FREQÜÊNCIA DE ANTICORPOS CONTRA O VÍRUS DA DIARRÉIA VIRAL BOVINA EM BOVINOS, EM REGIME DE CRIAÇÃO SEMI-EXTENSIVO

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Transcrição:

Ciência Animal Brasileira 2(1): 35-40, jan./jun. 2001 35 FREQÜÊNCIA DE ANTICORPOS CONTRA O VÍRUS DA DIARRÉIA VIRAL BOVINA EM BOVINOS, EM REGIME DE CRIAÇÃO SEMI-EXTENSIVO PATRÍCIA LORENA DA SILVA NEVES GUIMARÃES 1, NILO SÉRGIO TRONCOSO CHAVES 2, LUIZ ANTÔNIO FRANCO DA SILVA 3 E CLÉVERSON SANTOS ACYPRESTE 4 1. Médica Veterinária MMV Universidade Federal de Goiás, Campus Samambaia, CP: 131, Escola de Veterinária, Hospital Veterinário. Goiânia-GO. Cep: E-mail: guimaraes@vet.ufg.br 2. Professor Doutor da Universidade Federal de Goiás, Campus Samambaia, CP: 131, Escola de Veterinária, Hospital Veterinário. Goiânia-GO. 3. Professor Doutor da Universidade Federal de Goiás, Campus Samambaia, CP: 131, Escola de Veterinária, Hospital Veterinário. Goiânia-GO. 4. Médico Veterinário MMV Universidade de Brasília. RESUMO Foram estudadas 207 amostras de soro bovino, colhidas entre dezembro de 1997 e novembro de 1998, com o objetivo de estabelecer a freqüência de anticorpos para o vírus da diarréia viral bovina (BVDV), em bovinos do entorno de Goiânia, através do ensaio imunoenzimático (EIE) e soroneutralização (SN). A prevalência de anticorpos para BVDV encontrada, pela técnica de EIE, foi de 47,83% e, pela SN, de 52,17%, não havendo diferença estatística significativa entre ambas. Considerando a reatividade dos soros em uma ou ambas as técnicas, a prevalência de anticorpos na região foi de 54,11%. PALAVRAS-CHAVE: Bovino, diarréia viral bovina, prevalência, testes sorológicos, pestivírus. ABSTRACT PREVALENCE OF ANTIBODIES AGAINST VIRAL DIARRHEA VIRUS IN CATTLE IN SEMI-EXTENSIVE SYSTEM Serum samples of 207 dairy cows were collected between December 1997 and November 1998, in attempt to estimate the prevalence of antibodies against the bovine viral diarrhea virus (BVDV) in indigenous cattle. The sera were tested by the enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA) and by serum neutralization (SN). The prevalence for BVDV was 47,83% as detected by ELISA or 52,17% by the SN technique. There was no statistically significant difference between the tests. Regarding the reactivity of sera for both tests, the prevalence of antibodies was 54,11% for the studied region. KEY WORDS: Bovine, bovine viral diarrhea, prevalence, serologic test, pestivirus. INTRODUÇÃO A diarréia viral bovina (BVD) é uma enfermidade infecto-contagiosa com diferentes apresentações clínicas (Blood et al., 1991; Corrêa e Corrêa, 1992). O agente etiológico pertence à família Flaviviridae e gênero Pestivírus (OIE Manual, 1996; Baker, 1987) e a distribuição é mundial (Weiblen, 1997). Olafson et al. (1946) e Childs (1946) descreveram, simultaneamente, essa enfermidade como uma doença entérica de bovinos, sendo mais tarde confirmada a sua etiologia viral e denominada diarréia viral bovina (BVD). Posteriormente, o mesmo vírus foi implicado como causador da doença das mucosas (DM), enfermidade fatal descrita primeiramente por Ramsey e Chivers (1956), sem-

