Tribunal Superior do Trabalho RR-203600-24.2008.5.15.0066 A C Ó R D Ã O RECURSO DE REVISTA. AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO PAGO PELA FAEPA AOS EMPREGADOS DO HOSPITAL RECLAMADO. NATUREZA SALARIAL. INTEGRAÇÃO. A reclamante recebe, em decorrência do contrato de trabalho, auxílioalimentação pago diretamente pelo seu empregador, não cadastrado no PAT, e um auxílio alimentação suplementar de valor variável, pago pela FAEPA, Fundação ligada ao reclamado, oriundo do rateio entre os seus servidores de 24% (vinte e quatro por cento) dos valores recebidos do SUS, em forma de vales-alimentação. Sobressai a natureza salarial do auxílio-alimentação pago ao empregado pela FAEPA, por ser o benefício oriundo do contrato de trabalho mantido com o reclamado. Inteligência da Súmula nº 241 do TST. Recurso de revista conhecido e provido. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n TST-RR-203600-24.2008.5.15.0066, em que é Recorrente ROSANGELA FRUGERI SILVA e são Recorridos HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO, DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO e FUNDAÇÃO DE APOIO AO ENSINO, PESQUISA E ASSISTÊNCIA DO HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - FAEPA. O eg. Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, mediante o v. acórdão de fls. 168/175, deu provimento ao recurso ordinário da reclamada para indeferir o pedido de integração ao salário dos valores recebidos pela FAEPA a título de auxílio alimentação, bem como os reflexos postulados. A reclamante interpôs recurso de revista às fls. 189/192, argumentando que, em que pese a FAEPA não ser a sua real empregadora, somente recebia o auxílio alimentação (posteriormente denominado prêmio de incentivo) por trabalhar para o reclamado, Hospital das Clínicas. Afirma que o valor pago a este título afronta o 1º do artigo 458 da CLT, o que por si só já desvirtuaria sua concessão, devendo integrar o salário para todos os fins. Indica contrariedade à Súmula nº 241 e à OJ Transitória nº 43 da SDI1 do TST, violação dos artigos 457 e 458, 1º, da CLT e 22, I, da CF e traz arestos para confronto de teses. O recurso de revista foi admitido à fl. 203, por possível contrariedade à Súmula nº 241 do TST. Contrarrazões apresentadas às fls. 205/213.
A douta Procuradoria Geral do Ministério Público do Trabalho opinou oralmente pelo conhecimento e provimento do recurso de revista para restabelecer a r. sentença no tocante à integração ao salário do auxílio alimentação pago pela FAEPA. É o relatório. V O T O AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO. NATUREZA SALARIAL. INTEGRAÇÃO CONHECIMENTO O eg. Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região deu provimento ao recurso ordinário da reclamada para indeferir o pedido de integração ao salário dos valores recebidos pela FAEPA a título de auxílio alimentação, bem como os reflexos postulados, nos termos da seguinte fundamentação: -Insurge-se a reclamada, ora recorrente, contra a r. decisão primeira, pretendendo sua reforma no que tange ao deferimento da incorporação do auxílio alimentação à remuneração da reclamante, com os reflexos decorrentes. Afirma, em síntese, que o auxílio alimentação percebido pela obreira não advém de ato exclusivo do recorrente, eis que é fornecido, em parte, pelo Estado de São Paulo, que implantou o benefício por meio da Lei Estadual nº 7.524/91 e, outra parte, é oriunda da FAEPA - Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Assim sendo, o benefício é suportado por duas pessoas jurídicas, com personalidades jurídicas próprias. De fato, prospera a irresignação. Em que pese o r. entendimento proferido pelo MM. Juízo a quo, reiteradamente, em casos análogos, esta Relatoria tem frisado que a verba em questão é paga por duas fontes distintas: diretamente pelo Estado de São Paulo, que destina parte da importância mensal para este fim, e pela FAEPA, que, consoante termo aditivo assinado entre a Secretária de Saúde do Estado de São Paulo, a FAEPA e o primeiro reclamado, destina 40% (quarenta por cento) dos valores recebidos do SUS aos servidores, sendo 16% (dezesseis por cento) para contratação de funcionários pela própria fundação e 24% (vinte e quatro por cento) rateados igualmente entre todos os servidores, em forma de vales-alimentação. Com efeito, consigne-se, em que pese não ter havido pedido nesse sentido, que a parte do benefício concedida pelo Estado de São Paulo encontra óbice intransponível à sua incorporação no artigo 3º da Lei Estadual nº 7.524/91, ao dispor:
