A Mística do Educador:
A educação popular é um ato de amor. É um gesto humano e político de entrega a fim de que as pessoas se realizem como gente, como classe e como povo. A missão educativa junto a sujeitos populares ajuda a despertar sua consciência crítica, como o desafio de assumirem-se como protagonistas de seu destino individual e coletivo.
Os educadores fazem da classe oprimida o sentido e a razão de sua existência, colocando aí sua alma, e sabem que, nesse esforço de transformação, também se transformam, permanentemente.
A firmeza ideológica da entrega, gratuita e solidária, nasce de uma certeza que não se vê: a construção de uma sociedade, livre de toda e qualquer forma de opressão. Esta convicção torna-se ousadia e paixão que não pede licença para lutar pela justiça, nem tem medo se der minoria. Muitas pessoas acreditam nessa esperança e uma legião de militantes tombou por essa causa.
Esse sonho, juntando a ciência, vira utopia e torna-se causa, o alimento e o segredo que invade a ação, amente e o coração da militância, na dor, na dúvida, nas derrotas, no amor, na alegria de viver, na disposição de luta, na festa... e no companheirismo. A esperança é uma espécie de ímpeto natural possível e necessário; é um condimento indispensável à experiência histórica.
O que move o educador distingue-se, portanto, de qualquer atitude de piedade, martírio ou técnica utilitarista.
Ser educador significa correr riscos nessa briga pela vida. Vida que o imperialismo visível mutila, sem disfarce, proíbe de dizer, proíbe de fazer, proíbe de ser. Vida que o imperialismo invisível tenta convencer que a servidão é um destino de a impotência é natureza do ser humano não se pode dizer, não se pode fazer, não se pode ser.
Na sua missão de contribuir para elevar o ânimo e a consciência das amplas massas populares, os educadores, cultivam valores que se manifestam no seu jeito de pensar, de agir, de sentir, como parte de seu comportamento, individual e coletivo.
O Amor pelo povo O amor pelo povo é pré-condição para ser educador popular, mesmo sabendo que ele carrega muitas contradições e reproduz boa parte da mentalidade dominante. Porém, essa maioria explorada, é riqueza de experiências, potencial de rebeldia e sementeira inesgotável de novos militantes.
O educador tem que estar lá onde o povo vive, luta, sofre e celebra suas crenças. O povo é o sentido e a razão de sua existência, estar fora do povo, é uma forma de ficar contra esse povo.
O companheirismo O companheirismo é uma forma superior de relacionamento entre as pessoas, maior que todos os laços de sangue. Companheirismo é compartilhar o pão e o poder com quem se dispõe a mesma caminhada, na mesma causa.
É a certeza que tem uma pessoa de ser acolhida, escutada, entendida, mesmo quando erra ou quando cobra. O companheirismo se revela, especialmente, na atenção a quem trabalha e não entendeu a razão de lutar, no tempo dedicado à juventude e às crianças, no carinho às pessoas mais excluídas, no ombro solidário a quem está desanimada, no respeito à parceria de vida e de caminhada.
Espírito de Superação O espírito de superação dentro das orientações coletivas, toma iniciativa, cria caminhos, mantém-se em busca constante de soluções e não segue receitas, não espera ordens é um ato de vontade que, ao entender o que deve fazer, se dispõe a fazer o que entendeu, no cumprimento da missão. Esse espirito gera ousadia e vence o medo do novo porque brota das profundas convicções.
Espírito de humildade O espirito de humildade é contrário a toda arrogância, auto-suficiência, submissão ou ingenuidade. Humildade é a simplicidade de alguém que reconhece valores e tem clareza sobre seus limites. Por isso trata as pessoas com respeito, sem discriminação ou preconceito. Não se acha inferior, nem tampouco pisa nas pessoas. Está sempre aberta para acolher o novo, a verdade, o conhecimento.
Espírito de sacrifício Quem diz luta, diz sacrifício, embora seja necessário evitar os sacrifícios inúteis. Não é o martírio onde as pessoas estão mais preparadas para sofrer e morrer. O sacrifício nasce no enfrentamento da opressão. Ninguém luta porque gosta; luta porque qualquer conquista envolve risco; não impõe pré-condições de conforto e facilidade; não exige tratamento e mordomias individuais.
Pedagogia do Exemplo Não basta que seja pura e justa a nossa causa, é necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós. É o exemplo que arrasta; é a coerência entre o que diz e o que se faz que convence. A prática cotidiana revela as convicções da pessoa e nela o discurso se torna força material que alimenta a vida, o trabalho produtivo, o estudo, as atitudes (dedicação, entusiasmo, uso correto dos recursos coletivos), a participação em posto concreto de luta, a simplicidade de vida.
É a mística que faz o educador caminhar como se visse o invisível. Na dialética da vida, dentre a luta e a festa, o suor e a brisa, a dor e a alegria, os educadores ajudam a construir uma nova sociedade. Ela não virá de presente.