36 GUIMARÄES, P. L. S. N. et al. Freqüência de anticorpos contra o vírus da diarréia viral bovina... pre precedida de infecção pelo vírus da BVD (BVDV), que ocorre em bovinos persistentemente infectados (PI S ) e imunotolerantes ao vírus. O BVDV foi isolado pela primeira vez no Brasil por Vidor (1974), a partir de amostras de soro bovino colhidas em abatedouros. Na Bahia, Ribeiro et al. (1987) detectaram, em uma amostragem de 1.618 soros, 237 (14,64%) soropositivos. Castro et al. (1993), após realização da soroneutralização para BVD em 288 soros bovinos, oriundos do Estado do Pernambuco, obtiveram uma prevalência de 72,6 %. Em São Paulo, Langoni et al. (1995) estudaram a ocorrência de BVD em 184 soros bovinos, pelo método de ensaio imunoenzimático, e encontraram 39,5% das amostras positivas. Amostras de soro de 77 matrizes nelore colhidas, aleatoriamente, em uma propriedade localizada no Pantanal matogrossense, foram testadas para a presença de anticorpos soroneutralizantes para BVDV, mostrando 43,6% de reações positivas (Pellegrin et al., 1996). Foram estudadas 102 amostras de soros bovinos, provenientes do Estado do Sergipe, através da soroneutralização de screening, encontrando-se uma prevalência entre 58,23% e 71,18% (Melo et al., 1997). No Rio Grande do Sul, Krahl et al. (1997) pesquisaram anticorpos para BVD em 1.823 soros bovinos pela técnica de soroneutralização, encontrando 23,4% de amostras soropositivas, sendo que, das 265 propriedades examinadas, 171 (64,53%) apresentaram animais reagentes. Em Minas Gerais, Figueiredo et al. (1997) avaliaram, também pela soroneutralização, a prevalência de anticorpos contra o BVD em 287 soros bovinos de diversas regiões colhidos em matadouro, encontrando soropositividade entre 61,47% e 75,13% das amostras. Richtzeinhain (1997) analisou, através do mesmo método, 2.448 amostras provenientes de 56 propriedades em diversos Estados e encontrou prevalência de 65% em Minas Gerais, 84% no Mato Grosso do Sul, 67% no Paraná, 71% no Rio de Janeiro, 73% no Rio Grande do Sul e 78% em São Paulo, sendo que em todas as fazendas havia pelo menos um animal soropositivo. Um aspecto epidemiológico importante dos animais persistentemente infectados é que estes são, na maioria das vezes, clinicamente normais. O vírus está presente na maioria dos tecidos, é eliminado intermitentemente e pode ser isolado de qualquer secreção e excreção, tais como descarga nasal, saliva, sêmen, urina, lágrima e leite (Coria e McClurkin, 1978; Radostits e Littlejohns, 1988; Meyling et al., 1990). Brock (1995) citou vários métodos de diagnóstico para BVD, entre eles, o isolamento viral, a vírus neutralização, o ensaio imunoenzimático (EIE), e a reação em cadeia da polimerase (PCR). Baron et al. (1994) referem-se ainda a outras provas sorológicas, como fixação de complemento, imunofluorescência indireta e imunofluorescência anticomplemento. Esse trabalho teve como objetivo estabelecer a prevalência de anticorpos contra o vírus da diarréia viral bovina, em bovinos do entorno de Goiânia, em regime de criação semi-extensivo, através do ensaio imunoenzimático (EIE) direto competitivo e pela prova de soroneutralização (SN). MATERIAL E MÉTODOS Foram realizados sorteios para determinar quais as propriedades a serem amostradas. As amostras foram colhidas entre os meses de dezembro de 1997 e novembro de 1998. O tamanho amostral determinado foi de 207 animais, utilizando-se um intervalo de 95% de confiança e uma margem de erro de 0,4%, segundo Stevenson (1981), em que se utilizou a seguinte fórmula: p(1 p) n = Z 2 e 2 em que n = tamanho amostral Z = fator determinante do grau de confiança p = prevalência e = margem de erro Alguns critérios foram considerados por ocasião da escolha dos criatórios, como presença de bovinos não vacinados contra BVD, condições de manejo e nutrição semelhantes e regime de criação semi-extensivo. Com essas características,