-O benefício não se incorporará à remuneração do funcionário ou servidor e sobre ele não incidirão quaisquer contribuições trabalhistas, previdenciárias ou fiscais- Não se olvide, aliás, estar o primeiro reclamado, ente da administração pública, adstrito ao princípio da legalidade, não podendo agir sem expressa autorização legal. E ao revés do que entendeu a r. sentença, tampouco quanto aos valores pagos pela FAEPA há que se falar em incorporação, uma vez que, consoante documento de fls. 106/110, essa fundação é inscrita no PAT - Programa de Alimentação do Trabalhador, fato que obsta a pretensão obreira, nos termos da Orientação Jurisprudencial nº 133 da SBDI-1 do C. TST: -ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL Nº 133. AJUDA ALIMENTAÇÃO. PAT. LEI Nº 6.321/76. NÃO INTEGRAÇÃO AO SALÁRIO. A ajuda alimentação fornecida por empresa participante do programa de alimentação ao trabalhador, instituído pela Lei nº 6.321/76, não tem caráter salarial. Portanto, não integra o salário para nenhum efeito legal.- A par disso, rechaçando definitivamente a pretensão obreira, o valor pago diretamente pelo Estado de São Paulo a título de auxílio alimentação, não excede o percentual de 20% (vinte por cento) fixado pelo artigo 458, 3º, da CLT, e o restante, além de se tratar de valor variável (posto que decorre de rateio de percentual incidente sobre os valores percebidos do SUS pela FAEPA), advém de terceiro, pessoa jurídica distinta do empregador da reclamante. Por conseguinte, expunge-se da condenação a integração do auxílio alimentação na remuneração da autora e os reflexos decorrentes.- (fls. 173/174). Nas razões de recurso de revista, a reclamante argumenta que, em que pese a FAEPA não ser a sua real empregadora, somente recebia o auxílio alimentação (posteriormente denominado prêmio de incentivo) por trabalhar para o reclamado, Hospital das Clínicas. Afirma que o valor pago a este título afronta o 1º do artigo 458 da CLT, o que por si só já desvirtuaria sua concessão, devendo integrar o salário para todos os fins. Indica contrariedade à Súmula nº 241 e à OJ Transitória nº 43 da SDI1 do TST, violação dos artigos 457 e 458, 1º, da CLT e 22, I, da CF e traz arestos para confronto de teses Infere-se da v. decisão regional que a reclamante recebe, em decorrência do contrato de trabalho, auxílio-alimentação não excedente de 20% do salário, pago diretamente pelo reclamado, e um auxílio alimentação suplementar de valor variável, pago pela FAEPA, Fundação ligada ao reclamado, oriundo do rateio entre os servidores do réu de 24% (vinte e quatro por cento) dos valores recebidos do SUS, em forma de valesalimentação. Extrai-se, ainda, que não há notícia de que o Hospital reclamado seja cadastrado no PAT, mas tão somente a FAEPA.
A Súmula nº 241 desta Corte espelha a seguinte orientação: -SALÁRIO-UTILIDADE. ALIMENTAÇÃO O vale para refeição, fornecido por força do contrato de trabalho, tem natureza salarial, integrando a remuneração do empregado, para todos os efeitos legais.- E a Eg. Corte Regional, ao afastar a integração ao salário do vale para refeição fornecido por força da relação contratual, discrepou deste verbete sumular. Conheço, pois, do recurso por contrariedade à Súmula nº 241 do TST. MÉRITO Discute-se nos presente autos se a parte do benefício 'auxílio alimentação' concedida pela Fundação FAEPA ligada ao réu possui natureza salarial. Esta c. Corte vem se posicionando no sentido de que o auxílio alimentação pago pela FAEPA aos empregados do Hospital reclamado se dava em decorrência do contrato de trabalho, sobressaindo daí a origem trabalhista da parcela e a sua natureza salarial. Não é possível outra conclusão, na medida em que consignado pelo eg. TRT que se trata de fundação ligada ao reclamado, haja vista ser a FAEPA uma Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, e o benefício ser oriundo do termo aditivo assinado entre a Secretária de Saúde do Estado de São Paulo, a FAEPA e o primeiro reclamado, destinando 24% (vinte e quatro por cento) dos valores recebidos pelo SUS para serem rateados igualmente entre todos os servidores do Hospital reclamado, na forma de vales-alimentação. Trata-se, na realidade, de valor devido pelo empregador, e meramente repassado por terceiro, o que não retira a origem contratual da parcela. Eis alguns precedentes nesse sentido, inclusive desta c. Turma: -RECURSO DE REVISTA. AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO. NATUREZA SALARIAL. INTEGRAÇÃO. Sobressai a natureza salarial do auxílio-alimentação pago ao empregado, não havendo se falar em natureza indenizatória da parcela, porque não paga diretamente pelo empregador e sim pela Fundação instalada em suas dependências, a denotar que se trata de parcela paga em razão do contrato de trabalho. Inteligência da Súmula nº 241 do TST. Recurso de revista conhecido e provido. (...)- (RR-133900-67.2007.5.15.0042, Relator Ministro Aloysio Corrêa da Veiga, 6ª Turma, DEJT 28/10/2010)
