ouro de 5,41 gjt e recuperação de 21% do ouro contido. Este concentrado remoído retorna ao circuito de cianetação, representando maior economia para o processo e produzindo mais 62 kg de ouro anualmente, a partir de um material rejeitado. COMENTÁRIOS FINAIS - A concentração gravítica de minérios contendo ouro muito fino parece ter ganho uma opção promissora em termos de equipamento com o surgimento do concentrador Falcon, pois este promove uma força centrífuga 5 vezes maior que aquela atuante nos concentradores tipo Knelson, indicativo de ~eu potencial para alcançar melhor recuperação de ouro superfino. - Atualmente os técnicos da Falcon trabalham no desenvolvimento de uma centrífuga de operação contínua de descarga do concentrado, de forma a eliminar até mesmo os 30 segundos de parada atualmente necessários com o sistema Autopac de automatização da etapa de retirada do concentrado. - Uma anunciada vantagem da centrífuga Falcon é o menor consumo de água em relação aos equipamentos concorrentes que utilizam água de contra-pressão durante a concentração. Entretanto, nos testes conduzidos pelos autores (Caso 2), a introdução de água extra acarre.tou melhor desempenho, ou melhor, a ausência de água prejudicou muito a eficiência do equipamento. - Embora existam duas geometrias básicas para a cesta da centrífuga Falcoo, o fabricante alega que pode fabricar o rotor sob medida para o tipo de minério que se deseja tratar. Não se pode, entretanto, confirmar tal assertiva. - Os casos apresentados ilustram o bom desempenho do equipamento na concentração de ouro fino, que não havia sido recuperado em calhas, em

488 outras centrífugas ou na flotação. Os baixos níveis de custo operacional e investimento podem justificar a introdução deste equipamento no processamento dos rejeitos. Mesmo no caso de rejeitos de cianetação, onde o ouro residual encontra-se ocluso, a introdução do concentrador Falcon mostrou-se viável para a recuperação desse ouro, para subsequente operação de remoagem e nova cianetação. - Ressalta-se ainda a possibilidade do uso dessas centrífugas para aumentar o teor de concentrados, sendo esta uma opção que permite encaminhá-los diretamente para a fundição, ganhando tempo em relação à cianetação. Nesses casos, pela sua rapidez e simplicidade de operação, essas centrífugas apresentam-se como uma alternativa promissora à amalgamação de concentrados gravíticos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (1) Burt,R.O. Gravity Concentmtion Methods. Elsevier, New York. 1984. Chapter 7. (2) Lins.F.F., Costa, L.S.N., Cuéllar,O.D. e Gutierrez,J.M.A. Concentrador centrífugo: revisão e aplicações potenciais. Tecnologia Mineral, n.55. CETEM.1992. (3) Harris,D. Knelson concentrator- application in Australia. ln: Regional Conference on Gold- Mining, Metallurgy and Geology. AIMM, Australia, p.101-106, 1984. (4) Burt,R.O. A review of gravity concentration techniques for processing fines. ln: Plumption,A.J. (Ed). Production and Processing of Fine Partic/es. Pergamon Press, 1988, pp.375-385. (5) Han,K.N. e Say,W.C. On the separation of fine particles by centrifugation. Int. J. Miner. Process., V.14, 1985, pp. 165-73. (6) Mathieson,D. e Campbell, J. Recent development in the Knelson concentrator for application in the treatment of fine coai in Canada and Australia. Trabalho a ser apresentado no congresso Minem!.~ Engineering '92, Vancouver, Canada, abril, 14-16, 1992. (Anais no prelo) (7) CETEM-Centro de Tecnologia Minerai/CNPq. Relatório Anual do Projeto Poconé. 1990. 210p.

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