Ciência Animal Brasileira 2(1): 35-40, jan./jun. 2001 37 foi possível selecionar 14 propriedades rurais localizadas no entorno de Goiânia GO. O material utilizado foi o sangue, colhido através de punção da artéria ou veia caudal mediana, com auxílio de agulhas (25 x 8 mm) 1 e tubos a vácuo 2 (10 ml). Após a coagulação, o sangue foi encaminhado, sob refrigeração, em caixas isotérmicas, ao Laboratório do Setor de Pós-graduação da Escola de Veterinária Universidade Federal de Goiás (UFG), para centrifugação 3 a 2.500 rpm (5 cm de raio), durante 10 minutos, e a armazenamento em tubos tipo eppendorf, a -20 º C. A detecção qualitativa dos anticorpos contra o vírus da diarréia viral bovina foi feita pelo método de ensaio imunoenzimático direto competitivo (EIE) 4, (Idexx, 1997), no Laboratório de Virologia Animal do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da UFG. As mesmas amostras foram testadas através da soroneutralização, conforme OIE (1996), realizada no Laboratório Regional de Apoio Animal de Pedro Leopoldo MG. A análise estatística dos dados obtidos foi realizada por meio do teste Qui-quadrado corrigido (x c 2 ) (Curi, 1997) e de teste de significância de duas amostras para proporções (Stevenson, 1981), com 95% de confiança, para verificar diferença significativa entre as observações. Os resultados calculados foram comparados com um valor tabulado da distribuição normal. RESULTADOS E DISCUSSÃO A freqüência de anticorpos presentes nas 207 amostras de soro bovino colhidas em propriedades rurais no entorno de Goiânia utilizando um intervalo de confiança de 95% e uma margem de erro de 6,2%, obtida por meio do EIE foi de 47,83% (99/207) (Tabela1). Destaca-se que as amostras caracterizadas como suspeitas, por apresentarem taxa de bloqueio entre 30 e 50%, foram consideradas negativas ao EIE, devido à impossibilidade de uma 2ª colheita de soro após algumas semanas, como recomenda o fabricante. A freqüência de anticorpos anti-bvdv encontrada nos 207 soros bovinos, analisados pela soroneutralização, foi de 52,17% (108/207). TABELA1. Freqüência de anticorpos contra BVDV, utilizando-se as provas EIE e SN em 207 amostras de soros bovinos, criados em sistema semi-extensivo, no entorno de Goiânia GO, no período entre dezembro de 1997 e novembro de 1998. EIE/SN EIE SN EIE e/ou SN Reações positivas 99(47,83%) 108(52,17%) 112 ( 54,11%) Reações negativas 108(52,17%) 99(47,83%) 95 ( 45,89%) Total 207 207 207 Com a finalidade de se estabelecer as prevalências de anticorpos para BVDV, foram consideradas as reações positivas em uma ou ambas as técnicas, pois comparando estatisticamente os resultados obtidos nas duas provas não houve diferença significativa. Portanto, a prevalência de anticorpos para BVD, entre as 207 amostras de soros bovinos colhidos no entorno de Goiânia, de 54,11%, foi ligeiramente inferior aos encontrados por Melo et al., (1997), no Estado do Sergipe, que estavam entre 58,23% e 71,18%, mas superior aos 43,6% encontrados por Pellegrin et al. (1996), em propriedades localizadas no Pantanal (Melo et al. 1997). Ressaltase que existem indícios de que no Estado do Sergipe não se tem como conduta preventiva o uso de vacinas contra o BVDV. O critério adotado neste expe-