-HOSPITAL DAS CLÍNICAS. AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO. INTEGRAÇÃO FAEPA. Na hipótese dos autos, o egrégio Colegiado Regional ao decidir que o auxílio-alimentação não possui natureza salarial, porquanto tal parcela era paga pela FAEP - Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto - e não pelo reclamado, contrariou o entendimento pacífico desta Corte consubstanciado por meio da Súmula nº 241, segundo o qual o auxílio-alimentação, fornecido por força do contrato de trabalho, tem caráter salarial, integrando a remuneração do empregado, para todos os efeitos legais. Destaca-se que esta colenda Corte, em inúmeros casos, decidiu que é irrelevante que o repasse fosse efetuado por essa fundação, uma vez que o pagamento do auxílio-alimentação pela FAEP constituía-se mero artifício para prevenir o desvio de finalidade da verba por meio de pagamento de boa parte do montante salarial na forma de utilidade, desvirtuando a natureza jurídica de salário, furtando-se, desse modo, à incidência dos encargos sociais. Precedentes desta colenda Corte. Recurso de revista conhecido e provido.- (RR-55200-65.2008.5.15.0067, Relator Ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos, 2ª Turma, DEJT 06/08/2010) -AGRAVO DE INSTRUMENTO. AUXÍLIO- ALIMENTAÇÃO. PARTE DO VALOR FORNECIDO PELA FAEPA, FUNDAÇÃO VINCULADA AO RECLAMADO. NATUREZA JURÍDICA SALARIAL. INTEGRAÇÃO NA REMUNERAÇÃO. Em que pese a Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - FAEPA fornecer parte do valor correspondente ao auxílio-alimentação, não descaracteriza que o benefício é dado em razão do contrato de trabalho mantido com o reclamado. Nos termos da Súmula 241 do TST, o vale para refeição, fornecido por força do contrato de trabalho, tem caráter salarial, integrando a remuneração do empregado para todos os efeitos legais. Afastada nos autos a hipótese exceptiva da OJ 133 da SBDI-1 do TST - inscrição do empregador no PAT -, devidas são as diferenças salariais. Agravo de instrumento não provido.- (AIRR-49440-09.2006.5.15.0067, Relator Ministro Augusto César Leite de Carvalho, 6ª Turma, DEJT 30/07/2010) -RECURSO DE REVISTA. AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO. NATUREZA SALARIAL. De acordo com o disposto no artigo 2º da Lei 6.321/76, o benefício concedido às empresas participantes do PAT somente se refere aos programas instituídos em favor de seus empregados. O que não ocorre na hipótese dos autos em que a FAEPA não era a real empregadora da reclamante, pagando, conforme noticiado pelo Tribunal a quo, o auxílio-alimentação -como incentivo aos empregados do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto- (fl. 131). Precedentes. Revista não conhecida, no tema.- (RR-3451/2006-153-15-00.4, 3ª Turma, Rel. Min. Rosa Maria Weber, DEJT 28/8/2009)
-AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO. A decisão recorrida está em consonância com o disposto no art. 458 da CLT e na Súmula 241 do TST, porquanto o Regional consignou que o valor pago a título de -auxílio-alimentação- detinha natureza salarial, haja vista que o repasse efetuado pela Fundação de Apoio ao Ensino Pesquisa e Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - FAEPA constituíase mero artifício destinado a encobrir a sua verdadeira natureza e finalidade. Recurso de Revista não conhecido.- (RR-215/2005-066-15-00.3, 8ª Turma, Rel. Min. Márcio Eurico Vitral Amaro, DEJT 21.8.2009) -RECURSO DE REVISTA - AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO - NATUREZA SALARIAL. O acórdão regional consignou que o fornecimento do auxílio-alimentação pela FAEPA, fundação ligada ao Recorrente, ocorria a título de incentivo, possuindo, portanto, natureza salarial. Não há como divisar violação aos preceitos indicados.- (RR- 801/2006-113-15-00.1, Rel. Min. Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, 8ª Turma, DJ 21.11.2008) Assim, o vale alimentação pago pela FAEPA possui natureza salarial, integrando a remuneração do empregado, para todos os efeitos legais. Diante do exposto, dou provimento ao recurso de revista para restabelecer a r. sentença, no particular. ISTO POSTO ACORDAM os Ministros da Sexta Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do recurso de revista por contrariedade à Súmula nº 241 do TST e, no mérito, dar-lhe provimento para restabelecer a r. sentença no tocante à integração ao salário do auxílio alimentação pago pela FAEPA. Brasília, 15 de dezembro de 2010. Aloysio Corrêa da Veiga Ministro Relator