38 GUIMARÄES, P. L. S. N. et al. Freqüência de anticorpos contra o vírus da diarréia viral bovina... rimento, de pesquisar anticorpos em animais não vacinados, pode justificar a semelhança entre as prevalências encontradas. Prevalência de 14,64% foi registrada por Ribeiro et al. (1987), utilizando a soroneutralização, no Estado da Bahia. Krahl et al. (1997) detectaram 23,4%, no Rio Grande do Sul; e Langoni et al. (1995), em São Paulo, observaram, por meio do EIE, 39,5%. Todavia, através da SN, índices variando entre 61,47% e 75,13% foram encontrados por Figueiredo et al. (1997), em Minas Gerais, e de 72,6% observados em Pernambuco, por Castro et al. (1993). Pelo EIE, Richtzeinhain (1997) observou prevalência de 84%, no Mato Grosso do Sul; 67%, no Paraná; 71%, no Rio de Janeiro; 73%, no Rio Grande do Sul; e de 78%, em São Paulo. Confrontando os resultados encontrados no presente trabalho com os descritos para outras regiões do País, observamos que as diferenças entre as prevalências podem estar relacionadas à metodologia empregada, à origem e ao manejo dos animais testados. Todas as 14 propriedades examinadas apresentaram animais reagentes. Richtzeinhain (1997), ao analisar 2.448 amostras provenientes de diversos Estados, também encontrou animais reagentes em todas as regiões. Esses resultados indicam que a infecção pode estar amplamente disseminada no entorno de Goiânia. Para os animais examinados, o índice de soropositividade para BVD, por propriedade, variou de 7,4% a 100%. Essa variação ocorreu tanto nas fazendas onde houve aquisição recente de animais, como naquelas que não receberam novos bovinos há mais de um ano. Isto mostra que a fonte de infecção, provavelmente, esteja dentro das próprias fazendas e não oriunda de animais recém-adquiridos. É importante lembrar que todas tinham como manejo reprodutivo a inseminação artificial, que é considerada por Weiblen (1991) como uma forma de transmissão da doença. CONCLUSÃO Nas condições em que foi realizado o presente estudo, os resultados permitiram concluir que a prevalência de anticorpos contra o vírus da diarréia viral bovina, em bovinos da região do entorno de Goiânia GO, é de 54,11%, e que todas as propriedades examinadas apresentaram animais reagentes. Esses dados são preocupantes, já que se trata de uma região onde não se adota vacinação em seu manejo sanitário e, portanto, os anticorpos encontrados não são de origem vacinal. Merece ainda ressaltar que a diarréia viral bovina, embora nem sempre apresente sinais clínicos evidentes, pode causar prejuízos econômicos aos criatórios, pois interfere na produção, reprodução e desenvolvimento dos animais. Os resultados trazem informações importantes à sanidade animal, pois permitem conhecer a epidemiologia e a ocorrência da enfermidade na região. NOTAS 1. Agulhas Venoject II, Merck S.A., Rio de Janeiro (RJ). 2. Tubos vacutainer Venoject, Merck S.A., Rio de Janeiro (RJ). 3. Centrífuga, Labtec, São Paulo (SP). 4. IDEXX.Bov ine viral diarrhoea virus antibody test kit (BVDV), n. 50-0037-02/01, p.1-6, 1997. REFERÊNCIAS BAKER, J. C. Bovine viral diarrhea virus: a review. Journal of American Veterinary Medical association, Chicago, v. 190, n. 11, p. 1449-1458, 1987. BARON, E. J., PETERSON, L. R., FINEGOLD, S. M. Diagnostic microbiology. 9. ed. St. Louis: Mosby, 1994. 958 p. BLOOD, D. C., HENDERSON, J. A., RADOSTIS, O. M. Clínica veterinária. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. 1263p. BROCK, K. V. Diagnosis of bovine viral diarrhea virus infections. In: BAKER, J. C., HOUE, H. Bovine viral diarrhea virus. The veterinary clinics of North America: food animal practice, v. 11, n. 3, p. 549-562, 1995. CASTRO, R. S., MELO, L. E. H., ABREU, S. R. O., MUNIZ, A.M. M., ALBUQUERQUE, A. P. S. Anticorpos neutralizantes contra pestevírus em soros

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